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quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

🧠PAPO DE PSICANALISTA 🛋️ — A FRAGILIDADE EMOCIONAL E O AUTOEXTERMÍNIO DE ADOLESCENTES E JOVENS

O Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio, reforça a importância do olhar atento e sensível de educadores e familiares para a saúde mental de crianças e adolescentes. É fundamental compreender vulnerabilidades e fortalecer vínculos de cuidado, diálogo e proteção.

Criada em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a campanha busca dar visibilidade ao tema, combater estigmas e incentivar a procura por ajuda profissional. Em 2025, o lema foi "Conversar pode mudar vidas".

Setembro já passou e a campanha também, porém, o tema e o lema merecem e requerem mais do que um mês, já que o problema é de relevância contínua. Por esse motivo, ele será abordado com toda a sensibilidade e responsabilidade necessárias, neste capítulo da nossa série especial de artigos "Papo de Psicanalista".

Uma realidade global


Este artigo tem como objetivo discutir aspectos relacionados ao suicídio na adolescência, fatores de risco e características epidemiológicas de adolescentes que tentam suicídio, destacando a questão de gênero e a depressão.

O suicídio é uma questão de saúde pública global. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em pesquisa de 2019, mais de 700 mil pessoas morrem todos os anos dessa forma — número que pode ultrapassar 1 milhão com as subnotificações.

No Brasil, a média é de 14 mil mortes por ano, ou seja, cerca de 38 pessoas por dia perdem a vida dessa forma.

O problema é global e afeta duramente a América Latina, onde, segundo as estimativas mais recentes do Unicef (braço da ONU para a infância), quase 16 milhões de jovens entre 10 e 19 anos têm algum transtorno mental. Isso equivale a 15% das pessoas dessa faixa etária.

A face mais triste desse fenômeno é o suicídio e os dados são muito preocupantes:
mais de 10 adolescentes tiram a própria vida diariamente na América Latina, aponta o Unicef. É a terceira principal causa de mortes na faixa etária de 15 a 19 anos.
Os resultados de recentes pesquisas apontaram como principais fatores de risco ao suicídio na adolescência:
  • a presença de eventos estressores ao longo da vida,
  • a exposição a diferentes tipos de violência, uso de drogas lícitas e/ou ilícitas, problemas familiares,
  • histórico de suicídio na família, questões sociais relacionadas à pobreza e à influência da mídia, questões geográficas e depressão.
Com relação ao gênero, os resultados demonstraram que, embora as meninas tentem mais o suicídio, os meninos o cometem mais, pois utilizam-se de meios mais agressivos em suas tentativas, que, com mais frequência, levam ao êxito.

Jovens demais para morrer


Além dos números gerais, os índices entre crianças e adolescentes também são alarmantes.

[*]Segundo levantamento da Secretaria de Vigilância em Saúde — divulgado pelo Ministério da Saúde em 2022 —, as taxas de mortalidade por suicídio entre adolescentes de 15 a 19 anos cresceram quase 50% entre 2016 e 2021.

Já na faixa etária de 10 e 14 anos, o aumento foi de 45% no mesmo período.
[*]Estes foram os dados mais recentes, que encontrei em minhas pesquisas.

Autolesões: sinal de alerta


A adolescência é uma fase de intensas transformações emocionais e sociais, momento em que muitos jovens enfrentam desafios psicológicos significativos — entre eles o isolamento social e a autolesão, prática de ferir a si mesmo sem intenção suicida.

Estima-se que um em cada sete adolescentes apresente sofrimento mental e que cerca de metade desses casos tem início antes dos 14 anos.

Além disso, estima-se que 14% dos adolescentes já tenham se autolesionado pelo menos uma vez na vida, utilizando esse comportamento como uma tentativa de lidar com angústias internas, como depressão, ansiedade ou traumas.

Esse tipo de comportamento não é apenas um sintoma isolado, mas sim reflexo de um sofrimento profundo que impacta diretamente a qualidade de vida do jovem.

A autolesão pode afetar a autoestima, as relações interpessoais e o desempenho escolar, além de aumentar o risco de suicídio.

Não à toa, a saúde mental de adolescentes tem se tornado uma preocupação global nos últimos anos, especialmente após a pandemia de Covid-19.

Estudos indicam que, durante a crise sanitária, os sintomas de depressão aumentaram 26% e os de ansiedade cresceram cerca de 10% entre jovens de até 19 anos.

No Brasil, o número de casos de autolesão entre jovens aumentou 21% entre 2011 e 2022.

Os desafios psicossociais

Além das mudanças fisiológicas e cognitivas, os adolescentes enfrentam diversos desafios psicossociais que podem comprometer seu bem-estar mental, como o bullying, a pressão escolar e social, a instabilidade familiar e a influência das redes sociais na construção da autoimagem.

Essas experiências, quando combinadas à falta de suporte emocional e a contextos de vulnerabilidade social, podem favorecer sentimentos de solidão, desesperança e desvalorização pessoal, frequentemente associados ao surgimento de transtornos mentais como depressão, ansiedade e distúrbios de comportamento.

Assim, as particularidades dessa fase, somadas a fatores emocionais e ambientais, aumentam a vulnerabilidade a condutas autodestrutivas, entre elas as lesões autoprovocadas.

