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quarta-feira, 28 de abril de 2021

FILMES QUE EU VI — 65: "LARANJA MECÂNICA"

"Laranja Mecânica" ("A Clockwork Orange", no original) é um filme de 1971. Dirigido e adaptado para o cinema por Stanley Kubrick, o filme é baseado no romance homônimo de Anthony Burgess, publicado em 1962. 

A primeira vez que li o livro e assisti ao filme, foi lá pelos idos da década de 1990. Quando li e assisti a primeira vez, devo dizer que não tinha ainda a percepção sobre vários aspectos da vida que tenho hoje. 

Por isso, mesmo tendo naquela época ainda, já achado ambas as obras um tanto quanto, digamos, incomuns, eu não consegui entender bem sua visão futurística e, porque não dizer, até mesmo profética sobre muito do que vivemos nos dias atuais.

Sinopse


A história é passada no Reino Unido, num futuro distópico marcado pela violência e o autoritarismo. Alexander Delarge, o protagonista, lidera uma gangue de jovens maginais que espalham o caos, através de atos de violência gratuita.

Explorando questões sociais e políticas intemporais, "Laranja Mecânica" reflete sobre temas como a delinquência juvenil, a psiquiatria, o livre arbítrio e a corrupção moral das autoridades.

Perturbador e repleto de imagens cruas de violência, se tornou um filme cult, aclamado pelo público e a crítica, e apontado como uma das obras mais icônicas de Kubrick.

Temas centrais

Delinquência juvenil


Causada por vários fatores políticos e sociais, a delinquência juvenil é ilustrada ao longo do filme. Alex e seus companheiros são adolescentes frustrados, sem objetivos, que só sentem prazer e entusiasmo através do consumo de drogas e da prática de atos violentos.

"Laranja Mecânica" é um filme polêmico cult, cheio de críticas sociais. Além de ser uma adaptação do romance homônimo de Anthony Burgess (1917/1993) publicado em 1962. Ele foi dirigido por Stanley Kubrick, com título original "A Clockwork Orange", lançado em 1971, bem como foi aclamado pelo público e pela crítica.

Desta forma a história de "Laranja Mecânica" se passa no Reino Unido, em um futuro distópico. Então marcado pela violência e o autoritarismo a obra sonda as questões socais e políticas intemporais. Bem como aborda temas como a criminalidade da juventude, psiquiatria, livre arbítrio e a corrupção moral.

No filme, o protagonista Alexander Delarge é lider de uma gangue de jovens maginais, que por meio de atos violentos espalham o caos pela cidade. Portando o filme "Laranja Mecânica" é sombrio, massante e repleto de cenas com violência explicita.

Desenvolvimento da narrativa

Luta de gangues


Em uma das sequências, Alex e seus companheiros seguem para um cinema abandonado, onde está decorrendo uma cena de estupro coletivo. A crueldade do ato contrasta com a trilha sonora, uma música alegre, que sugere um circo ou uma romaria, marcando a ideia de violência enquanto espetáculo ou ato lúdico.

Alex e os companheiros interrompem não para salvar a vítima, mas para surpreender os atacantes. Billyboy e seus parceiros são uma gangue rival. A existência de um outra gangue vem sublinhar o peso da delinquência juvenil nesta Inglaterra distópica.

No interior das próprias gangues, as hierarquias e estruturas de opressão social se repetem, com líderes tiranos como Alex Delarge.

Relações humanas precárias e sexo como agressão


Os comportamentos erráticos desta juventude são resultado de uma sociedade doentia onde as relações humanas sao praticamente inexistentes. As famílias, totalmente distanciadas dos adolescentes, não conseguem controlá-los nem discipliná-los. Com seu tempo consumido pelo trabalho e a exaustão, negligenciam seus filhos e acabam por abandoná-los.

As ligações de amizade e irmandade entre companheiros também se revelam frágeis, com lutas e traições. Disso resulta a solidão absoluta destes indivíduos que não podem depender nem confiar em ninguém.

A sexualização extrema que atravessa toda esta sociedade se traduz numa objetificação notória das mulheres que passam a ser encaradas como presas que os homens caçam por diversão. Assim, seguindo seus instintos mais animalescos, transformam o sexo em estupro, ataque e mera demonstração de poder.

Abuso de poder e autoritarismo


Uma das principais reflexões a que o filme conduz é a legitimidade das medidas de punição e contenção do crime promovidas pelo governo. Usando de todas as armas, sem medir consequências morais e éticas, a Justiça se torna também criminosa.

Os prisioneiros são encarados como um problema que deve ser resolvido a todo o custo, mesmo que isso implique esquecer seus direitos, sua humanidade e individualidade, controlando as suas mentes.

O Estado autoritário tenta resolver os problemas sociais através da violência, sem reeducação. A transformação nos indivíduos não acontece graças à sua vontade mas apenas por manipulação, condicionamento (como se tratassem de animais). Alex Delarge e os companheiros de crime são produtos e sintomas desta sociedade distópica.

Significado do filme


Segundo as declarações do próprio diretor, "Laranja Mecânica" é uma sátira social que reflete sobre os malefícios do condicionamento psicológico nas mãos de um governo ditatorial que tem a oportunidade de formatar as mentes de seus cidadãos.

Como sublinha um dos personagens, o Padre, a bondade só é real se partir da vontade do sujeito. Alex se comporta bem mas não por escolha própria, é forçado a ser um cidadão modelo. Como uma laranja mecânica (metáfora que dá titulo ao filme), embora seu exterior pareça natural, seu interior é robótico.

