"Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo" (Colossenses 2:8).
A postura da igreja em determinados assuntos tem causado uma certa confusão no meio do povo. Sempre é extremista, ou de um ponto de vista ou de outro.
Na questão de costumes, muitos não sabem definir biblicamente o seu significado, daí, interpetram todo tipo de regras como se fossem doutrinas.
Na questão de costumes, muitos não sabem definir biblicamente o seu significado, daí, interpetram todo tipo de regras como se fossem doutrinas.
A diferença crucial entre Doutrina e Costumes, é o que veremos no texto deste artigo, mais um capítulo da nossa série especial Teologando.
Conhecendo e desmistificando
Tendo em vista o crescente número de dúvidas, indagações e controvérsias sobre o assunto, colocamos este singelo opúsculo às mãos do público evangélico (ou não), não com intenção de ser a voz máxima no assunto, mas de trazer algum subsidio aos que trabalham na Seara do Senhor, bem como à Igreja em geral.
É elevado o número daqueles que fazem confusão em torno de "Doutrinas e Costumes", como se ambos fossem a mesma coisa.
Nestes últimos dias que ora atravessamos como Igreja não devemos deixar de ensinar a Sã Doutrina; sabendo que a Palavra sendo ministrada aos corações com graça e unção, nos levará a procedimentos santos em toda a maneira de viver, sem necessitar, portanto, de "freios" adicionais.
O que acontece muitas vezes, trazendo tantos dissabores no seio da congregação — é o despreparo de muitos líderes quanto ao assunto.
Adiciona-se a este despreparo, a falta de amor e bom senso, descambando, então, para o desequilíbrio dos extremos. Pois no fervor da "ultra fidelidade a Deus", muitos obreiros já jogaram para fora dos apriscos, centenas de vidas. E a pergunta é sempre a mesma:
Quem dará conta delas? E a resposta é sempre a mesma: Aqueles que não tiveram amor e cuidado!
O propósito deste estudo, além de mostrar as diferenciações entre "Costume e Doutrina", também traz sérias advertências aos legalistas, que pelo zelo sem entendimento, ferem, trucidam e matam em nome de Deus, sem nenhuma compaixão.Gente que se esquece que cada vida que está na Igreja custou o mais alto preço: O precioso Sangue de Cristo (Atos 20:28).
Conceito biblico de doutrina
Portanto, doutrina Bíblica é todo ensino da Bíblia tomado como regra de vida ou crença.
Uma doutrina só é tida como verdadeira, quando confirmada por várias passagens Bíblicas. Ex. Doutrina do Pecado; Doutrina da Salvação; Doutrina de Deus; Escatologia; Angeologia; Cristologia, etc..
No Novo Testamento a palavra mais usada para doutrina é didache e significa ensino, instrução, tratado ou doutrina.
Segundo o teólogo Claudionor Corrêa de Andrade, doutrina é a
"exposição sistemática e lógica das verdades extraídas da Bíblia, visando o aperfeiçoamento espiritual do crente" [1].
Doutrina, portanto, é o resultado do um ensino teológico, adotado por uma denominação ou religião.
Vejamos, então, algumas características que determinam a Doutrina
A doutrina é imutável, o costume muda — A doutrina é permanente, ela nunca muda.
A doutrina da "justificação pela fé", exposta principalmente nos primeiros capítulos de Romanos, nunca mudou e nem deve ser mudada. Doutrina (bíblica) mudada é heresia.
Quando Lutero resgatou a doutrina da justificação pela fé, ele orientou a igreja a voltar na perspectiva bíblica sobre o assunto. São passados mais de dois mil anos e essa doutrina nunca mudou no verdadeiro cristianismo.
A doutrina é universal no sentido que é para todos os povos em todas as culturas — Proclamar Jesus como Salvador faz sentido no Brasil em 2025, como para os indianos que foram evangelizados pelo apóstolo Tomé, o primeiro missionário daquela nação, ainda no primeiro século da Era Cristã.
A doutrina é sempre verdade absoluta, ou seja, é para todos, em todas as épocas e em todos os lugares.
