Eu não sou muito chegado em filmes de animação. Não tenho muita paciência. Já vi pouquíssimos, inclusive, dentre eles, destaco o clássico "Bernardo e Bianca" (Wolfgang Reitherman ["Aristogatos", 1970; "Robin Hood", 1973] — ✩1909/✞1985), John Lounsbery ["A Espada era a Lei", 1963; "Puff, o Ursinho Guloso", 1977] — ✩1911/✞1976, Art Stevens ["O Cão e a Raposa", 1981; "O Caldeirão Mágico", 1985] — ✩1915/✞2007); EUA; Walt Disney, 1977).
Por isso, quando recebi a indicação desse longa, confesso que dei uma torcida de nariz. Não lá muita questão de ir logo assistindo. Guardei-o na manga e, um dia, quando estava sem nada para fazer, arrisquei em, enfim, aceitar a indicação feita por um amigo. Fui positivamente surpreendido. Saiba porque.
Decifrando emoções
São universais e comuns a todas as culturas. As suas manifestações também têm padrões de comportamento semelhantes em todos os indivíduos. O filme "Divertida Mente" retrata sobre cinco emoções dentro do ser humano. Com ele, podemos compreender de que forma a raiva, a alegria, o medo, a tristeza e o nojo agem no nosso comportamento.
Mais que um filme de animação
A ciência e a animação juntas! Para os neuropsicólogos — Neuropsicologia é um ramo da psicologia clínica que estuda como o cérebro e o sistema nervoso afetam a forma como funcionamos diariamente — é um prato cheio de assunto.
Na neuropsicologia, estuda-se que transtornos de personalidade são formados no início na idade adulta, sendo fundamental o curso e o desenvolvimento de comportamentos durante a infância, sejam estimulados ou corrigidos.
Começamos então do início de tudo, onde a torre de comando tem apenas um botão e um sentimento, indicando que no início da vida há poucos circuitos neurais, com uma gama menor de funções cognitivas e a personagem dona das emoções é apenas um bebê.
Mas com o passar do tempo as conexões aumentam entre as diferentes estruturas cerebrais. A sala de comando fica mais cheia, e o painel de controle maior e cheio de botões, afinal Raley já tem onze anos.
Além da Alegria e da Tristeza, na torre de comando estão o Medo (que manda bem no quesito segurança), a Raiva (que odeia injustiças) e Nojinho (que impede que Raley se intoxique socialmente e fisicamente).
Sobre o filme
A narrativa decorre através da história da Riley. Uma personagem que acompanhamos o desenvolvimento do nascimento, a fase de criança à adolescência.
Riley é uma garota de onze anos que frequenta a escola, mora com seus pais, possui amigos. No entanto, surge uma mudança em sua vida.
Devido ao trabalho do pai, a família precisa mudar de cidade e, consequentemente, de escola, afastamento de amigos e troca de escola. Tudo isso pode parecer ser simples, mas não para Riley e suas emoções.
As emoções no filme
O filme "Divertida Mente" representa a relação de cérebro e mente de uma forma lúdica e compreensível.
Nele, as cinco principais emoções que "Divertida Mente" relata são raiva, medo, alegria, tristeza e o nojo. Todas elas ficam numa sala de controle que num primeiro momento começa de um modo bem simples.
Ao abrir os olhos, ainda quando bebê, a sala de controle tem apenas um botão. Ao longo do crescimento, o local fica mais complexo, mais opções de botões, criações e armazenamento de memórias, entre outros.
Todos juntos auxiliam a controlar os estados de espírito de Riley através da sala de controle. Muitas vezes, gerando, até mesmo, conflito para quem está no comando naquele momento.
Portanto, desde o nascimento, é possível observarmos como as emoções agem em nossos aprendizados, tomar decisões importantes e, até mesmo, determinar nossos gostos.
Formação da Personalidade
As Ilhas da Personalidade, são formadas através das Memórias Base.
As "ilhas da Raley", são cinco: Ilha da família — relação dela com os pais; Ilha da amizade — relacionamento de cumplicidade e afinidade da personagem com outras crianças; Ilha da Honestidade — o que a criança aprende mais as regras impostas em relação a comportamento; Ilha da Bobeira — parte fundamental para o desenvolvimento infantil, o brincar; Ilha do hóquei — faz parte das raízes culturais da personagem, do lugar de onde ela vem.
Então Raley, até aquele momento é uma menina que tem uma boa base familiar, com pais que se relacionam de forma harmoniosa, com amigos e vínculos importantes, onde ela se diverte e tem companhia para fazer coisas de criança.
Seus pais a ensinaram a sempre dizer a verdade, e não tentar passar a perna nos outros. Tem a parte da fantasia, da imaginação e da brincadeira e é uma legítima cidadã de Minesota, onde os esportes são adaptativos para o clima frio. Esses são os principais valores da Raley, e o que fazem dela quem ela é.
