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quarta-feira, 20 de março de 2019

MASSACRES EM ESCOLA: UMA EPIDEMIA QUE TEM ASSOLADO O MUNDO

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O assunto sobre o massacre ocorrido na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano/SP, que ocasionou a morte de 8 pessoas, mais os dois assassinos, ainda está em voga na mídia. Aqui em Minas Gerais há o registro de alguns casos onde outros jovens demonstraram através de postagens nas redes sociais uma assustadora simpatia pelo horrível ato praticado pelos dois rapazes em São Paulo. O mais preocupante de tudo isso é que, apesar de toda comoção social e repercussão mundial que o massacre causou, o fato é que não demora muito para ele cair no esquecimento, uma vez que não se trata de um fato isolado.

Fatos que merecem atenção 


No Brasil, em meados de outubro de 2017, dois alunos acabaram mortos em um colégio de Goiânia - até então, o último caso com mortes em uma escola ocorrera há menos de um mês, em Janaúba (MG), quando um ex-funcionário invadiu uma sala de aula de educação infantil e ateou fogo, matando nove crianças e a professora.

Já nos Estados Unidos, situações como essas são recorrentes e apontam para uma epidemia de massacres cometidos dentro das dependências da escola: levantamento dos tiroteios em escolas e universidades americanas ocorridos entre 2012 e 2014, apontou que 70% dos atiradores eram menores de idade e em 36% dos casos pelo menos uma pessoa foi atingida. 

Em quase todos os casos, o perfil dos atiradores é de garotos adolescentes: desde 1974, em mais de 100 massacres ocorridos no mundo, apenas 4 foram feitos por mulheres.

Perfil

Reconhecimento midiático


A ocorrência desse tipo de massacre pode estar ligada ao perfil dos jovens e à publicidade dos casos. 
"Pesquisas mostram que se tornar famoso é um dos objetivos mais importantes para essa geração"
diz Adam Lankford, professor de justiça criminal na Universidade do Alabama. 
"Não há dúvida de que existe uma associação entre a cobertura da mídia recebida por esses atiradores e a probabilidade de eles agirem"
diz ele.

As razões por trás do ataque na escola paulista ainda estão sendo investigadas pela polícia, que busca pistas para entender o que levou os dois ex-estudantes a entrarem atirando na escola, atingindo vítimas aparentemente aleatórias. 

No caso da Nova Zelândia, essa espetacularização é ainda mais evidente por conta da transmissão dos atos via Facebook pelo dos atirador, algo que remete a uma cena de um filme de ação ou a um videogame e, inclusive, é uma técnica que foi usada também pelo (grupo autodenominado) Estado Islâmico. Isso só mostra que a divisão de lados, nesse fenômeno, é algo ilusório: o modus operandi (dos atiradores) é o mesmo, por se tratar de um fenômeno global, com raízes parecidas.

Padrão de comportamento

Fetiche por armas e poder


Na opinião de pesquisadores do tema, entender esse padrão pode ajudar na prevenção de futuros ataques. Embora seja importante destacar que atentados assim sejam fenômenos complexos e com múltiplas causas, e que EUA, Brasil e Nova Zelândia apresentam realidades bastante diferentes.

Assim como no ataque em Suzano, que deixou dez mortos (incluindo os dois atiradores) e 11 feridos, os perpetradores costumam ser homens jovens. Em geral, têm dificuldade de inserção social e, ainda que muitas vezes não tivessem praticado violência até então, acumulavam algum tipo de ressentimento agudo em relação à sociedade e comunidade onde viviam.

Outra característica importante: eles costumam ter acesso a armas e/ou fetiche por elas, assim como uma predileção por jogos com conteúdo violento, fato que, também segundo os especialistas, ainda que não "tornem" nenhum indivíduo em um assassino em massa, pode sim potencializar a violência inerente ao caráter do indivíduo já com tendências psicóticas.

Em paralelo à representação midiática, existe também uma busca por armas como um anseio de empoderamento.
"O momento em que os atiradores se armam é uma espécie de fantasia, quando acreditam que vão ter uma sensação de potência. 
Antes de realizar os ataques, eles, então, posam como guerreiros (em fotos nas redes sociais), como se estivessem assumindo uma identidade heróica, embora não haja nada mais covarde do que atos desse tipo"
prossegue o pesquisador.

