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sábado, 14 de agosto de 2021

FILMES QUE EU VI — 66: "PAULO, APÓSTOLO DE CRISTO"

Bom, quando eu vi este filme ser anunciado, logo fiquei interessado em vê-lo, tanto pela história em si (eu já assisti a pelo menos uns dois filmes sobre a história de Paulo), quanto também pela presença do icônico ator Jim Caviezel, que ficou marcado pelo papel de Jesus Cristo, no para mim nada mais que polêmico filme "A Paixão de Cristo" (Escrevi sobre este filme ➫ aqui).

Apesar dos pesares, esse é um filme sério, apenas para quem se interessa em assuntos bíblicos. Embora não tenha sido um dos doze apóstolos de Jesus, Paulo de Tarso passou de perseguidor dos cristãos para um fiel seguidor de Cristo.

O filme não se fixa na história de Paulo, embora ele cite alguns acontecimentos, mas sim na busca que o médico grego Lucas (Jim Caviezel) faz sobre religião e conhecimento mais profundo.

Quem foram, afinal, os apóstolos de Jesus Cristo, aqueles que o acompanharam até o último instante e ficaram responsáveis por disseminar Sua Palavra entre os homens após a crucificação? Ainda que o Evangelho aponte doze nomes — Pedro, Tiago, João, André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, um segundo Tiago, Tadeu, Simão e Judas — como a "formação original", há outros que também reivindicam essa condição.

Recentemente, como visto em "Maria Madalena" (EUA, 2018), "novas versões" das escrituras afirmam que até uma mulher pode ter feito parte do grupo. Já o diretor e roteirista Andrew Hyatt busca oferecer uma luz a um outro destes nomes em "Paulo: Apóstolo de Cristo", produção barata e feita a toque de caixa para aproveitar esse suposto renascimento do cinema religioso, mas que pouco convence diante tantas carências e debilidades que ficam em evidência mesmo frente aos olhos mais distraídos.

Quem foi Paulo?


Paulo de Tarso, o apóstolo Paulo, sem dúvida é um dos personagens bíblicos mais conhecidos por todos os cristãos. Ele é considerado como sendo o maior líder do cristianismo, autor de treze epístolas presentes na Bíblia.

Missionário, evangelista, pastor. Mestre extraordinário. Pregador eloquente. Plantador de igrejas. Estrategista e visionário. Talvez, depois de nosso Senhor Jesus Cristo, ele seja o líder mais influente em toda a história da humanidade. Acima de tudo, foi alguém que amou profundamente a Cristo em resposta ao evangelho.

Este foi o enigmático Paulo, o perseguidor que se tornou defensor da fé que o assolava. Foi usado por Deus para escrever 13 dos livros (as epístolas paulinas) do Novo Testamento e levar o evangelho às multidões. Muito foi escrito sobre esse homem. Resumir sua vida é um grande desafio. No entanto, vamos ver a seguir o mais importante a saber sobre ele.

De perseguidor a apóstolo


Paulo nasceu na cidade de Tarso da Cilícia (na atual Turquia) em uma família judia, sendo cidadão romano de nascimento. 

Acredita-se que seu pai era fariseu pertencente à tribo de Benjamim (Filipenses 3:5,6).

Seu nome, Paulo, significa "pequeno" e pode indicar que
ele era pequeno desde que nasceu. No século II, um escritor o descreveu como "um homem de estatura pequena, careca e com as pernas arqueadas, com o corpo em boas condições, sobrancelhas grossas e nariz levemente adunco, cheio de cordialidade; num momento parecia um homem e logo tinha o rosto de um anjo".
Seu nome hebraico era Saulo, semelhante ao proeminente rei Saul na história judaica. Sim, ao contrário do que muitos acreditam, Deus não mudou o nome de Saulo para Paulo.

Paulo provavelmente estudou na universidade mais conceituada da época, localizada em sua cidade natal, e depois foi aluno de Gamaliel, um destacado mestre do grupo dos fariseus em Jerusalém (Atos 5:13). Acredita-se que Paulo sabia do surgimento do novo grupo dos "nazarenos" quando ele já havia terminado sua preparação como fariseu. Isso teria acontecido depois de ir para sua cidade natal e depois retornar a Jerusalém após a morte do Senhor.

Após o Pentecostes, a influência do cristianismo se espalhou por Jerusalém. O poderoso testemunho de Estevão (At 7) e de outros crentes teve tanto impacto que levou à perturbação das autoridades religiosas judaicas. Isso provocou perseguição contra a igreja, da qual Paulo participou. Lucas relata que 
"Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere" (8:3). 
Seu zelo pela lei e a paixão por preservar a pureza do judaísmo o levaram a ser um inimigo do cristianismo.

Foi nesse estado de agitação que ele foi para Damasco:
"Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho [de Jesus Cristo], assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém" (9:1,2).
No entanto, o perseguidor não sabia que sua jornada seria divinamente interrompida:
"Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? 
Ele perguntou: 'Quem és tu, Senhor?' E a resposta foi: 'Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer'" (9.3-6).
Esse encontro fechou a porta para a perseguição que ele estava realizando e abriu a porta para um serviço exemplar a Cristo pelo resto de sua vida. O "Perseguido" salvou seu perseguidor e fez dele seu mensageiro, um apóstolo (1 Coríntios 9:1). 

A partir de então, começa na vida de Paulo uma trajetória de dedicação ao Salvador. Paulo entendeu o que significava ser um prisioneiro de Cristo.

