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quinta-feira, 11 de novembro de 2021

PAPO RETO — O QUE O TEMPO É PARA VOCÊ, UM ALIADO OU UM ADVERSÁRIO?

"Por isso diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo; porquanto os dias são maus" (Efésios 5:14-16).
O trágico acidente áereo que vitimou fatalmente a jovem cantora Marília Mendonça e outras quatro pessoas, ocorrido na sexta-feira, 5/11, me levou a refletir dentre outras coisas, sobre o quanto estamos reféns do tempo, mesmo embora, não poucas vezes agimos como se o domínio sobre ele tivéssemos. Esse é um ledo engano que, afirmo sem medo de errar, a maioria de nós comete. 

"Estou sem tempo!"


É o que diz a maioria de nós. Ok, decerto o tempo realmente nos parece curto e chegamos a pensar que além de 24 horas, nossos dias deveriam ter mesmo era, quem sabe, pelo menos umas 48, para ver se a gente conseguia fazer tudo o que sempre temos a fazer. Nossa, como somos ocupados, não é mesmo?

Quando nos remetemos à Bíblia para refletir sobre o tempo, além do clássico texto registrado no livro de Eclesiastes, capítulo 3, encontramos também as "invejáveis" experiências de Josué, que orou e numa ação milagrosa, Deus parou o sol, aumentando o dia para que ele tivesse o tempo necessário na realização de seu intento em vencer o exército inimigo (Js 10).

A outra experiência foi a do rei Ezequias, que após receber de Deus uma sentença profética sobre sua morte, orou pedindo ao Altíssimo mais "algum tempo" e recebeu nada menos do que mais 15 anos, tempo suficiente contabilizado pelo próprio Deus, para que ele pudesse, então, fazer os consertos necessários em sua vida (Isaías 38). 

Tanto Josué quando o rei Ezequias foram privilegiados, quanto a isso não há dúvida. Já pensou se "tivéssemos essa moral com Deus"? Se cada vez que precisássemos de um tempinho a mais, para fazer o que nos cabe, bastava apenas orar e pronto? Só que não, né? Portanto, o que nos cabe no momento é nos fazer a pergunta que não quer calar: o que estamos fazendo com e no tempo que nos está disponível?

O que a Bíblia diz sobre o aproveitamento do tempo


A Bíblia diz que os crentes devem andar sabiamente, remindo o tempo, porque os dias são maus (Ef 5:15). Remir o tempo significa otimizar e aproveitar ao máximo cada oportunidade de forma prudente. Remir o tempo é praticar a mordomia do tempo, e a mordomia do tempo é também a mordomia das oportunidades.

Sem dúvida viver remindo o tempo deve ser uma das maiores responsabilidade do cristão. O tempo é um presente precioso que Deus nos dá para sermos bons mordomos dele. Infelizmente as pessoas estão acostumadas a viver como se o tempo fosse um recurso inesgotável. Mas essa é uma perigosa ilusão. Há um ditado que diz que o tempo é a moeda mais valiosa que existe. O tempo é aquele tesouro que uma vez perdido, jamais pode ser recuperado.

O tempo apresenta oportunidades que passam para nunca mais voltar. Um antigo provérbio diz que há três coisas que nunca mais voltam: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Essas três coisas jamais voltam porque não podemos controlar o tempo a ponto de fazê-lo voltar ao momento que já se passou. Por isso devemos remir o tempo aqui e agora.

As pessoas vivem suas rotinas sem dar a devida importância à mordomia do tempo. Cada dia é só mais um dia, e os homens vão vivendo assim, sem perceberem os dias, as semanas, os meses e os anos. E então logo se vai uma vida inteira que passa quase que despercebida.

Algumas pessoas perguntam: "Por que [e/ou para que] remir o tempo?" Por que ser um bom mordomo do tempo? A resposta pode ser: Porque nunca mais haverá um dia como hoje! O livro de Jó fala sobre a brevidade da vida terrena dizendo que nossos dias na terra não passam de uma sombra (8:9; cf. 14:1,2).

Nesse mesmo sentido, o salmista Davi diz algo que reflete muito bem a importância de remir o tempo: 
"Dá-me a conhecer, SENHOR, o meu fim e qual a soma dos meus dias; para que eu reconheça a minha fragilidade. Deste aos meus dias o comprimento de alguns palmos; diante de Ti, o prazo da minha vida é nada" (Salmo 34:4,5).
Diante dessa verdade, o correto é que cada pessoa repita a sábia oração de Moisés: 
"Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio" (Sl 90:12).