Ainda segundo os especialistas, suicídio, nessa narrativa, é aparentemente visto pelos atiradores como o momento de "glória e reconhecimento" que eles não tinham conseguido em vida. Como esses atiradores sabem que seus atos receberão grande atenção da mídia e da sociedade, eles tentam criar uma autoimagem gloriosa.

Mórbida inspiração


De acordo com os investigadores, tanto o tiroteio ocorrido em Goiânia, quanto o de Suzano foram inspirado pelo caso de Columbine e pelo Massacre em Realengo, em 2011. 

Segundo informação do próprio adolescente, responsável pelo caso de Goiânia, ele se inspirou em duas tragédias. E dessa inspiração fez nascer a ideia de matar alguém. 

O caso do Realengo foi o primeiro no Brasil com projeção mundial. Na ocasião, Wellington Menezes de Oliveira entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira identificando-se como um palestrante e disparou mais de 100 tiros contra os alunos, matando doze pessoas. Dos doze mortos, dez eram do sexo feminino. Wellington se matou em seguida com um tiro na própria cabeça.

O caso Columbine


O Massacre de Columbine, em 1999, causou um aumento em número e frequência de tiroteios em escolas - cometido pelos adolescentes Eric Harris e Dylan Klebold deixou nove feridos e quinze mortos, incluindo os dois autores. 

Na ocasião, Harris e Klebold usaram espingardas para o tiroteio e planejaram uma ação terrorista com 99 explosivos escondidos na escola. A tragédia ganhou destaque mundial e inspirou atos similares em todo o mundo, em um fenômeno que especialistas chamam de Efeito Columbine: nos oito anos seguintes , 67% dos casos registrados nos EUA atribuíram inspiração no Massacre de Columbine.

O caso Sandy Hook


Já o caso de Sandy Hook, ocorrido em 2012 também nos EUA, foi um dos maiores nos últimos anos: Adam Lanza, 20, matou a sua mãe, dirigiu até uma escola primária e atirou contra os presentes, assassinando 28 pessoas, incluindo 20 crianças. Nos três anos seguintes ao massacre, o número de tiroteios em massa aumentou no país – foram 944 tiroteios entre 2012 e 2015, sendo quase 300 no último ano do período. 

Levantamento realizado pelo FBI em 2013, contabilizando dados desde 2000, indicou um aumento no número de casos depois do Massacre de Columbine, com um crescimento ainda mais acentuado nos últimos anos. Segundo a pesquisa, o número de casos aumentou de 6,4 até 2006, para 16,4 entre 2007 e 2013. A maioria deles foram rápidos e mortais: 57% terminaram antes mesmo de a polícia chegar ao local e 40% deles tiveram pelo menos três mortes, sem contar o atirador – o total de mortos no período foi de 1.043 pessoas.

Massacres ocorridos em instituições de ensino, segundo dados do FBI, somaram 39 casos que resultaram em 117 mortos e 120 feridos. O maior deles aconteceu no Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, em 2007 (32 mortos e 17 feridos), seguido do já citado massacre na escola primária de Sandy Hook, em 2012 (27 mortos e três feridos). Dos 14 tiroteios em escolas de ensino médio, 12 foram feitos por alunos da instituição.

Epidemia 


A motivação por meio de informações sobre outros massacres é parte do ciclo desses casos. De acordo com um estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona, nos Estados Unidos, os massacres se espalham de modo "contagioso", como uma epidemia. 
"E se um modo de explicar a epidemia de massacres em escolas é pensá-las como uma manifestação lenta e crescente, em que cada nova ação dos participantes faz sentido em reação e combinação com aquelas que vieram antes dela?"
teoriza o especialista Malcolm Gladwell, em análise publicada na revista The New Yorker. 

Bullying


O ponto em comum para grande parte dos massacres em escolas ao redor do mundo é o bullying; levantamento feito pelo psiquiatra Timothy Brewerton com dados dos 66 ataques em escolas que ocorreram entre 1966 a 2011 indica que 87% dos atiradores sofriam bullying e foram motivados por desejo de vingança. 
"Para quem trabalha em escola, é relativamente simples perceber quando existe um tipo de agressão que leva ao sofrimento; você percebe pela reação do estudante que é humilhado. Então é necessária uma ação mais direta",
diz Andrea Ramal, doutora em Educação pela PUC-Rio. 

