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segunda-feira, 11 de março de 2019

ACONTECIMENTOS - O CASO DA R. OSCAR FREIRE: BARBÁRIE EM ÁREA NOBRE DE SÃO PAULO






Um dos endereços mais nobres para o comércio de São Paulo, a rua Oscar Freire, na região dos Jardins, é destinada ao público antenado com a moda. Independente de poder ou não gastar alguns (muitos) reais nas lojas locais, o passeio é interessante para todos que se interessam pelo universo fashionista. A rua é um verdadeiro desfile de moda e um convite a ver belas vitrines.

Ao longo de 2,6 km, os frequentadores encontrarão grandes marcas nacionais e internacionais, lojas conceito e grandes estilistas. O cruzamento com a Rua Augusta marca o principal ponto da região. As grandes marcas não se limitam à Oscar Freire e também podem ser encontradas especialmente na Bela Cintra e Haddock Lobo. Marcas como Havaianas e Melissa surpreendem pela maneira ousada como montaram suas lojas conceito, assim como a popular Riachuelo. O que mostra que a Oscar Freire é para todos os bolsos.

Algumas das principais marcas encontradas por lá são: Diesel, Mara Mac, Max Mara, Roberto Cavalli, Versace, Tufi Duek, Forever 21, Dudalina, Carla Amorim, Cris Barros, Calvin Klein, Cartier, Fillity, Le Lis Blac e muitas outras! Além das lojas, quem estiver passeando pela rua poderá aproveitar os vários cafés, bares e restaurantes da região. Sempre muito charmosos e seguindo o padrão da mais chique avenida da cidade de São Paulo.

Mas em uma segunda-feira do mês de agosto do ano de 2011, esse endereço conhecido por seu glamour e requinte foi o palco de um dos crimes mais horripilantes da década. O bárbaro assassinato a facadas de dois homens em  um apartamento residencial da rua Oscar Freire se tornou o grande desafio para as polícias: quem teria(m) sido o(s) assassino(s)?

A barbárie


Na noite do dia 22 de agosto de 2011, uma terça-feira, o interfone tocou várias vezes na portaria do Edifício Márcia, na rua Oscar Freire, zona oeste de São Paulo. Moradores pediam a "seu Zé", o zelador, para verificar se algo estava queimando no 63, de onde vinha um forte cheiro de fumaça.

Antes disso, ouviu-se uma movimentação incomum no apartamento, um barulho de discussão e de móveis sendo arrastados. Como tudo se acalmou e o cheiro se dissipou, só foram descobrir o que de fato tinha acontecido por volta das 8h:00, quando a faxineira do analista de sistemas Eugênio Bozola, 52 anos, proprietário do apartamento, chegou para trabalhar.

Assim que abriu a porta, Neide Ferreira soltou um grito de pavor e correu para chamar "seu Zé". Aos prantos, disse que tinha encontrado o patrão morto na cozinha. O corpo de Bozola estava no chão, com a calça e a camisa social empapadas de sangue. Na mesma hora, o zelador chamou a polícia. Menos de uma hora depois, ao entrar no local, os investigadores acharam em um dos quartos o corpo do modelo internacional Murilo Rezende da Silva, 21, de bermuda e camisa de manga longa ensanguentados, com cabeça envolta em um saco plástico.

As duas vítimas tinham vários sinais de perfuração por faca na altura do pescoço e do rosto. O cenário no interior do apartamento era assustador: havia marcas de sangue por todos os lados e os móveis estavam todos revirados. Soube-se depois que o cheiro de queimado foi produzido quando o assassino incinerou a própria roupa, numa tentativa de eliminar os vestígios do crime. O caso foi registrado no 14º Distrito Policial, no bairro de Pinheiros, como duplo homicídio.

O porteiro do turno da noite informou que o suspeito havia deixado o prédio a bordo do Honda Civic de Bozola. Alegou que, como o rapaz era hóspede do analista de sistemas, não viu problema em abrir o portão da garagem para ele sair. Moradores confirmaram a informação do zelador de que, além do modelo, "um outro jovem" passou a morar no apartamento. Chegara havia pouco mais de uma semana. 

O assassino


A identidade desse segundo hóspede foi descoberta cinco dias depois do crime, quando policiais civis da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) e da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes da Polícia Civil (Dise) encontraram o Civic abandonado na cidade de Sertãozinho, a 350 km de São Paulo.

