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sábado, 19 de março de 2022

ESCRITO NAS ESTRELAS — ELIS REGINA, A "PIMENTINHA"

Elis Regina (☆1945/✞1982) foi uma cantora de enorme sucesso no Brasil. Reconhecida por muitos como a maior intérprete do país, ela trouxe vitalidade, emoção e expressividade para o cenário musical nos anos 60 e 70. Neste 17 de março de 2022, Elis completaria 77 anos de idade, se não tivesse nos deixado em 19 de janeiro de 1982, aos 37 anos. É um realese sobre a carreira marcante dessa cantora, considerada por muitos como insubstituível, o retorno da minha série especial de artigos "Escrito nas Estrelas".

Um nome, um mito... uma mulher


Elis, quando criança
Elis Regina Carvalho Costa, a Elis Regina, veio ao mundo no dia 17 de março de 1945, na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Seus pais eram Romeu Costa e Ercy Carvalho.

Intensa, ela passou como um furacão pela Música Popular Brasileira entre a década de 1960 e o início da década de 1980, quando morreu precocemente, aos 37 anos, em decorrência de uma overdose de cocaína. 

Vendeu 4 milhões de discos em 18 anos de carreira. Qualidade vocal, presença de palco e personalidade colocaram Elis na história como uma das mais importantes cantoras e intérpretes brasileiras.

Elis era dona de uma personalidade intensa e teve uma vida bastante conturbada, portanto, cheia de muitas polêmicas. Ao longo de sua carreira, a fenomenal cantora fez importantes parcerias na música e foi responsável por revelar grandes compositores.

Primeiros anos


Elis, em sua icônica apresentação no I Festival de Música Popular
Brasileira, produzido e exibido pela Rede Record, em 1965
Elis descobriu a música muito cedo em sua vida, começando a carreira aos onze anos, em 1956. Foi nessa época que entrou para um programa da Rádio Farroupilha, em Porto Alegre. 

A atração se chamava "O Clube do Guri", era comandada por Ari Rego (☆1918/✞2007) e voltada para o público infantil.

Carreira musical


Mais tarde, em 1960, a cantora ingressa na Rádio Gaúcha e, no ano seguinte, tem seu primeiro álbum lançado. Intitulado "Viva a Brotolândia", o LP foi feito quando ela tinha dezesseis anos.

Segundo consta, alguns dos responsáveis pelo lançamento de Elis foram Wilson Rodrigues Poso, funcionário da gravadora Continental, e Walter Silva, produtor musical e jornalista.

Ainda no Rio Grande do Sul, Elis lançou outros discos, até que em 1964 já estava realizando muitos shows no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nesse ano, foi convidada a integrar o programa "Noite de Gala". Lá, conhece Ciro Monteiro (☆1913/✞1976), que apresentava o quadro e depois se tornaria seu primeiro parceiro musical na TV.

Ainda em 1964, Elis fixa residência na cidade de São Paulo e passa a se apresentar no Beco das Garrafas onde conhece Luís Carlos Mieli (☆1938/✞2015), produtor musical, e Ronaldo Bôscoli, figuras importantes em sua trajetória. Em 1967, Elis casa-se com Bôscoli.

Em 1965, a cantora participa e vence o I Festival de Música Popular Brasileira, realizado pela TV Excelsior, onde canta 'Arrastão', música de Edu Lobo e Vinícius de Moraes (☆1913/✞1980), que a apelidou carinhosamente de "Pimentinha".

Ainda nesse ano, compõe 'Triste Amor Que Vai Morrer', única música de sua autoria, feita em parceria com Walter Silva e gravada em 1966 por Toquinho, apenas instrumentalmente.

Apresentou ao lado do cantor Jair Rodrigues (☆1939/✞2014) o quadro "O Fino da Bossa", na TV Record, entre 1965 e 1967, onde lançou o álbum "O Dois na Bossa", tornando-se recorde de vendas.

Os anos seguintes foram dedicados à sua evolução técnica e vocal, foi também quando Elis passa a ser conhecida internacionalmente.

Em 1974, lança em parceria com Tom Jobim (☆1927/✞1994) o célebre disco "Elis & Tom". Em 1976 é a vez do disco "Falso Brilhante", fruto do espetáculo homônimo, feito em parceria com Myriam Muniz (☆1931/✞2004) e César Camargo Mariano, com quem esteve casada entre 1973 e 1981. Muitos outros álbuns foram lançados pela cantora durante sua carreira.

Anos de chumbo


Elis e os filhos: João Marcelo (esquerda)
Maria Rita (centro) e Pedro Mariano (direita)
Elis Regina foi uma personalidade importante no combate à ditadura militar brasileira, posicionando-se conta o regime que assolou o país de 1964 a 1985. Só não foi presa ou exilada devido ao seu enorme reconhecimento.

Ela declarou em diversas entrevistas seu ponto de vista e optou por interpretar muitas canções que teciam críticas à ditadura.

Morte de Elis Regina


Elis Regina morreu em 19 de janeiro de 1982 após ingerir álcool, cocaína e remédios tranquilizantes. Quem a encontrou desacordada, e a levou para o hospital, foi seu namorado na época, Samuel McDowell.

O velório ocorreu no Teatro Bandeirantes, onde ela se apresentou no espetáculo "Falso Brilhante". O sepultamento ocorreu no Cemitério do Morumbi, em São Paulo. A morte precoce da cantora foi um grande choque para o país.

Os filhos de Elis Regina


Elis Regina teve três filhos. O mais velho, fruto de seu casamento com Ronaldo Bôscoli, é o empresário e produtor musical João Marcelo Bôscoli, nascido em 1970.

Do relacionamento com César Camargo Mariano nasceram Pedro Camargo Mariano, em 1975 e Maria Rita Camargo Mariano, em 1977. Os dois também seguiram carreira musical.

Versatilidade


Um dos primeiros pontos destacados pelo crítico musical Bob Tostes é a versatilidade. Ele lembra também da junção de talentos múltiplos de Elis. 
"Ela conseguia ser doce, agressiva, introspectiva… colocar a emoção que quisesse e que fosse preciso em cada interpretação. A emoção aflorava a ponto de ela chorar". 
Exemplo disso é o fim da canção 'Carta ao Mar', de Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal. Na gravação, dá para ouvir como a cantora se emociona e no final fica clara a voz embargada. 
"Ela soluça de uma forma tão bonita no fim da música, tão musical e ainda é dentro do tempo"
observa Tostes.

