Este artigo é adaptação do esboço de uma ministração realizada por mim na Igreja Batista El-Hanã junho de 2005.
O maior desejo de Deus sempre foi o de habitar em meio ao seu povo. Habitação indica intimidade, intimidade indica comunhão. Este desejo do Senhor fica evidente em sua comunhão com Adão, no jardim do Éden, quando Ele o visitava constantemente na viração do dia (Gn 8).
O momento preferido do dia, para mim, é o entardecer. Amo muito poder apreciar o por do sol. As cores perfeitas e incríveis que colorem o céu. O dourado do sol refletindo nos prédios, na água... imagine o espetáculo para quem more nas orlas marítimas. Mesmo quando é dia chuva o entardecer tem sua beleza. Dá uma vontade enorme de fotografar o por do sol no distante horizonte. Mas é também nesse momento de apreciação de tanta beleza que sinto grande nostalgia, e me lembro sempre do texto em Gênesis 3:8-10 que conta que Deus visitava Adão e Eva no final de cada dia, na viração do dia. Fico tentando imaginar o privilégio de receber a visita pessoal de Deus todo final de tarde, com aquele poente arrebatador, enquanto ele perguntava aos dois como havia sido mais aquele dia, no Éden. Que esplêndida comunhão, quanta intimidade. Mas o relato da última visita de tamanha intimidade é muito triste.
O pecado abriu um enorme abismo que separou a humanidade de Deus. A sequência de fatos que se seguem, contudo, nos revela que o Criador não poupou esforços no intuito de mover as paredes da separação entre Si e a expressão máxima de sua Criação, mesmo que a construção desta não tenha tido qualquer participação dEle.
Veio o cativeiro egípcio e Deus levantou o libertador, o profeta Moisés, que foi o "ponto de contato" entre o povo hebreu - símbolo da humanidade caída - e o Senhor. Moisés tornou-se amigo íntimo de Deus, para quem Jeová revelava seus segredos, decepções e propósitos. E foi justamente a ele que o Senhor confidenciou o desejo de tabernacular novamente em meio ao seu povo escolhido. Deus queria que toda a humanidade pudesse aproveitar do que ali era um privilégio apenas de Moisés e em intensidade infinitamente superiores. Então Deus revelava sua sua presença através da nuvem de fumaça e da coluna de fogo e fazia-se ouvir através de Moisés. Só que essa era uma relação distante, transitória e Deus queria algo mais, Ele queria estar próximo ao seu povo de forma permanente, eterna. Deus age sob o princípio da eternidade e não se contenta com nada que seja transitório.
Falando de Templos
E aqui que fique claro, por favor, que não estou me referindo a templo sob o contexto de denominações e nem fazendo alusão ao "templocentrismo" - ou seja,colocando o templo como o centro. O cerne do artigo é o desejo de Deus em estar próximo do homem. Desde o primeiro templo construído para Deus pelos israelitas, que foi o Tabernáculo, no qual era um templo móvel, que montava-se e desmontava-se, logo após a sua construção e consagração, diz a Bíblia em Êxodo 40:34 “Então, a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do SENHOR encheu o tabernáculo.”
Aproximadamente 500 anos depois, é construído um novo templo, desta vez fixo, um grande templo construído pelo rei Salomão na cidade de Jerusalém, e mais uma vez, logo após a construção e a consagração, a Bíblia diz em 2 Crônicas 7:1 “Tendo Salomão acabado de orar, desceu fogo do céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios; e a glória do SENHOR encheu a casa.”
Vimos que, no Antigo Testamento a glória de Deus pousava e enchia o templo dos Israelitas, e todos que estavam no templo viam 2 Crônicas “7:3 Todos os filhos de Israel, vendo descer o fogo e a glória do SENHOR sobre a casa, se encurvaram com o rosto em terra sobre o pavimento, e adoraram, e louvaram o SENHOR, porque é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre.” E hoje? Em que templo Deus derrama sua glória? Em vista que que há milhares e milhares de templos e diferentes denominações, e já não vemos mais nem o fogo, nem a nuvem descer sobre o templo, ainda existe algum templo verdadeiro, no qual Deus enche com sua glória?
