"Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Por que quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!" (Romanos 11:33-36, grifos acrescentados)
Ciência e religião, apesar de terem gozado de longa amizade por séculos, começaram a ter turbulências em seu relacionamento a partir de Nicolau Copérnico (☆1473/✞1543)e Galileu Galilei (☆1564/✞1642).
Com Charles Darwin (☆1809/✞1882 — escrevi artigo sobre ele ➫ aqui), parece que foi decretado o total antagonismo entre os dois campos. Cristalizou-se a chamada noção de conflito, que parece moldar os discursos sobre os mesmos na esfera pública mundial, inclusive na brasileira.
Mas seria essa a única opção relacional para as duas áreas nos tempos atuais? Este artigo busca analisar de forma panorâmica as formas de relação que têm sido sugeridas na literatura para abordar o binômio ciência/religião.
Conceituando a fé em uma análise científica
"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem" (Hebreus 11:1).
Este é um conhecido versículo da Palavra de Deus, ele abre a seção da epístola aos Hebreus, teologicamente conhecida como "a Galeria dos Heróis da Fé". À despeito de extensas explanações teológicas sobre o que é a Fé, o escritor aos Hebreus, de uma forma bem resumida e objetiva, nos traz essa revelação.
Mas, a exposição que farei aqui neste parágrafo, não é especificamente sobre o conceito de Fé, no contexto espiritual, mas sim sob o prisma científico.
A fé é parte integrante do homem, está com ele desde o nascimento, associada à fé sempre existe uma religião, que seria como um estado mítico, para muitos, uma forma de explicação ultrapassada.
Enquanto que a ciência seria o motor do progresso e do conhecimento, conhecimento esse que transforma o mundo proporcionando melhor qualidade de vida aos seres humanos.
A religião embora detentora de conhecimentos metafísicos, não deixa de fornecer repostas para grandes questões que afligem a humanidade, como por exemplo: por que existimos? De onde viemos? Para onde vamos? Há vida após a morte? Por que estamos aqui? Etc.
Existe conflito entre ciência e religião?
O fato de que no passado a Igreja Romana era detentora do conhecimento teológico e científico é inegável, pois determinava o céu, o inferno e também a rotação dos planetas. O século XVIII trouxe consigo e ideia de que a religião estava associada ao engano devido a diversos escândalos do alto clero, ouve então o início de uma ruptura entre a ciência e a Igreja.
No século XIX desenvolveu-se uma apologética para fazer frente à disseminação do conhecimento científico através do método experimental, que postula que todo conhecimento válido começa da observação e da experiência. Questões metafísicas não tinham lugar nesse tipo de conhecimento, no entanto, a religião nunca deixou de fornecer respostas que envolvem esse tipo de questões.
Sabendo que cada uma dessas vertentes fala de coisas diferentes, é possível estabelecer conflito entre elas? Ou elas não têm como competir? É inegável que cada uma a sua maneira, religião e ciência têm oferecido recursos valiosos para uma mudança de consciência ética e de ação entre os seres humanos.
Três pontos serão abordados nesse artigo, primeiro, como estava organizado o conhecimento científico antes do cristianismo, segundo a situação do conhecimento científico após o surgimento do cristianismo e terceiro, após a ruptura da ciência com a Igreja e faremos também uma análise acerca dessa ruptura, considerando se foi ou não benéfica.
O início (ou o fim?) do imbróglio
O antagonismo entre os termos "ciência" e "religião" é sobremodo fácil de ser percebido nos dias atuais. Basta ver quantos cientistas, principalmente das ciências naturais, se declaram abertamente "homens de fé" ou religiosos.
"Cientista" e "religioso" é, na visão popular, um oximoro, uma contradição essencial. Em vista do atual cenário, é fácil esquecer que tais campos tiveram convivência pacífica por muitos séculos.