Personagens e elenco

Alexander Delarge (Malcolm McDowell)


Alexander Delarge é um jovem sociopata, líder de um gangue, apaixonado por música clássica e violência gratuita. É traído. preso e submetido ao tratamento Ludovico que altera totalmente a sua personalidade. No final, sofre uma queda e, num golpe de sorte, que desfaz os efeitos do condicionamento.

Dim e Georgie (Warren Clarke —1947/2014 e James Marcus)


Junto com Pete (Michael Tarn), Dim e Georgie formam o resto da gangue. Os companheiros desafiam o líder e acabam por traí-lo. Regressam como policiais, revelando que continuam perigosos, ao se aproveitarem da posição de poder para se vingarem.

Padre (Godfrey Quigley — 1923/1994)


Representante da Igreja Católica, o Padre apenas acredita na reabilitação através do arrependimento e do perdão de Deus.

É, desde o início, o maior oponente ao tratamento Ludovico. Defende que cada um deve ser responsável por suas ações e estar apto para fazer suas próprias escolhas, boas ou más.

Ministro do Interior (Anthony Sharp — 1915/1984)


Representando o Governo que apenas se importa com dinheiro e poder, o Ministro promove o tratamento Ludovico para solucionar o problema do crime, sem se preocupar com as questões éticas que isso acarreta.

Depois da tentativa de suicídio de Alex, a sua visita ilustra a demagogia de um político capaz de tudo para enganar o povo.

Frank Alexander (Patrick Magee — ☆1922/✞1982)


Apesar do ataque que matou sua mulher e o deixou sem poder andar, é contra o tratamento Ludovico. Enquanto intelectual de esquerda, acredita que se trata de uma medida de um governo totalitário, defendendo o jovem Alex e o ajudando.

No entanto, a sua compaixão desaparece quando reconhece o criminoso e a sede de vingança fala mais alto.

Curiosidades sobre o filme

  • Foi banido no Reino Unido por decisão de Kubrick, depois das críticas negativas que recebeu.
  • Foi censurado no Brasil. Inicialmente banido dos cinemas, depois foi exibido com tarjas negras censurando as cenas de nudez.
  • Malcolm McDowell, o ator principal, feriu o olho durante a gravação do filme por causa do equipamento usado nas cenas do tratamento Ludovico (acima).

Stanley Kubrick: diretor do filme Laranja Mecânica


Stanley Kubrick (26 de julho de 1928/7 de março de 1999) foi um diretor, roteirista e produtor de cinema norte-americano. Considerado um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos, criou filmes altamente polêmicos que conduzem a reflexões profundas sobre a humanidade e a vida em sociedade.

"Laranja Mecânica" é considerado por muitos o seu filme mais disruptivo, alcançando o estatuto de filme cult e conquistando um grande sucesso com o público ao longo das décadas. 

Outros filmes de sucesso na carreira do cineasta foram: "2001, Uma Odisseia no Espaço", EUA, 1968; "O Ilumindo" (escrevi sobre este filme no capítulo 52 dessa série: aqui) e "De Olhos Bem Fechados", EUA, 1999 — este foi, inclusive, o último filme digido por Kubrik, antes de seu falecimento).

Conclusão


O filme de Stanley Kubrick é um filme sobre o futuro. Esta frase, por si só, pelo óbvio a que remete e pelas evidências que espelha, deveria deixar o nosso leitor intrigado e insatisfeito.

Intrigado pela simplicidade de sua afirmação incontinenti. Insatisfeito pela total e absoluta falta de mediações que parece conter. Assim, ao não nos contentarmos com classificações simplificadoras, poderemos mergulhar em um mundo de dissimulações que este filme contém e que não se dão de imediato a perceber aos olhos mais apressados e aos pensamentos mais afoitos.

O filme, em síntese, elabora um tratamento das questões que envolvem as instituições:
  1. da família (as relações familiares de Alex antes e depois de ser preso),
  2. da política (a cínica declaração das autoridades compatíveis com qualquer método que evoque uma solução para a criminalidade), 
  3. da ciência (posta como um campo perigoso),
  4. da religião (a desapropriação das sensações determinadas como humanas) e 
  5. do jurídico (qual regra baliza a circunstância de solução moral para um criminoso), dentre outras.
A herança cinematográfica deixada por "Laranja Mecânica", além da construção técnica e filosófica, é a prova de uma adaptação possível do tema de crime e punição, traduzindo delito e aprisionamento.

Para podermos compreender o que é que ele está falando, ou melhor, o que é que ele está nos mostrando, devemos navegar em seus meandros tendo em vista caracterizar que futuro é este do qual se fala e quais são os seus elementos significativos que se dão a mostrar.

Nada temos por aqui que se assemelhe ao futuro ascético das ficções que nos acostumamos a ver. Para entender tudo isso, tive de rever o filme que outrora me parecera futurístico e agora me pareceu essencialmente contextual.

Ficha técnica
  • "Laranja Mecânica" ("A Clockwork Orange", Reino Unido/EUA – 1971)
  • Direção: Stanley Kubrick
  • Roteiro: Stanley Kubrick (baseado em romance de Anthony Burgess)
  • Elenco: Malcolm McDowell, Patrick Magee, Michael Bates, Warren Clarke, John Clive, Adrienne Corri, Carl Duering, Paul Farrell, Clive Francis, Michael Gover, Miriam Karlin, James Marcus, Aubrey Morris, Godfrey Quigley, Sheila Raynor
  • Duração: 136 min.

A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.

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