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sábado, 8 de outubro de 2016

ACONTECIMENTOS - O MASSACRE DO CARANDIRU

No dia 2 de outubro de 1992, uma sexta-feira, o pavilhão 9 da Casa de Detenção Carandiru foi o cenário de um dos episódios mais sangrentos da história penitenciária mundial. 24 anos depois, o caso ainda é alvo de controvérsia. De um lado, o chefe da operação diz que agiu no estrito cumprimento do dever. Do outro, grupos de direitos humanos acreditam que houve intenção de exterminar os presos e reclamam que ninguém foi punido. Conheça os detalhes de um dia que já virou livro, filme, série de TV e entrou para a história.

10:00 - Amanhecendo...


Era uma manhã como todas as outras por dentro dos muros do Carandiru. Enquanto, no pátio, rola uma partida de futebol, 2 detentos (Barba e Coelho) começam a brigar dentro do pavilhão. Logo, os presos se dividem em 2 grupos rivais e a briga se espalha pelos andares.

14:00 - Entardecendo...


A rebelião já está instalada e todos os carcereiros já abandonaram o local. O cenário já era de caos absoluto. Há fogo do lado de dentro, mas não há reivindicações por parte dos presos. O chefe da Casa de Detenção pede reforços da PM.

15:30


Chamados pelo diretor da Casa de Detenção, cerca de 320 policiais estacionam fora do pavilhão 9. Entre eles, homens de batalhões de elite como Rota, Gate, 30 Choque e Cavalaria, além de alguns bombeiros. O diretor do presídio, Ismael Pedrosa, tenta uma última negociação. Do lado de dentro, a confusão está instaurada.

16:00


Grupos de direitos humanos alegam que os presos decidem por fim à rebelião e que muitos entregam as armas. A versão da polícia diz que as armas estavam sendo atiradas pelas janelas contra os policiais.

16:30


A polícia rompe a barricada e entra no pavilhão. O coronel Ubiratan diz que 86 homens participaram da operação. A promotoria diz que eram mais de 300 – a maioria sem os crachás de identificação.

16:45


No térreo, a situação é controlada facilmente. A defesa de Ubiratan alegou que ele foi atingido por uma explosão ao tentar subir para o 10º andar e levado ao hospital, ficando fora da operação.

16:50


No 1º andar, policiais encontram nova barricada, com um preso morto pendurado de cabeça para baixo. 26 homens teriam sido assassinados neste piso, segundo a perícia.

17:00 - Versão da polícia


Centenas de presos preparam uma tocaia. Policiais são recebidos com facadas, estiletes sujos de sangue contaminado, sacos cheios de fezes e urina, e tiros. Atiram para se proteger. Segundo Ubiratan, se houvesse intenção de exterminar os presos, muitos outros teriam morrido. "Só morreu quem entrou em confronto com a polícia", disse à imprensa. A perícia concluiu que apenas 26 foram mortos fora da cela.

17:00 - Versão dos presos


Os detentos haviam se rendido e estavam dentro das celas desarmados. "As trajetórias dos projéteis disparados indicavam atirador(es) posicionado(s) na soleira das celas, apontando suas armas para os fundos ou laterais", diz o laudo do Instituto de Criminalística. A perícia também concluiu que 70% dos tiros foram dirigidos à cabeça e ao tórax, o que reforça a ideia de extermínio. Para escapar com vida, presos se misturaram aos colegas mortos.

17:30


A perícia não encontrou indícios de confronto no 3º e 4º andares, o que reforça a teoria de que o enfrentamento entre polícia e presos se deu principalmente nos pisos inferiores.

18:00


Policiais mandam que os presos tirem a roupa e desçam para o pátio interno. Grupos de direitos humanos alegam que muitos foram executados durante essa operação.

19:00 - Cai a noite...


Presos são escalados para carregar os corpos até o 1º andar, onde são empilhados, modificando o cenário do episódio e dificultando as conclusões da perícia.

Os personagens


Quem são as autoridades que acabaram entrando para a história como personagens principais do massacre.
  • Pedro Franco de Campos
Era secretário de Segurança Pública do estado e foi exonerado após o massacre. Não estava no local, mas autorizou a invasão do pavilhão 9, desde que houvesse consenso entre as autoridades presentes sobre a ação. 
  • José Ismael Pedrosa 
Era diretor da Casa de Detenção. Após o episódio, foi afastado do cargo. Foi ele quem acionou a PM, depois que a rebelião havia sido deflagrada.
  • Cel. Ubiratan Guimarães - 1943/2006
Era comandante de Policiamento Metropolitano da PM e chefiou a invasão. Foi julgado e condenado, mas aguardou em liberdade seu pedido de recurso. Foi eleito deputado estadual, em 2002.

O massacre em números


• 8 presos mortos. Foi o que a polícia divulgou no dia, véspera de eleição. 
• 111 presos mortos (é o número oficial, apesar de ex-detentos sobreviventes do massacre insistirem em mais de 200). 
• 103 vítimas de disparos. 
• 8 vítimas de objetos cortantes. 
• 0 policial morto. 
• 130 detentos feridos.
• 23 policiais feridos. 
• 515 tiros disparados. 
• 120 policiais indiciados. 
• 86 policiais julgados. 
• 1 policial condenado (Cel. Ubiratan). 
• 632 anos de prisão foi a sentença.


Conclusão


Crianças jogando futebol, jovens andando com skates e outros conversando em bancos em um parque. Tal cena comum em muitos outros locais arborizados em São Paulo ainda é considerada uma agradável surpresa para moradores da zona norte. Surpresa porque mesmo após 14 anos da implosão do Carandiru, em 08 de dezembro de 2002, muitos não escondem o alívio que a remoção dos pavilhões do complexo penitenciário trouxe para a região, que ganhou muito com a criação do Parque da Juventude. 

Após a desativação do Complexo Penitenciário do Carandiru, o Parque da Juventude mudou a paisagem da região. No lugar foi construído um complexo cultural recreativo de 240 mil m². Lá é possível praticar esporte, acessar a internet de graça, participar de cursos gratuitos no prédio da ETEC ou ir a Biblioteca de São Paulo.

Ao fazer uma caminhada pelas trilhas do parque, o visitante pode ter um contato direto com a história do Carandiru. Isso atrai muitos jovens que, não nascidos nas últimas décadas, não acompanharam as notícias do presídio e nem sua desativação. Parte da muralha que cercava o complexo é mantida e pode ser usada como trilha pelos visitantes. Além disso, ao avançar na caminhada, pode-se conhecer de perto ruínas de um pavilhão que não chegou a ser concluído. Ao explorar o Parque da Juventude, ainda é possível se surpreender com os pedaços dessa sangrenta história entre árvores e quadras poliesportivas.

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