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sábado, 30 de outubro de 2021

CANÇÕES ETERNAS CANÇÕES — "FLORES", TITÃS

Essa conhecida canção, um dos grandes hits da soberba safra do rock nacional da década de 1980, é, sem dúvida, um dos grandes sucessos na carreira da icônica banda Titãs. Apesar de um ritmo bem animado e uma letra poética, a música dá margem para várias interpretações diferentes e sensíveis.

Por trazer em seu título algo muito bonito e que representa a vida, o significado de 'Flores' pode assustar algumas pessoas. Existem inúmeras interpretações que podemos perceber em 'Flores', mas, sem dúvidas, existem duas delas que se destacam mais: a teoria de que a música se trata sobre suicídio e que ela poderia estar sendo cantada pela própria pessoa, já falecida.

Assim, em meio a tantas frustrações e momentos difíceis, o personagem-narrador chega ao extremo e conta a situação na sua perspectiva dos acontecimentos. Embora muitos fãs também consigam fazer uma interpretação com inúmeras lições sobre o mundo e até algumas relações interpessoais nessa música, para outros o real significado é sim este sensível e mórbido. Entretanto, no texto desse artigo, eu vou fazer uma outra interpretação, que não vai tão ao lógico do que a letra possa sugerir.

Sobre a banda


Essa é a formação original, da época do lançamento da música. Em cima, da esquerda para a direita: Branco Mello, Tony Belloto, Sérgio Britto, Nando Reis, Paulo Miklos. Em baixo: da direita para a esquerda: Charles Gavin, Arnaldo Antunes e Marcelo Fromer (✰1961/✞2001)
Banda paulista formada em 1982, o Titãs é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes nomes do rock nacional. Foi palco do descobrimento de artistas talentosíssimos e super importantes para música brasileira que, depois de sua passagem pela banda, resolveram seguir carreira solo — Arnaldo Antunes, Paulo Miklos, Charles Gavin e Nando Reis.

Atualmente a banda é composta por Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto e ainda é considerada uma das maiores bandas de rock nacional da história do Brasil.

Suas letras poéticas e profundas renderam mais  de quatro décadas de carreira sólida com inúmeros sucessos como 'Flores'. O Titãs tem várias músicas profundas e interessantes. Suas letras cativam seus fãs há mais de quatro décadas. Muitas delas são marcantes e muitas até mesmo polêmicas, com explícita mensagem de protesto e crítica social, como 'Polícia', 'Bichos Escrotos', 'Desordem' e 'Homem Primata', por exemplo, todas, sucessos absolutos. 

Vamos à letra de 'Flores'.

'Flores' — Titãs

Composição: Arnaldo Antunes, Paulo Miklos, Sérgio Britto, Tony Belloto e Charles Gavin; Álbum: "Õ Blésq Blom", WEA, 1989


Com sua letra poética e o inesquecível saxofone de Paulo Miklos, a canção foi um sucesso imediato e também voltou a ser destaque em sua versão feita para o Acústico MTV, com a participação mais do que especial de Marisa Monte.


Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
As flores que estão no canteiro
Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo
 
A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores têm cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
Flores...
Flores...
As flores de plástico não morrem
 
Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
As flores que estão no canteiro
Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo
 
A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores têm cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
Flores...
Flores...
As flores de plástico não morrem
Flores...
Flores...
As flores de plástico não morrem


Minha análise


Andei pesquisando sobre a letra dessa música, e percebi que muita gente a interpreta de um modo que eu considero ousado demais. Muitos acham que o "eu lírico" (a narrativa) dessa canção é uma pessoa morta, um suicida — o que torna essa interpretação ainda mais dramática —, que enxerga as flores que são colocadas acima de seu caixão, no seu velório. Muitos religiosos diriam que se trata de uma apologia ao suicidio e que, portanto, não deve ser cantada por um cristão. Mas eu, o que não é novidade, discordo de tudo isso.

Essa teoria é muito literal, muito óbvia, até, eu diria e essa música tem muito mais poesia do que muita gente pensa. Mas, então, que significado teria ao certo essa canção?

Comecemos pelo título. Por que o título dessa música é 'Flores'? O título dessa canção é 'Flores' porque trata de flores — uma temática bem presente nas composições dos anos 80. E o que são flores? Flores são frágeis, se despedaçam, se despetalam, secam.

Ora, quem poderia ser tão frágil quanto uma flor? Por mais absurdo que pareça ser, o único ser vivo que apresenta a fragilidade das flores é o ser humano, sentimentalmente falando.