Para ela é importante ressaltar que bullying não é uma causa isolada: 
"A pessoa não mata alguém por sofrer bullying; ele é um desencadeador; a partir dele, distúrbios podem ser acentuados, levando a essas reações."

Ambiente


Pesquisadores apontam que esses massacres adquirem ainda mais dimensão por violarem um ambiente-chave para a construção da cidadania 
"[A escola] deveria garantir a segurança de centenas de crianças e jovens que ficam sob sua tutela"
aponta a antropóloga Gilda de Castro Rodrigues, em artigo sobre a relação entre bullying e massacres em instituições de ensino. 

Segundo Gilda, a negligência da comunidade escolar ao lidar com bullying e a falta de difusão de informações sobre saúde mental podem ser culpados pelos casos que culminam em massacres. 
"Para que não haja outros massacres em escolas, é indispensável que os alunos sejam receptivos ao diferente e os professores atentos à intimidação de colegas".

Conclusão


Após cerca de uma quinzena o assunto deixou de ser relevante para a mídia. A descoberta da ocorrência do bullying fez com que a questão fosse explorada pelos meios de comunicação mais algum tempo. Enquanto que o massacre foi facilmente creditado na mídia ao monstruoso, o bullying pertence à história da maior parte das pessoas ditas normais. 

Qualquer criança "diferente" torna-se um bode expiatório em escolas do primeiro e segundo graus. Fora a questão do trote, que alcança até o nível universitário, ocasionalmente provocando até mortes. Ensino público e particular tem a infeliz honra de serem iguais em frequência e gravidade quanto ao bullying

Como sempre, a psicanálise deve estar na contramão. Ao invés de pautar-se no histericismo midiático, buscando uma causalidade linear e que não ultrapasse o tempo presente, a psicanálise deve inserir-se numa causalidade múltipla, sempre com referência ao passado remoto do sujeito.

Ao invés do pretenso cientificismo de uma psiquiatria rotuladora e pobremente descritiva (que ao menos a antiga escola fenomenológica não era), Freud legou a importância de se tentar entender nos abismos da psyché todos os matizes da natureza humana. A partir de Freud, mas procurando abranger um número maior de autores, Eugen Bleuler, também criador da palavra esquizofrenia, cunhou o termo psicologia das profundezas – Tiefenpsychologie. Abismos e profundezas costumam ser muito escuros, completamente negros, mesmo.

Assim a psicanálise possui uma tarefa bem mais ingrata e menos lucrativa que o festival da exploração midiática e seus coadjuvantes. Nos abismos da alma, como já usou Roudinesco (2008) como título de um livro, está a parte obscura de nós mesmos. Em verdade, mera consequência do dito cunhado por Freud quando afirmou que a neurose é o negativo da perversão, destacando que as fantasias dos neuróticos e dos perversos são as mesmas, só que o perverso pode expressar-se diretamente.

Sempre se pensa perversão como alguma conduta sexual desviante, não como recusa em aceitar o diferente, ou mesmo o ódio do imaginário quando confrontado com o real. O corolário, não tão explicitamente sexual, da frase freudiana é o que na conduta humana os homens maus fazem aquilo que os homens bons sonham, também título de livro (SIMON, 2009). E que não é bem o vizinho que mora ao lado que é um psicopata.

[Fonte: Gazeta do Povo, por Murilo Basso; BBC Brasil, por Paula Adamo Idoeta; Pepsic, por Anchyses Jobim Lopes]

A Deus, o Pai, toda glória!
E nem 1% religioso.

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Um comentário:

  1. Uma vergonha cada vez mais crescente em nossas escolas. Famílias, governo, instituições está transferindo as responsabilidades da educação para as escolas. Vejo e vivo o descaso não de todas as famílias mas uma grande parte que nem se quer comparecem as escolas quando convocadas para saberem sobre seus filhos, como anda desenvolvimento. Se tornam omissas,demonstrando abandono de suas responsabilidades. Isso ajuda a aumentar a violência pois o jovem ou criança em sua cabeça tem permissap de fazer o que bem entender. É muito triste.

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