A questão importante é a idade da personagem, com onze anos suas emoções são imaturas, despreparadas e acham que o principal de tudo é sempre sentir-se feliz (até os onze anos até pode dar certo).
Passagem para a adolescência
Na animação, acompanhamos que o pai da Raley é transferido de cidade por conta do trabalho. Quando chegam a casa nova, há muitas frustrações e especialistas afirmam que crianças não estão preparadas para frustrações e quando acontecem, elas tendem a agir de forma exagerada e impulsiva (predomina a Raiva, que no desenho tem a ideia de fugir de casa e voltar para Minesota). Cabe aos adultos que são responsáveis pela educação dessa criança fazerem ela entender o momento que está vivendo.
Se frustrar é importante e faz parte do desenvolvimento da vida. Sabemos que crianças que não se frustram, podem se tornar adolescentes com busca de fuga da realidade (vícios e adrenalina).
Aliás, um ponto bastante importante a se observar é que os roteiristas do texto fazem uma metáfora com a mudança de casa e de cidade, com o momento de transição da infância para adolescência, pois é como se essa mudança de fase fosse exatamente isso.
Nessa fase da vida geralmente a criança passa a lidar mais de perto com mudanças de comportamento, confusões de sentimentos e questionamento de valores. No filme, as ilhas da personalidade sofrem grandes desmoronamentos e algumas ficam por um fio.
A importância da memória
Há quem seja mais detalhista e já tenha percebido que as memórias são representadas por esferas coloridas com as cores correspondentes às emoções dominantes no momento, e por isso a Alegria fica tão preocupada em não deixar a Tristeza tocá-las.
Ou seja, as emoções é que dão a importância das memórias, assim assimilando para o cérebro o que deve ser guardado, como e onde. Toda vez que acessamos uma memória, os estados emocionais do indivíduo podem alterar a memória reescrevendo o seu conteúdo, como por exemplo as lembranças da família em Minesota eram alegres (amarela), mas se tornaram tristes (azul), após a família ter se mudado (cena em que Raley está se apresentando na nova escola e começa a chorar), pois é basicamente dessa forma que assimilamos nossas memórias, há aquelas que são alegres, as que são tristes, as de um momento inesquecível de raiva e cada vez que acessamos esse memória acessamos também a emoção que está ligada a ela.
Os mesmos especialistas afirmam que são as memórias bases que formam a personalidade e ainda é possível observar a memória de trabalho sendo colocada em prática quando Raley chega a seu novo quarto vazio e imagina como ele poderá ficar no futuro.
Quando a personagem adormece, as informações vividas no dia, ou seja, memória de curto prazo, são enviadas pelo hipocampo para se tornarem parte da memória de longo prazo. Mas que se não são acessadas ou exercitadas acabam sendo esquecidas (cena dos operários com tubos aspirantes), mas alguma coisa ainda pode restar, como por exemplo no momento em aspiram quatro anos de aulas de piano, mas deixam uma música.
Crescemos nas dificuldades
Após passar por muitas coisas, Raley supera o momento difícil da mudança de cidade, contando com o apoio dos pais, a partir do momento em que ela assume o que sente chorando e abraçando os pais, após se arrepender de ter fugido de casa.
Percebemos o crescimento da personagem, pois a torre de comando recebe um novo painel, com novos botões. Suas ilhas da personalidade também crescem e temos temas compatíveis ao de uma adolescente, sem perder as antigas que foram recuperadas. As esferas das memórias agora têm mais de 1 cor, demonstrando crescimento e melhor regulação das emoções.
Raley também aprende que não é possível ser feliz o tempo todo e que todas as emoções tem sua importância, essa questão poder ser vista na cena em que a Alegria descobre que a memória que tinha armazenado de um momento feliz só aconteceu devido a uma situações que deixou a personagem triste antes.
O que aprendi sobre emoções assistindo "Divertida Mente"
Durante diversos estágios da vida, acompanhamos o cérebro e mente da Raley interligados. Acompanhando as oposições e convergências das emoções, que a auxiliam a tomar decisões importantes.
Podemos notar que as decisões tomadas em determinados momentos, irão dar o tom emocional básico para o restante da vida. Assim como, muitas de nossas memórias são fixadas através das emoções.
É possível compreender os papéis fundamentais de todas as emoções para nossa vida.
1) É preciso perceber as emoções — Ninguém consegue compreender, controlar e muito menos gerenciar aquilo que não se identifica. E é muito onde as pessoas tropeçam. Embora simples, quanto mais sutil é a emoção, mais difícil é de percebê-la. Entretanto, o que mais importa é que elas sempre estarão presentes e exercendo influências sobre nós.