Além disso, cantava em inglês, francês, espanhol e 
"no que ela quisesse", 
segundo Bob, e passavam pelo samba, rock, jazz, bossa nova e MPB.

Inteligência musical


Outro fator fundamental na carreira de Elis Regina foi a capacidade que ela tinha em identificar o que funcionaria ou não artisticamente para ela. 
"Ela conseguia identificar e descobrir os talentos, como foi o caso do Fagner, por exemplo. Ninguém o conhecia e ela gravou"
relata Bob. 

Além disso, Elis dava vida às canções. 
"Quando ela gravou 'Mucuripe', composta por ele, parecia que a música era dela e de mais ninguém".
O mesmo aconteceu com outros artistas como João Bosco, Milton Nascimento, Belchior, Renato Teixeira e Ivans Lins. Os duetos e parcerias perduraram durante toda a carreira. 

Só para destacar alguns de grande sucesso: Jair Rodrigues, Rita Lee e Tom Jobim. O encontro com o maestro rendeu o álbum Elis e Tom que recebeu o título de um dos melhores LPs da história da Música Popular Brasileira.

"Elis & Tom", mais que um disco, um marco


Lançado em 1974, o disco tem arranjos do pianista e então marido de Elis, César Camargo Mariano. Em resumo, o álbum contém momentos de dueto e de Elis cantando sozinha acompanhada no violão ou piano. 

O maior sucesso do disco foi a gravação dela para 'Águas de Março'. Outros sucessos: 'Corcovado' e 'Inútil Paisagem' também estão presentes.

Só para ilustrar o quão gigante é o registro do encontro entre Elis Regina e Tom Jobim, o álbum é aclamado por crítica e público, inserido em livros, enciclopédias e compêndios nacionais e internacionais de música. 

Também foi escolhido por críticos e jornalistas como o 11º melhor disco de música brasileira pela Rolling Stone. No contexto educacional Elis e Tom é tema obrigatório no Vestibular da Universidade do Rio Grande Sul.

A voz


Elis Regina em Paris / Getty Images

Afinação é uma das características básicas para os cantores. Então, a comentar a partir deste ponto vale destacar o poder da voz de Elis Regina. 

A extensão vocal ia do grave ao agudo, transitando entre a técnica refinada, a emoção e a teatralidade. 

Dessa forma, improvisava melodias junto à banda. Ela também foi a primeira pessoa a inscrever a própria voz como um instrumento na Ordem dos Músicos do Brasil. 
"Ela reunia características de intérpretes brancos, negros, brasileiros, internacionais"
afirma Bob. Abaixo, veremos algumas curiosidades na história e na carreira dessa impressionante artista.

Curiosidades


Bob Tostes teve alguns momentos curiosos e marcantes ao lado de Elis Regina. Isso porque é amigo de Roberto Menescal, que, por sua vez, foi produtor e amigo de Elis Regina. 

Foi assim que ele se aproximou da cantora. Um belo dia, todos foram para a casa de Bob Tostes e ele ofereceu a típica goiabada com leite para um pequeno lanche bem mineiro. 
"Mas ela estava colocando a goiabada dentro do copo de leite. Então, eu disse que não era assim, que deveria misturar dentro da boca: uma mordida na goiabada e um gole de leite"
relembra aos risos.

