Crescimento/Multidões/Ajuntamentos. Este sempre foi o desejo de todo líder espiritual. Ver a sua igreja local crescer. Há uma necessidade desvairada em crescimento que tem levado muitos líderes a perder o sono. A sociedade evangélica cobra de suas próprias comunidades o crescimento como se realmente o número fosse resultado da Presença do Senhor.
Aglomeram uma multidão de pessoas, muitas delas, sem eira nem beira, em uma arena dessas modernas, para gravação do show de alguma estrela gospel ou para um dos tantos congressos, seminários e/ou conferências disso e daquilo e já chamam essa aglomeração de "avivamento" que, profetizam os grandes "gurus" evangélicos, é o sinal do crescimento da igreja.
O crescimento tem sido o objetivo de muita gente, talvez até mesmo o seu e o meu (por isso chegou até aqui), mas não nos sintamos condenados por isso! Somos apenas fruto do meio em que fomos formados.
É passado a ideia de que gente chama gente. Alguns líderes tem o desejo do crescimento por achar que dessa maneira estarão 'esvaziando o inferno', outros acham que o número torna as reuniões mais 'avivadas', há quem goste do saldo financeiro dos dízimos e ofertas recolhidos, por acharem que quanto mais dinheiro, mais condições terão de crescimento. Enfim, motivos não faltam. Tem me incomodado a ideia de que isso tem tirado o sono de muita gente por se tornar o alvo número 1. Sobre o crescimento, ainda é interessante observar, que mato e ervas daninhas não precisam de qualquer adubo ou tratamento especial para terem um crescimento recorde. Crescem até sem irrigação.
Crescimento desordenado NUNCA foi o alvo número 1 de Jesus
Jesus nunca esteve focado no crescimento, pelo contrário, Ele tinha compromisso com a verdade. Ele chegou em um momento de seu ministério que qualquer pastor diria que era o fim, quando após a sua mensagem, todos os que o ouviam viraram-lhes as costas por causa da dureza de seu discurso, ficando apenas Ele e seus discípulos.
Talvez se fosse um de nós, voltaria atrás deles e tentasse amenizar seu discurso com o fim de tentar “edificar” a multidão, mas Jesus, em momento algum voltou atrás. Pelo contrário, ficou irredutível, inflexível, implacável, chegou para os seus discípulos e disse que se quisessem, poderiam voltar junto com a multidão. Mas seus discípulos não quiseram por discernirem que embora o Seu discurso fosse duro, aliás, duríssimo, somente Ele tinha as Palavras de Vida Eterna (ver João 6).
Acredito que se Jesus fosse pastor de uma Igreja no Brasil, provavelmente o encontraríamos pastoreando uma pequena comunidade, que não seria evangélica, mas genuinamente cristã. Porque Jesus não se adequaria à realidade evangélica atual. Aliás, Ele era judeu e rabino. Mas também não se adequaria ao judaísmo atual. Hoje, muitos daqueles que se dizem judeus crentes em Yeshua tem mais preocupação em restaurar o judaísmo do que as pessoas. Definitivamente, Jesus, o Yeshua Hamashia, nunca, jamais se adequaria a este sistema religioso com fortes traços hedonista, humanista e filosófico que adorna a igreja pós-moderna.
Para onde iremos nós?
O evangelicalismo pós-moderno tem sido marcado por inúmeras características, a maior parte delas, desastrosas. Numa corrida desenfreada em busca de “crescimento”, e este, pretendendo demonstrar poderio, riqueza, fartura material, etc., muitos têm se aplicado em desenvolver fórmulas ou adotado outras já existentes afim de que o seu grupo se multiplique instantaneamente.
Questões como doutrina, espiritualidade sadia, conhecimento teológico, comunhão verdadeira, adoração genuína, etc., estão num plano insignificante para estes grupos. Os números são mais importantes. Números em termos de membros, em termos de finanças, em termos de congregações.
A todos aqueles que desejam encher suas igrejas a qualquer custo, abrindo mão de toda espiritualidade sadia e da pregação genuína do evangelho, adote as dicas abaixo, faça sua congregação inchar e abrace os inúmeros problemas que tal crescimento trará. Há, e não poupe no fermento.
6 Passos 'Infalíveis' para encher (ou seria melhor 'inchar'?!) uma Igreja
1) Adote a Teologia da Prosperidade - As pessoas estão ávidas em terem os seus egos massageados. Fale a elas que serão ricas e saudáveis, que terão seus problemas resolvidos. Fale a elas que a sua congregação é o lugar da benção e que ao entrar ali pararão de sofrer. Certo pastor, prosélito desta medíocre teologia, afirmou: “Em minha igreja não prego sobre o inferno nem sobre o pecado, meus membros têm muitos problemas para que eu acrescente estes outros!”. Sabe qual o resultado da concepção deste “pastor”? Uma mega igreja, abarrotada de pessoas.
2) Implante a “Visão” Celular - Antes de discorrer a cerca deste ponto, vale a ressalva de que o trabalho feito em pequenos grupos, reunião em lares (que podem sem problema algum ser chamado de células) não é de todo mau, muito pelo contrário, isto quando realizado por pessoas capacitadas e com o foco correto, todavia não é o que normalmente se tem percebido.