A representação da flor na música dos anos 80


As representações do símbolo "flor" criadas pelo movimento roqueiro dos anos 80 trouxeram uma série de significados, a partir dos quais emergiram conflitos, dilemas, aceitações e recrudescimentos, que envolveram os agentes históricos em um diálogo constante com o mundo ao seu redor.

Oscilações, frustrações, estranhezas, asperezas, tristezas e alegrias foram representadas nas canções que possuem em seu cerne a flor — 'Flores em Você!' - Ira, 'Codinome Beija-flor' - Cazuza... —, o que levou à necessidade de utilizar tal simbologia não como objeto fechado, calculado e racionalizado. Destarte, os agentes históricos captaram tal símbolo e utilizaram-no para reproduzir seu momento pessoal e subjetivo frente às experiências que foram possibilitadas.

Portanto, a música 'Flores' não trata de flores em si, mas de algo parecido com as flores, as pessoas. E entender isso é o primeiro passo para entender o significado de 'Flores'.

A subjetividade sugerida


Por serem tão frágeis, nem sempre é fácil lidar com as pessoas. Certas vezes, acabamos magoando quem não merecia. Outras vezes, acabamos magoados. E é esse o questionamento principal do "eu lírico". Por que é tão difícil conviver com as pessoas sem magoá-las ou ser magoado? 

Então, ele olha-se no espelho até cansar, buscando uma resposta. E chora por ter "despedaçado" as pessoas mais próximas a si. E, mais do que chorar por ter machucado as pessoas mais próximas a si, o "eu lírico" ainda sofre por também estar machucado por inteiro.

É difícil conviver com elas, mas as pessoas estão por todo o lado. Abaixo de nós, acima de nós, em tudo que vemos, em tudo que fazemos, em tudo que sentimos há a atividade humana. E o que fazer?

Não há nada a fazer. Apenas podemos esperar e deixar que a mágoa decorrente de nossos relacionamentos fracassados nos corroam. Podemos apenas esperar que a dor cure tudo isso porque, e todos já devem saber, não existe uma cura médica para isso.

O que o "eu lírico" dessa canção talvez não tenha entendido é que é normal nos magoarmos em nossos relacionamentos, nos machucarmos e machucar as pessoas. Para o "eu lírico", pessoas já não são sinônimo de entusiasmo, são sinônimo de morte, visto que todas acabarão morrendo.

E quando o "eu lírico" fala que 
"...as flores de plástico não morrem..." 
podemos entender que ele acredita que tudo seria mais fácil se as pessoas fossem robôs, que não sofreriam, que não se machucariam, que não feririam os sentimentos dos outros, que, como flores de plástico, não morreriam.

Veja bem, essas são apenas algumas reflexões que fiz sobre a canção 'Flores', do Titãs, mas talvez a dor que o "eu lírico" sente seja mais do que o arrependimento de ter machucado alguém. Talvez esta dor seja a dor de ter perdido alguém, literalmente por meio da morte, a quem ele machucou. 

E talvez seja por medo de machucar outro alguém e perdê-lo que ele repete que
"...as flores de plástico não morrem...",
como se ele mesmo soubesse que fará muito mal a quem conviver consigo.

Acho que paro por aqui, antes de mudar mais uma vez a minha interpretação dessa música e sugerir que o "eu lírico" é um psicopata emocional que acaba matando todos ao seu redor, induzindo-as ao suicídio e, com sua morbidez e insensibilidade, não apenas cedendo, mas, sendo ele próprio, com suas atitudes e palavras, as lâminas mortais com as quais terão os punhos e os pulsos cortados.

Conclusão


Finalmente, na música dos Titãs as flores surgiram como sinônimo de múltiplas experiências, reflexões, conjunções e injunções. Nessa catarse subjetiva, representaram vida, morte e sobrevida, denotando uma acepção forte. 

A solução encontrada pelo agente discursivo foi ratificar sua posição, aceitando conclusivamente as flores de plástico  — frias, imóveis e racionalizadas  —, em detrimento da submersão intensa e vulcanizada nas introspecções do próprio eu, que quase deu fim à sua própria vida. 

Se a vida só pode ser mantida associada a flores de plástico, a melodia acompanha tal paradoxo, pois, mesmo a letra relatando sobre depressão, ato suicida e finitude do ser e da vida, se manteve em um tom relativamente festivo e alegre. E as flores, de forma paradoxal e ambígua, representaram o binômio morte e vida trazido na letra.
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.

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