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quinta-feira, 14 de outubro de 2021

A BÍBLIA COMO ELA É — AFINAL, HÁ CONTROVÉRSIA ENTRE MATEUS 26:51-53 E LUCAS 22:35-37?

"Em seguida, Jesus os inquiriu: 'Quando Eu vos enviei sem bolsa, mochila de viagem e outro par de sandálias, sentistes falta de algo?' Ao que eles prontamente replicaram: 'De nada!' Então, Jesus os adverte: 'Agora, porém, quem tem bolsa, pegue-a, assim como a mochila de viagem; e quem não tem espada, venda a própria capa e compre uma. Pois vos asseguro que é necessário que se cumpra em mim o que está escrito: "E Ele foi contado com os transgressores". Sim, o que está escrito a meu respeito está para se cumprir'" (Lucas 22:35-37 — grifo meu).

"E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha. Então Jesus disse-lhe: 'Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão. Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?'" (Mateus 26:51-53 — grifo meu).
Retornando à série especial de artigos A Bíblia Como Ela É, trago um assunto que é um dos muitos que os inimigos da Palavra de Deus, aqueles tais que vivem na inglória tentativa de invalidar sua veracidade e sua infalibilidade, usam para basear seus frágeis e, portanto, facilmente derrubados argumentos. Não é preciso nem uma profunda exegese para fazê-lo, basta uma análise de contextos e uso de um mínimo da inteligência.

Qual deve ser a postura do cristão em um cenário de violência?


A repercussão do caso Henry Borel — um menino de somente quatro anos, que faleceu em 8 de março, vítima de agressões supostamente realizadas pelo padrasto, com o conhecimento da própria mãe — trouxe de volta a discussão para crimes cometidos contra crianças.

Infelizmente, o caso de Henry não é exceção, já que no Brasil o homicídio de crianças e adolescentes tem números alarmantes. De acordo com dados de uma recente pesquisa realizada pela UNICEF, todos os dias, 32 crianças e adolescentes morrem assassinados no país.

Em fevereiro de 2007, um caso envolvendo a morte de uma criança em circunstâncias trágicas chocou o Brasil mais uma vez. Trata-se do menino João Hélio, na época com seis anos de idade. O garotinho foi vítima fatal de um assalto que terminou de forma cruel (Escrevi artigo especial sobre este caso ➫ aqui.).

Na noite de 13 de agosto de 2015, São Paulo viu acontecer a maior chacina da história do estado. O pior de tudo, todavia, é que os autores do banho de sangue, embora naquele momento à paisana e usando máscaras para esconder suas identidades, tinham como profissão justamente proteger a população do crime. Sim, isso mesmo, nesse obscuro episódio paulistano os criminosos eram os policiais.

Foi um ato de retaliação: alguns dias antes, tanto um policial militar, quanto um guarda civil metropolitano haviam sido assassinados. Coincidentemente, ainda que em momentos distintos, ambos morreram após reagirem a um assalto.

Como aconteceu o massacre


Munidos de armas de fogo e do mais puro desejo de vingança, um pequeno grupo de oficiais se dirigiu aos municípios de Osasco e de Barueri, na região metropolitana de São Paulo, e começaram um massacre. Durou duas horas. Foi o suficiente para fazer 17 vítimas fatais e ferir outras 7.

Vale ressaltar ainda que, alguns dias antes, havia ocorrido o que ficou conhecido depois como uma "pré-chacina". Isso é, no dia 8 de agosto, o mesmo grupo de agentes de segurança teria assassinado mais 6 pessoas.

Segundo divulgado pelo portal de notícias G1 uma semana após o terrível acontecimento, 
"em pelo menos um dos ataques, as vítimas foram enfileiradas, os criminosos perguntavam se as pessoas tinham antecedentes criminais e, depois, atiravam à queima roupa".
A chocante história da chacina de Osasco logo ganhou repercussão internacional. Segundo divulgado pelo jornal O Globo em 2018, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) chegou a exigir das autoridades brasileiras um maior esclarecimento em relação ao caso.

