
Texto básico: 2 Coríntios 9:5-13
O discípulo de Jesus é aquela pessoa que renunciou a tudo o que possui (Lucas 14:33). Na verdade tudo pertence a Deus. Quando ao receber Jesus como Senhor renunciamos o que possuímos estamos apenas desfazendo a mentira do mundo que diz que somos donos do que possuímos. O Espírito Santo nos leva a reconhecer e a aceitar que, se tudo veio dEle, tudo é para Ele. Tudo é de Deus, Ele é o Criador. Somos apenas seus despenseiros e é necessário que sejamos bons despenseiros (1 Coríntios 4:1, 2). Paulo disse:
"Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de CRISTO, e despenseiros dos mistérios de DEUS" (1 Coríntios 4:1).
A palavra grega traduzida aqui como ministro é huperetes, um remador inferior, um ajudante de remador. Ao utilizar-se desse termo, Paulo está se referindo aos remadores que ficavam na parte mais inferior do navio; remadores submissos a outros remadores... Não é servo (diácono) nem escravo (doulos) mas alguém que trabalha por obrigatoriedade, uma pessoa contratada, que vive sob ordens de um superior, que espera ordens para agir, no caso de Paulo - e nossos, os atuais despenseiros deste barco -, de CRISTO.
O que Paulo pretendia dizer com isso? Que as pessoas deveriam entender que o ministro não age por conta própria, que trabalha sob ordens, obedece a um líder e que tudo o que faz é apenas trabalhar e trabalhar... obedecendo! O renomado teólogo Mathew Henry (✞1662/✩1714) diz:
"Neste caso, o apóstolo requer respeito ao tipo de ofício que tem, especialmente porque muitos fracassaram na missão apostólica, ainda que outros, possivelmente, colocavam o apostolado como algo muito sublime, elevado, como se Paulo fosse o líder de um partido e, por isso, diziam serem seus discípulos. É nossa opinião de ministros, que deveríamos evitar os extremos.
Os apóstolos não devem ser super valorizados, pois são ministros, não mestres; despenseiros, não senhores. Eram apenas servos de CRISTO e nada mais, ainda que servos do mais alto escalão, pessoas que cuidavam da despensa, provendo alimento e designando tarefas aos demais."
Na jornada da vida ministerial, em algum lugar, perdemos o verdadeiro sentido do ministério. O verdadeiro ministério precisa urgentemente ser restabelecido no seio da igreja, e para que isso aconteça é necessário que os pastores voltem ao começo de tudo, repensem seu chamamento, reflitam sobre seus ministérios e deixem o ministério pastoral de cunho profissional para o de cunho vocacional.
Em Coríntios 3:9, a Bíblia diz dos obreiros: "Nós somos cooperadores de DEUS". Em geral se pensa que o cooperador no trabalho do Senhor seja um obreiro iniciante, ou um mero auxiliar, mas aqui trata-se de um obreiro habituado na Seara do Mestre, dando o máximo de si, com todo esforço, juntamente com os demais, para levar avante o trabalho de CRISTO. No mesmo versículo, a Bíblia diz do rebanho do Senhor: "Vós sois lavoura de DEUS". Agora a cena muda: em vez do obreiro, aparece a Seara do Senhor, na qual o obreiro se ocupa. Obreiros vêm e obreiros vão, mas a Igreja do Senhor permanece, porque ela é obra de DEUS e não de homem. Dela disse JESUS: "A minha Igreja". Desta expressão do Senhor, concluí-se que há outras aglomerações que levam o nome de igreja, mas que não são a sua Igreja.
"Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam." - Salmo: 24:1
Assim, se o que temos na nossa mão não é nosso, mas de Deus, preciso saber cuidar daquilo que é dele. Sou um mordomo, isto é, um administrador das coisas que são de Deus e estão comigo. Não posso dispor dessas coisas como eu quero porque não me pertencem. Devo cuidar delas como o dono manda.
O rei da Davi tinha entendimento. Ele era um homem rico, era um rei, mas sabia que não era dono de nada. Houve uma ocasião em que ele convocou o povo de Israel para entregar uma oferta para a construção do templo. Diante da tão grande quantidade que foi ofertado, ao invés de se orgulhar por achar que eles tinham dado o que era seu, ele apenas reconheceu que apenas haviam devolvido a Deus o que era dEle (1 Crônicas 29:10-14). Já que não somos donos do que possuímos, mas tudo é do Senhor Jesus, como Ele manda que eu cuide dele?