 

Definições sobre kairós e chronos


Quando vamos falar sobre tempo, devemos ter o cuidado de especificar sobre o que estamos querendo abordar, já que a compreensão sobre esse tema é muito mais abrangente do que visamos tratar nesse artigo; para isso, se faz necessário o entendimento Kairós e Chronos sobre a visão do novo testamento uma vez que a língua grega tem uma riqueza de termos com os quais se expressa a experiência do tempo.
  • Kairós — "Tempo", especialmente um "ponto no tempo", "momento", "tempo oportuno", "oportunidade favorável", "ponto justo", "medida certa", "lugar apropriado", "aquilo que é conveniente apropriado ou decisivo".
Na teologia passou a ser usado para descrever a forma qualitativa do tempo ou "o tempo de Deus", o tempo que não pode ser medido, é o tempo da oportunidade, livre do peso das cargas que se passam e da ansiedade das coisas que acontecem antes do tempo, ele se manifesta sempre no presente, instante após instante; Kairós marca os momentos que se tornam inesquecíveis, ainda que tenham sido breves, os gregos acreditavam que com o Kairós poderiam enfrentar o cruel e tirano Chronos. Quando se fala em Kairós se quer indicar que alguma coisa aconteceu tornando possíveis ou impossíveis certas coisas.
  • Chronos — "Tempo", "período de tempo", "espaço de tempo, longo ou breve".
Chronos serve inicialmente para a designação formal de um espaço de tempo, ou ponto de tempo, refere-se ao tempo cronológico ou sequencial que pode ser medido. Ele controlava o tempo desde o nascimento até a morte, um pensamento grego era que Chrono representava o tempo que faltava para a morte, uma vez que era impossível fugir do mesmo, todos seriam mais cedo ou mais tarde vencidos (devorados).

Para nós cristãos, a encarnação do Verbo, a vinda do eterno no tempo com o nascimento de Jesus, que veio até nós justamente na "plenitude dos tempos" (Gálatas 4:4), e sua ressurreição dos mortos trouxe-nos a solução para como lidar com tempo, dominá-lo, servirmo-nos dele e utilizá-lo para o nosso bem estar. O cristão deve viver o seu dia, as horas que o compõem, em três dimensões:
  • 1. Dimensão memorial — recordando, agradecidos, os grandes feitos de Deus. Valorizar em justa medida as providências, os livramentos, as correções e disciplinas do Senhor e ainda, assumindo com amor a nossa própria verdade de sermos limitados, débeis, imperfeitos, pecadores. Isto nos livra da tirania do perfeccionismo, da autogratificação e também da autopunição.
  • 2. Dimensão "kairológica" — Isto é, fazer do presente, do "agora", do "já" de nossas vidas, um momento repleto de graça. Agora é hora, o tempo favorável da graça e da bênção. Por isso, devemos viver o presente como aquilo que ele é, presente, dádiva, dom. E só o valorizamos, quando em oração, pedindo bênção, direção, discernimento e força a Deus, passamos a viver o nosso dia, organizado todo na perspectiva da redenção em Cristo. Passamos então a gozá-lo por inteiro, inteiramente concentrados e focados em viver bem cada passo do dia, saboreando cada ocasião temperada com a presença do Espírito do Senhor e sua Palavra. O "agora" de nossas vidas é sempre libertador. Livra-nos dos grilhões do passado na mesma medida em que nos salva do sequestro do futuro.
  • 3. Dimensão "escatológica" — Significa que vivemos a certeza de que, haja o que houver no meu amanhã, desde agora, "sou mais que vencedor em Cristo." A vitória já foi alcançada na cruz e na ressurreição. A morte já não tem a última palavra sobre a existência. Por isso podemos e devemos orar pedindo a Deus este senso, esta forte impressão espiritual de que o futuro já chega até nós sob a marca da cruz gloriosa e dos bens nela conquistados por Cristo.

Porque o tempo "é o senhor" sobre todos nós?


O tempo é algo precioso. O tempo é caro, dizem até que "tempo é dinheiro". Logo, desperdiçar o tempo não é uma coisa saudável, nem para as finanças, nem para a vida social e muito menos para a vida espiritual. 

O cristão é chamado a perceber e a viver a dimensão do tempo numa realidade cujo sentido deve ser mais pleno de significado, mais do que o simples suceder das horas e dos dias. O que deve marcar o ritmo do tempo para o cristão é o seu encontro pessoal com Deus, Senhor do tempo e da eternidade.

Já na mitologia grega o relacionamento com o tempo era problemático. Os gregos entendiam o tempo como uma divindade desapiedada e voraz. Um verdadeiro devorador de vidas, implacável e insaciável que não perdoava nunca. Todos eram tragados pelo deus Cronos que não fazia distinção entre outras divindades, homens ricos ou escravos, filósofos ou ignorantes. 

A tudo consumia no ritmo sucessivo dos dias, meses e anos. Todavia, quando olhamos para a cultura e a sociedade contemporâneas não é difícil perceber que o deus Cronos continua sendo idolatrado, e o que é o pior, continua devorando vidas.

