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sexta-feira, 5 de novembro de 2021

ACONTECIMENTOS — A TRAGÉDIA DO INCÊNDIO NO EDIFÍCIO JOELMA

Neste capítulo da série especial de artigos documentais "Acontecimentos", vamos relembrar um dos incêndios mais emblemáticos do país, que foi transmitido ao vivo pela televisão.

Um curto circuito num aparelho de ar condicionado provocou um grande incêndio no Edifício Joelma. Por causa do fogo, 188 pessoas morreram e 345 ficaram feridas.

Quem acompanhou o caso ficou assustado ao ver que muitas pessoas preferiram se jogar das janelas, porque não tinham mais esperanças de serem resgatados. Outras pessoas se refugiaram no terraço do edifício de 25 andares. 

O prédio tinha sido inaugurado três anos antes. Foram oito horas e meia de fogo. Cinco pessoas foram condenadas por crime de negligência e omissão, mas ninguém foi preso.

A história do Joelma


Após sua construção, em 1972, o Edifício Joelma foi alugado ao extinto Banco Crefisul de Investimentos. No início de 1974, enquanto a empresa ainda finalizava a transferência de seus departamentos para o edifício, em 1° de fevereiro de 1974, um curto-circuito em um aparelho de ar-condicionado, localizado no 12° andar do edifício, deu início a um incêndio, que rapidamente se espalhou aos demais andares.

O Brasil ficou em choque com as imagens de pessoas saltando das janelas para escapar do fogo. O incêndio acabou por consumir 14 dos 25 andares do edifício.

Tragédia anunciada, mas não evitada


O incêndio do Edifício Joelma, que no dia 1º de fevereiro de 1974 estarreceu a cidade de São Paulo, deixou à mostra, pela primeira vez, a precária situação e vulnerabilidade em que se encontravam as grandes cidades brasileiras frente a desastres como aquele. 

No dia seguinte à tragédia as autoridades deram uma permissão especial para que uma equipe do Instituto de Engenharia entrasse no prédio. O presidente do Instituto de Engenharia, Jan Arpad (1883/1963), convocou alguns engenheiros das Divisões Técnicas para fazer um levantamento.

O dia da tragédia


Praça da Bandeira, 1 de fevereiro de 1974, aparentemente mais uma sexta-feira chuvosa no centro de São Paulo.

Porém, a cidade estava prestes a viver o pior incêndio de sua história. O edifício Joelma, conhecido atualmente como edifício Praça da Bandeira, foi inaugurado em 1971 e possuía 25 andares.

Localizado no número 225 da Avenida Nove de Julho esse é o protagonista da tragédia que marcou o centro da cidade.

Tudo começou por volta das 8h45 quando um funcionário ouviu um barulho de vidro se partindo no 12º andar. Um curto circuito, que começou em um aparelho de ar-condicionado, se alastrou pela fiação e rapidamente tomou conta dos andares. O piso de acetato, as cortinas de pano e o forro interno de fibra sintética contribuíram para a propagação das chamas.

O cenário para a catástrofe estava montado. Em 15 minutos já era impossível descer as escadas, que localizadas no centro do edifício, foram rapidamente bloqueadas pelo fogo e fumaça tóxica dos combustíveis.

A ausência de escadas de incêndio espalhou, junto com as chamas, o pânico entre os ocupantes do prédio. Muitos contrariaram as normas de segurança e desceram pelos elevadores, sendo que 422 pessoas conseguiram se salvar por esse meio.

Pouco depois, o maquinário deixou de funcionar devido a uma pane elétrica causada pelas chamas e algumas pessoas chegaram a morrer dentro dos elevadores.

Sem ter como deixar o prédio muitos se abrigavam nos banheiros e parapeitos da janela. Em um dos episódios mais dramáticos do incêndio, uma criança foi salva dos braços da mãe que saltou do 15º andar. A multidão acompanhou da rua o choro do bebê que ecoou imediatamente após o impacto da queda. Cerca de 179 pessoas morreram e 300 ficaram feridas e o mais trágico: 40 pessoas morreram ao pularem do prédio.