Para descobrirmos isso, vamos agora estudar um pouco o Novo Testamento, ou Nova Aliança, que Deus fez com o homem, através do sacrifício de Jesus na cruz do calvário, na qual nós, nos dias de hoje vivemos.
Vemos na Bíblia Sagrada, que no momento em que Jesus entregou seu espírito, o véu se rasgou de alto a baixo, Mateus 27:50,51 - “E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito. Eis que o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas;”, o véu [símbolo do pecado] fazia separação entre o santo dos santos, onde só os sacerdotes podiam entrar e o resto do templo, onde os demais ficavam. Quando o véu se rasgou, o caminho para Deus foi aberto para todos os que confessam a Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador. Mas, a nossa pergunta ainda continua sem resposta, qual o templo verdadeiro, onde Deus ainda derrama a sua glória?
Depois que Jesus veio e morreu por nós, muitas coisas mudaram, mas, o nosso Deus não mudou, Ele é imutável, e como no Antigo Testamento Ele enchia o templo com a sua glória, nos dias atuais, Ele continua enchendo o templo com sua glória, mas que templo é este? É o crente em Cristo Jesus, e a glória com a qual Ele nos enche, é o Espírito Santo, que é derramado sobre o crente, e o Espírito Santo passa a habitar dentro do seu corpo, que é o templo de Deus.
Agora, vamos entender através da Bíblia, como isso acontece. No dia de Pentecostes, deu-se o início da igreja de Cristo (Atos 2), com o derramamento do Espírito Santo sobre os crentes em Cristo Jesus, a partir de então, todos os que escutavam a pregação do evangelho e criam, e recebiam a Jesus como único Senhor e Salvador, Deus enchia-o com o Espírito Santo. Umas das coisas que mudou, foi o conceito da palavra “templo”, antes, o templo era o edifício ou a construção, que agora é conhecido como casa de oração Mateus 21:13 “E disse-lhes [Jesus]: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração;”, agora, a palavra templo, se refere ao corpo do cristão, 1 Coríntios 3:16 “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”.
O crente em Cristo Jesus, é o verdadeiro templo de Deus, no qual Deus enche com a glória do Seu Espírito. Mas, atenção! Assim como a glória de Deus se afastou do templo de Salomão, por causa dos pecados dos israelitas, e o templo foi queimado e destruído pelos babilônicos, assim também, a glória do Espírito Santo pode se retirar do nosso templo, por causa dos nossos pecados.
Uma das maneiras de entender esse inefável desejo de Deus em comungar conosco vou usar como figura de linguagem o Tabernáculo, o templo de Salomão, o templo reconstruído por Neemias,, Esdras e Zorobabel, o templo de Herodes, Jesus [e a Igreja/o crente] e a eternidade. Não entrarei na complexidade dos detalhes, me aterei à conclusão da mensagem profética de cada um deles.
1°. Templo - o Tabernáculo de Moisés - Ex 28:4-35; 39:1-32
O Tabernáculo era o santuário físico de Deus que foi minuciosamente construído, conforme o modelo que Ele próprio descreveu a Moisés. Cada detalhe, cada peça, cada tecido, cada cor, cada ritual referente ao Tabernáculo tem um significado espiritual que tipifica e aponta para o Messias vindouro e sua obra de redenção na cruz do calvário. O Tabernáculo representa Cristo o Único Meio pelo qual Deus habita no meio dos pecadores. Portanto estas vestes nos ensinam de Cristo no Seu oficio do Único Mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2:5, 6). Sabemos que as vestes do sumo sacerdote e dos seus filhos “são para glória e ornamento” (Êx 28:2, 40). Cada peça manifesta a glória de Cristo e ensina-nos como a Sua Pessoa e Seus Atributos são adornos diante de Deus na Sua Obra Medianeira. Não procure outra lição no estudo destas vestes a não ser de Cristo.