Conforme definição do Dicionário de Língua Portuguesa. Novo Aurélio, costume é o uso, hábito ou prática geralmente observada.
Agora, vejamos as características que determinam os Costumes
Por costume entende-se a maneira de agir, ser, proceder, vestir, portar, etc., próprio de um povo, de uma época, de uma condição social. Legislação não escrita, fixada pelo uso.
Independente de suas origens, os costumes variam de povo para povo, de região para região, país para país, e de época para época.
O que, então, é costume? O lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda (✩1910/✞1989) definiu costume como
"uso, hábito ou prática geralmente observada" [2].O dicionarista Adriano da Gama Cury (✩1924/✞2012) definiu, de maneira mais completa, a palavra costume como
"uso, prática habitual; modo de proceder; característica, particularidade; prática jurídica ou religiosa não escrita, baseada no uso; moda; traje característico ou adequado…" [3].
Essas definições mostram que o costume é um hábito repetidamente adotado por um determinado grupo social.
Os costumes fazem parte da identidade de uma instituição
O costume é imposto por convenções humanas de maneira espontânea ou obrigatória, sendo assim, o costume é humano.Há muitos que tentam achar textos bíblicos para justificar a perpetuação de sua tradição, mas normalmente praticam a eisegese [4], ou seja, dizem o que bem querem e tentam justificar na Bíblia.
O costume não é imutável — No Brasil era comum os cidadãos andarem pelas ruas de chapéus, tanto homens como mulheres, passados os anos não há mais esse costume no país.
Antigamente, os pais escolhiam com quem a sua filha casaria, mas também esse costume mudou.
É necessário que o costume mude, pois ele está ligado à cultura local, e toda cultura é dinâmica.
Mudar alguns costumes não significa passar do são para o diabólico, como muitos pregam.
A mudança é inevitável e deve ser bem orientada, mas como enfatizado, é sempre necessária.
O costume é local (geográfico) — Os homens na Escócia usam um tipo masculino de saia. No Siri Lanka é, também, costume para homens a vestimenta com saias. Enquanto a saia, na maior parte do Ocidente, é uma roupa exclusivamente feminina.
No Brasil é comum comer peixe cozido ou frito, mas no Japão se come peixe-cru.
O costume não pode santificar — Quem acredita na santificação por meio dos costumes, normalmente, é um escravo do legalismo.
O pastor Antonio Gilberto escreveu a respeito dos erros em relação a santificação e citou o engano de associar exterioridade com santidade:
"Usos, práticas e costumes. Esses últimos, quando bons, devem ser o efeito da santificação, e não a causa dela" [5].
E bem relevante o que escreveu o pastor Ciro Zibordi no prefácio do livro "Verdades Pentecostais":
'O farisaísmo se caracterizava por associar sua obras com salvação. Há muitos que fazem dos costumes “doutrinas” e, assim, pensam que para serem salvos precisam fazer isso ou aquilo.Como dizia Lutero: “As boas obras não fazem o homem bom; mas o homem bom pratica as boas obras”. A inversão dessa ordem cria escravos do farisaísmo e não servos do Altíssimo.'
Costume e cultura
O costume, por ser relativo, não deveria ser imposto como obrigação. Era comum missionários europeus tentarem impor os costumes do norte em países da Ásia e da América. Hoje, o conceito de "transculturação" está ajudando muito em relação a esse problema.
Não é necessário ir ao exterior para observar este panorama seleto no que tange a costumes.
Aqui mesmo em nosso Brasil, dominado por um grande mosaico cultural, vê-se em cada região marcantes diferenciações.
Por Exemplo, no Rio Grande do Sul encontramos os costumes gauchescos, tais como vestir-se de lenço, bombachas e esporas, lembrando que há forte influência européia na cultura dos gaúchos.
Já pelo Norte e Nordeste, encontramos o sertanejo sempre com seu característico chapéu de couro; na Bahia, as conhecidas baianas com seus turbantes e vestidos longos — muito da influência da cultura africana.