Precariedade no socorro às vítimas


O corpo de bombeiros tentava agir em meio à confusão, o primeiro chamado foi recebido às 9h05 e às 9h10 duas viaturas já estavam no local. Devido a grande dimensão do incêndio 12 auto bombas, 3 auto escadas, 2 plataformas elevatórias e uma incontável quantidade de veículos de salvamento participaram do resgate. O fogo terminou às 10h30 e às 13h30 todos os sobreviventes já haviam sido resgatados.

Muitas pessoas foram resgatadas das áreas dos banheiros com auxílio de escada mecânica. As que se alojaram no teto ficaram protegidas pelas telhas de amianto, material não-combustível e térmico que retém o calor. 

Segundo a perícia realizada pelo corpo de bombeiros, o prédio não sofreu danos estruturais. Todo material combustível do 12º ao 25º andar foi consumido pelas chamas. O edifício não tinha alarme manual ou automático. Não havia treinamento e nem sinalização para abandono e controle do pânico.

Apesar do material de construção ser incombustível, todo material de compartimentação dos escritórios, assim como, acabamento não eram e ajudaram a alastrar o incêndio. 
Vale o destaque para o grande trabalho de resgate da Polícia Militar e de outros órgãos, como COE, ROTA, Corpo de Bombeiros, Batalhões de área do centro, IV COMAR e empresas civis.

O primeiro oficial a saltar de um helicóptero civil sobre o edifício em chamas foi o Sgt° PM (Augusto Carlos) Cassaniga do COE (segundo relatos foi do helicóptero do DERSA, pilotado por Silvio Monteiro). Ele saltou da aeronave a uma altura de cerca de 4 metros e quando tocou o teto fraturou seu tornozelo, mesmo assim, esqueceu a dor e organizou o salvamento (na foto abaixo, em um recorte de jornal da época, sendo carregado na maca).

O único helicóptero que teve atuação efetiva na retirada de pessoas do teto do Joelma foi o helicóptero militar UH-1H da FAB pilotado pelo Major Av Pradatzki, Tenente Av Taketani e tripulado pelos seguintes militares: Sgt° Silva, mecânico da aeronave, o então Tenente PM Nakaharada (COE), Sd. PM Juvenal (COE), Sd. PM Cid Monteiro (COE) e o médico civil Dr. Wanderley.

Essa foi a segunda equipe a desembarcar no telhado do Joelma que nesse ponto alcançava temperatura superior a 100° C

Como o helicóptero militar não conseguia pousar no teto do edifício, as pessoas se agarravam nos esquis do UH-1H da FAB e, com ajuda da tripulação, eram colocadas para dentro do helicóptero.

O helicóptero UH-1H fazia pairado sobre o edifício e conseguia retirar as pessoas. Os feridos eram levados ao heliponto do prédio da Câmara Municipal, onde ficaram pousados os demais helicópteros e seus pilotos civis (aeronaves civis da Pirelli, Papel Simão, DERSA, etc) auxiliando as operações de salvamento, transportando-as aos hospitais.

Enquanto isso, o Comandante Carlos Alberto (abaixo, em foto com o presidente Getúlio Vargas — reprodução/arquivo pessoal), primeiro piloto de helicóptero do Brasil, com a ajuda do Eng°. Carlo de Bellegarde de Saint Lary, pousou o helicóptero da empresa Pirelli sobre uma pequena laje de um prédio vizinho. 

Ali, os bombeiros passaram cordas, ligando os dois prédios e tentavam retirar as pessoas, sendo que atravessaram os prédios, utilizando-se da técnica "comando cra", os então Cap. PM Hélio Caldas do Bombeiro, o Ten. PM Lisias (COE), o Sd. PM Antônio Benedito Santos (COE) e o Sd. PM Osmar Lachelli (COE).