Em ambos os casos, todos os envolvidos nos respectivos crimes, foram julgados, condenados e cumprem penas.

Histórias reais como essas, carregadas de violência e que espalham o terror e a insegurança, são imensas e encontram-se espalhadas pelo mundo. Ondas de violência estão presentes pelo mundo, desde ataques terroristas, guerras, às elevadas taxas de homicídios na América Latina (25 em 100.000 pessoas são assassinadas por ano).

Diante de tanta violência, o medo cresce e a insegurança também. Paz, proteção, segurança, justiça são desejos profundos de qualquer ser humano, mais ainda do cristão. Por isso, certos temas começam a ser desenterrados por parte de quem deseja que atitudes concretas sejam tomadas para que haja mais proteção e paz, para que nações sejam protegidas de ataques exteriores e para que maior segurança seja encontrada nos lares, ruas e estabelecimentos públicos.

Pretende-se, neste artigo, abordar assuntos que na sociedade em geral, e nas igrejas evangélicas, têm estado enterrados e que se tornaram tabu. É imperativo, no entanto, que o cristão tenha uma perspetiva bíblica desses mesmos assuntos. Ou seja, fingir que nada está acontecendo não é a solução e nem o caminho. O fato é que, por mais cristã que uma pessoa seja, se ela tiver um mínimo de sensibilidade, é impossível não sentir indignação — sim, e até mesmo revolta — diante de tanta violência.

Neste sentido procurar-se-á perceber como o cristão, que se vê confrontado com todo este terror e que valoriza conceitos como paz, amor, justiça e dignidade humana, deve pensar, à luz da Bíblia, sobre o papel do governo civil, a guerra, a pena de morte, as orações imprecatórias (orações com pedidos de vingança contra os inimigos) e a auto-defesa. Daí nos veem os questionamentos: O cristão pode fazer uso de orações imprecatórias? Porte de arma não faz aumentar a criminalidade? Pena de morte não estava só em vigor no Antigo Testamento? O cristão pode envolver-se numa guerra do seu país? Estas e outras questões, que geralmente são levantadas, serão tratadas, de forma introdutória, no presente artigo.

O "DILEMA DAS ESPADAS"


Estas palavras de suave repreensão foram ditas pelo Senhor Jesus a Seu discípulo, Pedro, logo após Judas ter traído o Mestre. Pedro tinha acabado de sacar sua espada com a qual cortou a orelha de um servo do sumo sacerdote, quando Jesus disse-lhe:
"Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão" (Mateus 26:52; João 18:11).
O Senhor deixou bem claro que Ele não desejava que Seus discípulos se levantassem em defesa dEle, independente de quais fossem suas boas intenções.

Mas o que pode não ser tão claro para os cristãos é este comentário enigmático do Senhor Jesus, encontrado apenas no evangelho de Mateus, no qual Ele parece estabelecer uma relação de causa e efeito entre usar uma arma letal e sofrer a morte por sua instrumentalidade. Que lição Ele quer ensinar a Pedro e, por extensão, a todos os Seus discípulos ao longo dos séculos?

Creio que podemos descartar um par de possíveis significados dessas palavras tomadas pelo seu valor nominal. Quando Jesus disse 
"...todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão..." (Mt 26:52), 
parece óbvio que Ele não quis dizer que a declaração fosse no sentido mais literal, pois milhões já tomaram da espada e outras armas e viveram uma vida longa, morrendo mais tarde de morte natural. 

Por outro lado, muitos cristãos que recusaram se defender usando força letal, ou que tiveram objecção de consciência para empunhar a espada em guerras contra potências estrangeiras, sofreram mortes violentas por causa de sua fé e de sua posição em prol da verdade da Palavra de Deus . 

Para confirmar isso basta apenas observar a morte violenta de Jim Elliot aos 28 anos e de seus compatriotas em 1956, os quais poderiam ter facilmente eliminado seus assassinos, índios Auca, usando as armas que tinham, mas optaram por não "tomarem a espada" em defesa própria (escrevi artigo especial sobre este caso ➫ aqui).