Um coração igual ao do Senhor
O nosso modelo é o Senhor Jesus. Ele, sendo Deus, partícipe na obra da criação de tudo, deixou tudo para nós pudéssemos ser salvos e nos achegar a Deus. Essa atitude de Jesus está descrita em 2 Coríntios 8:9. Ele entregou a sua própria vida. Disso vemos que o dono das coisas que estão na nossa mão é generoso. Ele não apenas se apega a nada, não é egoísta, não vive para acumular riquezas, mas vive para distribuir o que tem (em conformidade com Filipenses 2:3-8).
Um exemplo maravilhoso de irmãos que aprenderam com Jesus e tinham um coração igual ao dEle é o dos irmãos que moravam na Macedônia. Eles eram muito pobres e ainda estavam passando por perseguição por causa do Evangelho. Por causa dessas dificuldades, quando foi levantada nas igrejas uma oferta para ajudar a igreja em Jerusalém, nada foi pedido a eles. Mas eles insistiram para também dar uma oferta. Eles entregaram mais do que possuíam e dedicaram as suas próprias vidas (2 Coríntios 8:1-5). A Igreja em Jerusalém também vivia assim - Atos 2:44, 45. O Senhor Jesus é generoso, e os seus discípulos também. A generosidade nos faz ter o coração e as mãos abertas, dar com alegria, dar o melhor que tem, buscar atender as necessidades dos outros.
O sustento na "Casa de Deus"
A Casa de Deus é a Igreja. Ele habita no seu povo. Essa casa/povo precisa ser suprido nas suas necessidades que são duas:
a) A edificação da Igreja / expansão do Reino de Deus na Terra e;
b) A assistência aos necessitados da Igreja.
Para o suprimento das necessidades da Igreja, o Senhor e dono de tudo que temos estabeleceu que entregaríamos uma parte do que há na nossa mão para que houvesse suprimento para a igreja. Falemos então sobre o Dízimo. Lei ou graça? Válido ou inválido?
Os dízimos
"Para que, no caso de eu tardar, saibas como se deve proceder na casa de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da verdade." (1 Timóteo 3:15)
O objetivo deste artigo não é o de se contrapor ao dízimo, mas de esclarecer a verdade da forma certa de como contribuir pela graça, não por coação psicológica e doutrinária, utilizada por muitos líderes de igrejas, através de versículos da lei judaica, mas sim contribuir sem constrangimento exposto em 2 Coríntios 9:7. Vamos aos fatos:
- O cristão não é obrigado a dar o dízimo, nem por medo do "devorador" (citado em Malaquias 3:11) ou de ser amaldiçoado, porque o dízimo é um mandamento da lei judaica, além disso, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo e Ele já nos abençoou com todas as bênçãos nas regiões celestiais (Romanos 8:1 e Efésios 1:3).
- Nem rouba a Deus o cristão que não dá o dízimo… não temos o dever de chamar de ladrão a quem Jesus libertou, se ele contribui com 0% ou 100% é uma atitude pessoal, ele é livre para decidir. Jesus condenou a atitude dos judeus escribas e fariseus que dizimavam até o cominho e não ofertavam o seu amor ao próximo (Mateus 23:23). Infelizmente, muitos cristãos têm repetido esta mesma atitude.
Não há um só versículo no Novo Testamento, que registre a obrigatoriedade do cristão dizimar.
Por outro lado, se o cristão deixa de contribuir ou diminui esta contribuição, por que descobre que não é obrigado, está agindo de má fé para com Deus, como fez Ananias e Safira, ele deve contribuir sim e feliz porque sabe que pode fazê-lo por amor a Deus e não por imposição de homens, e segundo o que propuser em seu coração. Toda a contribuição para a Igreja era feita unicamente através de ofertas e partilha de bens. Nós, cristãos, devemos ter o cuidado de não ficarmos como passarinho no ninho: obrigados a engolir o que colocam na nossa boca.
Pela Lei, o dízimo era destinado à tribo levítica, aos sacerdotes desta tribo.
Eles recebiam e se mantinham dos dízimos, porque não tinham herança e cuidavam do Templo de Deus, a Casa do Senhor, para onde os dízimos eram levados (Números 18:21-30). O Templo foi destruído e não existem mais os sacerdotes levitas. Pela Graça, a instituição do dízimo é ilegal e sem respaldo bíblico, porque todos nós somos sacerdotes de Cristo (Apocalipse 1:6), pois não há mais necessidade desta tribo sacerdotal. O Dízimo foi estabelecido para os judeus; não para a igreja de Jesus Cristo (Hebreus 7:5).
