Deixo essa parábola para a análise dos 'desigrejados', aquele grupo de pessoas que decidiram não congregar em nenhuma igreja local por considerarem ser a igreja uma 'instituição falida' (essa é a síntese do discurso deles). Eles, os 'desigrejados', também consideram que todas as igrejas são imperfeitas, hipócritas, praticamente 'sucursais do inferno', por isso, é preferível servir a Deus em suas casas, já que a igreja dos sonhos de cada um dos 'desigrejados' é tão perfeita, mas tão perfeita que nem o próprio céu se iguala a ela. A metáfora abaixo é baseada em fatos reais. Qualquer semelhança não é mera coincidência, pois pode acontecer em qualquer igreja dessas que tem aí perto da sua casa e, claro, inclusive na sua também.
A Igreja do Zeca
Zeca tem mais de 30 anos de idade. É casado e há pouco mais de um mês viu sua filhinha nascer. Fruto de muita expectativa não só dele e de sua esposa, mas também de toda a família e da igreja onde congrega. Tal expectativa se justifica pelo fato de que há mais de três anos, na primeira tentativa em ser mãe, sua esposa Mariquinha perdeu o casal de gêmeos que esperava.
Zeca mora longe da igreja. Precisa ir de carro. Para poder deslocar-se comprou um semi-novo e o financiou em 60 prestações. Seu salário na ocasião permitia o valor das mesmas. Mas, após 15 prestações, Zeca perdeu o emprego, sendo contratado por outra empresa por um salário bem menor. As prestações foram ficando insuportáveis e, com o tempo, vieram os atrasos. Zeca, então, temendo pelo pior, pensa em devolver o carro ao banco ou vendê-lo em condições facilitadíssimas para quem se interessasse. Justamente agora que está com uma filha de apenas um mês em casa! Mas, fazer o que, né?!
Foi quando, então, que a bênção aconteceu! Um grupo de irmãos da igreja, liderados pelo pastor, se reuniu para ajudar Zeca a pagar as prestações do carro durante 1 ano. Isso mesmo: 1 ano! No primeiro mês de arrecadação do grupo um valor suficiente para quitar duas prestações foi levantado. Eu mesmo e um casal de amigos fizemos questão de participar do grupo que se reuniu em torno de Zeca. Não pude dar muito, pois minha situação também não anda nada boa... Enquanto isso, Zeca tentará mudar de emprego, a fim de conseguir um salário melhor e liberar os irmãos do compromisso. Zeca não era do tipo acomodado. Muito pelo contrário. E isso ficava claro com sua participação ativa na agenda de sua igreja. Em tudo o que se fazia, lá estava o Zeca, Mariquinha e a filhinha recém-nascida. E foi sempre assim. Desde que se uniram àquela congregação.
Estive na igreja do Zeca recentemente. Era Culto de Missões. Uma missionária brasileira que trabalhou na África estava pregando. Compartilhou na ocasião acerca da fidelidade de Deus durante seu tratamento contra um câncer e que, liberada pelos médicos, retornaria para o Campo Missionário na África. Dezoito irmãos da igreja de Zeca foram à frente naquele culto. Formavam o Conselho Missionário, composto de homens e mulheres, jovens e veteranos. Arquitetos, engenheiros, empresários, prestadores de serviço, professores, assistentes sociais, estudantes e donas de casa se mesclavam no grupo. Um ex-presidiário também fazia parte daquele conselho, mas não estava presente, pois assumira um compromisso de pregar a Palavra de Deus em uma outra igreja naquela mesma hora.
O Conselho emocionou a igreja com a apresentação de um projeto missionário, onde seus integrantes pretendem levar a comunidade a investir em um centro de recuperação de dependentes químicos no interior e também em uma associação de apoio aos encarcerados, além de campos missionários na América do Sul (Brasil e outros países) e também no continente africano. Também desenvolveriam um trabalho para ajuda e apoio aos portadores do vírus HIV que foram abandonados por seus familiares. Batizaram a iniciativa de Projeto Atos 1.8 ("Jerusalém, Judéia, Samaria até os Confins da Terra"). Diante de meus olhos vi as páginas da Bíblia encarnarem.
Voltei para casa pensando na saúde da comunidade de Zeca. Uma igreja que certamente tem seus problemas e imperfeições, que é composta, frequentada e liderada por gente imperfeita, com mazelas, limitações, ranços, mas, a despeito, as pessoas ali estão tentando viver de acordo com o Evangelho de Jesus Cristo. Sem dúvida, uma igreja que pode ser chamada assim.
A igreja de Zeca tem muitos anos de existência. Tem cultos regulares, liturgia, cancioneiro (hinário), templo e CNPJ. É uma instituição, portanto. Entretanto, falida, nunca! E, mesmo sendo uma instituição, contudo, não deixou de ser bíblica, profética, 'Koinônica', relacional, engajada, missionária, sensível, espiritual, e guiada mesmo pelo Espírito Santo por causa disso. Onde está a falência dessa instituição que estou chamando de a igreja do Zeca, mas que poderia ter qualquer outra denominação em sua placa de identificação? Com a palavra, os ilustres 'desigrejados'. Instituições são neutras (lição de casa para os desigrejados). Não há nada de errado nelas. A corrupção está sim no coração das pessoas que a compõem.
A igreja de Zeca é uma instituição. Mas, como está cheia de gente apaixonada por Deus ali, estão fazendo uma enorme diferença na vida de muitos. Na do Zeca já fez e na dos missionários também fará. Conversei com Zeca sobre o feito e perguntei como se sentia. Estava emocionado e grato a Deus e aos irmãos. Disse-me que não imaginava aquilo. Ele nada pediu. Quando souberam do problema, os irmãos agiram! Detalhe: Zeca não tem ideia de quem o está ajudando. Bonito! Bíblico! Isso é ser uma igreja, não deixando também de ser uma instituição. Me fez lembrar da complicada e torta igreja de Corinto, que mesmo com todos os seus problemas - alguns seríssimos, diga-se - não deixou de ser chamada por seu fundador, o apóstolo Paulo, de "a igreja de Deus em Corinto".
Viva a igreja do Zeca! Viva a Igreja de Cristo, coluna e estandarte da Verdade!
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