A frenética correria dos nossos dias nos impede de perceber e mesmo de viver a vida com inteireza. Nunca temos a sensação de estarmos plenamente presentes em lugar algum. Há sempre um compromisso, um encontro, uma atividade, uma ansiedade em "stand by", há sempre uma preocupação para daqui a pouco. Sem falar nas muitas metas que nos impomos ou que pesam sobre os nossos ombros. Coisas que devemos alcançar para, inclusive, justificar a nossa existência. E, para não alongar ainda mais o assunto, nem vou citar as muitas horas que TODOS NÓS perdemos (Isso mesmo: PERDEMOS!) nos devaneios infrutíferos das redes sociais.

Outros estão escravizados pelo deus Cronos, acorrentados a ele por meio da depressão. Em muitos casos, a depressão é uma forma de aprisionamento ao passado, às coisas que já se foram, não existem mais, mas que ainda assombram o nosso viver. Muitas depressões são o resultado da falta de superação, integração e mesmo reconciliação com a história já vivida. O hoje nunca supera o ontem em importância. E o futuro ainda não é.

A ansiedade é outra enfermidade comum em nossos dias, é uma forma de sequestro. Somos feitos reféns do futuro, com medo do que ainda será. Não conseguimos viver bem o hoje com medo que ele antecipe o futuro que gera muitas inseguranças e incertezas dentro de nós. Na ansiedade o passado não pesa, o hoje é muito frágil e o futuro é sempre assustador.

E como viver e integrar estas dimensões acima de maneira concreta em nossa experiência diária? Pela santificação do tempo, pela organização de nossa agenda diária por meio da oração, da meditação, da contemplação. Para que o tempo tenha sentido salvífico e santificante, precisamos aprender na escola da oração que o "ser" precede o "fazer".

Conclusão

Viva remindo o tempo reconhecendo a soberania de Deus


Se por um lado devemos praticar a mordomia do tempo de forma organizada e planejada, por outro jamais devemos esquecer que Deus é soberano sobre todas as coisas — inclusive sobre o nosso tempo, nossos planos, projetos, desejos etc. Somos mordomos e não donos do tempo. O tempo pertence a Deus e Ele nos concede o tempo de acordo com a sua livre e soberana vontade.

O apóstolo Paulo era um homem muito organizado e fazia muitos planos para remir o seu tempo da melhor forma. Contudo, ele sempre submetia seu planejamento à vontade do Senhor (1 Coríntios 16:7).

Tiago alerta sobre o erro daqueles que querer planejar, remir o tempo e aproveitar as oportunidades, mas ignoram a soberania divina. Ele escreve:
"Atentei, pois, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e ganharemos. Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. 
Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece. Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo" (Tiago 4:13-15).
Existe um tempo certo para que se manifeste a boa, agradável e perfeita vontade de Deus em nossas vidas, assim como vimos em Eclesiastes não temos como mudar isso, vivemos regido pelo Chronos; cada ano, mês, dia, hora que se passa precisamos nos atentar em estar posicionados de uma forma para que quando o Kairós chegue agarremos suas mexas com todas as nossas forças para que ele não escape.

Se analisarmos as palavras de Jesus em João 7:8, podemos ver que Ele compreendeu e viveu esse principio, Ele andava no Chronos como qualquer um de nós, mas aguardando manifestar o tempo certo e oportuno para que através dEle se realizasse a vontade do Pai.
(Jesus já tinha iniciado o seu ministério, mais ainda não tinha de forma abverta para todos manifestado sua missão de Filho e Messias, estava aguardando o kairos para se revelar.)
Devemos vigiar e orar, estando atentos aos sinais que nos cercam e preparando um caminho para que Ele venha sobre nós, que possamos ouvir Seu chamado e assim como os apóstolos deixar tudo e segui-Lo, compreendendo que viveremos tempos difíceis, porém sempre confiantes que Ele está conosco e nós dará o refrigério necessário em tempo oportuno (Kairós) para que não venhamos a retroceder (Gl 6:9).

Minha oração 


Eu estarei no lugar onde Deus possa invadir a história, e se ele precisar de mim, eu estarei lá. Que sejamos pessoas que o pai tenha a possibilidade de invadir o chronos/história, pois todas as vezes que Deus entra na história, ele entra para revelar cristo.

Revelar Cristo é mudar a história, revelar Cristo é trazer salvação, mudanças de diagnósticos, trazer a existências coisas que não existem como se já fossem, etc…

Então que a boa mordomia do tempo também seja para nós um exercício de reconhecimento da providência de Deus. Não há um único segundo sequer que esteja à parte do controle divino. Vivamos, pois, remindo o tempo para a glória de Deus!

[Fonte: Estilo Adoração, por Daneil Conegero; Ultimato, por Luiz Fernando dos Santos — Bibliografia: Harris, R. Laird; Archer, Gleason L.; Waltke, Bruce K. – Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento; 1ª edição; São Paulo; Editora Vida Nova; 1998. Tillich, Paul; História do Pensamento Cristão; 4ª edição; São Paulo; Editora Aste; 2007; Rusconi, Carlo; Dicionário do Grego do Novo Testamento; 4ª edição; São Paulo; Editora Paulus; 2003. BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega Vol I. Petrópolis, Vozes, 2004]

A Deus toda glória.
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