"Nisto é aperfeiçoado em nós o amor, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos também nós neste mundo. No amor não há medo antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor" (1 João 4:17,18).
Em tempos de pluralidade de ideias e valores morais, determinadas lideranças religiosas buscam se reafirmar como fontes da verdadeira moral e combater certos tipos de pensamento que possam desestabilizar seu modus operandi.
Diante do cenário em que vivemos, são diversas as teologias que se dizem cristãs capazes de surgir sem que tenham o menor compromisso com as Escrituras, ou com as tradições que vieram antes delas.
Uma dessas teologias é a que costumo chamar da teologia do medo. Essa, como o próprio nome deixa bem claro, tem o medo como seu lugar privilegiado de discussão e fundamentação, sendo, portanto, também o lugar para onde todas suas considerações convergem.
Uma dessas teologias é a que costumo chamar da teologia do medo. Essa, como o próprio nome deixa bem claro, tem o medo como seu lugar privilegiado de discussão e fundamentação, sendo, portanto, também o lugar para onde todas suas considerações convergem.
Teologia do medo?
Pode parecer estranho pensar em uma teologia que tem o medo como base, contudo, se olharmos atentamente, os discursos trazidos por ela são conhecidos e até mesmo fomentados por diversos cristãos e cristãs dentro de suas igrejas.
Quem nunca ouviu um(a) pastor(a) ou um padre dizendo a alguém, ou até a nós mesmos que se fizéssemos determinadas coisas o inferno seria nosso destino, na expectativa de que esse alguém ou nós parássemos de fazer o que ele/ela considerava errado? (Ai de quem tocar no(a) ungido(a)!")
Quem nunca viu alguém ou até mesmo se colocou como aquele(a) que opta por uma pregação que afirmava que os outros irão experimentar a ira de Deus se determinada coisa for dita, ou ainda se algum comportamento não mudar?
Mais ainda, quem nunca deixou de fazer alguma coisa porque pensava que Deus, que a tudo vê, estaria de olho e contabilizando o bem e o mal que se faz aqui na Terra?
Quem nunca ouviu um(a) pastor(a) ou um padre dizendo a alguém, ou até a nós mesmos que se fizéssemos determinadas coisas o inferno seria nosso destino, na expectativa de que esse alguém ou nós parássemos de fazer o que ele/ela considerava errado? (Ai de quem tocar no(a) ungido(a)!")
Quem nunca viu alguém ou até mesmo se colocou como aquele(a) que opta por uma pregação que afirmava que os outros irão experimentar a ira de Deus se determinada coisa for dita, ou ainda se algum comportamento não mudar?
Mais ainda, quem nunca deixou de fazer alguma coisa porque pensava que Deus, que a tudo vê, estaria de olho e contabilizando o bem e o mal que se faz aqui na Terra?
Esses pequenos exemplos mostram que não é tão difícil sustentarmos uma teologia do medo. Não seria de espantar se em alguma pesquisa fosse constatado que a maioria cristã pensa em um Deus pronto para punir, mais do que um Deus pronto para amar e perdoar.
Como se caracteriza a "teologia do medo"
Como se caracteriza a "teologia do medo"
Claramente, uma teologia do medo tem grande poder e pode ser muito útil para líderes que querem manter os fieis sob sua tutela. O caminho é muito simples: uma vez que esse(a) líder é visto(a) como "porta-voz de Deus", então é muito fácil convencer às pessoas de que tudo que ele(a) diz deve ser considerado como sendo de origem divina.
Ao se alcançar isso, basta adicionar que desobedecê-lo(a) é a mesma coisa que desobedecer a Deus e se tem claramente como que o discurso dessa teologia do medo pode ser usado para levar pessoas a não pensarem nas estruturas de dominação disfarçadas de cristianismo que permeiam diversas igrejas pelo mundo.
A teologia do medo parte do princípio de que Deus deve ser temido. Por esse motivo, faz-se necessário que Ele seja visto como aquele que possui a balança da lei em sua mão e mede os atos com precisão milimétrica, tendo prazer na condenação dos infiéis, uma vez que, por ser santo, não pode ver a injustiça.
