Um dos ícones da MPB, Lô Borges, morreu na segunda-feira, 3, aos 73 anos, aqui em Belo Horizonte (MG).
O cantor e compositor estava internado com um quadro de intoxicação por medicamentos desde 17 de outubro após passal mal.
Quem foi Lô Borges
Poucos artistas representaram de maneira tão fiel o espírito de uma geração quanto Lô Borges.
Cantor, compositor, guitarrista e poeta intuitivo das harmonias, ele fez da juventude mineira dos anos 1970 um estado permanente de invenção.
Lô Borges foi um dos fundadores e principais expoentes do icônico Movimento Clube da Esquina, que se originou em Belo Horizonte nos anos 1960.
Ao lado de Milton Nascimento, ele lançou, em 1972, o clássico disco "Clube da Esquina", tido até hoje como um dos maiores álbuns da música brasileira.
No mesmo ano, lançou também seu primeiro trabalho solo, um disco autointitulado que trouxe influências psicodélicas e um tom experimental.
História
Sexto filho do casal Salomão e Maricota Borges, Salomão Borges Filho, o Lô Borges, nasceu predestinado à música.
Os pais eram músicos amadores — e a casa cheia de filhos, seriam 11 ao todo, facilitou um ambiente propício a melodias e poesia.
Lô contava que aprendeu a tocar violão com a bossa nova, ainda menino.
Mas o grande encanto veio mesmo com os Beatles, conjunto que se reuniu a partir de 1960.
Ainda de calça curta, como ele costumava falar, formou a banda cover The Bevers para cantar em programas infantis de TV em Belo Horizonte.
Além de Lô, estavam na banda Yé Borges, seu irmão, Beto Guedes e Márcio Aquino.
Dentro de casa, Lô se ligaria musicalmente principalmente com seu irmão seis anos mais velho, Márcio Borges, o Marcinho.
Quando Lô nasceu, seu irmão, Márcio, com seis anos, pediu à mãe:
"Dá esse menino para mim?".
Márcio, ou o Marcinho, seria para Lô muito mais que o irmão que o desejou como presente.
Os dois estabeleceram um relação duradoura e produziriam obras-primas da música popular brasileira.
Lô e Bituca, um capítulo especial na história do Clube da Esquina
Como não se bastasse uma casa cheia de meninas e meninos querendo fazer música, o casal ganhou um filho postiço, Milton Nascimento, o Bituca, que de vizinho virou presença assídua do apartamento dos Borges, no Edifício Levy, no centro de Belo Horizonte.
A história de Lô Borges e Milton Nascimento é marcada por uma profunda amizade e parceria musical que resultou na criação do icônico movimento e álbum "Clube da Esquina".
O início da amizade
Lô Borges conheceu Milton Nascimento quando Lô tinha apenas 10 anos e Milton cerca de 20.
Eles eram vizinhos no mesmo prédio em Belo Horizonte. Lô ouviu Milton tocando violão e cantando na escadaria e ficou imediatamente fascinado pelo som.
Milton, por sua vez, já conhecia os irmãos mais velhos de Lô, Márcio e Maril Borges.
Milton rapidamente se tornou uma figura constante na casa da família Borges, sendo tratado como um filho pelos pais de Lô e um irmão pelos jovens músicos.
A casa dos Borges, e especificamente a esquina entre as ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro Santa Teresa, tornou-se o ponto de encontro de jovens talentos, o que deu origem ao nome "Clube da Esquina".
A parceria musical e o álbum "Clube da Esquina"
A amizade se aprofundou e, anos depois, em 1972, Milton convidou Lô, então com 19 anos, para morar com ele no Rio de Janeiro e gravar um disco.
Desse convite nasceu o álbum duplo "Clube da Esquina", um marco da Música Popular Brasileira (MPB) que misturava influências do rock, jazz, bossa nova e música regional mineira.
Um álbum inovador, com canções que escaparam da censura em meio à Ditadura Militar, no Brasil: lançado em 1972, o disco "Clube da Esquina", virou assunto, depois de ser escolhido como o nono melhor de todos os tempos, por especialistas da revista Paste, dos Estados Unidos.
