"Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade" (1 Timóteo 2:1,2 - ACF)."
Parte da inspiração que tenho para escrever meus artigos provém de conversas que tenho com que me apoiam ou são contrários aos meus posicionamentos. Outro dia, conversava com um irmão e amigo sobre essa turbulência pela qual passa o cenário político brasileiro. Isso me levou à reflexão sobre a passagem bíblica acima, a qual tem sido mal entendida, e, por não ser feita uma análise do seu contexto, mal aplicada. A pergunta que aflora é: temos mesmo de orar para QUALQUER tipo de governante?
Análise do contexto
Vamos dar uma olhada na 1 Timóteo 2:1, para ver o que ela diz, antes de chegar ao verso 2:
"Admoesto-te, pois antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens".
Conforme a lógica do entendimento de muitos, se alguém entrar numa casa, roubar os seus pertences, urinar no chão e estuprar sua esposa, você não deve protestar nem detê-lo. Em vez disso, você deve apenas orar pelo criminoso que assim agiu. Observe que o texto diz que
"...se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens" (grifo meu).
Não somente pelos que estão em posição de autoridade política. Ele não diz: "...orar por todos os homens" e apenas orar, sem se opor ao que eles digam ou façam. A Bíblia sempre faz declarações generalizadas, mas espera que se entendam as exceções que devem ser feitas, as quais possam ter sido indicadas em algum lugar.
Temos aqui uma passagem que se encaixa no exemplo que dei acima sobre a invasão do lar:
"Se o ladrão for achado roubando, e for ferido, e morrer, o que o feriu não será culpado do sangue" (Êxodo 22:2).
Não se deve orar neste caso? Sim, devemos orar por todos os homens, porém isto não nos isenta da responsabilidade de proteger nossa família e nossa propriedade.
Vamos dar uma olhada na 1 Timóteo 2:2-3:
"Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador".
Os que ocupam posição de autoridade no governo têm o poder da espada:
"Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador para castigar o que faz o mal" (Romanos 13:4).
Uma vez que seja dado um novo poder a uma autoridade civil, ela pode usar a espada, a fim de garanti-lo. Isso porque a Bíblia e a nossa própria Constituição dão apenas poderes limitados e enumerados aos oficiais civis. Não é pelo fato de alguém manter um ofício político que ele tenha o direito de governar como bem queira fazê-lo. Ele é tão limitado no governo civil como o somos no governo de nossa família.
Oração sem propósito definido não tem sentido
Nossas orações devem ter um propósito. Não devemos orar pelos que estão em autoridade, no sentido de que sejam bem sucedidos em tudo que fizerem, sem levar em conta o que eles decidam fazer. Como podemos viver "...uma vida quieta e sossegada", quando precisamos trabalhar em dois ou três empregos, a fim de sustentar a família, por causa do oneroso sistema de impostos, que castiga os empregadores e afeta nossos próprios salários? Como podemos viver "...uma vida quieta e sossegada", com um sistema de distribuição de renda injusto, que privilegia os mais ricos sem se importar com o sofrimento dos mais pobres?
A política afeta a família e a propriedade. A posição errônea da autoridade civil pode conduzir a abusos (1 Samuel 8:11,12). Por que deveríamos orar por esse tipo de líder político? Devemos orar, sim, para que ele chegue à razão, a fim de que, realmente, possamos viver "uma vida quieta e sossegada".
Essas orações deveriam ser mais sobre nós do que sobre ele. Os governos da família e da igreja são tão válidos como o governo civil. O papel do magistrado civil é defender a liberdade de ambos. Se não estivermos orando neste sentido, então não estaremos orando biblicamente.
A visão americana
No caso dos Estados Unidos, o Presidente, o Congresso e a Suprema Corte de Justiça fazem o juramento de manter a Constituição. A Constituição foi criada para proteger uma especificada coleção de direitos. Quando os políticos violam o seu juramento, os americanos não têm obrigação de manter essa quebra de juramento sob oração.
Ou seja, eles devem orar para que mantenham o seu juramento e, se continuarem violando-o, serão obrigados a removê-los do ofício, usando os meios constitucionais. Isto, no caso dessas leis contra quem quebra o juramento terem um impacto direto em suas vidas (aborto, guerra e saúde), propriedades (impostos e futuros [débitos e inflação]).