O resultado do laudo da tragédia


Após a inspeção eles se reuniram e imediatamente deram início à elaboração de um laudo, que depois de concluído, foi divulgado por todos os jornais da época. 
"Chegamos à conclusão de que o prédio foi muito mal cuidado pelos usuários. Para se ter uma ideia, encontrou-se aparelhos de ar condicionado bem como outros aparelhos ligados por fiação aparente correndo nos rodapés de madeira, fixada por pregos. Além disso, as normas de segurança se encontravam totalmente desatualizadas em relação às normas internacionais"
relata o eng°. Samuel Belk. 

O fogo se alastrou a partir do 12º andar até o último. Os dez primeiros andares – ocupados por estacionamento —, além do 11º andar, não foram atingidos pelo fogo. E foi exatamente o 11º o andar que serviu de paradigma para a análise da comissão nomeada pelo Instituto de Engenharia.
"No 11º andar havia aparelhos de ar condicionado do lado de fora, na parte de cima das janelas. As cortinas eram todas de náilon, algumas encostadas no ar condicionado. 
Para alimentar o aparelho, que ficava lá fora, os usuários puxavam a fiação através de um furo na janela — por onde o fio passava para o outro lado. 
Com o efeito do tempo e do vento o fio acabava descascando e ficando exposto. Por isso deu curto e o fogo começou. Esta foi a causa principal: o aparelho de ar condicionado".
E cita o que foi encontrado num outro andar, atingido pelo fogo e ocupado pela agência do Banco Crefisul de Investimentos.
"Não sobrou nada. No hall dos elevadores não havia nenhuma porta —  eram dois blocos unidos por um corredor. Passava-se de um bloco para outro livremente e o fogo foi se propagando por andares inteiros, de andar para andar. 
Pegou fogo num andar, e como o forro era inflamável, foi se propagando por todo o pavimento. E de andar para andar o fogo foi passando também pelas janelas. Tudo favorecia o desastre: bastava jogar um fósforo."
Quando o Joelma foi reconstruído —  "agora é um prédio considerado seguro" —, Samuel Belk (foto acima — reprodução / arquivo pessoal) foi chamado para dar seu parecer e emitir um atestado de que tudo estava em ordem. 

Terminado o levantamento, pouco depois o Instituto de Engenharia foi convidado pela prefeitura paulistana a se fazer representar nos trabalhos da nova legislação de segurança contra incêndio, da qual ele também participou. 
"O laudo do Joelma nos colocou em evidência e nossos nomes passaram para o domínio público"
conta Belk, que subitamente se viu obrigado a pôr em prática tudo o que conhecia sobre segurança na engenharia. 

Ele e seus colegas da comissão começaram a atender, dentro de suas especialidades, as solicitações dos diversos setores —  como grandes edifícios, órgãos públicos ("Engenharia", 2010, página 597 — 'A tragédia do Joelma cinemas, teatros e também indústrias'). 
"Tudo estava por fazer."


O legado de uma tragédia


Era o profissional certo, no lugar certo: Belk, além de uma vasta experiência na construção civil, acumulava os conhecimentos obtidos como consultor técnico da Fundacentro e de engenheiro chefe e diretor da divisão de higiene e segurança em medicina do trabalho na Secretaria de Estado do Trabalho.

Ali ele preparou trabalhos e publicações pioneiras para cursos destinados a sindicalistas, mestres de obras, apontadores e até bombeiros. Professor nos cursos para supervisores de segurança, engenheiros de segurança e médicos do trabalho em diversas faculdades, Samuel Belk foi também representante do Instituto de Engenharia na elaboração do Código de Obras da Prefeitura, durante a revisão feita em 1972.