O Tabernáculo era “uma alegoria para o tempo presente”, ou seja, naquele tempo o Tabernáculo servia para a habitação do Senhor (Êx 25:8; Hb 9:9), e era a “sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas” (Hb 10:1). Portanto o Tabernáculo não é um modelo para nós hoje imitarmos na igreja. Tudo no Tabernáculo era uma representação de Cristo, e quando Cristo veio, todas essas “sombras” não tinham mais a necessidade de existir. Por isso, não há razão nenhuma para o sacerdotalismo e ritualismo existirem em nenhuma igreja evangélica hoje.
2°. Templo - Templo de Salomão - 1 Crônicas 21
Davi desejou construir uma casa para o Senhor. Entretanto, ao contrário do tabernáculo, o templo não fora um desejo de Deus e sim do rei. Acredito que o Senhor tenha entendido a motivação de Davi e, por motivos pessoais entre os dois, não permitiu que o templo fosse construído por Davi e a incumbência da maravilhosa obra ficou por conta de seu primogênito, Salomão, que herdou de seu pai o mesmo desejo e ambos, pai e filho, não mediram esforços, tempo, dedicação e investimento financeiro para fazer uma obra excelente e dedicá-la ao próprio Deus. Apesar de o propósito ser, ainda que indiretamente, o mesmo referente ao tabernáculo, ou seja, continuar o alicerce para reconstrução da comunhão derribada, trazendo de volta uma referência física da presença de Deus. Também ao contrário do tabernáculo, quem ditou o modelo, o projeto arquitetônico dessa vez foi do rei Davi e Deus apenas aprovou o projeto nascido no coração do rei que, "coincidentemente", era igual ao Seu [de Deus]. Após construído e apresentado ao Senhor, em sinal de sua aprovação, Ele o consagrou com a explosão de sua glória no interior do templo. Eis aqui novamente a mensagem profética da comunhão: a manifestação da glória de Deus no interior do templo - a presença de Deus através da comunhão de sua glória (2 Cr 7:1, 2). Mais ainda não era esse o templo que Deus queria...
3°. Templo - O que foi reconstruído por Neemias, Esdras e Zorobabel - Esdras 1; Neemias 1; Ageu 2
Cinquenta anos mais tarde, Deus move o coração do impio rei Ciro, para que o povo regressasse a Palestina e reconstruísse o templo que fora destruído pelo rei caldeu Nabucodosor. No contexto físico o templo pode ser considerado o mesmo, muito embora, aquele templo restaurado não tinha a suntuosidade do anterior (Ageu 1, 2), mas espiritualmente era uma renovação, pois requereu um novo esforço envolvendo uma nova geração de um povo remanescente, que experimentou o amargo afastamento de Deus e foi por Ele tirado novamente da escravidão do cativeiro babilônico. Isso te lembra alguma coisa? No capítulo 2 do livro do profeta Ageu, Deus dá "pistas" proféticas de seu intento em tabernacular em um templo futuro, cuja glória excederá em todos os níveis aos até então construídos. Ou seja, não era este o templo onde Deus se sentia à vontade...
4°. Templo - o templo de Herodes
No início da da era do Novo Testamento, o rei Herodes também investiu tempo e dinheiro em mais uma reconstrução do novo templo. O mesmo templo de cuja porta Jesus expulsou os mercadores e onde tempos depois Pedro e João curou o paralítico na porta chamada Formosa. A fixação dos judeus nesse templo expressa um desejo incontido pela presença de Deus, porém, com esforços e recursos humanos não é possível atrair a presença dEle. Para que se faça presente, Ele é quem ditará os princípios. Há protocolos rigorosos para receber a visita de alguém ilustre e importante. Imagine então para que se receba o Rei dos reis e Senhor dos senhores?
