sábado, 18 de julho de 2015

SUSTENTO DA IGREJA: SOBRE DÍZIMO E OFERTA


Estudo sobre a importância do investimento na Obra de Deus sob a análise das práticas do dízimo e ofertas. Ministrei esse estudo aos membros da igreja, logo no início do ministério onde congrego, há quase 10 anos. Como estávamos começando com um povo ainda sem noção das implicações espirituais nas questões que envolvem o investimento financeiro na Obra de Deus, foi preciso buscar em Deus o ensinamento correto sobre o assunto. De lá pra cá muita coisa mudou. Amadureci e cresci espiritualmente (e ainda estou em processo de amadurecimento e crescimento...) e a Palavra foi se revelando, trazendo luz. O estudo foi enriquecido com mais conhecimentos e o compartilho aqui com os que me dão o privilégio de acompanhar-me no Blog.

Texto básico: 2 Coríntios 9:5-13 


O discípulo de Jesus é aquela pessoa que renunciou a tudo o que possui (Lucas 14:33). Na verdade tudo pertence a Deus. Quando ao receber Jesus como Senhor renunciamos o que possuímos estamos apenas desfazendo a mentira do mundo que diz que somos donos do que possuímos. O Espírito Santo nos leva a reconhecer e a aceitar que, se tudo veio dEle, tudo é para Ele. Tudo é de Deus, Ele é o Criador. Somos apenas seus despenseiros e é necessário que sejamos bons despenseiros (1 Coríntios 4:1, 2). Paulo disse: 
"Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de CRISTO, e despenseiros dos mistérios de DEUS" (1 Coríntios 4:1). 
A palavra grega traduzida aqui como ministro é huperetes, um remador inferior, um ajudante de remador. Ao utilizar-se desse termo, Paulo está se referindo aos remadores que ficavam na parte mais inferior do navio; remadores submissos a outros remadores... Não é servo (diácono) nem escravo (doulos) mas alguém que trabalha por obrigatoriedade, uma pessoa contratada, que vive sob ordens de um superior, que espera ordens para agir, no caso de Paulo - e nossos, os atuais despenseiros deste barco -, de CRISTO.

O que Paulo pretendia dizer com isso? Que as pessoas deveriam entender que o ministro não age por conta própria, que trabalha sob ordens, obedece a um líder e que tudo o que faz é apenas trabalhar e trabalhar... obedecendo! O renomado teólogo Mathew Henry (✞1662/✩1714) diz: 
"Neste caso, o apóstolo requer respeito ao tipo de ofício que tem, especialmente porque muitos fracassaram na missão apostólica, ainda que outros, possivelmente, colocavam o apostolado como algo muito sublime, elevado, como se Paulo fosse o líder de um partido e, por isso, diziam serem seus discípulos. É nossa opinião de ministros, que deveríamos evitar os extremos.  
Os apóstolos não devem ser super valorizados, pois são ministros, não mestres; despenseiros, não senhores. Eram apenas servos de CRISTO e nada mais, ainda que servos do mais alto escalão, pessoas que cuidavam da despensa, provendo alimento e designando tarefas aos demais." 
Na jornada da vida ministerial, em algum lugar, perdemos o verdadeiro sentido do ministério. O verdadeiro ministério precisa urgentemente ser restabelecido no seio da igreja, e para que isso aconteça é necessário que os pastores voltem ao começo de tudo, repensem seu chamamento, reflitam sobre seus ministérios e deixem o ministério pastoral de cunho profissional para o de cunho vocacional. 

Em Coríntios 3:9, a Bíblia diz dos obreiros: "Nós somos cooperadores de DEUS". Em geral se pensa que o cooperador no trabalho do Senhor seja um obreiro iniciante, ou um mero auxiliar, mas aqui trata-se de um obreiro habituado na Seara do Mestre, dando o máximo de si, com todo esforço, juntamente com os demais, para levar avante o trabalho de CRISTO. No mesmo versículo, a Bíblia diz do rebanho do Senhor: "Vós sois lavoura de DEUS". Agora a cena muda: em vez do obreiro, aparece a Seara do Senhor, na qual o obreiro se ocupa. Obreiros vêm e obreiros vão, mas a Igreja do Senhor permanece, porque ela é obra de DEUS e não de homem. Dela disse JESUS: "A minha Igreja". Desta expressão do Senhor, concluí-se que há outras aglomerações que levam o nome de igreja, mas que não são a sua Igreja.

"Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam." - Salmo: 24:1


Assim, se o que temos na nossa mão não é nosso, mas de Deus, preciso saber cuidar daquilo que é dele. Sou um mordomo, isto é, um administrador das coisas que são de Deus e estão comigo. Não posso dispor dessas coisas como eu quero porque não me pertencem. Devo cuidar delas como o dono manda.