Devemos compreender a diferença entre contribuir em LEI e o contribuir em GRAÇA, para não ficarmos debaixo de maldição, e obrigados a guardar toda a lei, se escolhermos seguir um mandamento dela, como disse o apóstolo Paulo em Gálatas 5:3-4, pois quem cumpre um mandamento da lei é obrigado a guardar toda a lei.
Somos servos do Senhor Jesus, não escravos de homens. (1 Coríntios 7:23 e Gálatas 5:1) e foi para a liberdade que Ele nos chamou.
Na LEI, o dízimo era a causa principal da bênção do povo judeu e a bênção era consequência deste dízimo (Malaquias 3:10). A maneira certa do povo judeu contribuir na LEI era dando o dízimo para ser abençoado.
Na GRAÇA, o Sacrifício de Cristo é a causa principal da bênção do povo cristão.
Paulo, em Efésios 1:3, nos afirma que Deus nos abençoou "EM CRISTO", não "EM DÍZIMO", por este motivo, a maneira correta do povo cristão contribuir em GRAÇA é no uso de 2 Coríntios 9:7, porque abençoados já somos.
Ao invés de incentivar os cristãos, com amor, a contribuírem na casa de Deus, muitas autoridades dizem que não o obrigam o pagamento do dízimo, mas usam textos do antigo testamento como: "…repreenderei o devorador"; "…roubais ao Senhor nos dízimos"… etc., que produzem medo nas pessoas e pavor de maldição, porque tais autoridades dependem de altos salários pagos pelas igrejas ou têm receio que a obra do Senhor seja prejudicada se não houver imposição ou, por despreparo repetem os erros dos outros líderes, a todos faltando fé suficiente de que Deus prosperará a igreja, através da contribuição espontânea dos irmãos, como ocorria na igreja primitiva. O resultado disso tudo é o engano, o desvio da Verdade.
Cristo não colocou "VINHO NOVO" (GRAÇA) em "ODRES VELHOS" (LEI) - Marcos 2:22.
Jesus estabeleceu tudo novo e jogou fora o que era velho (Gálatas 4:30 e Hebreus 8:13). Não podemos fazer do cristianismo uma seita judaica. Paulo afirma isso em Gálatas 2:14. Toda esta confusão sobre o dízimo seria erradicada do nosso meio se nos empenhássemos mais em conhecer profundamente a Palavra, sermos adultos na fé e não meninos. Se quisermos nos aprofundar na Palavra, devemos confrontar sempre o que as pessoas ensinam com o que a Bíblia realmente diz (1 João 2:27), fazermos como os crentes de Beréia.
Ofertas
Deixando claro meu posicionamento sobre o dízimo, quero falar sobre as ofertas. Não sou daqueles que acham que alguém que se identifique como um "dizimista fiel" esteja isento de observar a importância da oferta que, assim como o dízimo, deve ser de cunho pessoal e voluntária. Em ambos os casos o diferencial estará na motivação que te levou à atitude. Entendido que tudo é do Senhor, vou fazer menção da oferta com base nos três tipos descritos na Bíblia:
- As ofertas alçadas - São ofertas entregues com um objetivo específico. Todos se mobilizam para atingir um determinado alvo e atender a uma necessidade. Temos isso na construção do tabernáculo por Moisés (Êxodo 25:1, 2, 8, 9). Temos também a mobilização para o sustento dos irmãos necessitados de outra região (Romanos 15:26, 27; 1 Coríntios 16:1-4).
- As primícias - Estas são aquelas ofertas que representam o melhor da nossa força. do nosso auge, o melhor da nossa produção ou renda. É a oferta não do que sobra, mas é aquilo que recebemos como o melhor vindo de Deus para nós e resolvemos entregar e volta a Ele. É uma atitude de agradecimento, de reconhecimento do favor do Senhor (Gênesis 4:4, 5; Êxodo 23:19; Provérbios 3:9, 10). Entrego as minhas primícias, por exemplo, quando entrego aquilo que seria para planos pessoais, mas resolvo ofertar ao Senhor, expressando a Ele que o priorizo e certo de que Ele sempre tem o que é melhor para mim. Abro mão de algo que poderia ser o melhor para o meu bem estar pessoal, para que as necessidades da Casa de Deus sejam supridas.
