Total de visualizações de página

sábado, 26 de março de 2016

FILMES QUE EU VI - NOVA TEMPORADA 2: "DJANGO LIVRE"

Quentin Tarantino já faz parte do rol de diretores cujo trabalho previamente anunciado já levanta olhares da mídia, fãs e demais interessados sobre a produção mesmo ainda estando em estágio embrionário e com "Django Livre" não foi diferente.

Desde a exibição de "Bastardos Inglórios" nos cinemas o seu próximo projeto era alvo de constantes especulações e grandes expectativas e quando se deu a sua estreia enfim se consumou, desfilaria este como mais um dos seus conhecidos petardos cinematográficos?

A grande verdade é que não.

Definitivamente não se pode comparar "Django Livre" aos seus longas anteriores visto que Tarantino, apesar de sua linguagem conhecida ainda possui outras características conhecidas como por exemplo a experimentação.

Não contente em permanecer em sua zona de conforto, Tarantino opta por se aventurar em terrenos inexplorados ainda que ladrinhando o caminho a sua maneira.

Tarantino por mim


Mas não apenas isso: Tarantino é um cineasta de mão cheia, que tem ideias que parecem apenas delírios de um fã de filmes B e cujo resultado é de extrema sofisticação. Não se trata de apenas fazer um coquetel com o que ele mais gosta e ver no que dá, mas pensar o roteiro e materializá-lo em imagens, com a ajuda de atores extraordinários, que ficam ainda melhores sob sua tutela. 

Se há algum problema em Django Livre está na participação do próprio diretor na frente das telas, que acaba quebrando um pouco a excelência das atuações, já que ele nunca foi bom ator - Tarantino, aliás, como ator é um excelente diretor. É mais ou menos quando o filme perde um pouco de sua regularidade. Mas isso já acontece bem próximo do final (graças a Deus).

Um western ao estilo spaghetti, porém com toques de modernidade


Os da minha geração ainda tiveram a chance de ver os bons westerns spaghettis na gloriosa telona. Ainda que já no finalzinho da época (bons tempos das matinês no cinema do Bairro das Indústrias...). 

Eis que Quentin Tarantino, depois de tanto flertar com o gênero em seus filmes (de gângster, de guerra, de kung fu etc.), presta homenagem a Sergio Leone, mas principalmente a outros cineastas "menores" como Sergio Corbucci, do "Django" original (de 1966, com Franco Nero), que também ajudaram a fazer do western produzido na Itália um cinema com um charme todo próprio, embora muitas vezes ignorado e criticado. Mas esse é um dos papéis de Tarantino: resgatar aquilo que é tido como obra de gosto duvidoso por um público e uma crítica caretas e transformar em obra enaltecedora.

O filme


A história se inicia em 1858, dois anos antes do início da Guerra Civil americana, que seria o pontapé inicial para o fim da escravatura nos Estados Unidos. Naquele momento, ver um negro montando um cavalo era algo inaceitável pela população branca. 

E logo no início, depois de ouvirmos o tema de Django (o mesmo do original) durante os créditos enormes e em vermelho vivo, entramos em contato com os dois personagens principais: Christoph Waltz, no papel do caçador de recompensas alemão Dr. Schultz, e Jamie Foxx (impecável) como Django, sendo levado como escravo. 

É na tentativa de compra do escravo que o filme estabelece o seu tom. Um tom semelhante àquele de "Bastardos Inglórios" (2009), quando Waltz era, então, um caçador de judeus.

Passado em um EUA cuja política escravagista ainda reinava, o longa inspirado nos clássicos western conta a história de uma inusitada parceria de um escravo e seu libertador, um caçador de recompensas alemão cuja empreitada juntos lhes renderão benefícios mútuos.

Os dois homens se juntam para ganhar dinheiro como caçadores de recompensa. No início, o Dr. Schultz queria Django apenas para reconhecer três homens que estavam na sua mira, mas uma vez que a parceria entre os dois é mais do que bem sucedida, nasce daí uma amizade. E também uma promessa do alemão de que ajudaria Django a resgatar a sua amada esposa Broomhilde (Kerry Washington).

Em "Django Livre" não é mais Waltz, mas Leonardo DiCaprio (brilhante) como o perverso dono de uma plantação, o responsável pelos momentos mais tensos do filme. Que é quase todo narrado nessa tensão, que torna cada diálogo interessante e com situações muitas vezes engraçadas. 

E quando a violência irrompe, ela é sentida como algo ao mesmo tempo cruel e extasiante. Afinal, qual fã de Tarantino não gosta de violência no cinema? Principalmente quando tão belamente orquestrada. 