O rei da Davi tinha entendimento. Ele era um homem rico, era um rei, mas sabia que não era dono de nada. Houve uma ocasião em que ele convocou o povo de Israel para entregar uma oferta para a construção do templo. Diante da tão grande quantidade que foi ofertado, ao invés de se orgulhar por achar que eles tinham dado o que era seu, ele apenas reconheceu que apenas haviam devolvido a Deus o que era dEle (1 Crônicas 29:10-14). Já que não somos donos do que possuímos, mas tudo é do Senhor Jesus, como Ele manda que eu cuide dele?

Um coração igual ao do Senhor


O nosso modelo é o Senhor Jesus. Ele, sendo Deus, partícipe na obra da criação de tudo, deixou tudo para nós pudéssemos ser salvos e nos achegar a Deus. Essa atitude de Jesus está descrita em 2 Coríntios 8:9. Ele entregou a sua própria vida. Disso vemos que o dono das coisas que estão na nossa mão é generoso. Ele não apenas se apega a nada, não é egoísta, não vive para acumular riquezas, mas vive para distribuir o que tem (em conformidade com Filipenses 2:3-8). 

Um exemplo maravilhoso de irmãos que aprenderam com Jesus e tinham um coração igual ao dEle é o dos irmãos que moravam na Macedônia. Eles eram muito pobres e ainda estavam passando por perseguição por causa do Evangelho. Por causa dessas dificuldades, quando foi levantada nas igrejas uma oferta para ajudar a igreja em Jerusalém, nada foi pedido a eles. Mas eles insistiram para também dar uma oferta. Eles entregaram mais do que possuíam e dedicaram as suas próprias vidas (2 Coríntios 8:1-5). A Igreja em Jerusalém também vivia assim - Atos 2:44, 45. O Senhor Jesus é generoso, e os seus discípulos também. A generosidade nos faz ter o coração e as mãos abertas, dar com alegria, dar o melhor que tem, buscar atender as necessidades dos outros.

O sustento na "Casa de Deus"


A Casa de Deus é a Igreja. Ele habita no seu povo. Essa casa/povo precisa ser suprido nas suas necessidades que são duas:

a) A edificação da Igreja / expansão do Reino de Deus na Terra e;

b) A assistência aos necessitados da Igreja.

Para o suprimento das necessidades da Igreja, o Senhor e dono de tudo que temos estabeleceu que entregaríamos uma parte do que há na nossa mão para que houvesse suprimento para a igreja. Falemos então sobre o Dízimo. Lei ou graça? Válido ou inválido?

Os dízimos 


"Para que, no caso de eu tardar, saibas como se deve proceder na casa de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da verdade." (1 Timóteo 3:15)

O objetivo deste artigo não é o de se contrapor ao dízimo, mas de esclarecer a verdade da forma certa de como contribuir pela graça, não por coação psicológica e doutrinária, utilizada por muitos líderes de igrejas, através de versículos da lei judaica, mas sim contribuir sem constrangimento exposto em 2 Coríntios 9:7. Vamos aos fatos:
  • O cristão não é obrigado a dar o dízimo, nem por medo do "devorador" (citado em Malaquias 3:11) ou de ser amaldiçoado, porque o dízimo é um mandamento da lei judaica, além disso, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo e Ele já nos abençoou com todas as bênçãos nas regiões celestiais (Romanos 8:1 e Efésios 1:3).
  • Nem rouba a Deus o cristão que não dá o dízimo… não temos o dever de chamar de ladrão a quem Jesus libertou, se ele contribui com 0% ou 100% é uma atitude pessoal, ele é livre para decidir. Jesus condenou a atitude dos judeus escribas e fariseus que dizimavam até o cominho e não ofertavam o seu amor ao próximo (Mateus 23:23). Infelizmente, muitos cristãos têm repetido esta mesma atitude.

Não há um só versículo no Novo Testamento, que registre a obrigatoriedade do cristão dizimar.

Por outro lado, se o cristão deixa de contribuir ou diminui esta contribuição, por que descobre que não é obrigado, está agindo de má fé para com Deus, como fez Ananias e Safira, ele deve contribuir sim e feliz porque sabe que pode fazê-lo por amor a Deus e não por imposição de homens, e segundo o que propuser em seu coração. Toda a contribuição para a Igreja era feita unicamente através de ofertas e partilha de bens. Nós, cristãos, devemos ter o cuidado de não ficarmos como passarinho no ninho: obrigados a engolir o que colocam na nossa boca.