No entanto, estaríamos manuseando descuidadamente as Escrituras se minimizássemos ou passássemos por cima desta palavra do Senhor por ela não poder ser tomada literalmente. Ele nunca disse uma palavra vã, nem uma frase que possamos nos dar ao luxo de tratar levianamente. 

Você e eu poderíamos ter dito algo parecido com a melhor das intenções durante um momento de aprendizado como aquele, mas depois, quando colocados sob pressão, não sermos capazes de justificar de forma coerente nossa declaração precipitada. 

Não é assim com o Senhor Jesus; Suas palavras eram cheias de significado, e Ele deixou que seus discípulos procurassem esse significado. 
"A glória de Deus está nas coisas encobertas; mas a honra dos reis, está em descobri-las" (Provérbios 25:2).
Considere isto: Quando alguém empunha uma arma acaba se prontificando a recorrer à violência, ou talvez mais particularmente, acaba assumindo a responsabilidade de recorrer a meios violentos para obter um fim desejado, seja ele egoísta ou altruísta em sua natureza. 

Muitos têm admirado os métodos do Dr. Martin Luther King, Jr. (escrevi artigo especial sobre ele ➫ aqui) e de Mahatma Ghandi (escrevi artigo especial sobre ele aqui ➫ aqui), dois homens que defendiam o ideal de resistência não-violenta contra a opressão (embora devemos notar que tomar essa posição não-violenta não salvou nem Martin Luther King  e nem Ghandi de mortes violentas nas mãos de assassinos). 

Eles adotaram a posição da não-violência e colheram uma recompensa por isso, em termos de seus legados entre os seus povos, e em termos da admiração que grande parte do resto do mundo ainda nutre por eles. 
"Eles já receberam o seu galardão" (Mt 6:2).
Então que posição um cristão deveria adotar? Parece claro que o Senhor procurou incutir em seus discípulos que adotar uma posição não-violenta é o caminho moralmente mais elevado, e que, ao usar de armas carnais contra contra um mal o crente acabará no caminho moralmente baixo, onde a morte prevalece e aprovação do Senhor deixa de existir.

Conclusão


Portanto, em uma análise contextual, as palavras de Cristo em Lucas 22:35-37 não devem ser entendidas literalmente, de que Ele gostaria que seus discípulos se munissem de qualquer quantidade de espadas, uma vez que Ele jamais teria dito, como Ele o fez depois, que duas seriam suficientes, o que não seria de fato para onze homens; ou teria proibido Pedro de se utilizar de uma, como Ele fez pouco depois, em Mateus 26:51-53.

Assim, o sentido é que, onde quer quer estivessem e onde houvesse uma oportunidade para pregar o Evangelho, eles encontrariam muitos adversários, e poderosos, e haveria grande violência seguida de ódio e perseguição; tanta que lhes pareceria necessário precisar de espadas para que se defendessem: a frase expressa assim o perigo a que eles seriam expostos e a necessidade de proteção; e, portanto, seria errado para eles [os apóstolos] brigarem e discutirem sobre superioridade assim como procurar ou esperar algum tipo de pompa ou circunstância temporal no momento desta condição lastimável, aflitiva e de grandes privações; e eles logo perceberiam que a fonte deste desespero e aflição seriam eles mesmos.

Jesus censurou muito clara e enfaticamente a Pedro por fazer uso da espada (Mt 26:52). O fato de Jesus ter mandado seus discípulos se proverem de espadas é uma clara noção de que mesmo que o cristão tenha o poder, recursos e motivos para fazer o mal, não deve fazê-lo.

Por fim, deixemos que a Bíblia fale por si e quem tiver ouvidos ouça o que o Espírito diz à Igreja, ou tome suas próprias decisões, mas, assumindo as consequências advindas delas e não tentando "colocar a culpa em Deus":
"Ouvistes que foi dito: 'Olho por olho, e dente por dente'. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes. 
Ouvistes que foi dito: 'Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo'. Eu, porém, vos digo: 'Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; 
Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? 
Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?'" (Mt 5:38-47 — grifos meus).
"Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo (2 Coríntios 10:4,5 — grifo meu).
A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.

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