- A oferta de fé - Estas fazem parte das primícias. É aquela oferta voluntária como a que os filipenses mandaram para Paulo quanto nenhuma outra igreja mandou (Filipenses 4:15, 16), ou como a oferta da viúva que deu tudo que tinha quando os outros davam do que sobrava (Lucas 21:1-4). É a oferta dada com alegria segundo uma decisão pessoal, mesmo que não haja uma convocação específica (2 Coríntios 9:7).
É importante que entendamos que a prática da oferta continuou fazendo parte da doutrina na Igreja primitiva. Outra coisa que precisa ficar entendida é que nenhuma oferta pode ser imposta. É algo pessoal, voluntário e depende da disponibilidade. Não lícito e nem moral que líderes imponham às igrejas qualquer tipo de oferta sob coação, constrangimentos ou ameaça.
Cuidado dos que ministram no altar - 1 Tm 5:18b
A Bíblia ensina - tanto no AT, quanto NT -, que aqueles que se dedicam à proclamação da Palavra de Deus devem ser sustentados por aqueles que desse trabalho recebam bênçãos espirituais (1 Coríntios 9:7-14). Ou seja, é um dever de todos os que recebem o ensino da Palavra de Deus ajudar a sustentar materialmente àqueles que ensinam a Palavra. Deixar de prover o sustento desses obreiros - sejam eles pastores, mestres, evangelistas, missionários -, quando há recursos disponíveis é semear egoísmo e ganância na carne e colher corrupção (Gálatas 6:6-8). A igreja que verdadeiramente ama sua liderança, recebe em seu espírito essa verdade sem resistência, sem questionamentos, sem especulações. Ela entende que está plantando em terra fértil e que certamente colherá justa medida recalcada, sacudida e transbordante, à trinta, sessenta, cem por um.
A Lei da Semeadura - 4 Princípios básicos
Deus só dá semente a quem semeia - 2 Co 9:10, 11:
- Quem semeia colhe na mesma proporção semeada - 2 Co 9:6;
- O semeador colherá em espécie - Gl 6:7. 8;
- O semeador deve ser perseverante - Gl 6:9.
- No Reino de Deus - a nossa Seara espiritual -, há um paralelo com o reino físico e material. Vejamos a figura do agricultor. Se o agricultor não tiver um alvo, um objetivo, uma meta para colheita, certamente fracassará. Mas ele traça seu plantio, sua semeadura baseando-se numa colheita que ele ainda não vê, mas na qual ele espera. O que é isso? Para o semeador natural, expectativa; para o semeador espiritual, fé (Hb 11:1).
Ou seja, quando levarmos nossas ofertas ao altar do Senhor, temos de fazê-lo na fé em nossa colheita. Essa fé é quem irá determinar a qualidade do que semearemos. Essa fé é quem irá nos impulsionar ao preparo da terra. Essa fé é quem nos fará descansar até chegar o tempo da maturação e nos levará, enfim à colheita, que poderá ser tremendamente abundante ou mirrada, tudo dependerá da sabedoria do semeador.
Conclusão
No Reino aprendemos que é melhor dar que receber (Atos 20:35). Somos abençoados quando somos fieis e generosos em todas as nossas atitudes referentes à liberalidade financeira. Essa bênção de Deus vem de algumas formas:
- a) Ao vermos irmãos que estavam necessitados serem socorridos;
- b) Ao vermos irmãos sendo supridos e podendo se dedicar à expansão do Evangelho e,
- c) Ao colhermos daquilo que semeamos.
Aqueles que são generosos são como semeadores que plantam muita semente: colherão com abundância (2 Co 9:6; Lc 6:38). Ainda que a nossa motivação não seja a de ter de volta, mas seja a generosidade, a liberalidade, a fidelidade e a obediência - princípios atemporais e imutáveis -, podemos estar certos que o nosso Pai mesmo é quem promete multiplicar não somente os recursos, mas também todo tipo de bênção sobre aquele que é fiel e generoso. Se o Senhor promete, estamos certos de que assim será. Deus multiplica as bênçãos sobre aquele que é fiel. Ele multiplica porque sabe que o discípulo vai investir mais ainda na obra e nas pessoas.
"A quem dá liberalmente, ainda se lhe acrescenta mais e mais; ao que retém mais do que é justo, ser-lhe-á em pura perda. A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado." Pv 11:24, 25
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