"Django Livre" ainda tem a audácia de mostrar um negro racista, o personagem de Samuel L. Jackson, que impressionantemente funciona às vezes como alívio cômico, embora o cômico nos filmes de Tarantino seja de um fino humor negro. 

E Jackson está ótimo, assim como DiCaprio. Aliás, o xará incorpora a figura do dono de escravos malvado e perigoso com tanta precisão que é difícil imaginar outro ator em seu lugar.

O elenco


Da esquerda para a direita: Waltz, Samuel, DiCaprio e Foxx
Neste elenco repleto de estrelas, como não poderia deixar de ser, encontramos Jamie Foxx no papel principal do escravo/cowboy Django muito bem acompanhado por Christoph Waltz (Dr King Schultz) além das marcantes presenças de Leonardo Di Caprio (dando um show) e Samuel L. Jackson (dispensa comentários, sou até suspeito pra falar desse cara) que nitidamente se divertem a cada linha de diálogo proferida por seus personagens, ainda que o papel central de Foxx não o exija em absolutamente nada aparentando muitas vezes ser um joguete para destacar outros ao seu redor, o que nos leva a Christoph Waltz que volta a repetir um papel semelhante a Hans Landa ("Bastardos Inglórios") proporcionando alguns dos momentos mais bem humorados do filme. Ainda no elenco temos a participação de Kerry Washington, Don Johnson (o detetive James "Sonny" Crockett na série de tv Miami Vice, sucesso mundial nos anos 80) e uma aparição de Franco Nero, clara homenagem e referência ao clássico de 1966, Django, além de outros do gênero é claro.

"Django Livre" por mim


Por outro lado, apesar de "Django Livre" realmente demonstrar a mudança de ares no estilo do diretor, deixamos de contar com as boas viradas de roteiro, praticamente assinatura de Tarantino nos seus já consagrados clássicos - não faltou nada: muita violência e muito catchup fazendo o papel de sangue. Tal mudança ainda sacrifica relativamente os contundentes diálogos do diretor de outrora fazendo com que seu público se desprenda aos poucos das características que um dia foram mais marcantes deste cineasta.

A trilha sonora dos filmes de Tarantino sempre se destacaram por destoar da ambientação proposta praticamente tornando-se um personagem em si, o que não seria diferente deste em que se explora desde músicas com sonoridade western de Enio Morricone fazendo jus a temática em questão, à até Brown e 2Pac rasgando as fronteiras do estilo e do tempo com a levada urbana do rap. Aliás, a trilha sonora seria um assunto à parte, que exigiria conhecimento dos fãs do western spaghetti para identificação das referências.

"Django Livre" conta com sua boa e velha dose de violência estilizada, porém é mais óbvio e menos ousado e tal desfalque causa um certo impacto em tela para aqueles habituados a linguagem do diretor, seja somente em roteiro ou por trás das câmeras, é impossível não nos arremetermos aquela boa e estranha vibe de filmes como "Cães de Aluguel" e "Pulp Fiction".

Conclusão


Resumindo, "Django Livre" é diversão garantida, ação inevitável e personagens carismáticos envoltos em uma atmosfera que mescla o bom humor e a tênue linha que aborda questões raciais que muitas vezes bate de frente com o politicamente correto. Mente aberta e poucas demandas são exigidas para este filme e com absoluta certeza não é nem de perto o melhor filme de Tarantino. Não compare! Assista e se divirta.

O filme pode não ser tão perfeito e intenso quanto os dois "Kill Bill" (2003, 2004) nem quanto "Bastardos Inglórios", para citar três de seus trabalhos mais próximos da memória, mas é uma prova viva de que o talento do cineasta continua intacto. 

Há quem diga que a morte de sua montadora (Sally Menke) à época das filmagens tenha comprometido o seu trabalho. É possível. Mas Fred Raskin (o substituto) não faz feio. Afinal, o filme tem 2 horas e 45 minutos e mal se percebe o tempo passar. Também vale destacar o belo trabalho de fotografia de Robert Richardson, que já vem fazendo parceria com o cineasta desde "Kill Bill".

Ah, e, na sessão em que eu estava, o público parecia respirar cada momento do filme e brindou-o no final com uma merecida salva de palmas, fato raro de se ver numa exibição normal. 
  • Lançamento: 18 de janeiro de 2013 (2h44min) 
  • Dirigido por: Quentin Tarantino
  • Com: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson
  • Gênero: Faroeste
  • Nacionalidade: EUA

Nenhum comentário:

Postar um comentário