"Clube da Esquina" é uma epopeia sonora de 21 faixas que cruzou Beatles, jazz, regionalismo e misticismo mineiro.
O disco foi um divisor de águas na música popular, e Lô era o autor de boa parte das canções que se tornaram clássicos — entre elas 'Um Girassol da Cor do Seu Cabelo', 'Tudo Que Você Podia Ser' e a maravilhosa 'Paisagem da Janela'.
Depois da estreia solo, Lô só lançaria outro disco sete anos depois, em 1979.
É verdade que uma geração de vários artistas de personalidade já se delineava no cenário belo-horizontino, mas a coisa começa a tomar forma quando um dos mais talentosos, um certo Milton Nascimento, se aproxima da família Borges que vivia no bairro.
É verdade que uma geração de vários artistas de personalidade já se delineava no cenário belo-horizontino, mas a coisa começa a tomar forma quando um dos mais talentosos, um certo Milton Nascimento, se aproxima da família Borges que vivia no bairro.
As intervenções harmônicas, aliás, seriam a grande novidade da música que os mineiros apresentavam ao Brasil.
Se de início os acordes seguiam comportados os rumos indicados pelas gerações influenciados pela bossa-nova, não tardaram a assumir um estilo próprio na criatividade de artistas como Wagner Tiso e Toninho Horta, além do próprio Milton, que também deixava o seu timbre de instrumentista ao explorar a percussividade das cordas de seu violão, destoando do que até então se fazia na MPB.
LPs ou um movimento?
Não há consenso entre pesquisadores sobre o que é, precisamente, o Clube da Esquina. Para uns, são os dois LPs, produzidos em 1972 e 1978 e conduzidos por Milton Nascimento, com a participação de diversos músicos e compositores mineiros.
Para outros, trata-se de um movimento mais sistemático, que tem início em Minas Gerais, mas se espalha pelo Brasil e pelo mundo.
As principais características do Clube da Esquina são os temas das letras das músicas, como amizade, utopia de um mundo melhor, natureza e os espaços rural e urbano, e a singularidade das melodias, das harmonias e dos arranjos.
A multiplicidade sonora e a diversidade cultural caracterizam a produção musical do Clube da Esquina.
A relação deles transcendeu a música, sendo um exemplo de amizade e colaboração que uniu uma geração de músicos mineiros, incluindo Beto Guedes e outros.
Milton Nascimento sempre considerou Lô Borges uma das pessoas mais importantes de sua vida e carreira.
Naquele mesmo ano, lançou seu primeiro disco solo, o lendário "Lô Borges", apelidado de "disco do tênis" pela capa emblemática.
Gravado com Beto Guedes e Flávio Venturini, o álbum revelou um compositor de melodias solares e harmonias inusitadas.
Décadas depois, seria reverenciado por músicos do mundo inteiro, de Pat Metheny a bandas do indie britânico.
O álbum, de capa azul com um tênis voador (símbolo de liberdade), contou com composições notáveis da parceria, como a faixa-título 'Clube da Esquina' (feita em parceria com Márcio Borges) e 'O Trem Azul'.
A musicalidade e as melodias de Lô Borges foram cruciais para a identidade sonora do movimento.
o álbum "A Via Láctea", o álbum de 1979, colocaria o compositor em evidência não apenas pela faixa-título e de 'Equatorial', mas também pela versão com letra de 'Clube da Esquina nº2', feita por Márcio Borges a pedido da cantora Nana Caymmi (☆1941/✞2025).
Antes, porém, o Clube se reuniu novamente para o álbum "Clube da Esquina nº 2", no qual Lô contribuiu com canções como 'Ruas da Cidade' e 'Pão e Água'.
Lô seguiu gravando nos anos 1980. Nessa década, lançou "Nuvem Cigana" (1982), "Sonho Real" (1984) e "Solo" (1987).
Em 1996, foi a vez de "Meu Filme", que contou com a participação de Caetano Veloso na bossa 'Sem Não'. Também deu sua versão para 'Te Ver', hit do Skank.