O exemplo mostra como a personalidade da artista era leve e irreverente. Ademais, neste ponto, Tostes relembra também da altura de Elis. 
"Ela só media 1,52 e disse mais de uma vez que gostaria que Deus a tivesse feito um pouquinho mais alta"
conta Bob. A questão da altura nos leva a uma das características artísticas de Elis. Ela era baixinha, mas se tornava uma gigante no palco durante as interpretações.
  • 1. Em Londres
Elis impressionou o maestro inglês Peter Knight e sua orquestra ao gravarem juntos o disco Elis in London, de 1969, ao vivo, sem repetir nenhuma das doze canções. Foi aplaudida de pé pelos músicos ao final da gravação. O disco só seria lançado no Brasil em 1982, após sua morte.
  • 2. Brasil e família
Por duas vezes, Elis desistiu de desenvolver sua carreira internacional na Europa por saudades dos filhos e do Brasil. Ela se dizia uma cantora eminentemente brasileira.
  • 3. 'Black Is Beautiful'
Elis foi diretamente investigada pelo DOPS, órgão de repressão da ditadura militar, e chegou a ser intimada para depor nesse departamento, devido a sua ligação musical com o movimento negro norte-americano (evidenciada pela gravação da canção 'Black Is Beautiful', em 1971) e por interpretar compositores tidos como subversivos. Um diplomata sueco chegou a ser detido durante uma manifestação anti-ditadura por portar um LP de Elis.
  • 4. Elis & Tom
Elis foi reprovada por Tom Jobim, em 1964, durante as audições para o disco Pobre Menina Rica, sob a alegação de que ela ainda era muito provinciana. Exatamente dez anos depois, gravaram juntos o disco Elis & Tom, histórico registro da MPB. O disco foi o presente dado à Elis pela gravadora ao completar dez anos de gravações na antiga Philips, atual Universal.
  • 5. Chico Buarque
A música 'Atrás da Porta' — minha canção preferida interpretada por ela —, gravada por Elis em 1972, ainda não estava finalizada e era apenas um rascunho quando foi ouvida por Roberto Menescal, seu produtor à época. Elis gravou apenas a parte inicial da letra, fazendo vocalises durante o resto da canção. O registro foi enviado a Chico Buarque, que a finalizou instantaneamente.
  • 6. 'Romaria'
Elis não gostava de cantar sucessos antigos em seus shows, e a partir de 1978 deixou de cantar a clássica 'Romaria' — da autoria de Renato Teixeira — particularmente após uma fã vir lhe pedir um autógrafo, aos prantos, segurando uma imagem da senhora Aparecida, como se "viesse receber uma bênção".
  • 7. Interpretação
Alguns compositores ficavam receosos de gravar suas próprias canções após Elis as ter interpretado, tão forte era a marca de seu registro. Gilberto Gil, após vê-la cantando 'Se Eu Quiser Falar Com Deus' em um show, se perguntou: 
"Como é que eu vou cantar essa música agora?"
  • 8. Jogos de palavras
A canção 'Aprendendo a Jogar', de Guilherme Arantes, registrada no disco "Elis", de 1980, foi criada a partir de brincadeiras que a própria Elis fazia com os ditados, como 
"Água mole em pedra dura vale mais que dois voando".
  • 9. Trilha sonora
A canção 'Me Deixas Louca (Me Vuelvos Loca)', seu último sucesso e parte da trilha sonora da novela "Brilhante", de 1981, foi enviada para Simone, Maria Bethânia e Gal Costa, e ignorada pelas três antes de Elis gravá-la.
  • 10. Religião
Elis era espírita, estudiosa de Allan Kardec (☆1804/✞1869 — escrevi artigo especial sobre ele ➫ aqui) e chegou a psicografar cartas. além de fazer shows beneficentes para instituições sociais. Devido à sua afinidade com a religião, foi convidada a participar de um especial em homenagem a Chico Xavier (1910/2002 — escrevi texto especial sobre ele ➫ aqui), cantando a canção 'No Céu da Vibração', de 1980.
  • 11. Piano
Elis estudou piano brevemente durante a infância com uma professora particular. Após concluir a fase inicial, a professora sugeriu a procura de um conservatório que, por sua vez, exigia que o aluno tivesse o instrumento em casa. 
"Entre comer e ter o piano, meus pais escolheram comer, o que a longo prazo eu achei ótimo"
disse Elis em entrevista em 1972.
  • 12. Festivais
Elis Regina defendeu duas músicas no I Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, em 1965. Embora tenha ganhado o festival com a música 'Arrastão' (Edu Lobo e Vinícius de Moraes), dizia que sua favorita era 'Por Um Amor Maior' (Francis Hime e Rui Guerra), cujo registro está no álbum "Samba Eu Canto Assim”, gravado antes do festival e lançado em seguida.
  • 13. Luta por direitos autorais
Os direitos trabalhistas dos músicos brasileiros eram preocupação permanente de Elis Regina. Em 1978, criou a Associação de Músicos e Intérpretes (ASSIM), na tentativa de reparar músicos do que considerava uma grande injustiça: ao gravar discos, instrumentistas eram obrigados a abrir mão de seus direitos conexos.
  • 14. "Ella Fitzgerald" brasileira
Após se apresentar no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, em 1979, Elis era chamada pelo público e pela crítica europeus de "a nova Ella Fitzgerald (☆1917/✞1996)". Antes de se apresentar, Elis teve uma crise de choro ao se lembrar que ela, filha de lavadeira, iria se apresentar no mesmo palco que os grandes gênios da música mundial. 

Ao final de show, foi convidada a se apresentar, sem ensaio, com Hermeto Paschoal, numa apresentação que até hoje é considerada histórica. Por não ter aprovado seu desempenho no show, Elis não autorizou o lançamento do álbum, que veio ao público apenas após sua morte, em 1982.
  • 15. Bilheteria
O espetáculo "Falso Brilhante" (1976) é considerado um marco do show business brasileiro. Ficou 14 meses em cartaz, com 257 apresentações e público de 280 mil pessoas. Teve gastos iniciais de 560 milhões de cruzeiros e arrecadação em bilheteria de mais de 8 bilhões de cruzeiros.
16. Vanguarda Paulistana

Em 1982, Elis Regina revelava em entrevista ao "Jogo da Verdade" (TV Cultura) que Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé eram os artistas que lhe chamavam atenção naquele momento. 
"Com 'Sabor de Veneno', (Arrigo Barnabé), eu tinha delírios, o olho virava de paixão”.
  • 17. A despedida
No início de 1982, pouco antes de sua morte, em 19 de janeiro, Elis começava a preparar um novo disco. Anotações na agenda da cantora traziam lista do que podia ser o repertório de seu novo trabalho, com músicas de Milton Nascimento ('Nos Bailes da Vida', 'Tudo Que Você Podia Ser') e Tom Jobim ('Falando de Amor'). Que, infelizmente, nunca poderão receber a interpretação singular da cantora.
  • 18. A era dos festivais
Até 1963, Elis gravou um total de quatro discos, que não fizeram muito sucesso. São eles "Viva a Brotolândia" (1961), "Poema de Amor" (1962), "Elis Regina" (1963) e "O Bem do Amor" (1963). No entanto, essa história começou a mudar em 1965 quando se apresentou no festival de música da TV Excelsior. Ao interpretar 'Arrastão', de Vinicius de Moraes e Edu Lobo, encantou. Isso garantiu um convite para trabalhar na televisão e ainda rendeu o título de primeira estrela da canção popular brasileira.

O título veio quando passou a apresentar o "Fino da Bossa" ao lado de Jair Rodrigues. O programa é o mais importante do estilo. A realização e consagração da carreira artística de Elis Regina no festival da TV Excelsior foi o ponto de partida para um período de efervescência artística na produção cultural brasileira. 

Não podemos ignorar que em 1965 o Brasil sofria com o primeiro ano de Ditadura Militar e as severas consequências do AI-5. Mesmo assim, ao longo de 20 anos, diversos artistas foram revelados nos festivais promovidos pela televisão. Só para exemplificar, nomes como Chico Buarque, Edu Lobo, Milton Nascimento, Caetano Veloso e Gilberto Gil surgiram no período.

O mais interessante é que a era dos festivais foi importantíssima para a produção dentro da música popular brasileira, mas, além disso, ajudou a promover a difusão e formação da idade nacional.
  • 19. Músicas de Elis Regina
Algumas das música que fizeram grande sucesso na voz de Elis Regina, foram: 'Como Nossos Pais' (1976) — 'Como Nossos Pais' (escrevi artigo especial sobre esta canção ➫ aqui) é talvez o maior sucesso na carreira de Elis, foi gravada por ela em 1976, integrando o álbum "Falso Brilhante". O autor da canção é o músico Belchior (☆1946/✞2017), que a gravou também em 1976 no disco "Alucinação" (escrevi artigo especial sobre este disco ➫ aqui).

