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sexta-feira, 25 de março de 2016

FILMES QUE EU VI - NOVA TEMPORADA

Ano passado eu fiz uma série especial de artigos com o título de Filmes Que Eu Vi, onde eu dava dicas sobre cinema de algumas obras que eu já assisti. Algumas pessoas que me seguem no blog me pediram para voltar com a série. Atendendo aos pedidos desses seguidores que me prestigiam e me privilegiam no blog, farei uma nova temporada da série Filmes Que Eu Vi e espero que minhas dicas possam ajudá-los a encontrar boas indicações para fazerem suas escolhas na hora de assistirem a um bom filme. Obrigado pela confiança.

Na primeira temporada eu indicava três títulos por artigo, mas nessa nova temporada eu irei focar um título apenas e escrever um pouco mais sobre o filme. Para abertura dessa nova temporada escolhi um filme que é um clássico dos clássicos na sétima arte: 

Em "Casablanca" (EUA, 1942), a chegada ao local do título, localizado em Marrocos, significa acima de tudo um ponto de passagem para a liberdade, para uma breve estadia de forma a apanhar o avião em direção a Lisboa e assim essas pessoas poderem viajar em direção aos Estados Unidos da América.

No enredo, estávamos em plena II Guerra Mundial, a Europa estava a ferro e fogo, enquanto a Alemanha Nazi e as forças do Eixo pareciam avançar de forma implacável. No entanto, como é anunciado pelo narrador, nem todos conseguem sair de Casablanca. Alguns elementos ficam presos no território, arriscando a permanecer no mesmo até ao fim dos seus dias. 

Quem também é capaz de nos prender vezes sem conta a este território é "Casablanca", a obra-prima de Michael Curtiz, um cineasta algo subvalorizado, que conta na sua carreira com filmes com "Captain Blood" (1935), "The Adventures of Robin Hood" (1938), "Angels With Dirty Faces" (1938), "Yankee Doodle Dandy" (1942), "Mildred Pierce" (1945), entre muitos outros, que podem não ter o mesmo mediatismo do memorável filme protagonizado por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, mas não deixam de revelar um cineasta muito acima da média. 

Em "Casablanca" tudo se parece ter conjugado a favor do filme, até os seus erros, ao longo de uma obra recheada de cenas memoráveis, falas inesquecíveis, magníficas interpretações, uma realização segura de Michael Curtiz e um eficaz trabalho de fotografia, onde os seus ideais de propaganda facilmente são esquecidos perante o drama romântico apresentado. 

Sim, "Casablanca", em parte, também foi desenvolvido com objetivos propagandísticos anti-alemães e para aliciar os norte-americanos a aderirem com maior facilidade a esta causa, mas também convém salientar que é muito mais fácil "engolir" propaganda anti-nazi do que o contrário. Tendo como pano de fundo o cenário de Casablanca, durante a II Guerra Mundial, na época um protetorado francês, a história acompanha o norte-americano Rick Blaine (Bogart), um indivíduo aparentemente cínico e frio, que procura acima de tudo mostrar a sua independência política, salientando que quando questionado sobre a sua nacionalidade comenta "I’m a drunkard (que, em livre tradução seria algo como 'eu sou um cachaceiro')", embora aos poucos este demonstre que esconde um lado mais humano. Rick é o dono do famoso Rick's Café Américain, um local que todos parecem frequentar, quer sejam alemães, franceses, norte-americanos, marroquinos, naquela que é a mescla de culturas e povos no território de Casablanca apresentado pelo filme.

"Casablanca" por mim


Se a objetividade na escrita de uma crítica é algo impossível de acontecer, ou não fosse o seu autor um ser humano racional, marcado por gostos e emoções, então escrever um texto de pendor crítico sobre o nosso filme preferido torna-se ainda mais complicado, com "Casablanca" a ser provavelmente a obra que mais marcou a minha vida cinéfila. 

Desde o encontro entre Ilsa e Rick, ao momento em que este se excede no consumo de álcool a pensar na mesma, passando pela arrepiante cena no Rick's onde os elementos da resistência cantam com a sua alma a Marselhesa, até aos momentos finais recheados de tensão, "Casablanca" não poupa nos elementos marcantes e apaixonantes, onde tudo parece dar certo. 