As lesões autoprovocadas compreendem atos intencionais de autoinfligência que podem ocorrer com ou sem a intenção de morrer, incluindo o suicídio consumado, as tentativas de suicídio, a automutilação e a intoxicação intencional. Esses comportamentos são multifatoriais e resultam da interação entre vulnerabilidades biológicas, psicológicas e sociais, como transtornos mentais, abuso de substâncias, exposição à violência e conflitos familiares.

Por isso a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o suicídio como uma das principais causas de morte entre adolescentes, caracterizando-o como um grave problema de saúde pública global.

Mais dados


Estudos internacionais mostram que, entre adolescentes e jovens de 10 a 24 anos, o suicídio representa uma das principais causas de mortalidade, apesar de uma tendência global de redução nos últimos 30 anos.

Ainda assim, observam-se variações importantes entre países e regiões, especialmente naqueles em desenvolvimento, onde os determinantes sociais da saúde exercem influência significativa sobre a vulnerabilidade dos jovens.
No Brasil, a situação é preocupante: entre 2000 e 2022, a taxa de suicídio entre adolescentes aumentou aproximadamente 120%, com aceleração mais acentuada após 2013, sendo o enforcamento o método mais prevalente.
Dados nacionais indicam ainda desigualdades regionais e de gênero, com maiores taxas entre adolescentes do sexo masculino e em regiões de menor desenvolvimento socioeconômico.

Esse cenário reforça a necessidade de estudos epidemiológicos que analisam a distribuição e os fatores associados à mortalidade por lesões autoprovocadas nessa faixa etária.

Vulnerabilidade de jovens na cultura digital


Como visto pelos dados acima, o suicídio já é a terceira principal causa de morte entre adolescentes no Brasil.

Além de fatores emocionais e familiares, a cultura digital tem ampliado riscos e pressões.
  • Comparação constante com padrões irreais de vida;
  • Pressão por desempenho e aceitação em redes sociais (é a tal "cultura do pertencimento");
  • Episódios de cyberbullying
[O cyberbullying é o ato de intimidar, assediar ou humilhar alguém online, utilizando tecnologias digitais. 
Diferencia-se do bullying tradicional por ocorrer em plataformas como redes sociais, aplicativos de mensagens, fóruns online, jogos e e-mail. 
Essa forma de bullying pode ser mais amplificada do que o bullying tradicional devido ao alcance e velocidade da internet, tornando a agressão pública e dificultando a exclusão do conteúdo.];
  • Exposição excessiva da intimidade;
  • Participação em "desafios" perigosos.
Essas experiências podem intensificar sentimentos de angústia, isolamento e desesperança, que são gatilhos que potencializam tendências suicidas.

Nesse cenário, a educação midiática é essencial: ajuda jovens a desenvolverem pensamento crítico, autonomia e segurança emocional, a reconhecerem riscos online e a construírem uma relação mais saudável com as mídias digitais.

Conclusão


Os resultados encontrados reforçam a ideia, já apresentada em outros estudos, de que o suicídio na adolescência é um fenômeno complexo e multideterminado, no qual fatores de ordem biológica, psicológica, sociodemográfica e cultural interagem entre si. 

Contudo, o simples reconhecimento dos fatores de risco não é suficiente para evitar o suicídio, principalmente ao se considerar que muitos adolescentes expostos a diferentes tipos de fatores de risco não desenvolvem pensamentos de morte. 

Além disso, a ausência dos reconhecidos fatores de risco ao suicídio não impede que um adolescente possa vir a tentar ou a cometer o suicídio.

Nesse sentido, a prevenção deste grave problema de saúde pública não é uma tarefa fácil.

As terapias funcionam. E a melhora traz um crescimento e um amadurecimento, graças à experiência. 

As dificuldades criam recursos psicológicos que vão ser positivos para o resto da vida deles.

Se você olha sob essa perspectiva, uma experiência tão difícil como essa pode ganhar um pouco mais de sentido.

Embora a identificação dos fatores de risco ao suicídio seja importante para a prevenção, os profissionais da saúde devem estar atentos para saber interpretá-los e manejá-los de forma adequada.

Considerando que o suicídio na adolescência é um problema que diz respeito não apenas à família das vítimas, mas também aos profissionais de saúde e à comunidade como um todo, são necessários novos estudos que investiguem este fenômeno de uma forma multifacetada, buscando uma maior compreensão de sua dinâmica e que possibilitem a proposição de estratégias de prevenção e intervenção junto a essa população. 

As equipes de profissionais que trabalham com adolescentes, seja no âmbito da escola ou de serviços de saúde, precisam estar capacitadas para o trabalho com essa faixa etária. 

A questão do suicídio na adolescência deve ser combatida, evitando-se que mais jovens recorram à morte voluntária como forma de enfrentamento de dificuldades encontradas ao longo de seu desenvolvimento.

Embora neste artigo tenha se destacado a importância da identificação de fatores de risco, é preciso considerar também que o conhecimento a respeito dos fatores de proteção ao suicídio na adolescência é de vital importância para que se construam estratégias de prevenção e para que se possa atenuar os efeitos dos fatores de risco. 

Dessa forma, torna-se necessário o fortalecimento das redes de apoio dos adolescentes, envolvendo principalmente a família, grupos de pares e escola, promovendo relações mais satisfatórias e maior bem-estar, tendo em vista que os relacionamentos pessoais e a percepção de apoio ocupam um importante papel nessa etapa do ciclo vital.

Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blogue https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização frequentes dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
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E nem 1% religioso.

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