Essa música traz uma grande carga sentimental sobre o contexto da época, no auge da ditadura militar no Brasil. A letra também é carregada de um enfrentamento entre gerações, talvez por isso seja tão atual ainda hoje.

'O Bêbado e a Equilibrista' (1978) — Essa é uma composição de João Bosco e Aldir Blanc, feita em 1978. Elis a gravou em 1979 no disco Essa mulher, e a música foi a de maior sucesso do álbum. Com um forte apelo contra a ditadura, foi vista como um hino pelas liberdades e pela Anistia (escrevi artigo especial sobre esta canção ➫ aqui).

Conclusão


Em 2016 foi lançado o filme "Elis", que retrata a vida da cantora. Dirigido por Hugo Prata, a produção traz a atriz Andreia Horta — irrepreensivelmente — interpretando Elis Regina. A história narra a vida da cantora desde o começo da carreira até a sua trágica morte. 

Apesar de receber algumas críticas negativas, o filme, em análise geral, fez sim jus ao registro e memória dessa cantora que não foi em absoluto um falso brilhante e cujo nome estará para a eternidade escrito nas estrelas.

[Fonte: Cultura Genial, por Laura Aidar — Arte-educadora e artista visual; EBC, por Marcus Bringel e Anderson Falcão]

A Deus toda glória.

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E nem 1% religioso.
Apesar da flexibilização no uso da máscara, onde o uso do acessório já não é mais obrigatório nos ambientes abertos em muitas regiões da Federação, o bom senso e a concientização individual, ainda é uma premissa para a segurança e a proteção coletiva.
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PAPO RETO — "LINCHAMENTO VIRTUAL": LIBERDADE DE EXPRESSÃO VS. RESPEITO

De acordo com pesquisas mais recente, nós brasileiros, ainda ocupamos a 3ª posição no ranking mundial da internet, segundo dados do Ibope Nielsen Online. O uso da internet em locais de trabalho e domicílios brasileiros vem crescendo muito nos últimos tempos, colocando o Brasil acima de países como a Alemanha, o que por um lado é benéfico porque nos traz os benefícios dos avanços tecnológicos, mas por outro lado, muita preocupação quanto às formas e finalidades para as quais muitos internautas fazem uso da internet.

Blogs, sites, redes sociais em geral são usadas com a finalidade de empreendedorismo, estudos, pesquisas e outras, por quem sabe usá-los como ferramentas e mecanismos auxiliares, e hoje, indispensáveis, na comunicação e marketing que varia dos pequenos aos grandes negócios, mas existe uma gama de usuários, que a exploram pelo lado obscuro, desnecessário e até criminoso, causando desconfortos e prejuízos a toda comunidade virtual.

Com o crescimento da incitação ao ódio e à violência nas redes sociais, é comum nos depararmos com campanhas e mais campanhas educativas, que visam aplacar essa onda de ataques virtuais, que cresce com o desconhecimento das leis que regulamentam o uso racional e responsável da web, prevendo punições aos infratores das mesmas. A internet nunca foi terra de ninguém como apregoam os que dela utilizam para o mal.

O caso do personal trainer, a esposa e o homem em situação de rua


O caso mais recente e que ainda está repercutindo nas redes sociais, é o de um personal trainer de 31 anos que encontrou a própria esposa em relações sexuais com um homem em situação de rua dentro do carro. A situação foi flagrada por câmeras de seguranças em Planaltina, no Distrito Federal, na quarta-feira (9/3). 
"Não se trata de uma traição, e, sim, crime de violência"
disse o marido.

A afirmação do homem se contradiz com a da sua esposa, que afirmou a polícia ter tido relações sexuais com o sem-teto por vontade própria. Em áudios obtidos pela TV Globo, a esposa disse que viu as 
"imagens do marido e de Deus" 
no rosto do homem e por isso fez sexo. Ela também disse que não estava sob efeito de álcool.

Entenda o caso


Segundo a polícia, o rapaz foi a procura da esposa que teria saído para ajudar uma pessoa em situação de rua com a sogra. Depois de um tempo, as duas se separaram.

O homem então saiu para procurar a mulher. Quando chegou ao Centro de Ensino Fundamental Paroquial, o homem avistou o carro que a esposa estava usando e se aproximou.

Foi então que ele flagrou sua companheira e o "mendigo" fazendo sexo no banco da frente do veículo. Após ver a cena, ele agrediu o rapaz que estava com sua esposa.

Ao Portal G1, a mulher falou que foi abordada pelo sem-teto, que pedia dinheiro. Como ela não tinha, ele pediu para ver a Bíblia que a moça havia ganhado do marido.

Logo depois, o sem-teto pediu um abraço e os dois entraram no carro e trocaram caricias. Após isso, os dois se encontraram em um local combinado e tiveram práticas sexuais.

Com a repercussão das imagens que viralizaram nas redes sociais, tanto o personal trainer, quanto sua esposa, estão sendo vítimas de um verdadeiro linchamento virtual. Não estão faltando julgamentos, opiniões, acusações, sentenças, memes e muita manifestação de desrespeito com os envolvidos nos fatos.

Após essa repercussão negativa do caso, o personal trainer veio a público e saiu em defesa de sua esposa:
"Sempre foi uma mulher honesta, trabalhadora, temos atividades profissionais e filhos pequenos. O que aconteceu na última quarta-feira foi algo terrível que nunca havíamos vivenciado. Seguimos confiantes no trabalho de investigação da Polícia Civil do DF e do Ministério Público do DF", 
escreveu o personal. Com a repercussão do caso, os perfis do casal foram excluídos das redes sociais. A mulher foi internada em uma clínica para tramento psiquiátricos, o marido "traído", após ser autuado por agressão foi liberado, o homem em situação de rua, cuja identidade não foi revelada, após as agressões, foi socorrido com escoriações e logo depois enviado para um abrigo público. O caso segue sob investigações.

Linchamento virtual é crime!


Não obstante às campanhas educativas, criação de Delegacias Especializadas em Crimes Cibernéticos, a exemplo da Safernet Brasil, DEICC, DRCI, dentre outros, é muito comum encontrarmos publicações maldosas que divulgam nomes e imagens de pessoas, de forma injuriosa, caluniosa e difamatória, frases de efeito como, "morte ao fulano", incitando o ódio e a violência sem se quer medir as consequências danosas de tamanha irresponsabilidade virtual.

