O que há por trás da grande autoexposição que vemos hoje nas redes sociais? Porque as pessoas sentem tanta necessidade de se expor desta forma compartilhando cada passo de suas vidas?
Estas são perguntas que têm sido feita por muitos nos tempos atuais. Com advento da popularização da internet em grande parte do Brasil, o uso das redes sociais (e aqui destaco as três mais usadas: o Instagram – mídia social para a postagem de fotos com textos curtos, o Twitter – mídia social para postagem de textos curtos (os “tweeters”), o Facebook – mídia social de relacionamento virtual e, o mais utilizado de todos, WhatsApp – aplicativo de mensagens para smartphones ) tornou-se algo compulsivo. Há pessoas que simplesmente não conseguem mais sobreviver sem estar conectado. Há algum tempo, inclusive, já existe profissional médico especializado no tratamento de indivíduos viciados em internet.
O mal dos excessos nos acessos
As redes sociais e a super exposição da vida de seus usuários tem trazido alguns transtornos, como prevenir os exageros e ficar longe dos perigos reais. Esse assunto tem sido bastante discutido atualmente e tem mudado o comportamento de muitas pessoas no mundo. A internet e as redes sociais tiveram um grande avanço nos últimos anos, juntamente com o crescimento dos aparelhos eletrônicos e a facilidade de se conectar no mundo virtual.
O Brasil é o segundo país com mais acessos as redes sociais no mundo. Essa cultura narcisista atual, faz com que as pessoas tenham necessidade de expor suas vidas. Não raramente nos deparamos com amigos virtuais sem noção que postam tudo o que fazem, fazendo quase que um diário virtual, publicam a que horas e em qual academia frequentam, em que restaurante almoçam ou jantam, onde trabalham , se estão doentes publicam até suas fotos nos hospitais, e incontáveis outros eventos.
A internet abre um espaço que permite que as pessoas criem outros personagens, propiciando, de certa forma, que se sintam realizadas pessoalmente. Elas podem ser o que desejarem, podem construir um perfil de acordo com aquilo que consideram ser o ideal.
A constante necessidade de aprovação de conhecidos e também de desconhecidos pode ser consequência da busca incessante do preenchimento de um vazio interior, o qual só poderá ser preenchido por nós mesmos.
É importante lembrar que nos relacionamentos virtuais ganha-se em quantidade, mas perde-se em qualidade.
Os smartphones permitem às pessoas expressar seus desejos quase que instantaneamente, fazendo com que estes atos sejam ainda mais impulsivos. Porém devemos estar cientes que, uma vez compartilhada a informação, é muito difícil reverter. Lembre-se de que você será julgado por tudo aquilo que posta. Se o desejo de se expor e fugir da realidade for maior do que seu bom senso, procure ajuda profissional.
Sem limites
Nessa semana um caso lamentável virou o assunto do momento. Um homem seguiu a mulher e a flagrou em adultério com seu melhor "amigo" num motel em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Um outro "amigo" do marido traído gravou um vídeo onde, além de xingar a mulher com palavrões, destrói o veículo do traidor e agride fisicamente a esposa traidora. As cenas são deploráveis (o vídeo, infelizmente, está disponível no Youtube). Mas, para piorar ainda mais a situação, o homem traído postou o tal vídeo no WathsApp. Pronto. Foi o mesmo que colocar fezes no ventilador. O vídeo, de péssimo gosto “viralizou” ('Viralização' é um termo que surgiu com o crescimento do número de usuários das redes sociais e blogs. A palavra é utilizada para designar os conteúdos que acabam ganhando repercussão - muitas vezes inesperada - na web.) na rede e foi compartilhado por um enorme número de usuários do aplicativo.
Um problema que era de cunho íntimo, pessoal e que devia ter sido resolvido entre as partes envolvidas, passou a ser o principal assunto nas rodas virtuais (e físicas) dos sem-o-que-fazer. Não só a mulher adúltera, o marido traído e o "amigo" traidor foram expostos, mas todos os membros dessas famílias (de classe média) – inclusive as crianças filhas do casal. Não entrarei aqui no mérito ou no demérito da questão (convenhamos, essa história é pateticamente paradoxal: todos são vítimas e todos são culpados ao mesmo tempo), mas esse caso deixa claro o quão nocivas podem ser as mídias sociais. Um bando de gente fofoqueira, sem o que fazer recebem de bandeja um prato nauseante e indigesto, servido por pessoas completamente desajustadas e sem qualquer noção de decência.
Conclusão
Vemos pessoas usando as redes sociais como um diário, onde são escritos seus desejos mais íntimos e pensamentos. Mais tudo isso tem sido compartilhado e visto em um mundo virtual, e nos esquecemos que é um espaço público.
A grande questão das redes sociais é a autoaceitação. Publicamos a maioria das coisas porque de fato queremos ser curtidos, queremos ser aceitos e queremos mostrar para as pessoas a “vida maravilhosa” que vivemos, postando fotos lindas e editadas. Mas na verdade, em muitos casos, o nosso perfil e as nossas postagens só escondem o desejo de se sentir importante, reconhecido, amado, valorizado, querido e acolhido pelo outro.
O eventual apoio recebido dos “amigos” alimenta ainda mais esse desejo, que vai crescendo exponencialmente.
O problema surge quando se perde o controle da situação e o desejo de se expor começa a dirigir as escolhas e comportamentos do indivíduo.
Alguém com baixa autoestima pode encontrar nas redes sociais a aprovação desejada. Além disso, no mundo virtual tudo é perfeito, todos são felizes e as pessoas sentem-se de alguma forma protegidas por não precisarem expor suas imperfeições.
Os adolescentes, geralmente mais inseguros, podem usar esta ferramenta para supervalorizarem suas opiniões e, desta forma, se autoafirmarem.
E o que dizer de pessoas que postam vídeos com conteúdos comprometedores (geralmente, sexuais) no afã de agredir seus desafetos?
As consequências resultantes dos extremos, como no caso citado acima, podem ser irreversíveis. A vida dessa mulher está destruída, aliás, não só a dela, mas a de todos os envolvidos, assim como suas famílias.
Enfim, superexposição está aí e devemos, cada vez mais, conviver com este fenômeno, o qual é ao mesmo tempo virtual e humano. Mas o que fazer se já estamos mergulhados neste mar de possibilidades on-line?
Muito se fala no Brasil de inclusão digital, mas pouco se fala de educação digital. Se nós incluirmos sem educar, vamos colocar uma arma nas mãos das pessoas contra elas mesmas.
“Sagrado” é, etimologicamente, aquilo a que o mundo não tem acesso. Todo ser humano tem o seu espaço sagrado, reservado, intocável e inviolável, mas se não expandirmos este conceito para nossos perfis na rede, vamos sofrer um colapso de identidade, seja ela digital ou humana.
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