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sábado, 8 de abril de 2017

CANÇÕES ETERNAS CANÇÕES: "PAIS E FILHOS", LEGIÃO URBANA



Para o melhor entendimento desse artigo, é fundamental que conheçamos um resumo sobre o extenso e complexo conceito sobre a influência da música no comportamento do ser humano. 

A influência psicológica e espiritual da música 


A música é uma linguagem universal, tendo participado da história da humanidade desde as primeiras civilizações. Conforme dados antropológicos, as primeiras músicas seriam usadas em rituais, como: nascimento, casamento, morte, recuperação de doenças e fertilidade. Com o desenvolvimento das sociedades, a música também passou a ser utilizada em louvor a líderes, como a executada nas procissões reais do antigo Egito e na Suméria. 

Na Grécia Clássica o ensino da música era obrigatório, e há indícios de que já havia orquestras naquela época. Pitágoras de Samos, filósofo grego da Antiguidade, ensinava como determinados acordes musicais e certas melodias criavam reações definidas no organismo humano. Pitágoras demonstrou que a sequência correta de sons, se tocada musicalmente num instrumento, pode mudar padrões de comportamento e acelerar o processo de cura. 

Atualmente existem diversas definições para música. Mas, de um modo geral, ela é considerada ciência e arte, na medida em que as relações entre os elementos musicais são relações matemáticas e físicas; a arte manifesta-se pela escolha dos arranjos e combinações. 

Estudiosos conceituam a música como "combinação harmoniosa e expressiva de sons e como a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a civilização etc". Afirmam ainda que a música e o som, enquanto energia, estimulam o movimento interno e externo no homem; impulsionam-no a ação e promovem nele uma multiplicidade de condutas de diferentes qualidade e grau. 

Ainda de acordo com estudiosos, a música é composta basicamente por: 
  • Som: são as vibrações audíveis e regulares de corpos elásticos, que se repetem com a mesma velocidade, como as do pêndulo do relógio. As vibrações irregulares são denominadas ruído. 
  • Ritmo: é o efeito que se origina da duração de diferentes sons, longos ou curtos. 
  • Melodia: é a sucessão rítmica e bem ordenada dos sons. 
  • Harmonia: é a combinação simultânea, melódica e harmoniosa dos sons.
De acordo com esses conceitos, cada um dos aspectos ou elementos da música corresponde a um aspecto humano específico, ao qual mobiliza com exclusividade ou mais intensamente: o ritmo musical induz ao movimento corporal, a melodia estimula a afetividade; a ordem ou a estrutura musical (na harmonia ou na forma musical) contribui ativamente para a afirmação ou para a restauração da ordem mental no homem. 

A Música e sua influência nas emoções 


A música, como tudo em nosso ambiente, nos influencia. Segundo alguns pesquisadores, a música afeta o caráter e a sociedade, pois cada pessoa é capaz de trazer para dentro de si a harmonia que acaba influenciando nos pensamentos, nas emoções, na saúde, nos movimentos do corpo, enfim, em todo o bem estar do ser humano. A pesquisa aponta que as composições devem ser trabalhadas de forma a contribuir construtivamente para as relações, bem como observar o lado moral. 

Experiência feita com leões, expondo diversos estilos musicais mostrou que os graus de irritabilidade e de calma destes animais variam conforme o estilo musical a que são expostos. A influência da música é tão grande que atua constantemente sobre nós, acelerando ou retardando, regulando ou desregulando as batidas do coração, relaxando ou irritando os nervos, influindo na pressão sanguínea e no ritmo da respiração. É comprovado o seu efeito sobre as emoções e desejos do homem. 

Após essa introdução sobre a influência da música na nossa vida, vamos ao cerne desse artigo. 

'Pais e Filhos', o hino confessional de Renato Russo 


A letra



"Estátuas e cofres
E paredes pintadas
Ninguém sabe o que aconteceu
Ela se jogou da janela do quinto andar
Nada fácil de entender
Dorme agora
É só o vento lá fora

Quero colo
Vou fugir de casa
Posso dormir aqui
Com vocês?
Estou com medo tive um pesadelo
Só vou voltar depois das três

Meu filho vai ter
Nome de santo
Quero o nome mais bonito

É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Por que se você parar pra pensar
Na verdade não há

Me diz por que o céu é azul
Explica a grande fúria do mundo
São meus filhos que tomam conta de mim
Eu moro com a minha mãe
Mas meu pai vem me visitar
Eu moro na rua não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais
Eu moro com os meus pais

É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Por que se você parar pra pensar
Na verdade não há

Sou uma gota d'água
Sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não lhe entendem
Mas você não entende seus pais

Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer?"

(Autores: Russo, Dado e Bonfá)

Uma das canções mais famosas e cantadas (assim como a preferida pela maioria dos fãs) da lendária banda Legião Urbana, "Pais e Filhos" tem uma letra forte, chamativa e triste. Ao contrário do que muitos pensam, a canção conta a história de uma menina que se suicida após várias discussões e desentendimentos com seus pais. 