No século XXI, a expansão da internet ficou extremamente rápida o que gerou a criação de um ambiente virtual gigantesco, e em meio a esse ambiente os movimentos de revolta, que geralmente ocorriam devido a um crime que gerava desordem, passaram para a internet, por muitas vezes em grupos de WatsApp, Facebook etc.

Num passado não muito distante, em 03 de maio de 2014, o Brasil foi impactado pelas consequências desse, hoje, tão habitual, linchamento virtual, que veio a ser letal, trágico na vida da senhora Fabiane Maria de Jesus, dona de casa, 33 anos, violentamente agredida por dezenas de moradores de uma comunidade em Guarujá, no litoral de São Paulo, após ter sua imagem divulgada irresponsavelmente na internet, onde a denunciavam como sequestradora de crianças para rituais de magia negra.

Porém, esse fato lamentável, que culminou com o linchamento público real de uma pessoa inocente, infelizmente, ao que parece, não nos serviu como exemplo do mal que esses ataques em ambiente online podem causar no ambiente offline. Surpreendemos-nos ao ver as plataformas mais acessados do mundo, redes sociais, como o Facebook, o Instagram e o Twitter, que a meu ver deveria ter responsabilidade social no que se refere à política de segurança do que é divulgado por seus usuários, como um verdadeiro celeiro para a disseminação de ataques de ódio e manifestação de linchamentos virtuais.

Como ocorre o linchamento virtual?


Assim o linchamento real, que era ocasionado pela desordem e pessoas que se opunham a esta, passou para o ambiente virtual. Ocorre que nem sempre o linchamento virtual é ocasionado por pessoas se opondo a desordem social, o que ocasiona a criação de grupos que têm o fim de humilhar uma ou até várias pessoas, fazendo dessas vítimas.

A vítima de um linchamento geralmente 
"cumpre a função ritual e sacrificial do bode expiatório",
escreve José Martins de Souza, sociólogo e professor da USP, no livro Linchamentos: a justiça popular no Brasil. (Leia mais em: https://super.abril.com.br/tecnologia/o-que-motiva-os-linchamentos-virtuais/)

Muitos justificam tais postagens ao direito de liberdade de expressão. No entanto, a consideração do direito da outra parte põe por terra essa perspectiva. No caso dos linchamentos virtuais de fato, há uma linha tênue entre dois princípios fundamentais: 

a liberdade de expressão e a dignidade da pessoa humana.


A liberdade de expressão é um direito previsto no artigo da Constituição Federal. Também está descrita no Artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos. No direito à liberdade de expressão incluem-se notícias sobre fatos, propaganda de ideias, opiniões, comentários, convicções, avaliações ou julgamentos sobre qualquer assunto, em qualquer forma de comunicação, verbal e não-verbal. 

Essa lei foi criada, sobretudo, contra as interferências do poder público, para evitar quaisquer atos de censura [I]. Em relação a particulares, como acontece em casos de linchamentos virtuais, o direito à liberdade de expressão precisa ser analisado ponderando-se o interesse das partes, sobretudo se contiver ódios e preconceitos e colocar em risco o valor intrínseco do ser humano [II]

Além deste, há outro princípio fundamental, tanto na Declaração Universal dos Direitos Humanos (Artigo 1º) como na Constituição Brasileira (artigo 1º, inciso III), no mesmo grau de importância, que deve ser respeitado: a dignidade da pessoa humana. (https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/artigos/direitos-humanos/embate-de-direitos-fundamentais-nos-casos-de-linchamentos-virtuais)

Essas vítimas não têm nesses grupos direitos como ampla defesa e contraditório, direitos esses previstos na nossa Constituição Federal, o que gera uma injustiça e ofensa por diversas vezes a honra e imagem das vítimas.

Há casos em que pessoas que foram vítimas desses "Linchamentos Virtuais" nunca mais foram as mesmas, precisando de tratamento psicológico intenso (a diversas matérias jornalísticas nesse sentido), ou seja, não é uma brincadeira qualquer, é algo muito sério.

Inclusive é muito comum que durante essa prática os participantes cometam crimes tipificados no Código Penal, como Calúnia (art. 138); Difamação (art. 139) e Injúria (art. 140), e até mesmo o induzimento ou instigação ao Suicídio (Art. 122 do Código Pena, que diz Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça — Pena — reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos).

A gênese do ataque


O principal motivo é que as pessoas se sentem protegidas pelo anonimato para falar as piores atrocidades. Elas pensam que a internet é "terra de ninguém". Acho que muitos promoveram bastante bullying na escola e não superaram a fase. Então, ao xingar uma mulher de baleia, de burra, de vagabunda (porque eles geralmente alvejam mulheres), conseguem relembrar aqueles "bons tempos". Além do mais, essa prática cria a ilusão de fazer parte de um grupo, que se une por meio do ódio — os tais famigerados haters.

A vítima de um linchamento geralmente 
"cumpre a função ritual e sacrificial do bode expiatório", 
escreve José Martins de Souza, sociólogo e professor da USP, no livro "Linchamentos: a justiça popular no Brasil (Brasil, 2015, 208 pg., Ed. Contexto)". Em seu levantamento, Martins estima que haja um linchamento físico por dia no País, e que, nos últimos 60 anos, cerca de um milhão de brasileiros tenha participado de pelo menos um ato ou uma tentativa desse tipo.

Apesar das diferenças entre o linchamento físico e o virtual, a efeito de pesquisa, a distinção é menos acentuada: 
"o linchamento virtual também é real. A pessoa atacada tem família, vida social, não é só um avatar", 
explica a pesquisadora da Unicamp Karen Tank Mercuri Macedo, que estudou o tema. 
"Acreditamos que o linchamento virtual muitas vezes acontece por falta de letramento digital. Se a pessoa não tem uso crítico da tecnologia, não conseguirá avaliar a fonte das informações que recebe e tem mais chances de ser um linchador ou linchado em potencial."