O carro havia sido flagrado pela câmara do pedágio de São Simão, a 50 km de Sertãozinho. Por uma denúncia anônima, os policiais chegaram ao estudante Lucas Cintra Zanetti Rosseti, 21, que estava na casa de duas irmãs suspeitas de envolvimento com tráfico de drogas. Rosseti não tinha antecedentes criminais, mas cumpria determinação judicial de não chegar perto de uma ex-namorada, por conta de ameaças que tinha feito contra ela. 

Preso, ele foi levado para a Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa Física (DHPP), em São Paulo, onde confirmou em depoimento ao delegado Maurício Guimarães Soares o que já tinha dito informalmente. Ele matara Eugênio Bozola, sim, "mas por legítima defesa". Não assumiu o assassinato de Murilo Rezende. Na versão dele, o analista havia matado o modelo por ciúmes, e depois partido para cima dele alterado. Rosseti, para não ser morto, o matou. 
"Minha intenção nunca foi roubar, muito menos matar uma pessoa. Se eu quisesse, poderia ter feito isso sem ninguém perceber. Fiquei sozinho o dia inteiro no apartamento, com acesso a todos os bens e à chave do carro"
alegou ele à época. Rosseti passou a responder a um processo por latrocínio (roubo seguido de morte).

As vítimas


Homossexual assumido, Bozola conheceu seu algoz no Facebook, quando passava um fim de semana em Igarapava, cidade a 437 km de São Paulo onde os dois nasceram. Como o rapaz em breve faria aniversário, o analista o convidou para comemorar a data em São Paulo.

Segundo Rosseti, havia também a promessa de conseguir um emprego para ele na metrópole. Em seu depoimento, o estudante disse: 
"Eu cursava Direito, trabalhava como analista administrativo e financeiro em uma rede de postos de gasolina e fazia parte de uma ONG católica que ajudava moradores de rua e dependentes químicos. Vim pra capital porque o Eugênio me prometeu uma porção de coisas. Disse que me incluiria em projetos profissionais, mas era preciso que eu me mudasse para a casa dele". 
Logo de saída, o estudante ficou encantado com a cidade grande. Segundo sua mãe, a motorista Andréia Zanetti de Mendonça, então com 44 anos, Rosseti era torcedor do São Paulo e ligou no domingo para dizer que ia assistir ao jogo do time contra o Palmeiras, no estádio do Morumbi. Andréia pediu perdão em nome do filho. 
"Meu sonho era que um milagre acontecesse e que ele não tivesse participado de nada disso. Por conhecer a índole do meu filho, e por ele estar com a mão machucada, acredito que tenha sido legítima defesa. Mas se ele for mesmo responsável, vai pagar, né? É a lei." 
Ela afirmou que o filho 
"foi uma criança amorosa e um adolescente normal, tranquilo. Como estava desempregado, promovia bailes na cidade para poder se manter. Mas nunca teve problema com droga, passagem pela polícia. Nunca ouvi que ele tivesse um distúrbio, que precisasse de um psiquiatra."

As investigações da polícia civil revelaram uma história diferente da que Rosseti tinha contado. O estudante havia se desentendido com Bozola porque insistia em prolongar sua estadia na cidade.

Segundo testemunhas, o modelo Murilo Rezende - conhecido internacionalmente por ter sido Mister Piauí 2011 e também por vários trabalhos publicitários, alguns deles em publicações direcionadas ao público LGBTQ -  se queixou ao analista da presença de Rosseti, que permanecia no apartamento uma semana além da data combinada para seu retorno a Igarapava. No fim de semana que antecedeu o crime, os três e mais um grupo de amigos haviam ido a uma pizzaria e depois seguido para uma boate gay na zona oeste.

No dia seguinte, pressionado para ir embora, Rosseti teria dopado as vítimas, matado os dois a facadas e fugido com o carro. Levou algumas roupas de grife de Bozola. Para despistar a polícia, escreveu com sangue na parede da sala as iniciais de uma facção criminosa do Rio. 

O desenrolar dos fatos


O Instituto Médico Legal (IML) liberou o corpo de Bozola na madrugada do dia seguinte ao crime. Encaminhado a Igarapava, foi enterrado às 10 horas. À época, a família não quis dar entrevistas. A ex-namorada de Murilo Rezende, a estudante carioca Catarina Rodrigues, então com 24 anos, disse à polícia que o modelo foi assassinado por
"estar no lugar errado, na hora errada". 
Catarina contou que tinha deixado tudo no Rio para reconquistar Murilo. 
"Vim por amor"
disse ela no IML, enquanto resolvia com um primo de Rezende o procedimento para a liberação do corpo. 
"Ele era uma pessoa maravilhosa, não merecia isso. Tinha uma carreira brilhante pela frente."
Resultado de imagem para Imagem Murilo Rezende
Murilo Rezende foi capa e recheio da revista gay Júnior na edição de fevereiro de 2011
 O modelo havia sido eleito naquele ano Mister Piauí e também foi capa de uma revista gay. O corpo dele foi enterrado em Rodeiro, na zona da mata mineira, a 290 km de Belo Horizonte.