Também atuou como engenheiro responsável pela segurança da Empresa Construtora Cetenco, na execução da primeira pista da Rodovia dos Imigrantes. Já na atualização de Normas de Segurança em Prevenção de Incêndio junto à ABNT ficou cerca de 15 anos. Seu escritório, a Consulpac Engenharia de Segurança, em sociedade com os engenheiros Oswaldo Paulino Filho e Eduardo Mainieri, foi a primeira empresa de engenharia de segurança do país, e após o laudo do Joelma passou a atender a maioria das construtoras. 
"Naquela época essa atividade era ainda muito incipiente. Eu já vinha estudando exaustivamente esse assunto, havia comprado muitos livros", 
lembra Samuel Belk, que além de engenheiro de segurança registrado no Ministério do Trabalho havia feito o curso de higiene industrial na New York University. 

A empresa de Belk liderou assim a difícil tarefa de prevenção de acidentes do trabalho na construção de edifícios e obras públicas. A Consulpac passou a realizar ensaios a fogo de materiais na fabricação de portas corta-fogo, tendo assessorado as primeiras indústrias de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. 

Mais tarde fundou seu próprio Laboratório de Ensaios ao Fogo, em Franco da Rocha (SP) onde foram realizadas centenas de ensaios para fabricantes de componentes de construção de todo o país. Outras centenas de clientes dos mais variados setores — como empresas construtoras, hospitais, hotéis, bancos, supermercados, shopping centers, atividades comerciais e industriais — foram atendidas pela Consulpac, dotada de um Laboratório Portátil com modernos equipamentos, entre os quais medidores de ruídos, de níveis de iluminação, de fugas de corrente, aterramento de para-raios e outros. 

Destacou-se ainda pelo lançamento de um dispositivo —  o protetor da serra circular —, que elimina a maioria dos acidentes com aquela ferramenta. Outras contribuições suas foram os livros Instruções Programadas de Segurança para Construção Civil e Legislação e Normas de Segurança contra Incêndio e Pânico, ao lado dos trabalho sobre "Custo de Acidentes, uma Problemática Nacional" e "Laudo Pericial do Edifício Joelma"

Promoveu ainda o fornecimento das "Instruções Programadas de Segurança" para encarregados de obras e de todas as atividades de risco, tendo sido de sua iniciativa a implantação e assessoramento das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (Cipas). 

É autor da Estória de Pedro Pedreiro (história em quadrinhos sobre segurança em obras, publicada pelo governo paulista). Em 2003 tornou-se mestre em Letras pela Faculdade de Filosofia da USP. Aposentado, continua prestando consultoria na área de engenharia.

Conclusão


O episódio da tragédia no Edifício Joelma está prestes a completar 47 anos, mas ainda hoje muitos outros acidentes e incêndios ocorrem devido a problemas nas instalações elétricas.

O ar-condicionado é um equipamento que necessita de reparos técnicos, tanto na sua instalação quanto na manutenção. 

Trata-se de um equipamento complexo e que possui um alto custo e, sem os cuidados adequados, podem representar sérios problemas. Pode acontecer de um aparelho de ar-condicionado vir com defeito de fabricação, mas é na instalação e nas manutenções que a maior parte dos acidentes ocorrem.

Hoje renomeado como Edifício Praça da Bandeira, o prédio ainda carrega os fantasmas do incêndio de 1974 — o local é até considerado "mal assombrado", pelo imaginário popular. Sempre presente em listas e em programas sobre as maiores tragédias da história do Brasil, o Edifício Praça da Bandeira detém uma das histórias mais macabras de São Paulo.

  • A história da tragédia no Edifício Joelma, foi retratada no filme de temática espírita, "Joelma, 23° Andar"
Lançado em 1980, o longa foi protoganizado pela atriz Beth Goulart e o roteiro foi baseado no livro "Somos Seis", psiqcografado pelo médium Chico Xavier ([1910/2002] que fez uma participação especial como ele mesmo).


A Deus toda glória.
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