Mas quem toma parte em linchamentos tem consciência do que está fazendo? Depende da situação. 
"Há um caso de um linchamento real no Rio de Janeiro em que uma idosa foi vista tentando arrancar o olho da vítima com uma colher. Quando foi levada para a delegacia, ela não lembrava o que tinha feito. Acreditamos que a fúria da multidão deixe vir à tona um comportamento que nem a pessoa entende"
explica Macedo. Mas a situação muda nas redes sociais, mesmo que envolva uma ação impensada. 
"A pessoa tem muito mais consciência do que está fazendo na internet do que na agressão física no mundo real, que geralmente parte de uma explosão súbita."

Por que linchamos?


Não raro, o linchamento virtual resvala para a violência física — é o caso anteriormente citado de Fabiane Maria de Jesus, dona de casa assassinada em maio de 2014, no Guarujá, após ser acusada de praticar magia negra e sequestrar crianças. 

O boato surgiu na internet, junto a relatos falsos de testemunhas. Fabiane foi espancada até a morte por moradores, após ser confundida com um retrato falado da suposta sequestradora. O linchamento foi filmado e divulgado na internet, onde viralizou. Depois, descobriu-se que o retrato havia sido feito em 2012 por policiais do Rio de Janeiro, em um caso sem relação alguma com o boato.

O linchamento tem caráter vingativo, de punir com força redobrada o suposto crime original. É uma forma de a sociedade julgar a ineficiência dos procedimentos oficiais de justiça. 
"A hipótese mais provável é a de que a população lincha para punir, mas sobretudo para indicar seu desacordo com alternativas de mudança social que violam valores e normas de conduta tradicionais"
escreve Martins. 
"O linchamento não é uma manifestação de desordem, mas de questionamento da desordem."

Esse questionamento muitas vezes é provocado por um dos maiores gatilhos para o linchamento: a intolerância. 

"Todas as pessoas que já fazem parte de minorias vão continuar sendo marginalizadas na internet, embora tenhamos por lá essa sensação de igualdade. Existe sempre um poder, um grupo mais privilegiado controlando os outros",
ressalta Macedo.
"Se você não se encaixa no grupo homogêneo, precisa ser destruído, nem que seja só com palavras. Não existe mais essa fronteira fixa entre o real e o virtual."

A intolerância é, grosso modo, uma das bases para o ataque de grupos organizados e genericamente definidos como haters. Todos estão sujeitos aos seus ataques, especialmente se defenderem alguma causa considerada polêmica. 

É o caso de ativistas feministas (veja mais abaixo) e militantes políticos, ou defensores de pautas como a legalização das drogas ou do aborto. Para Macedo,
"a ideia deles seria preservar alguns valores socialmente construídos, tidos como certos. Nessa lógica, deve-se 'destruir' o que pensa diferente, que seja uma ameaça aos bons costumes".

Conclusão


Por esse texto bem breve, podemos ver que não se trata de uma mera brincadeira, mas de algo muito sério, que causa impactos danosos nas vítimas.

Hoje, são os envolvidos no caso do DF, amanhã, pode ser eu, depois à você..., etc, e assim os elos do ódio incitado virtualmente, vão se ligando e se propagando de forma viral e dando origem à grande corrente de violência que só tende a aumentar a catastrófica onda de justiçamento que rasga literalmente a nossa Constituição Federal e desrespeita as nossas leis, pondo em xeque toda e qualquer autoridade competente para julgar e punir nas suas mais variadas formas.

Argumentam o direito de expressão garantido no Art. 5º IV — 
é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
IX- é livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença;
Mas até onde vai o direito de expressão? Desde quando se é permitido a um direito atropelar o outro? Nesse caso, o primeiro e maior direito do cidadão, o direito à vida? Na minha opinião não pode haver defesa e nem justificativa para nenhum ato que caracterize ameaça à segurança e à vida e à privacidade de quem quer que seja.

É preciso mais rigor quanto a essa postura na web, que já demonstrou na prática, ser danosa à segurança e ordem pública. Está mais do que na hora dos órgãos competentes, fiscalizarem melhor todo e qualquer site que de alguma forma, promove ou coopera para a promoção da violência, caso contrário, a internet cada vez mais se constituirá em um veículo difusor do ódio e em arma letal contra os cidadãos que utilizam este importante canal diariamente na busca de algo que os engrandeça e que não os dizime.

Então se alguém te adicionar em grupos com essa intenção, de ofender ou ridicularizar alguém, não permaneça, pois, as consequências são sérias, sendo certo que o linchamento virtual não é resguardo pelo principio da liberdade de expressão nem mesmo pela presunção da Inocência, justamente por conter discurso de ódio, incitação à violência física ou moral.

[Jus Brasil, por Deyvidson Ribeiro e Fátima Miranda; Superinteressante, por Ana Lourenço]

A Deus toda glória.

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E nem 1% religioso.
Apesar da flexibilização no uso da máscara, onde o uso do acessório já não é mais obrigatório nos ambientes abertos em muitas regiões da Federação, o bom senso e a concientização individual, ainda é uma premissa para a segurança e a proteção coletiva.
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quinta-feira, 17 de março de 2022

ACONTECIMENTOS — CASO CÉSIO-137, GOIÂNIA, BRASIL: UMA DAS MAIORES TRAGÉDIAS RADIOATIVAS DO MUNDO

Há exatos 35 anos, Goiânia era atingida por aquele que é considerado o maior acidente radiológico do mundo. A tragédia envolvendo o césio-137 deixou centenas de pessoas mortas contaminadas pelo elemento e outras tantas com sequelas irreversíveis.

O incidente teve início depois que dois jovens catadores de papel encontraram e abriram um aparelho contendo o elemento radioativo. A peça foi achada em um prédio abandonado, onde funcionava uma clínica desativada.

Mesmo passadas mais de três décadas da tragédia, o acidente ainda deixa resquícios de medo. Um exemplo é a situação do local onde morava uma das pessoas que encontraram a peça. A casa em que vivia o catador foi demolida no mesmo ano em que tudo ocorreu. Apesar de o solo ter sido todo retirado e ter sido substituído por várias camadas de concreto, nunca mais qualquer tipo de construção foi feita no local.

HISTÓRIA E PERSONAGENS

O    que é o Césio-137?