Muitos de Seus discípulos eram da região da Galiléia e, portanto, eram vistos pelos habitantes de Jerusalém como "caipiras do interior em visita à capital"! Eles estavam maravilhados com o grandioso Templo, construído pelo rei Herodes para o povo judeu (como uma manobra política para ganhar a cooperação deles) e, em meio ao seu entusiasmo, queriam chamar a atenção do Senhor para o templo. Em outras palavras, a atitude ingênua deles foi: "Viu que linda construção?"
O que eles obviamente não perceberam é que, por causa de Sua divindade, o Senhor sabia o destino terrível que aguardava aquela "linda construção" no futuro. Foi por isso que Ele fez a pergunta retórica: "Não vedes tudo isto?" Em seguida, fez a seguinte declaração profética:
"Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada." - Mt 24:2b. Não era este o templo de Deus... o templo Emanuel! O Tabernáculo em forma e essência à vontade de Deus.
5°. Templo - Jesus
Jesus muda o conceito de templo, que até então era um espaço físico, um local onde Deus habitava e, que a partir dEle, seria um templo vivo, móvel, ativo. Um templo vivo. Sei a participação das mãos do homem, ao qual Deus até deu a oportunidade para ele construir, mas que ele se mostrou ineficaz e falhou em todas as tentativas e, o máximo que conseguiu foi a presença transitória de Deus, sendo que o que Deus sempre quis foi sua permanência, sua morada eterna. Jesus então nos preparou - através dos discípulos (que nos prefiguravam) - em templos (as muitas moradas descritas em João 14:2). Eis estabelecido o templo Emanuel (Mt 1:23 - Emanuel (em hebraico: עמנואל , Deus conosco; em latim: Emmanuel).
No seu encontro com a mulher samaritana. Jesus quebrou de vez todos os conceitos religiosos arraigados no interior do povo judeu sobre a forma e o local de culto. Veja bem, o culto é oferecido ao Senhor e, para cultuá-lo, é imprescindível que Ele esteja presente - eis aí a necessidade da comunhão. Pois bem, a mulher samaritana estava aprisionada à figura do templo. Jesus, expressão visível em plenitude do Deus invisível, estava, diante dela, em busca de comunhão e ela, por estar aprisionada em preceitos de uma religiosidade externa, acostumada com rápidas visitações do Deus eterno, recebeu a orientação necessária para que ela própria fosse Seu tabernáculo (João 4).
6°. Templo - O homem redimido - 1 Coríntios 6:15; 2 Coríntios 6:19
Após a conclusão da obra da redenção realizada por Jesus Cristo na cruz do calvário, o Espírito Santo veio então fazer morada no homem vivificado e redimido, purificado e interiormente transformado pela lavagem da Palavra da Fé. Agora sim, Deus encontrará o que estava há tempos procurando. O templo derribado pelo primeiro Adão fora integralmente, completamente restaurado, reedificado pelo segundo e último Adão, e inaugurado no dia do pentecostes. Tetelestai: e Deus, então, veio na pessoa do Espírito Santo tabernacular dentro do seu templo eterno (citados sequencialmente: João 19; 4:23; 1 Coríntios 15:45; Atos 1, 2). Em Jesus somos tudo, sacerdotes - ou seja, habilitados para entrar e adorar na presença de Deus (1 Pe 2:9); profetas - ou seja, responsáveis por levar a Palavra de Deus (Rm 10:8-10); o holocausto - ou seja, a oferta entregue e queimada (Fé) no altar do sacrifício (Rm 12:1, 2) e o próprio templo. E não precisa nenhum rito cerimonial. O único preceito está resumido em tudo o que envolve a Fé genuína (Hebreus 11).
Somos o templo de Deus, excedente em poder glória e excelência. Nós fomos criados a imagem e semelhança de Deus (Gn 1:26). Somos feitura sua, criados para o louvor da sua glória. Deus colocou em nós o fôlego de vida e fomos criados para sermos sua habitação. Ele fez tudo isso para vir morar dentro de nós. Portanto, nosso corpo deve refletir a santidade d'Ele. Para isso acontecer temos que cuidar de nosso corpo - o derradeiro templo do Deus eterno - com zelo.
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