A letra é fabulosa por começar do suicídio e só depois explicar os motivos. Além disso, o refrão é uma lição de vida que diz que devemos amar as pessoas todos os dias, porque o amanhã pode não existir. 
O álbum "As Quatro Estações", de 1989, traz a versão
original da canção "Pais e Filhos"

A letra traz vários fatos e perguntas das relações entre pais e filhos. Desde perguntas simples como 
"Me diz, por quê que o céu é azul?..." 
até exemplos de rebeldia dos filhos como 
"...vou fugir de casa...". 
Renato Russo, letrista da canção, chegou a dizer que a história é fictícia, mas traz fatos parecidos com a realidade. 

Apologia ao suicídio? 


Uma das causas para o suicídio é sem dúvida o desajuste familiar e o tema suicídio sempre causou muita discussão, já que não pode culpar a vítima pela morte. A busca de explicações para um suicídio é um desafio para investigadores, que muitas vezes encontram as respostas nas relações familiares. Sendo assim, Pais e filhos é, na verdade, uma crítica contra os pais que não dão a atenção devida aos seus filhos. 

A união de vários 'eus' por excelência está em "Pais e Filhos". A canção reúne em sua letra várias vozes de pais e filhos em diversas situações do quotidiano familiar. Todos esses 'eus' que aparecem na canção são fechados. E já no primeiro verso percebemos isso: 

"Estátuas..." - figuras frias e imóveis - "...e cofres..." - fechados com chave e segredo - "...e paredes pintadas..." - não se sabe o que tem por trás dessas paredes. 

No verso seguinte percebe-se a que fim leva essa falta de comunicação entre os "seres" existentes nos primeiros versos, "...ninguém sabe o que aconteceu..." - não se tem noção de nada do que ocorreu, e continua "...ela se jogou da janela do quinto andar..." - Nesse verso temos o relato explícito de um suicídio. 

Agora fica fácil entender porque ninguém sabe o que aconteceu, são todos estátuas e cofre e paredes pintadas, não há calor, diálogo, confiança e compreensão. Mas outro 'eu' sentencia: "...nada é fácil de entender..."

O que não é fácil não é entender por que alguém se matou ou por que ninguém sabe de nada, mas compreender o por quê que estão todos fechados. Esse é um tema que extrapola as leis do tempo. É constantemente contemporaneizado pelas relações sociais as quais vivemos. 

Porque virou um "hino"? 


Sendo a segunda música do "As Quatro Estações", 'Pais e Filhos' é apresentada pela primeira vez no álbum de 1989, e reapresentada muitas outras compilações: 

Está presente em outros álbuns, tendo aparições no "Acústico MTV" (faixa 04), no "Como É Que Se Diz Eu Te Amo" (faixa 02), no "As Quatro Estações - ao vivo" (faixa 06), no famoso "Mais do Mesmo" (faixa 10) e no Perfil, lançado em 2011 sendo a faixa de número oito. É realmente, uma das mais conhecidas.
A música também já foi trilha sonora de duas novelas globais ("A vida da gente", 2011/12 e "Sete Vidas", 2015). Ambas com temática sobre conflitos familiares. 

Em entrevista, quando perguntado sobre a letra, Renato Russo (1960-1996) disse: 
"'Pais e Filhos' é especificamente sobre a nossa situação [dos componentes da Legião], pois nós três, agora, somos pais. E este disco é extremamente universal, não está ligado ao momento. Daqui a 20 anos, vamos poder ouvir 'Pais e Filhos'". 
Ele estava certíssimo, pois a canção se tornou um dos maiores - quiçá o maior - sucesso da banda e ainda hoje é considerada um verdadeiro hino para muitos jovens, tendo também objeto de análise acadêmica e até mesmo de leigos, como este que ora vos escreve. Continuando... 

A segurança familiar 


"...Dorme agora, é só o vento lá fora Quero colo! Vou fugir de casa! Posso dormir aqui com vocês? Estou com medo, tive um pesadelo. Só vou voltar depois das três..." 
Essa parte, quem começa são os filhos (futuros pais). Para entender o resto da música, sua mensagem e a troca de personagens, os 'eus' basta entender essa parte. 

Os pais dizem ao filho quando pequeno para ele dormir, que é só o vento lá fora que faz o barulho que o perturba. É só o vento lá fora, que o faz não dormir. É lá fora que acontecem os problemas. O menino (vou usar essa pessoa, mas pode ser outra pessoa, de outro sexo), diz que quer colo quando pequeno, e mais tarde, que vai fugir de casa. 

O menino quando pequeno, pede pra dormir com seus pais, porque tem medo do que está lá fora, atormentando sua janela e perturbando seu sono, e mais tarde, que só voltará depois das três, o que nos faz montar uma cena de crescimento e imaginar esse processo: o filho querendo colo, e que está com medo, cresce e perde o sono: troca seu sono na cama dos pais (quando criança) pelas noites nas ruas, quando mais velho. 