De fato, muitos dos próprios artífices da ciência moderna eram teólogos, clérigos, e, não por acaso, cristãos piedosos. Isaac Newton (☆1643/✞1727 — escrevi artigo sobre ele ➫ aqui), por exemplo, pai da mecânica moderna, escreveu muito mais linhas sobre interpretação bíblica do que sobre as leis que regem o mundo físico.
Charles Darwin estudou para ser ministro da Igreja da Inglaterra, e Gregor Mendel (☆1822/✞1884), pai da genética, plantava suas ervilhas em um mosteiro em Brno, atual República Tcheca, onde era sacerdote.
O ocidente, palco da chamada revolução científica, era terreno fértil para o avanço da investigação científica, pois, profundamente influenciados pela "teologia natural", entendia-se que o Criador se revelava nos seus dois livros: o da revelação escrita e o da própria natureza. Assim, a ciência através do método científico revelava a própria mente de Deus, o Supremo Criador.
Galileu, Copérnico, Darwin...: Deus acima de tudo e de todos!
A turbulência entre ciência e religião aparentemente iniciou-se com o famoso incidente de Galileu Galilei, quando este avançou as pesquisas de Nicolau Copérnico quanto à questão da heliocentricidade do sistema solar, e teve que por fim negar a aceitação de suas descobertas sob pena de ser lançado à fogueira — o que acabou acontecendo com seu contemporâneo Giordano Bruno (☆1548/✞1600).
Mas o golpe final, que colocou Deus e a ciência frente a frente em uma aparente batalha, foi mesmo dado pelo naturalista britânico Charles Darwin, frequentemente citado no meio científico como "o homem que matou Deus" , ao publicar seu livro "A Origem das Espécies" em 24 de Novembro de 1859.
Ali, ele afirmava que o homem, assim como todo e qualquer ser vivo que habita este planeta, além de ter uma descendência comum com todos os seres, era produto de um longo e gradual processo de modificação biológica, regido por leis naturais, conhecido como evolução.
Esta ideia parecia destronar o ser humano da posição de destaque que ocupava como "coroa da Criação", criado sobrenaturalmente por Deus, colocando-o definitivamente como mais um entre os incontáveis galhos da árvore da vida, um ser efetivamente parte da natureza, e não separado dela.
Atualmente, mais de 150 anos após a publicação do livro, a teoria da evolução das espécies tem indiscutível aceitação nos circuitos científicos. Ela é considerada uma das teorias científicas mais bem embasada por dados empíricos, e é chamada frequentemente de "espinha dorsal da biologia", ou, nas palavras do geneticista cristão Theodosius Dobzhansky (☆1900/✞1975):
"nada em biologia faz sentido, exceto à luz da evolução (DOBZHANSKY, 1964, p. 449)".
Mas, surpreendentemente, ela falhou em alcançar este status de aceitação com grande parte da população, no Brasil e no exterior, e, ao que parece, um número expressivo de pessoas negam-na em favor da chamada "posição criacionista", que defende a literalidade absoluta dos capítulos iniciais de Gênesis no que tange às origens.
Principais etapas do método científico
O método científico é o caminho percorrido pelo cientista para se chegar a um conhecimento, caminho esse que deve basear-se em experimentações e lógicas matemáticas, com medições precisas e exatas, bem como a execução de vários experimentos para reforçar determinadas ideias.
As principais etapas do método científico seguidas em geral pelas equipes de cientistas em institutos de pesquisas e universidades em todo o mundo são: 1) Observação, 2) Hipótese, 3) Experiências (ou Experimentos), 4) Teoria e 5) Lei.
Vejamos em que consiste basicamente cada uma delas:
- 1) Observação — Leva o observador ao levantamento de questões que precisam ser estudadas para a solução de um problema. Essa observação pode ser a olho nu ou com a utilização de instrumentos de maior precisão, como microscópios.
- 2) Hipótese — Na tentativa de responder às questões levantadas na observação, o cientista propõe hipóteses, isto é, afirmações prévias que visam explicar os fenômenos. Essas hipóteses podem ser reforçadas ou descartadas, na próxima etapa.