Pela Lei, o dízimo era destinado à tribo levítica, aos sacerdotes desta tribo.

Eles recebiam e se mantinham dos dízimos, porque não tinham herança e cuidavam do Templo de Deus, a Casa do Senhor, para onde os dízimos eram levados (Números 18:21-30). O Templo foi destruído e não existem mais os sacerdotes levitas. Pela Graça, a instituição do dízimo é ilegal e sem respaldo bíblico, porque todos nós somos sacerdotes de Cristo (Apocalipse 1:6), pois não há mais necessidade desta tribo sacerdotal. O Dízimo foi estabelecido para os judeus; não para a igreja de Jesus Cristo (Hebreus 7:5).

Devemos compreender a diferença entre contribuir em LEI e o contribuir em GRAÇA, para não ficarmos debaixo de maldição, e obrigados a guardar toda a lei, se escolhermos seguir um mandamento dela, como disse o apóstolo Paulo em Gálatas 5:3-4, pois quem cumpre um mandamento da lei é obrigado a guardar toda a lei.

Somos servos do Senhor Jesus, não escravos de homens. (1 Coríntios 7:23 e Gálatas 5:1) e foi para a liberdade que Ele nos chamou.

Na LEI, o dízimo era a causa principal da bênção do povo judeu e a bênção era consequência deste dízimo (Malaquias 3:10). A maneira certa do povo judeu contribuir na LEI era dando o dízimo para ser abençoado.

Na GRAÇA, o Sacrifício de Cristo é a causa principal da bênção do povo cristão.

Paulo, em Efésios 1:3, nos afirma que Deus nos abençoou "EM CRISTO", não "EM DÍZIMO", por este motivo, a maneira correta do povo cristão contribuir em GRAÇA é no uso de 2 Coríntios 9:7, porque abençoados já somos.

Ao invés de incentivar os cristãos, com amor, a contribuírem na casa de Deus, muitas autoridades dizem que não o obrigam o pagamento do dízimo, mas usam textos do antigo testamento como: "…repreenderei o devorador"; "…roubais ao Senhor nos dízimos"… etc., que produzem medo nas pessoas e pavor de maldição, porque tais autoridades dependem de altos salários pagos pelas igrejas ou têm receio que a obra do Senhor seja prejudicada se não houver imposição ou, por despreparo repetem os erros dos outros líderes, a todos faltando fé suficiente de que Deus prosperará a igreja, através da contribuição espontânea dos irmãos, como ocorria na igreja primitiva. O resultado disso tudo é o engano, o desvio da Verdade.

Cristo não colocou "VINHO NOVO" (GRAÇA) em "ODRES VELHOS" (LEI) - Marcos 2:22.


Jesus estabeleceu tudo novo e jogou fora o que era velho (Gálatas 4:30 e Hebreus 8:13). Não podemos fazer do cristianismo uma seita judaica. Paulo afirma isso em Gálatas 2:14. Toda esta confusão sobre o dízimo seria erradicada do nosso meio se nos empenhássemos mais em conhecer profundamente a Palavra, sermos adultos na fé e não meninos. Se quisermos nos aprofundar na Palavra, devemos confrontar sempre o que as pessoas ensinam com o que a Bíblia realmente diz (1 João 2:27), fazermos como os crentes de Beréia. 

Ofertas


Deixando claro meu posicionamento sobre o dízimo, quero falar sobre as ofertas. Não sou daqueles que acham que alguém que se identifique como um "dizimista fiel" esteja isento de observar a importância da oferta que, assim como o dízimo, deve ser de cunho pessoal e voluntária. Em ambos os casos o diferencial estará na motivação que te levou à atitude. Entendido que tudo é do Senhor, vou fazer menção da oferta com base nos três tipos descritos na Bíblia:
  1. As ofertas alçadas - São ofertas entregues com um objetivo específico. Todos se mobilizam para atingir um determinado alvo e atender a uma necessidade. Temos isso na construção do tabernáculo por Moisés (Êxodo 25:1, 2, 8, 9). Temos também a mobilização para o sustento dos irmãos necessitados de outra região (Romanos 15:26, 27; 1 Coríntios 16:1-4).
  2. As primícias - Estas são aquelas ofertas que representam o melhor da nossa força. do nosso auge, o melhor da nossa produção ou renda. É a oferta não do que sobra, mas é aquilo que recebemos como o melhor vindo de Deus para nós e resolvemos entregar e volta a Ele. É uma atitude de agradecimento, de reconhecimento do favor do Senhor (Gênesis 4:4, 5; Êxodo 23:19; Provérbios 3:9, 10). Entrego as minhas primícias, por exemplo, quando entrego aquilo que seria para planos pessoais, mas resolvo ofertar ao Senhor, expressando a Ele que o priorizo e certo de que Ele sempre tem o que é melhor para mim. Abro mão de algo que poderia ser o melhor para o meu bem estar pessoal, para que as necessidades da Casa de Deus sejam supridas.
  3. A oferta de fé - Estas fazem parte das primícias. É aquela oferta voluntária como a que os filipenses mandaram para Paulo quanto nenhuma outra igreja mandou (Filipenses 4:15, 16), ou como a oferta da viúva que deu tudo que tinha quando os outros davam do que sobrava (Lucas 21:1-4). É a oferta dada com alegria segundo uma decisão pessoal, mesmo que não haja uma convocação específica (2 Coríntios 9:7).
É importante que entendamos que a prática da oferta continuou fazendo parte da doutrina na Igreja primitiva. Outra coisa que precisa ficar entendida é que nenhuma oferta pode ser imposta. É algo pessoal, voluntário e depende da disponibilidade. Não lícito e nem moral que líderes imponham às igrejas qualquer tipo de oferta sob coação, constrangimentos ou ameaça.