A preparação dos filhos para enfrentar o mundo 


"Meu filho vai ter nome de santo. Quero o nome mais bonito. É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar pra pensar na verdade não há." 
Essa parte, ao contrário da outra, quem começa são os pais (passados filhos). Eles planejam o nome do filho, retratando como os pais, desde o planejamento de gravidez, ou desde a notícia do feto, já fazem ideias e planos para seus futuros filhos. 

Aqui, nessa parte, aparece pela primeira vez o clássico e emblemático refrão da música. É preciso amar, as pessoas como se o amanhã não existisse, porque se você parar pra pensar, e ver se há lógica, veremos que não há. Não "há" o que? 

Não há sentido em crer que amanhã continuará tudo igual; não há sentido em pensar que o amanhã será o mesmo que hoje; não há sentido em pensar, que na verdade o amanhã virá. Hoje, é hoje. Não há amanhã. Não há chances e oportunidades para o futuro, existe apenas o agora. A vida, as opções, caminhos (como por exemplo, do amor) e do perdão, existem hoje. 
"Me diz, por que que o céu é azul? Explica a grande fúria do mundo. São meus filhos Que tomam conta de mim. 
Eu moro com a minha mãe mas meu pai vem me visitar. 
Eu moro na rua, não tenho ninguém, eu moro em qualquer lugar. 
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais. Eu moro com os meus pais." 
Essa parte, é interessante interpretar fazendo uma síntese geral. Aqui, são diálogos e pensamentos de filhos para filhos, de pais para pais ou de pais para filhos (e vice e versa). Um filho pergunta porque o céu é azul e pede explicações sobre a fúria do mundo (começando com a crítica), e então um pai (ou mãe) diz que quem cuida dele são seus filhos, e então outro filho diz que mora com sua mãe, mas o seu pai vem o visitar, e então outro filho diz que mora na rua e não tem ninguém e mora em qualquer lugar. Ou seja, conflito familiar em pauta desde os divãs psicológicos aos gabinetes pastorais. 
"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar pra pensar na verdade não há. 
Sou uma gota d'água, sou um grão de areia. Você me diz que seus pais não te entendem, mas você não entende seus pais." 
Novamente há o refrão e a mensagem cristã amor ao próximo e isso como se o amanhã não existisse porque se parássemos pra pensar, na verdade, realmente, ele não existe. 

Aqui, Renato nos dá a mensagem de pequenez do homem. Somos uma gota d'água na nossa cidade, no nosso estado, país, continente, planeta, e até sistema. Não passamos nada mais, nada menos do que um grão de areia. 

Após mostrar o quão pequenos somos, é dito um pensamento e a resposta para ele. Quantas vezes, nós quando adolescentes dizemos que não somos compreendidos e que nossos pais não nos entendem, mas na verdade, muitas vezes sabemos, em nosso íntimo, que na verdade somos nós quem não entendemos nada. Quantas vezes queremos sair, por exemplo, e brigamos com os pais por um "não"? 

Mas quantas vezes nos colocamos no lugar deles pra pensar o quanto conhecem e quanta experiência eles têm e se não nos deixam é porque sabem como é o mundo lá fora, onde há barulho que incomodam nossas noites quando pequenos. 

Conclusão 


"Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo. São crianças como você. O que você vai ser, quando você crescer?" 
A mensagem que Renato nos passa, se completa nos últimos versos: 
"...Você culpa seus pais por tudo..."
dando o ênfase da ignorância dos filhos e completando a ideia de que eles não entendem os seus pais, ao mesmo tempo que os acusam de não entendê-los. Muitos esquecem que seus pais foram crianças, adolescentes, jovens em seu passado, como eles são agora, no seu presente. E se portam com uma altivez e arrogância, se esquecendo que, em seus futuros, serão pais como eles, agora no presente. 

Criticam tanto os seus pais, e acabam como moral, a última frase da música; O que serão quando crescer? Ou seja: falam agora de como errado é o pai, e quão certo é um filho. E quando os papeis se inverterem e o filho se tornar pai ou a filha se tornar mãe? 

O fato é que muitos ouvem e cantam essa música sem nunca parar para fazer uma análise da forte e importante mensagem que ela passa. 

A síntese de tudo está na palavra do apóstolo Paulo à igreja em Éfeso:
"Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, porquanto isto é justo. 'Honra a teu pai e tua mãe'; este é o primeiro mandamento com promessa, para que vivas bem e tenhas vida longa sobre a terra. 
E vós, pais, não provoqueis a ira dos vossos filhos, mas educai-os de acordo com a disciplina e o conselho do Senhor" (6:1-4, versão King James Atualizada). 
A Deus, o Pai, toda glória.
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E nem 1% religioso.

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