Ao contrário de mim, que os detesto, quem nunca se interessou por super-heróis? O sucesso dos super-heróis em nossa cultura parece poder ser relacionado, por exemplo, ao conceito psicanalítico de onipotência infantil que é vivenciada pelo bebê, ser em total dependência, através da satisfação de suas necessidades básicas para sobrevivência.
Como seu ser ainda está misturado com os de seus adultos cuidadores, ele não diferencia entre o benefício decorrente da ação de seu cuidador e o que foi causado por seu grito ou gesto.
Desse modo, o bebê acredita que tanto ele quanto seus pais possuiriam "super-poderes". A figura do super-herói, neste contexto, poderia representar o saudosismo dessa nossa tenra idade em que tudo parece ser possível e nossos pais são todo-poderosos.
Seja para adorar ou para criticar os filmes, não é à toa que esse gênero caiu nas graças da maior parte de crianças, jovens — e até mesmo de alguns adultos. Mesmo que você acredite que isso se dá pelos personagens legais ou pelas histórias interessantes, isso tem muito a ver com a psicologia nos filmes da Marvel e de outras franquias.
Os ʜᴇʀᴏ́ɪs ᴇ ᴀ Psɪᴄᴀɴᴀ́ʟɪsᴇ
O arquétipo do herói dá sentido para todas as histórias que escutamos desde a infância, e serve para externar elementos que temos no nosso subconsciente, de acordo com Jung (✰1875/✞1981).
Os super-heróis da Marvel, especificamente, apesar de possuírem super-poderes, apresentam características humanas, criando maior proximidade e identificação com seus fãs e podendo explicar a sua popularidade com o público adulto.
Porque se as crianças são as mais impressionadas com os super-poderes dos personagens, são os adultos os que mais se divertem com as piadas dos super-heróis durante o filme.
Neste contexto, segue abaixo a análise psicanalítica dos principais personagens da trama que pode auxiliar na compreensão da popularidade do filme do ponto de vista psicanalítico:
Então, falando de um jeito mais light, podemos entender que a figura do herói faz com que a gente se identifique com seus problemas e nos dê esperança de momentos melhores. Eles inspiram e refletem os valores sociais da época em que foram criados!
A identificação, de acordo com Freud (✰1856/✞1939), é a mais antiga e original forma de a gente se ligar com algo ou alguém de forma afetiva. Por isso, há heróis que fazem a gente pensar em nós mesmos, falando
"nossa, eu sou assim também!",e são esses que caem na graça do povo.
Este é o propósito desta série especial. Tentar desvendar os aspectos psicológicos de personagens, agora, os da Marvel.
Cᴀᴘɪᴛᴀ̃ᴏ Aᴍᴇ́ʀɪᴄᴀ
O Capitão América é o codinome do de Steve Rogers que viveu durante a Segunda Guerra Mundial.
Steve era um jovem franzino que queria servir os Estados Unidos, por isso passa por um experimento em que ganha superpoderes. Contudo, devido a vários eventos, ele é congelado por quase 90 anos.
Por ter nascido em uma época e estar vivendo em um momento bem diferente, o Capitão América se sente bastante deslocado.
Mas aprende que é necessário contar com seus amigos vingadores para poder sobreviver, mesmo sentindo falta daqueles que estão em outra época.
Steve Rogers/Capitão América
O personagem surgiu na época da II Guerra Mundial para aumentar a autoestima americana durante o conflito. Ele era um rapaz franzino e com problemas de saúde que possuía um grande potencial para o heroísmo.
Dessa forma, aceita participar de experimento para se tornar um supersoldado e lutar contra os nazistas. Porém, ao final da guerra, após sua queda de um avião, permaneceu congelado nas últimas décadas. Sua convocação para os Vingadores é explicada pelo agente Coulson:
"As pessoas precisam de algo antiquado".
O que poderia ser mais antiquado que um capitão no mundo atual, em que não há limites, valores e ideologias absolutas para se seguir? No entanto, percebe-se que certo direcionamento é necessário para se posicionar diante dos impasses do dia-dia.
O dilema humano básico de Erich Fromm se desenrola na telona com o grande conflito dos superhumanos
O psicanalista, filósofo e sociólogo Erich Fromm (✰1900/✞1980) tentou buscar o sentido de por que as pessoas que haviam sofrido na Grande Depressão renunciaram à tantas liberdades, elevando os nazistas ao poder. Ele veio a dizer que o dilema humano mais básico é o conflito de liberdade e segurança.
Mesmo quando crianças, nós queremos liberdade para explorar e experimentar coisas novas, mas também queremos nos sentir seguros e protegidos. Por causa dos atentatos ao World Trade Center em 9/11, as pessoas cederam à algumas liberdades a fim de ficar mais seguras contra a séria ameaça de terrorismo.
"'Escape from Freedom' tenta mostrar que o homem moderno ainda é ansioso e tentado a renunciar à sua liberdade por ditadores de todos os tipos, ou perdê-la, transformando-se em uma pequena roda dentada na máquina, bem alimentado e bem vestido, não um homem livre, mas sim um autômato."
— Erich Fromm em seu clássico livro de 1941 "Escape from Freedom" , conhecido como "O medo da Liberdade fora da América do Norte".
No filme "Capitão América: Guerra Civil" , Steve Rogers leva super-heróis que resistem aos esforços internacionais para regular os Vingadores. Heróis em seu lado lutam para manter a sua independência e ficar livres para entrar em ação quando eles vêem uma necessidade em vez de responder a burocratas.
Tony Stark (Homem de Ferro), sofrendo a culpa sobre as consequências de sua própria ação, conduz outros super-heróis que acreditam que eles devem ser responsabilizados por suas ações. No filme em questão, Steve Rogers torna-se o líder da equipe por solicitar foco dos demais e coordenar as ações em grupo.
Quem está certo?Isso é realmente sobre o dilema humano básico de Erich Fromm?Qual lado você escolheria: Liberdade ou segurança?
Traçando um paralelo com a vida familiar, ele poderia representar a autoridade que os pais deveriam representar diante de suas crianças, ao impor limites e regras que facilitem a introdução dos filhos na vida em sociedade.
Conclusão
Embora o herói não receba um estatuto propriamente conceitual, o termo é recorrente no pensamento de Freud e Lacan (✰1901/✞1981) no cerne da elaboração teórico-clínica da psicanálise.
Este texto trabalha os desdobramentos das significações do herói de acordo com as transformações da metapsicologia analítica. A partir disso, traz duas dimensões do herói no âmbito dos destinos do sujeito no mal-estar na civilização: a revolução, que se lança a uma transformação nos laços sociais, mas promove a manutenção do lugar do Pai, e a subversão, que avança em um ato que produz mudanças em relação às articulações simbólico-imaginárias que determinam o sujeito.
A psicanálise nos ajuda a compreender os heróis de ação além das cenas de luta e explosões. Ela nos permite mergulhar nas profundezas do inconsciente desses personagens e entender as motivações por trás de suas ações heroicas.
Ao analisarmos os complexos, as motivações inconscientes, os conflitos internos, os arquétipos e as influências paternas e maternas, podemos ter uma visão mais completa desses personagens fascinantes. E quem sabe até mesmo descobrir algo sobre nós mesmos no processo.
- Continuamos no próximo capítulo.
[Fonte: Universo Marvel; Psicanálise Blog; Psicoativo]
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E nem 1% religioso.

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