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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

LIDERANÇA, MISSÃO INTRANSFERÍVEL

Não sou um líder, ponto. Não tenho chamado para liderança, outro ponto. Não tenho as características comuns e essenciais aos líderes, ponto final. Fazendo uma análise específica sobre o contexto eclesiásticos, o que tenho visto no meu meio de convivência, é um número absurdo de pessoas sem qualquer traço de liderança "vendendo a alma ao diabo" para ser um líder. Liderança é sinônimo de status, de poder, de pompa e circunstância. Aí, já viu, né? Inicia-se a vaquejada!

Será que há como "preparar" um líder? Eu não acredito nisso. Líder, ou é ou não é. Acredito no aprimoramento de um líder. Ou seja, um "ajustamento aos moldes". Não faltam livros autoajuda para liderança. É um enorme arcabouço de títulos dos mais variados autores. Mesmo tendo a certeza e a sólida convicção de que EU NÃO SOU [UM] LÍDER, me aventurei a ler algumas dessas obras. Afinal, para eu formar uma opinião e tecer uma crítica, eu preciso conhecer o assunto. As baboseiras que eu li são de doer os neurônios. Alguns autores devem pensar que seus possíveis leitores tenham a caixa craniana com o enchimento de gel. E olha que muitos deles são considerados os bambambans na matéria. Enchem igrejas mundo afora com suas palestras, conferências e/ou seminários. (Suas contas bancárias vão muito bem, obrigado.)

Dentre os livros que li, destaco 2: A Formação de Um Líder, de Joyce Meyer (Ed. Bello Produções, 367pgs) e Liderança Corajosa, de Bill Hybels (Ed. 256pgs). O primeiro tem algumas coisas que se salvam (apesar de eu não ser um apreciador da autora), já o segundo é muito bom e dá muitas dicas para quem é líder de qualquer ministério eclesiástico. Mas, sabe como eu sou… Aprendi a não engolir o que eu leio sem antes mastigar. E é justamente ele quem usarei para me basear no texto desse artigo. 

Fazia tempo eu havia ouvido falar sobre Bill Hybels, que é o pastor líder de uma mega igreja nos Estados Unidos. Logo imaginei que era mais um livro que tratava a estrutura organizacional (ministérios) da igreja, da mesma forma que se faz no mundo corporativo. Batata! E é isso mesmo. 

A certa altura do livro o senhor Hybels escreve que para ser de sua equipe, o líder precisa ter os três “C”: Competência, Caráter e Compatibilidade. Logo que li pensei: nossa, realmente, como seria mais fácil se toda a equipe de líderes tivesse os três “C”. Que fossem competentes em todas as tarefas que recebessem e, que o líder pudesse confiar plenamente no caráter de cada um e que tivessem compatibilidade plena com as idéias e projetos que Deus deu aos seus líderes. Mas quem lidera sabe que não é bem assim, né?

Cadê Moisés?


Fiquei um tanto surpreso com a experiência relatada por Hybels, quando, segundo ele, certo dia, começou a registrar pensamentos sobre seu potencial de liderança. O resultado da reflexão foi uma lista contendo vários nomes de heróis bíblicos. Com o levantamento em mãos, Hybels pediu a Deus que os pontos fortes desses líderes se tornassem realidade em sua vida. O que me chamou a atenção não foi tanto os heróis citados, mas, sim, a ausência de alguns deles que marcaram presença no cenário bíblico. Estavam na lista Davi, José, Josué, Ester, Salomão, Neemias, Pedro e Paulo. Certamente, trata-se de uma lista de personagens que deixaram fortes pegadas em sua trajetória pelas páginas das Escrituras. Mas Hybels omitiu o nome de Moisés. Por que, só ele poderia dizer. 

Moisés foi um destes grandes heróis. Ele desempenhou um ministério extraordinário. Foi um líder que desfrutou de intimidade estreita com o Senhor. Tornou-se amigo de Deus. Mas ao examinar a Palavra de Deus, constatamos que até mesmo heróis renomados cometeram vários erros em algum momento de sua caminhada com Deus. Sabemos que há uma taxa de defeitos em cada um de nós. Ninguém está livre de escorregar pelas ladeiras da vida. E Moisés falhou como qualquer ser humano pode falhar.

Uma leitura mais atenta  da trajetória de vida do patriarca é suficiente para notarmos que ele não foi nada do que afirmou ser. Ao receber o chamado de Deus para libertar o povo de Israel, Moisés desfiou uma série de fraquezas e impossibilidades, na tentativa de não assumir o chamado. Começou por se desvalorizar. Demonstrou diante de Deus uma inadequação pessoal. Não se achava preparado para tão grande missão, argumentou. Afirmou que não sabia se expressar. Preocupou-se além do normal com o nome de quem o estava enviando.

Aos olhos de qualquer pessoa Moisés não seria um bom candidato. Um sentimento de inferioridade o dominava. Ele não conseguia enxergar nenhuma qualidade em si mesmo. Não havia clareira em sua estrutura emocional; tudo era a imagem que Deus tinha dele. Moisés não era um homem comum Entretanto, a imagem que refletia no espelho de sua lama era distorcida - a figura de um homem fraco e incapaz.

Falha na liderança


O erro maior de Moisés foi o de transferir para outro a responsabilidade de libertar o povo. "Ah, Senhor! Peço-te que envies outra pessoa (Exodo 4:13). Ao chamar alguém para realizar determinado trabalho, Deus não está preocupado com as habilidades que o indivíduo tem para a missão. O que Ele espera é pronta obediência. É verdade que um ministério não sobrevive sozinho - nenhum pastor pode governar uma igreja sem o apoio e o envolvimento de outras pessoas. Por isso somos chamados de "corpo". E nesse corpo todos são importantes. Porém, a missão, a direção e a responsabilidade não podem ser divididas.

Jesus pediu apoio aos seus discípulos quando sentiu a proximidade do Calvário. Estava exausto e cansado. Solicitou que seus amigos vigiassem com Ele durante alguns momentos. No entanto, não abriu mão da missão que lhe fora confiada pelo Pai. Transferir para outros o que devemos fazer pode provocar muitas tempestades no ministério. Delegar é uma arte, transferir é uma fraqueza.

Somente aqueles que foram vocacionados, chamados e ungidos pelo Senhor, conseguem suportar inúmeros tipos de pressões. Apesar do grande crescimento da Igreja, o ministério de muitos têm-se tornado frágeis e sem rumo. A facilidade com que muitas igrejas ordenam seus pastores tem sido a causa de muitos deslizes teológicos, doutrinários e até morais. A verdade é que poucos desejam ser o segundo em qualquer escala de valores. Nós, brasileiros, não sabemos o que significa ser vice. Infelizmente, a Igreja também cultiva a mesma ignorância. Daí, as divisões e as confusões.

A experiência de Moisés torna-se ainda mais relevante, pois a Igreja nunca precisou de tantos obreiros. Estamos na fase da grande colheita. Nenhum líder conseguirá exercer o ministério sem que haja muitos braços para ajudá-lo. Quem foi chamado para cumprir um ministério na obra de Deus não pode permitir que as dificuldades do caminho diluam a sua missão. Ela é intransferível; dela colhermos todas as bençãos e também todas as responsabilidades. Que Deus dê coragem para que seus líderes abracem com denodo e empenho o ministério a eles confiado, mesmo que ele seja árduo e difícil. E que também tenhamos discernimento para saber escolher aqueles que vão sustentar as suas mãos enquanto durar a batalha.

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