Imagem do local da tragédia em 1987...
  • O Césio-137 é um isótopo radioativo resultante da fissão de urânio ou plutônio, é usado em equipamentos de radiografia, até aí tudo bem, o problema ocorre quando este isótopo é desintegrado e dá origem ao Bário 137m que passa a emitir radiações gama. Os raios gama possuem um grande poder de penetração, sendo nocivos ao ser humano.

O caso


O Brasil é conhecido mundialmente como o país que ocorreu o maior desastre radioativo, foi o de Goiânia em 13 de setembro de 1987, uma cápsula de Césio-137, abandonada há 2 anos nos escombros do antigo Instituto Goiano de Radiologia, desativado depois de sofrer uma ação de despejo — foi removida por dois sucateiros, violada e vendida como ferro-velho. 

Entre a retirada da cápsula da clínica em ruínas e a descoberta do fato pelas autoridades, dezenas de moradores de Goiânia conviveram com um material radioativo cuja periculosidade era desconhecida. Atraídos pela intensa luminescência azul do sal do césio-137 adultos e crianças o manipularam e distribuíram entre parentes e amigos.

Os primeiros sintomas da contaminação (náuseas, vômitos, tonturas e diarreia) foram aparecendo algumas horas após o contato com o material. O saldo dessa experiência foi a morte de 4 pessoas, a contaminação, em maior e menor grau de mais 200 pessoas. Somente em 29 de setembro, aqueles sinais foram identificados como características da síndrome da radiação.

As vítimas


...Local da tragédia atualmente
Foi no ferro-velho de Devair Alves Ferreira que a cápsula de césio foi aberta para o reaproveitamento do chumbo. Devair ficou encantado com o pó que emitia um brilho azul no escuro. Ele mostrou a descoberta para sua esposa Maria Gabriela, bem como o distribuiu para familiares e amigos. 

Dono de um ferro-velho na Rua 26-A, no Setor Aeroporto, em Goiânia, Devair Alves era conhecido pela solidariedade e simpatia. A casa, que ficava nos fundos do terreno, estava sempre cheia de gente. 

E foi justamente pela vontade de compartilhar a alegria que ele distribuiu um pouquinho dos 19g de césio 137 aos mais próximos. Queria que todos vissem a beleza do brilho azul que emanava daquele pó branco. A atitude o colocou como protagonista do maior acidente radioativo do mundo em área urbana. 

Apesar de ter recebido 7 Gy de radiação, ele sobreviveu em primeira mão à exposição. Os efeito corporais incluíram a perda de cabelo e problemas em diversos órgãos. 

Sentindo-se culpado por abrir a cápsula. tornou-se alcóolatra e contraiu câncer pela radiação, morrendo 7 anos depois, em 1994.

O irmão de Devair, Ivo Ferreira, levou um pouco de césio para sua filha, Leide Das Neves, que ingeriu as partículas do césio junto ao ovo cozido. Outro irmão de Devair também teve contato direto com a substância. Pelo fato de esse sal ser hidroscópico, ou seja, absorver a umidade do ar, ele facilmente adere à roupa, pele e utensílios, podendo contaminar os alimentos e o organismo internamente.

Ivo teve baixa contaminação, no entanto, tornou-se depressivo depois da morte da filha Leide das Neves e passou a fumar em torno de seis maços de cigarros por dia, falecendo por enfisema pulmonar, em 2003, 16 anos depois. Ele nunca superou o fato de ter levado o produto radioativo pra dentro de casa e dado para a filha.

Maria Gabriela, a esposa do dono do ferro-velho, Devair, teve a intuição de que o mal-estar que seus familiares também passaram a sentir poderia ser devido ao pedaço da fonte guardada dentro de sua casa. Auxiliada, então, por um dos empregados do ferro-velho, levou o pedaço da fonte dentro de um saco plástico, em um ônibus para o Centro de Vigilância Sanitária. 

Cabeçote onde continha a cápsula com o Césio-137
Os profissionais de saúde, vendo os sintomas, pensaram tratar-se de algum tipo de doença contagiosa desconhecida, medicando os doentes em conformidade com os sintomas descritos. 

Durante a entrevista com médicos, a esposa do dono do ferro velho relatou para a junta médica que os vômitos e diarreia se iniciaram depois que seu marido desmontou aquele "aparelho estranho". 

Só então, no dia 29 de setembro de 1987, foi dado o alerta de contaminação por material radioativo de milhares de pessoas. Maria Gabriela foi um dos pacientes tratados no Hospital Marcílio Dias, no Rio de Janeiro e foi uma das primeiras vítimas da contaminação.

Odesson Alves Ferreira mostra as lesões nas duas mãos
em decorrência de contato com o material radioativo
A primeira vítima, Maria Gabriela Ferreira, com 37 anos de idade, que havia entrado em contato com césio-137 pela primeira vez no dia 21 de setembro, quando foi examinada em hospital porque estava com diarreia e vômitos, morreu no dia 23 de outubro de 1987. 

No mesmo dia, horas mais tarde, foi a vez de sua sobrinha, Leide das Neves Ferreira, uma menina de apenas 6 anos de idade, que passou a purpurina pelo corpo e ingeriu um pouco do pó de césio-137, ao segurar um ovo cozido que comia com a mão contaminada, no dia 24 de setembro. Nos dias 27 e 28 de outubro morreram, respectivamente, Israel Batista dos Santos (22 anos) e Admilson Alves de Souza (18 anos), funcionários do ferro-velho.

CONTROLE DE EXPOSIÇÃO


Leide das Neves e Maria Gabriela, as primeiras vítimas fatais da tragédia
De 30 de setembro a 20 de dezembro de 1987, 112.800 pessoas foram monitoradas pelos técnicos da CNEN na cidade de Goiânia. No total 1000 pessoas foram expostas aos efeitos do césio, muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. 

Destas, 129 pessoas apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta, vindo a desenvolver sintomas e foram apenas medicadas. Porém, 49 foram internadas, sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e acabaram morrendo.
Lápides das quatros primeiras vítimas no
cemitério municipalde Goiânia, o Cemitério Parque:
covas são proibidas nas proximidades

Muitas casas foram esvaziadas, e limpadores a vácuo foram usados para remover a poeira antes das superfícies serem examinadas para detecção de radioatividade. Para uma melhor identificação, foi usada uma mistura de ácido e tintas azuis.