Podemos comparar as emoções com uma bola de neve. Quando começam são pequenas, quase imperceptíveis, mas conforme "descem morro abaixo", crescem até tomar proporções incontroláveis. Afinal, foi isso que fez com que a Raley se desligasse e terminasse com alguns dos "mundos basilares" que havia dentro dela, como a família, paixão pelo esporte, etc.
2) Se sentir triste é importante — No filme, a emoção tristeza é pouco compreendida e quase sempre deixada de lado. Tudo isso, porque as demais emoções não entendem sua importância.
Ocorre que muitas pessoas pensam que por não estar alegre, possuem menos valor. O que não é uma verdade. A verdade é que a tristeza assim com as outras emoções é fundamental.
Se formos analisar, talvez no momento que Riley se emociona na escola ao se apresentar, se ela tivesse a chance de vivenciar a tristeza naquele momento (a alegria tira a tristeza do centro de controle), a jornada teria sido diferente. Por isso, se sentir triste, deixar a tristeza vir quando for preciso é sim capaz de trazer benefícios.
Afinal, ela nos auxilia na introspecção e nos faz refletirmos sobre nossas próprias vivências ao fazer a limpeza das mágoas e aliviar tensões. Além de, se colocar no lugar do outro, ter compaixão e humildade.
3) Medo é sinônimo de proteção — No filme, a emoção alegria sente medo de se sentir triste. O que é muito curioso. Mas, a verdade é que o medo é uma emoção que possui como intenção positiva a proteção. Pensando em uma situação mais extrema, quando éramos primitivos, onde naquela época avistasse de longe um animal perigoso.
O medo seria o primeiro indicativo para você não se aproximar e manter-se em segurança. Evidentemente, que no tempo atual, o medo existe em nós. Entretanto, não nessa perspectiva que exemplificamos.
O nosso medo nos comunica inconscientemente que devemos estar em alerta e, até mesmo, recuar em determinada situação. Com isso, nos protegendo de possíveis riscos. Mas, na sua perspectiva negativa pode gerar insegurança e inércia.
4) A alegria é essencial — O filme deixa claro que somos pessoas cíclicas. Passamos por diversas emoções no mesmo dia e está tudo bem. Dessa forma, a alegria pode ir e voltar.
A emoção alegria é muito potencializadora. Acaba, por nos deixar capazes de vivenciar o prazer, entusiasmo, excitação e motivação. Mas, não somente sobre nós mesmos, a alegria transforma. Pois, contagia as demais pessoas e ambientes. Contudo, em excesso pode gerar vícios e processos depressivos.
5) A raiva possui potencial positivo — A grande maioria de nós pensa que a raiva é somente algo negativo. Que não há vantagens em sentir raiva. Mas, em realidade, é uma emoção de impulsionamento.
Um exemplo, é quando sentimos a injustiça, ela é um sentimento que deriva da raiva. Sendo uma das energias mais poderosas que existem. Entretanto, muitas vezes é utilizada contra outros ou contra si próprio. Seu aspecto negativo se reflete na impulsividade.
6) O nojo funciona como prevenção — O filme apresenta a personagem Nojinho e sua função, explicando que ela impede que a Riley se intoxique física e socialmente.
Entendemos o nojo como uma sensação, podendo vir da combinação do medo e da tristeza. Inconscientemente te protege daquilo que pode vir a te fazer mal, como uma preventiva.
7) Das emoções surgem as sub-emoções — Você deve estar pensando nesse momento: "eu sinto mais emoções do que somente essas!" Na verdade, realmente emoções são apenas essas. O que surgem delas são as sub-emoções e sensações…
Conclusão
Uma das principais lições do filme é a possibilidade de compreender que, absolutamente, todas as emoções são importantes.
Até mesmo, as que categorizamos como "ruins", possuem o lado positivo.
A raiva pode nos impulsionar, demonstrar força contra injustiças. A alegria, capacidade para bons relacionamentos (inclusive com nós mesmos). O medo ajuda a nos manter em segurança. O nojo também auxilia na nossa proteção (como de comer algo estragado, por exemplo).
A animação "Divertida Mente", não decepciona, pelo contrário nos encanta e surpreende e ainda passa mensagens de esperança e afeto de uma forma lúdica que faz tudo parecer mágico e divertido.
Por fim, vale muito a pena investir algumas horas para assistir essa fantástica animação e entender como funcionam nossas emoções e como se forma nossa personalidade. Assista o filme e certamente fará descobertas sobre as suas, as nossas emoções.
Ficha Técnica
- "Inside Out", EUA
- Data de Lançamento: 18 de junho de 2015 (Brasil)
- Diretor: Pete Docter
- Música: Michael Giacchino
- História: Pete Docter; Ronnie del Carmen
- Gênero: animação; infantil; aventura; família; comédia dramática
[Fonte: IBN Coaching Instituto Brasileiro de Neurolinguística e Coaching, por Daniela Palermo]
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E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. Não confuda avanço na vacinação e flexibilização com o fim da pandemia
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