Passar de um Estado para outro é como mudar de país. Cada Estado acha-se individualizado por costumes e tradições próprias, distinguido um do outro.
Por vezes, cada um evidencia essas diferenças numa forma indisfarçável.
Poderíamos relacionar ainda muitos outros costumes e tradições locais relacionados com a música, o folclore, o artesanato, enfim a maneira própria e diversificada de nosso povo brasileiro.
Mas, vamos parar por aqui. Acreditamos já ter ficado bem claro a abissal diferença entre Doutrina [assim mesmo, no singular] e Costumes [assim mesmo, no plural].
Conclusão
Entendemos que não podemos fazer de um costume, uma doutrina. Pois quando isto ocorre, surgem os prejuízos para a Obra e para o Reino de Deus.
Mas, não devemos esquecer, que costumes não podem gerar doutrina; no entanto, tenhamos em mente, duas coisas que regem nossa vida cristã: O que cremos e o que fazemos.
O nosso cremos, fundamenta-se nas doutrinas bíblicas, que nos dão firmeza e solidez espiritual.
O que fazemos, relaciona-se com a prática do que cremos. Sendo, incoerente dissociar o crer do fazer. Pois, doutrina santa gera costume santo.
Nossa vida cristã deve ser uma vida radiante, dinâmica e liberta.
Tenhamos os costumes adotados, que denominamos bons, não como pesado jugo de escravidão, mas como resultado da experiência pessoal com a liberdade com que Cristo nos libertou (João 8:32,36; Gálatas 5:1), pois não ocorrendo desta forma cairemos, fatalmente no farisaísmo, tão condenado por Jesus, anulando em nossas consciências o verdadeiro sentido de uma vida feliz e abundante.
Outrossim, lembremos que nossa vida em todas as áreas deve ser pautada por Liberdade e Responsabilidade.
Se como cristãos e membros do Corpo de Cristo, tivermos somente responsabilidades, fatalmente vivenciaremos um quadro de extremo jugo.
Não precisamos nos reportar aos tempos antigos, para termos exemplo a respeito. Recentemente, o mundo ocidental refutou peremptoriamente (CATEGORICAMENTE) o regime dos Talibãs, no Afeganistão, que colocava a mulher nos níveis mais miseráveis e desprezíveis — sem acesso à escola, ao aprendizado. Sem poder mostrar ao menos a face; e, atrás das "burcas" amargavam lágrimas em silêncio.
É perigoso quando uma comunidade cristã, conduz seus membros subjugados pelas "responsabilidades", sem estes, nunca terem vivido a liberdade em Cristo. Pois responsabilidade sem liberdade, é cativeiro, é tirania.
Por sua vez, liberdade sem responsabilidade, dá lugar aos desmandos. Pois liberdade sem responsabilidade, normalmente dá lugar a libertinagem.
Há muitas outras diferenças entre doutrina e costumes, mas fica apontado que ambas não são a mesma coisa, porém estão ligadas.
O bons costumes são aqueles que não escravizam o crente, colocando um jugo que Jesus tirou na cruz, mas sim, é resultado da boa doutrina.
Portanto, vivamos na liberdade com que Cristo nos libertou, com sabedoria.
Sabendo que sou abençoado e livre dentro dos termos do Reino de Deus, tendo a certeza que existem limites, que divisam a Igreja do mundo sem Deus.
Sabendo também, que tal limite estabelecidos por Deus visam nossa proteção, santificação e identificação como filhos de Deus.
[Fonte: Exegese Bíblica; Notas e Referências Bibliográficas: 1 — ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 12 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 128. 2 — HOLANDA, Aurélio Buarque de. Mini-Aurélio Século XXI Escolar. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2000. p. 190. 3 — KURY, Adriano da Gama. Minidicionário Gama Kury da Língua Portuguesa. 1 ed. São Paulo: FTD, 2001. p.265. 4 — Prática de forjar o texto a fim de que justifique o pensamento próprio. Não confunda com exegese. 5 — GILBERTO, Antonio. Verdades Pentecostais. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p 142.]
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.

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