Telhados foram limpos a vácuo, mas duas casas tiveram seus telhados removidos. Objetos como brinquedos, fotografias e utensílios domésticos foram considerados material de rejeito. O que foi recolhido com a limpeza foi transferido para o Parque Estadual Telma Ortegal.

Até hoje todos os contaminados ainda desenvolvem enfermidades relativas à contaminação radioativa, fato este muitas vezes não noticiado pela mídia brasileira.

REJEITOS


Admilson Alves, funcionário do ferro-velho de Devair e outra vítima fatal da tragédia

Os rejeitos gerados da descontaminação de pessoas e locais foram compactados, sendo os rejeitos líquidos solidificados com cimento. Algumas casas e barracos tiveram que ser destruídas e removidos com tudo que havia em seu interior. O solo dos focos de contaminação também teve que ser removido. Para o acondicionamento de rejeitos foram utilizados diversos tipos de embalagens.

Atualmente, as taxas de exposição nos locais atingidos em Goiânia são inferiores às de Guarapari ou de Poços de Caldas. Cinco meses depois do acidente, a população praticamente retornou a sua vida normal, sendo todas as áreas contaminadas liberadas.

No entanto a CNEN ainda manteve em Goiânia 11 técnicos para o acompanhamento dos rejeitos radioativos, para o controle do meio ambiente e para o acompanhamento das vítimas. Seis delas ainda apresentam sequelas razoavelmente graves como as radiodermites (queimaduras por radiação) e continuam recebendo tratamento diário.

CONCLUSÃO


Cerca de 6 mil toneladas de lixo radioativo foram recolhidas na capital goiana após o acidente. Todo esse material com suspeita de contaminação foi levado para a unidade de do Cnen em Abadia de Goiás, na Região Metropolitana da capita, onde foi enterrado.

Passadas mais de três décadas, os resíduos já perderam metade da radiação. No entanto, o risco completo de radiação só deve desaparecer em pelo menos 275 anos.

Em Goiânia, especificamente, e no país, o evento analisado não desencadeou um esforço por parte do Estado para o fortalecimento de instituições de proteção ambiental, educação, pesquisa e assistência social. 

Não se observa a existência de uma estrutura simultaneamente preventiva e reativa a novos desastres dessa natureza. O aprendizado das lições da tragédia jamais se tornaram fim último do Estado, que mal consegue montar uma rede de socorro às vítimas do evento de 1987.

Conclui-se, baseados nessa pesquisa , que esse desastre aconteceu pelo não conhecimento das pessoas sobre a radiação e seu poder corrosivo. Desse modo podemos contribuir para uma reflexão mais ampla sobre os processos de conscientização e prevenção sobre os perigos da radiação, além de não se deixar cair no esquecimento para atual geração, algo de tamanha importância histórica.

No âmbito radioativo, o césio-137 só não foi maior que o acidente na usina nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). 

Mesmo com o passar do tempo, o acidente ainda deixa resquícios de medo. Um exemplo é a situação do local onde morava uma das pessoas que encontraram a peça. A casa em que vivia o catador foi demolida no mesmo ano em que tudo ocorreu. Apesar de o solo ter sido todo retirado e ter sido substituído por várias camadas de concreto, nunca mais qualquer tipo de construção foi feita no local.

Goiânia segue com as marcas do desastre. Em fevereiro de 1988, menos de um ano depois, foi criada a Fundação Leide das Neves Ferreira, com a função específica de dar atendimento às vítimas que apresentaram contaminação com o césio-137. 

Até hoje, há um serviço específico para esse atendimento, atualmente prestado pelo CARA (Centro Estadual de Assistência aos Radioacidentados Leide das Neves), criado após a extinção da fundação em 2011.

O CARA tem 1.253 pessoas cadastradas, divididas em grupos de acordo com a dose de exposição à radiação e a gravidade de cada um. Segundo o sistema informatizado de acompanhamento da instituição, implantado em 2003, deste ano a 2020 o centro realizou 23.642 atendimentos. De acordo com a fundação, o número de vítimas fatais em decorrência da tragédia, ao longo do tempo, é de pelo menos 51 pessoas.

Condenações

  • Flamarion Barbosa Goulart — físico do Instituto Goiano de Radiologia (IGR), onde a cápsula foi achada;
  • Carlos de Figueiredo Bezerril — médico responsável pelo IGR;
  • Criseide Castro Dourado — médica responsável pelo IGR;
  • Orlando Alves Teixeira — médico responsável pelo IGR;
  • Amaurillo Monteiro de Oliveira — dono do prédio.
Conforme o processo, eles foram denunciados por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, e por lesão corporal culposa. Após a tramitação do processo na Justiça Federal, os réus foram condenados a 3 anos e 2 meses de prisão em regime aberto pelo crime de homicídio culposo. 

A pena foi transformada em prestação de serviços comunitários. Por força de indulto, em 1998, a condenação foi extinta e ainda assim, em 1999 a ação penal foi arquivada. 

Ou seja, como sempre, os verdadeiros punidos foram as vítimas dessa tragédia que não deve jamais ser por nós esquecida. No que depender de mim, não será!

[Fonte: Núcleo do Conhecimento, por Wanessa Danielle Barbosa Soares - Referências: OKUNO, E. "Radiação efeitos, riscos e benefícios". São Paulo: Ideal, 1988. BORGES, W. "Eu também sou vítima: a verdadeira história sobre o acidente com o césio em Goiânia". Goiânia: Kelps, 2003. PINTO, F. "A menina que comeu césio". Brasília: Ideal, 1987 INSTITUTUO BRASIL CENTRAL (Ibrace). Dossiê radioatividade césio-137. Goiânia, 1988. www.ceped.ufsc.br/…/a resposta a acidentes tecnológicos o caso. http://150.162.1.115/index.php/fisica/article/viewFile/7842/7213, http://www.scielo.br/pdf/qn/v30n1/18.pdfhttp://webcache.googlesercontent.com/search?q=cache:pXkT38c1GBAJ:archive.is/des, http://g1.globo.com/goias/noticia/2012/09/; ANAMT - Assossiação Nacional de Medicina do Trabalho]

A Deus toda glória.

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O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
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