- 3) Experimentação — Consiste em vários testes realizados para confirmar as hipóteses. As experimentações devem ser realizadas de forma bem criteriosa, envolvendo aspectos qualitativos e quantitativos, mas isso nem sempre acontece, pois, uma vez que seres humanos estão envolvidos nessas etapas, podem estar ocorrendo interferências políticas, sociais, morais, filosóficas ou religiosas.
- 4) Teoria — Com os experimentos repetidamente realizados, o cientista pode chegar à conclusões que ajudam na construção de teorias, que constituem explicações mais bem elaboradas de determinada situação, então as teorias são as nossas melhores explicações sobre um determinado fenômeno num determinado tempo.
- 5) Lei — Se os resultados da experimentação levam a alguma generalização, ou seja, se eles repetem sempre em quaisquer circunstâncias, surge então uma lei científica. A lei descreve uma sequência de eventos que ocorrem de forma uniforme e invariável, ou seja, é um conjunto de afirmações consideradas válidas pela comunidade científica para explicar um fenômeno, mas apesar de todo esse processo, não se pode falar em provar determinada ideia, pois em ciência nada pode ser provado, a história da ciência mostra que ela muda com o decorrer do tempo, além disso, ela é feita por seres humanos falíveis, mas que também podem aperfeiçoar os conhecimentos. Assim determinadas teorias não resistem ao longo do tempo e afirmações que são supostamente científicas, acabam sendo boas para os negócios, mas ruins para a ciência. Seguir um método científico é o que define uma área de estudo como uma ciência, tal qual são as ciências da natureza, como a Química, a Biologia e a Física etc.
O método científico pode variar de acordo com a ciência, mas o que é atualmente usado, principalmente pelas ciências da natureza, foi derivado do trabalho de vários filósofos, como Francis Bacon (☆1561/✞1626) e René Descartes (☆1596/✞1650), e de cientistas como Galileu Galilei, Robert Boyle (☆1627/✞1691) e Antoine Laurent Lavoisier (☆1743/✞1794) e muitos dos que são atualmente considerados ancestrais da ciência moderna foram encontrar no cristianismo a legitimação de suas conquistas e de suas pesquisas, como exemplo disso citamos, René Descartes e Isaac Newton que eram cristãos.
O método científico nos ajuda a compreender os caminhos pelos quais passam a construção de uma teoria desde o seu nascimento até o seu desmoronamento, pois teorias são falíveis, não se constituem verdades incontestáveis. Quando uma teoria apesar de ser submetida ao falsificacionismo continua sendo válida, ela se torna uma lei.
Conclusão
Parte da condição humana é buscar respostas sobre o nosso mundo na tentativa de entender nossa natureza. Descobertas científicas que enriqueceram nossa compreensão do inferência inequívoca de projeto sem que se façam necessários conhecimentos sobre o projetista, seus objetivos ou sobre os métodos por esse empregados na execução do projeto Universo e de nós mesmos fornecem muitas dessas respostas, no entanto, permanecem questões fundamentais de significado, valor e propósito que a ciência talvez nunca seja capaz de responder.
A verdade é que para bilhões de pessoas, religião e fé proporcionam conforto e significado, e que a ciência oferece apenas fatos ou nenhuma resposta, embora haja extremistas de ambos os lados e que provavelmente continuem batendo os punhos e exigindo uma separação entre ciência e cristianismo.
Acredito que elas podem e devem coexistir pacificamente. Em suma, os autores que defendem o diálogo reconhecem que há diferenças significativas entre ciência e fé, principalmente metodológicas. No entanto, há paralelos significativos que merecem ser trabalhados, para enriquecimento de ambas.
[Fonte: Id On Line - Revista Multidisciplinar de Psicologia, por Júlio de Fátimo Rodrigues de Melo e Werner Bessa Vieira (DOI: 10.14295/idonline.v13i48.2310); ABC² Associação Brasileira de Cristãos na Ciência, por Por Tiago Garros]
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.
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