Em 2001, fez uma retrospectiva da carreira ao lançar o álbum "Feira Moderna", com regravações de canções como 'Para Lennon & McCartney', 'Equatorial', 'Nuvem Cigana', 'O Trem Azul', 'Sonho Real', além da faixa-título.
Lô se juntou ao também mineiro Samuel Rosa, ex-vocalista do Skak, em 2016, para o álbum "Samuel Rosa & Lô Borges — Ao Vivo No Cine Theatro Brasil".
Além de novas versões para sucessos de ambos, apresentaram inéditas, entre elas, 'As Noites' e 'Dupla Chama', e 'Dois Rios', parceria de ambos com Nando Reis que se tornou sucesso, o primeiro de Lô desde os anos 1980.
Em 2018, em um álbum ao vivo gravado no Circo Voador, no Rio de Janeiro, Lô juntou músicas de 1º disco do tênis e do Clube da Esquina.
A partir de 2019, entrou em um período de grande atividade e lançou um disco por ano com composições inéditas: 'Rio da Lua' (2019), 'Dínamo' (2020), 'Muito Além do Fim' (2021), 'Chama Viva' (2022), 'Não Me Espere na Estação' (2023) e 'Tobogã' (2024). Em 2025, dividiu um disco com Zeca Baleiro, "Céu de Giz".
Para Lô, a composição era um "ato cotidiano", como declarou ao Estadão.
"A composição é meu alimento espiritual. É o momento em que a vida faz mais sentido para mim. Compor é amar. Se eu não componho, sinto que falta algo",
disse, em 2021.
Lô contou que, certa vez ficou um ano sem compor.
"Me achava o bom. Achei que quando quisesse, voltaria. Quando quis voltar, foi uma dificuldade.A gente tem que manter a fé cega e a faca amolada".
Conclusão

Se você é amante da MPB com certeza já ouviu falar sobre o Clube da Esquina. O que poucos sabem, contudo, é que o Clube da Esquina nunca foi uma banda, mas sim um movimento que dominou Minas Gerais.
Apesar de não ser o primeiro de Milton, o disco que levava o nome da nova escola, Clube da Esquina, lançado em 1972, seria um importante cartão de visitas da proposta musical dos mineiros e ficaria marcado como um dos mais importantes álbuns da história musical brasileira.
Antes dele, em 1970, já havia saído o disco Milton, que apoiado pela banda Som Imaginário já trazia a influência do rock, além de outra importante característica, a utilização da percussão ocupando espaço de destaque no arranjo, e não apenas se limitando a acompanhar a melodia principal.
Em breve o som do Clube da Esquina chegaria à Europa e aos Estados Unidos, fazendo a cabeça de músicos consagrados, como o guitarrista Pat Metheny, que se apaixonaria principalmente pela música de Milton, de quem se tornaria amigo e parceiro em muitas apresentações.
Reza a lenda que Pat teria certa vez incumbido um músico amigo seu que fora tocar em Belo Horizonte de visitar a esquina onde tudo teria começado.
O músico estadunidense queria saber o que havia no lugar para ter motivado uma música tão especial.
Aliás também por aqui a sonoridade dos mineiros produziria seus encantos, e o exemplo mais eloquente seria Elis Regina (☆1945/✞1982), cuja voz imortalizaria grandes composições, como 'Maria Maria' e 'Nada Será Como Antes'.
Com os rumos tomados depois da abertura política, a música do Clube da Esquina foi se afastando um pouco das raízes originais e derramando sua arte de excelência pelo cenário da MPB como um todo.
Mas a espontaneidade do som mineiro e a informalidade que o tornava menos um movimento musical do que uma "roda de velhos amigos" permaneceria eternizada na história da arte e da cultura brasileiras.
Por tudo isso e muito mais, a morte de Lô Borges significa uma perda inestimável para a história da Música Popular Brasileira.
[Fonte: Appai, original por Por Sandro Gomes | Professor, escritor, mestre em literatura brasileira e revisor da Revista Appai Educar. UFMG.]
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.

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