A cena onde os elementos da Resistência cantam A Marselhesa é arrepiante, mas não é a única a deixar marca. Ver Sam (Dooley Wilson) tocando "As Time Goes By" (foto) - canção que se tornou referência para 9 em cada dez casais românticos - é simplesmente encantador, arrasador e memorável. Ver Ilsa (Bergman) e Rick em Paris é doce, terno e igualmente de partir o coração. Ver Rick e Ilsa a trocarem diálogos emocionados em Casablanca é simplesmente arrasador do ponto de vista emocional. 

Ver Rick apontando a pistola ao capitão Renault (Claude Rains) é emocionante, expondo paradigmaticamente o verdadeiro caráter deste complexo personagem, capaz de sacrificar o amor por uma causa. Muitas outras cenas poderiam ser colocadas também em destaque, bem como diálogos, com o filme realizado por Curtiz que não poupou nas falas que ficam na memória. 

"Casablanca" é um exemplo paradigmático de um filme onde tudo parece dar certo, sendo capaz de chegar aos espectadores como poucas obras cinematográficas o conseguem. É verdade que existem muitos filmes tecnicamente e narrativamente superiores, mas poucos tiveram a capacidade de "Casablanca" em conquistar, arrebatar e emocionar o espectador e é aqui que reside um dos fatores de força do filme realizado por Michael Curtiz. 

Constituído por um belíssimo trabalho de fotografia do qual sobressai a utilização do chiaroscuro (bem como uma utilização sublime dos close-ups), um domínio notório da mise-en-scène, um conjunto de cenários que se tornaram míticos (veja-se o café de Rick), "Casablanca" junta a essa atenção ao pormenor uma história soberba da qual sobressai a história de Rick Blaine e Ilsa Lund.

Conclusão


Michael Curtiz tem nesta obra cinematográfica baseada na peça (na época por lançar) "Everybody Comes to Rick's" aquele que é um dos pontos altos da sua carreira. Realizador com um conjunto de obras acima da média, poucas foram aquelas que continuam a gozar do estatuto de "Casablanca", um filme recheado de momentos memoráveis que perduram facilmente na memória, tais como aqueles que foram citados ao longo do texto, tão capazes de gerar amores, paixões e também algumas reticências. 

As paixões não se explicam, mas sentem-se. Desde o primeiro dia que contatei com "Casablanca" através de uma fita VHS (aquelas usadas nos extintos aparelhos de vídeo-cassete) que este se tornou um dos filmes da minha vida. Já vão mais (bem mais) de 20 anos e ver "Casablanca" tornou-se quase um ritual e nunca uma obrigação. 

Ilsa, Rick, Sam, Victor Laszlo, Ugarte, Louis Renaut, mais do que meros personagens, tornaram-se figuras familiares cujos diálogos foram praticamente decorados e redescobertos a cada visualização. Tal como as pessoas, os filmes não são perfeitos. Nem por isso nos deixamos de relacionar melhor com umas do que com outras. 

"Casablanca" é daqueles filmes cujos defeitos não chegam para lhe tirar o seu valor, a paixão e emoção que transmite, os seus momentos arrebatadores e inesquecíveis, algo que leva a construir uma relação única com quem vê esta obra-prima. Existem filmes que com o tempo vão crescendo dentro de mim e outros que me fazem sentir o amargo sabor de já não gostar tanto deles como na primeira visualização. "Casablanca" é sempre uma doce descoberta a cada nova visualização, um filme que apaixona, comove e emociona, no qual a cidade de Paris de Rick e Ilsa se transforma no local de todos os sonhos e desilusões, Casablanca a cidade da qual não queremos sair e perder a companhia de Rick e Ilsa, numa obra arrebatadora e simplesmente apaixonante.

"As Times Goes By", original soundtrack for "Casablanca", featuring Dooley Wilson
  • Classificação: 10 (em 10). 
  • Direção: Michael Curtiz. 
  • Argumento: Joan Alison.
  • Elenco: Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Peter Lorre, Conrad Veidt, Paul Henreid, Claude Rains, Sydney Greenstreet, Dooley Wilson.

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