Novamente vemos aqui um propósito oficial em nossa oração, para que possamos viver "uma vida quieta e sossegada", o que não poderá acontecer, se os oficiais civis quebrarem o seu juramento.
Será que as pessoas que esconderam os judeus dos nazistas violaram o mandamento da 1 Timóteo 2:2? Orar por Hitler significava que sua política não deveria ser questionada ou combatida? Não penso assim. O presidente e um oficial eleito são obrigados a cumprir o juramento de obediência à Constituição.
Quando eles e qualquer membro do Congresso violam esse juramento, temos um direito constitucional, conforme a nossa Primeira Emenda, de fazer uma petição exigindo do governo compensação por injustos sofrimentos. Suas posições governamentais não anulam a nossa Constituição. Não estaremos violando 1 Timóteo 2:2, se nos opusermos a algum sistema político de governo, uma vez que este sistema nos permita discordar e agir contra as provisões não constitucionais.
Não estamos vivendo sob o governo de César e, mesmo que estivéssemos, César estaria obrigado a seguir as limitações divinas em seu ofício civil, porque a imagem de Deus esta impressa sobre ele. Temos específicas liberdades constitucionais, do mesmo modo que os oficiais eleitos têm limitações oficiais. Nossos governantes não têm o "direito divino" de governar [de todo e qualquer modo que quiserem]. Eles são ministros [servos] de Deus (Romanos 13:4).
A Constituição é o nosso César (Mateus 22:21). Ela tem nossa imagem sobre ela, - nós, o povo - e temos a imagem de Deus em nós estampada. Nós damos à Constituição o que lhe devemos dar, conforme está especificamente declarado nessa Constituição. As autoridades civis do governo estão sob nossa avaliação. Podemos retirá-las do ofício e lhes fazer oposição, enquanto estão no ofício.
Conclusão
Por intermédio do apóstolo Paulo, Deus nos diz que devemos orar pelas autoridades, o que inclui o prefeito da nossa cidade, o governador do nosso Estado e o presidente do País. Isto é um fato.
Se pensarmos apenas em Roma, o imperador se chamava Nero Clavdivs Caesar Avgvstvs Germanicvs, que governou de outubro de 54 a junho de 68 d.C. e que mandou matar o autor da Carta a Timóteo.
Este texto foi muito mal usado por governantes déspotas, pelo que precisa ser bem compreendido, para ser aplicado.
- 1. A oração pelas autoridades faz parte do ministério da intercessão por todas as pessoas, incluindo os governantes. A oração pelos outros (intercessão) agrada a Deus.
- 2. Os governantes são parte das leis de Deus para a humanidade.
Há leis naturais (estudadas pela física e pela química, por exemplo) e espirituais (instruções sobre a arte de viver nesta vida e na próxima) e há leis sociais (com o conjunto de regras para a vida em sociedade ou vida política). Uma destas leis é a existência de governos para liderar as nações, estados e cidades. Sobre eles, vamos aos fatos:
⇰Eles vivem sob uma pressão muito grande.
⇰Eles vivem sob uma tentação muito grande.
⇰Eles vivem sob uma sedução muito grande.
⇰Eles precisam de uma sabedoria solidária para governar.
⇰Eles precisam de nossas orações.
- 3. Os governantes precisam de qualidades naturais (dadas naturalmente por Deus), mas também de qualidades especiais (dadas sobrenaturalmente por Deus) para bem governar.
Quando oramos por esses governantes, pedimos a Deus que os capacite, tanto natural quanto sobrenaturalmente, não importa se creem nEle. Um bom governo permite que os cristãos vivam em liberdade e possam proclamar o amor de Deus para com todos.
- 4. A oração pelos governantes não elimina o direito à crítica, que pode pedir por seu impeachment. Os tiranos devem ser depostos.
⇰Devemos pedir pela conversão dos governantes.
⇰Devemos pedir sabedoria para os governantes.
⇰Devemos pedir generosidade dos governantes.
⇰Devemos pedir que os governantes consigam atuar de modo a contribuir para que haja justiça e liberdade.
⇰ Podemos até pedir saída dos governantes incompetentes ou corruptos, respeitada a lei, se democrática.
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