Ainda que possa causar espanto e não ter nada a ver com a proposta da Jesus que chamava Deus de Pai
Ainda que possa causar espanto e não ter nada a ver com a proposta da Jesus que chamava Deus de Pai
[Abba é uma palavra hebraica e significa "papai" (transliterado em grego Ἀββᾶ do equivalente em hebraico אבא), denotando uma íntima relação do filho com o pai.
É uma palavra usada principalmente no contexto da oração e mostra a intimidade que existe entre a pessoa que reza e Deus. No Novo Testamento, onde aparece 3 vezes, é usada essa palavra hebraica, embora a língua usada nos textos seja o grego.
É provável que isso demonstra como a comunidade primitiva da igreja costumava usar, na oração, o termo hebraico (assim como "amem", "aleluia") e, ao lado, acrescentava aquele grego, a sua tradução. É por isso que temos "Abba, Pai". Aparece em 3 textos do Novo Testamento: Marcos 14:36; Romanos 8:15 e Gálatas 4:6.],
basta observar os discursos moralizantes e das "pessoas de bem” da atualidade para perceber como que essa imagem de Deus se mostra mais real do que nunca. Porém, é importante termos claro que quando a moralidade toma o lugar do amor, então já não é mais o Deus Pai que estamos seguindo.
O adágio "diga-me como é o seu Deus e eu te direi a pessoa que você é" se mostra, então, muito pertinente. Se virmos Deus como o juiz terrível que tem ânsia de condenar a todos e todas os/as devassos(as), prostitutos(as), homossexuais, desocupados(as), não cristãos etc para instaurar a comunidade das "pessoas de bem" e "santas" na Terra — os famosos "guetos gospel" —, então a teologia do medo é uma boa candidata para ancorar nossa pregação, nossas relações e nossas obras no mundo.
Conclusão
O tema do medo está na ordem do dia. Tal fato pode ser percebido na quantidade de informação veiculada sobre o tema na atualidade, em diversas matérias em jornais e revistas, que o abordam em suas várias dimensões.
O medo é um tema que vem atravessando o cotidiano e marcando de forma cada vez mais palpável a vida coletiva e individual, o que leva à modificação de comportamentos sociais e hábitos mentais.
Como efeito dos tempos sombrios em que vivemos, de pandemia, de violência, globalização e constantes mudanças, o medo se torna a consequência mais banal, no cotidiano, dos sentimentos exacerbados de desamparo dos indivíduos.
Ao enfatizarmos — na análise conceitual do medo — a sua descrição como uma "emoção", salientamos não só o quanto de histórico e contextual existe em sua constituição, mas também o quanto de julgamento está inscrito no interior de uma experiência que tendemos a viver como espontânea, natural e idiossincrática.
Se, contudo, virmos Deus como o Pai de Jesus Cristo, que ama a todos e todas, que faz chover sobre maus e bons, que se coloca ao lado dos pobres, marginalizados, prostitutas e miseráveis, concedendo a eles primazia no Reino que há de vir, então não é difícil de perceber que no lugar de uma teologia do medo entrará em cena uma teologia do amor.
[Fonte: Dom Total, por Fabrício Veliq é teólogo. Mestre e doutorando em teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE), doutorando em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica, formado em matemática, graduando em filosofia pela UFMG e graduando em Teologia pela UMESP. Membro do grupo de pesquisa Fundamental and Political Theology em KU Leuven e do Grupo de Pesquisa Estudos de Cristologia da FAJE. Ministra cursos de teologia no cursos de Teologia para Leigos do Colégio Santo Antônio, ligado à ordem Franciscana, no Centro de Formação e Cultura em Divinópolis e é também professor voluntário no CITEP na Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte. É protestante e ama falar sobre teologia em suas diversas conversas por aí, tanto presenciais, como online. Scielo — Pepsic Periódico Eletrônico em Psicologia]
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.
Pastor, Léo,muito boa e importante sua colocação sobre a teologia do medo, é o que se tem visto em muitas denominações, com muita frequência.Amor de Deus lança fora todo o medo em nós.
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