O advogado de defesa, Aryldo de Oliveira de Paula, tentou provar que a intenção de Rosseti era matar as vítimas, não roubar, já que o crime de homicídio é considerado menos grave do que o de latrocínio. 
"A meu ver, ele matou por vingança. A vítima o induziu ao erro, prometendo mundos e fundos em troca de relações sexuais. No fim, não cumpriu o prometido e ainda o mandou embora"
disse Oliveira em entrevista a revista Joyce Pascowitch. E o roubo do carro e das roupas? Oliveira: 
"Ele pegou os bens para garantir a própria subsistência durante a fuga". 
A tese não funcionou. Lucas Rosseti foi condenado à pena máxima de duplo latrocínio, 60 anos de prisão, e ao pagamento de 720 dias de multa. Oliveira ainda recorreu no Tribunal de Justiça (TJ) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas conta que, antes de conseguir qualquer resultado, foi destituído da defesa pela mãe de Rosseti. 
"Ela não se conformava com a pena de 60 anos"
afirma. 

Na sentença, a juíza Isaura Cristina Barreira, da 30ª Vara Criminal, da Barra Funda, afirmou que 
"a violência desmedida, por meio cruel, com emprego de faca e total desprezo pela vida das pessoas (…) justifica plenamente a pena máxima". 
 O assistente de acusação, Antonio Fernandes Ruiz Filho, disse em entrevista a mesma publicação
"a Justiça foi certeira. A gente está falando de um crime bárbaro, não tinha do que recorrer."

Conclusão

 
"Sinto-me arrependido por ter conhecido Eugênio, esse sim o verdadeiro psicopata da história. Graças a ele minha vida virou um inferno. Nunca teria vindo para a capital se eu pudesse voltar no tempo eu teria recusado o primeiro pedido de amizade que ele fez no Facebook"
afirmou o assassino.

Na época, a Polícia Civil chegou a levantar a hipótese de que o crime poderia estar relacionado à homofobia. Rosseti chegou a postar mensagens contra gays na internet e uma das vítimas era homossexual. 

No Twitter, o réu publicara na época as seguintes mensagens: 
"Eu não sou gay. Eu sou um espião. hahahahaha", 
"Estou infiltrado no mundo gay", 
"Acordei com vontade de cometer um crime. O de pena mais longa", 
"To com vontade de agredir alguém. Candidatos?", 
"Twitter é coisa de gay".
Mas essa linha de investigação foi descartada posteriormente.

Lucas Cintra Zanetti Rossetti foi condenado a 60 de reclusão em regime inicial fechado por duplo latrocínio pela juíza Isaura Cristina Barreira, da 30ª Vara Criminal da Barra Funda, em São Paulo. Rosseti também foi condenado a pagar 720 dias-multa e não poderá recorrer em liberdade. Rossetti continua preso Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros. 

Rossetti não foi denunciado por homicídio, mas por latrocínio. Segundo a denúncia, ele teria assassinado as vítimas a facadas para roubar o carro de Bozola, além de outros bens, como câmeras fotográficas, aparelhos celulares e computadores. Após ser preso, ele admitiu parcialmente o fato. Rossetti usou o carro do analista de sistemas para fugir.

Ao concluir sua sentença, a juíza Isaura Cristina Barreira afirmou que 
"a violência desmedida, por meio cruel com emprego de faca, por motivo fútil unicamente patrimonial, com total desprezo pela vida das pessoas, uma delas tendo um saco plástico amarrado à cabeça, espalhando sangue por todo o apartamento, adulterando o local do crime e por fim pedindo acolhida a um traficante de sua região justifica plenamente a pena máxima, correspondente a 30 anos de reclusão e pagamento de 360 dias-multa para cada latrocínio"
A série "Investigação Criminal" (Netflix) exibiu um documentário sobre o caso. O mesmo episódio foi reapresentado pelo SBT, no programa "O Crime Não Compensa".


A Deus, o Pai, toda glória.
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         E nem 1% religioso.

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