Cuidado dos que ministram no altar - 1 Tm 5:18b 


A Bíblia ensina - tanto no AT, quanto NT -, que aqueles que se dedicam à proclamação da Palavra de Deus devem ser sustentados por aqueles que desse trabalho recebam bênçãos espirituais (1 Coríntios 9:7-14). Ou seja, é um dever de todos os que recebem o ensino da Palavra de Deus ajudar a sustentar materialmente àqueles que ensinam a Palavra. Deixar de prover o sustento desses obreiros - sejam eles pastores, mestres, evangelistas, missionários -, quando há recursos disponíveis é semear egoísmo e ganância na carne e colher corrupção (Gálatas 6:6-8). A igreja que verdadeiramente ama sua liderança, recebe em seu espírito essa verdade sem resistência, sem questionamentos, sem especulações. Ela entende que está plantando em terra fértil e que certamente colherá justa medida recalcada, sacudida e transbordante, à trinta, sessenta, cem por um.

A Lei da Semeadura - 4 Princípios básicos


Deus só dá semente a quem semeia - 2 Co 9:10, 11:
  1. Quem semeia colhe na mesma proporção semeada - 2 Co 9:6; 
  2. O semeador colherá em espécie - Gl 6:7. 8; 
  3. O semeador deve ser perseverante - Gl 6:9.
  4. No Reino de Deus - a nossa Seara espiritual -, há um paralelo com o reino físico e material. Vejamos a figura do agricultor. Se o agricultor não tiver um alvo, um objetivo, uma meta para colheita, certamente fracassará. Mas ele traça seu plantio, sua semeadura baseando-se numa colheita que ele ainda não vê, mas na qual ele espera. O que é isso? Para o semeador natural, expectativa; para o semeador espiritual, fé (Hb 11:1). 
Ou seja, quando levarmos nossas ofertas ao altar do Senhor, temos de fazê-lo na fé em nossa colheita. Essa fé é quem irá determinar a qualidade do que semearemos. Essa fé é quem irá nos impulsionar ao preparo da terra. Essa fé é quem nos fará descansar até chegar o tempo da maturação e nos levará, enfim à colheita, que poderá ser tremendamente abundante ou mirrada, tudo dependerá da sabedoria do semeador.

Conclusão


No Reino aprendemos que é melhor dar que receber (Atos 20:35). Somos abençoados quando somos fieis e generosos em todas as nossas atitudes referentes à liberalidade financeira. Essa bênção de Deus vem de algumas formas:
  • a) Ao vermos irmãos que estavam necessitados serem socorridos;
  • b) Ao vermos irmãos sendo supridos e podendo se dedicar à expansão do Evangelho e,
  • c) Ao colhermos daquilo que semeamos.
Aqueles que são generosos são como semeadores que plantam muita semente: colherão com abundância (2 Co 9:6; Lc 6:38). Ainda que a nossa motivação não seja a de ter de volta, mas seja a generosidade, a liberalidade, a fidelidade e a obediência - princípios atemporais e imutáveis -, podemos estar certos que o nosso Pai mesmo é quem promete multiplicar não somente os recursos, mas também todo tipo de bênção sobre aquele que é fiel e generoso. Se o Senhor promete, estamos certos de que assim será. Deus multiplica as bênçãos sobre aquele que é fiel. Ele multiplica porque sabe que o discípulo vai investir mais ainda na obra e nas pessoas.
"A quem dá liberalmente, ainda se lhe acrescenta mais e mais; ao que retém mais do que é justo, ser-lhe-á em pura perda. A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado." Pv 11:24, 25

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