Há alguns anos atrás, lá pelos idos da década de 1990, quando o Movimento do G12 começou a ser implantado no Brasil, sofrendo influência direta de movimentos semelhantes na Coreia do Sul e Colômbia (onde, aliás, teve excelente resultado), muitos dos que abraçaram tal concepção a dispuseram como sendo a 'visão de Deus' - seus defensores e expositores chegaram a bravatear em tons proféticos que a Visão 'salvaria o Brasil' e que 'a igreja que não adotasse à Visão não resistiria' - e não apenas mais uma visão, estratégia ou concepção, mas a única e correta forma de trabalho a que toda igreja deveria se adequar. O resultado de tais movimentos (que hoje são tantos: G12, M12 e todos os outros “dozes”) são atualmente muitíssimo claro, seria redundante relembrar quanto de pensamento controvertido e heresia surgiu no seio de tais grupos.
Todavia, o que se percebe com clareza é que tal “visão” proporciona um inchaço imponente nas congregações que o adotam, desta forma, se o seu intuito é fazer sua congregação crescer a qualquer custo, implante a famigerada “visão celular dos 12” em sua igreja.
Divida sua congregação em células, disponha líder sobre elas, e não apenas isto, incite a concorrência e a rivalidade entre tais líderes e respectivos grupos, transforme o ato de propagar o evangelho num tipo de “gincana gospel”, crie gritos de guerra para cada célula, camisas e logotipos. Conceda prêmios aos que obtiverem maior crescimento. Sem dúvida, dentro de pouco tempo, sua igreja estará superlotada, todavia, esteja certo de que tal crescimento trará inúmeros problemas em termos de desconhecimento teológico e de deformação do caráter espiritual de seus membros.
3) Transforme o culto jovem em uma casa de show - Se deseja que sua igreja tenha muitos jovens pense como a maioria dos líderes: “Os jovens precisam de entretenimento, afinal são jovens!”. Transforme o culto da juventude num tipo de show gospel, reserve 90% do “culto” para que os jovens descarreguem suas energias: pular, gritar, correr, dançar... isso é o importante! Preencha todo o horário com música, peça, dança, filmes... e, quem sabe, reserve, 10 minutinhos para a leitura de um texto bíblico.
Agindo assim, sem dúvidas, você terá uma igreja repleta de jovens. É relevante citar a reflexão que o Pr. Paul Washer fez em um de seus sermões: “A igreja usa meios carnais para atrair pessoas carnais”. Tais jovens estarão ali por todo entretenimento que você estará oferecendo, mas não estarão pelo que Cristo os oferece e muito menos para a transformação que Ele através do Espírito Santo deseja realizar no caráter de cada um deles.
4) Transforme a reunião de homens e mulheres em palestras de autoajuda, com sua egocêntrica teologia triunfalista - Não apenas os jovens, mas os homens e mulheres de sua igreja também precisam de um trabalho específico. Transforme as reuniões destes em grupos de autoajuda. Ensine a eles a como lidar com o stress do dia a dia, a como gerir sua empresa, a como dominar os seus filhos. Como já mencionado, eles não precisam de sermões que tratem do inferno nem de seus pecados, afinal o seu dia a dia já é muito cansativo e atordoante para que a igreja trate de assuntos ainda mais perturbadores. Todavia, esteja certo, de que de Deus não se zomba (Gl 6:7) e de que o julgamento de Deus sobre aquele, que, como líder, age assim, será ainda mais rigoroso (Tg 3:1).
5) Promova muitos eventos e aglomerações - Pode ser para a gravação do novo projeto musical de algum astro da música gospel, pode ser apresentação de algum 'evangelista' famoso da televisão ou daquele que esteja 'bombando' na internet (sucesso absoluto no Twitter, no Instagram, no Facebook, no Youtube, no WhatsApp...), não importa se o conteúdo da mensagem que tais celebridades ofereçam seja um atestado de divórcio das Escrituras Sagradas. Se o fulano, a fulana e/ou 'ministério' conseguir encher estádios, trazer 'novidades' e modismos, vender seus 'peixes' e gerar uma gorda arrecadação, está tudo bem. Bíblia? Pra que?
6) Proselitismo - Afinal, 'pescar em aquário alheio', ou seja, evangelizar crentes é mais fácil e mais cômodo do que ir às sarjetas em busca dos pecadores marginalizados e oferecer a estes o evangelho da salvação. O papo de 'salvo para salvo' (o famigerado 'evangeliquês') tem sido o mais comum nos círculos evangélicos e nas mídias sociais.
Conclusão
Por fim, ditas tantas formas equivocadas de como se encher uma igreja, fica a pergunta: Qual o padrão bíblico para o crescimento verdadeiro de uma igreja? Prefiro manter silêncio e deixar que o médico Lucas nos responda, grifo apenas algumas expressões que penso serem palavras-chave do texto:
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At 2:42-47 – ACF - Grifos meus).
O Crescimento nunca foi e nem pode ser objetivo de ninguém. O crescimento é real e deve ser uma consequência NUNCA uma causa. Se não houver crescimento, pode ser que algo esteja errado. Assim é com a comunidade dos santos. A cada dia o Senhor acrescentará ("...Deus é quem dá o crescimento." - 1 Co 3:6b, 7). Se isto não acontece, porque há doença.
E é neste momento que temos que tirar o foco do crescimento para curar a doença, pois se a doença não for tratada, não há possibilidade de crescimento, por mais que tentemos. Poderemos até levar a crescimento por determinado tempo, mas não um crescimento substancial.Então, o melhor caminho para fazer sua Igreja crescer é impedir as técnicas pessoais e deixando que o Espírito do Senhor faça a Sua função: convencer o homem do pecado, do juízo e da justiça - Jo 16:7-11.Quando não atrapalharmos mais o Espírito de Deus, teremos o maior crescimento da História da Humanidade como comunidade. Aí sim viveremos o verdadeiro avivamento.
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