Dominado pelo amor de Cristo


Toda a Ásia e a Europa foram preenchidas com o evangelho por meio do ministério e liderança deste homem. Como o pastor MacArthur indica, Paulo
"era único na história da redenção, responsável pela disseminação inicial da mensagem do evangelho por todo o mundo gentio."
O próprio Paulo testificou da causa de sua dedicação e trabalho duro pelo evangelho:
"Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2 Co 5:14,15).
Aqui temos um homem dominado pelo amor de Cristo. Sua experiência de salvação e de ser o objeto do amor e a graça do Filho de Deus, foi o motor de sua absoluta dedicação à causa de seu Senhor, como ele escreveu aos gálatas:
"Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gálatas 2:20).
A história nos diz que Paulo morreu quando foi executado em 66 d.C., no meio da perseguição do imperador Nero contra a igreja. No entanto, sua atitude de serviço à igreja ainda serve como estímulo e exortação para os cristãos de todas as épocas.

A extraordinária vida de Paulo em favor do evangelho, seus constantes sofrimentos devido à mensagem da cruz (2 Co 11:22-33) e sua decisão de morrer por proclamar Cristo eram um sinal do amor do apóstolo por seu Rei e Senhor. Dessa maneira, Paulo mostra para nós como é uma vida dedicada à causa de Cristo para a glória de Deus.

Você e eu, como Paulo, somos pessoas comuns. Entretanto, quando entregamos nossas vidas a Cristo, podemos ver o quão maravilhoso podem ser Seu poder, graça e bondade, ao nos usar como instrumentos para alcançar outras pessoas com o evangelho.

Sinopse


Paulo (James Faukner) é conhecido como um dos perseguidores de cristãos, mais cruel de seu tempo. Mas, tudo muda quando ele tem um encontro com o próprio Jesus e, a partir desse momento, o jovem se torna um dos apóstolos mais influentes do cristianismo.

O filme, no entanto, não se fixa na história de Paulo, embora ele cite alguns acontecimentos, mas sim na busca que o médico grego Lucas (Jim Caviezel) faz sobre religião e conhecimento mais profundo.

Tudo começa com a prisão de Paulo pelos romanos. E é lá, nos porões escuros e úmidos, que Lucas se reunirá com ele e escreverá todos os ensinamentos deixados antes de sua morte por decapitação. Paulo de Tarso foi por muito tempo perseguidor de Cristo e de seus seguidores. Matava cristãos impiedosamente, fossem eles, crianças, mulheres ou idosos. Até o dia em que Cristo cruzou seu caminho e ele soube o que era amor.

A partir desse momento, se converteu ao cristianismo, passou a ser perseguido pelos romanos, foi acusado por Nero de ter incendiado Roma, preso e condenado à morte. Numa época em que outros cristãos também eram mortos em jogos para o povo, onde leões eram soltos para caçarem humanos na arena.

Jim Caviezel


Quem acaba se revelando o verdadeiro protagonista da história é Lucas, aquele que chega a Roma para reencontrar Paulo e se propõe a escrever sua história, visando com isso eternizar sua vida e obra. 

A escolha de Jim Caviezel para esse papel é tão arriscada quanto enganosa, pois qualquer um, ao vê-lo em destaque no cartaz, imaginará logo estar frente a uma continuação de "A Paixão de Cristo", até hoje o trabalho mais marcante do ator. 

Só que ao invés do olhar árido e sem ressalvas de Mel Gibson, que muitas vezes incorria no exagero para fazer valer uma visão mais próxima da veracidade dos fatos, Andrew Hyatt opta por percorrer caminho oposto, amenizando os confrontos e investindo em um formato que nem se pode chamar de televisivo — o mais apropriado talvez fosse publicitário.

A trilha onipresente, a fotografia dourada e mesmo a composição dos figurinos, todos limpos e recém feitos, contribuem para fortalecer o artificialismo da narrativa. E melhor nem prestar muita atenção dos cabelos —  e barba —  pintados de Caviezel ou no rosto plastificado de Joanne Whalley (a ex-mulher de Val Kilmer, que busca em vão alguma dignidade como Priscilla, uma das rebeldes cristãs).

O elenco



E se Caviezel faz do seu Lucas o mesmo que já havia oferecido como Jesus Cristo há mais de uma década, a grande pergunta é: o que o levou a aceitar esse convite? 

Sua presença, no entanto, não chega a ser tão constrangedora quanto a do ex-galã Olivier Martinez (ex de Halle Berry e Kylie Minogue), cheio de rugas e cabelos brancos, como um oficial romano que, para salvar sua filha adolescente de uma doença misteriosa, acaba cedendo à prática cristã. 

Como se percebe, o filme até tenta defender um discurso de compreensão e fé, mas termina por resvalar sem muita resistência no velho exemplo de que "pimenta nos olhos dos outros é colíri". 

Ainda no campo das atuações, o veterano James Faulkner ("Game of Thrones", 2016-2017) até se esforça como Paulo, mas a composição —  uma barba gigante que praticamente cobre todo o seu rosto —  e o cenário diminuto ao qual fica limitado não lhe favorecem, restringindo o espectro de sua atuação.

Minhas considerações


Infelizmente há pouca ação e demora em algumas cenas. Mas o diretor, Andrew Hyatt, foi assertivo nas locações, figurino de época e, principalmente, na escolha do elenco.

Infelizmente os flashbacks não fazem jus à vida evangelista de Paulo de Tarso. E apenas algumas de suas citações são lembradas. Tornando, por vezes, a narrativa cansativa.

E se nada poderia ser pior, quando, finalmente, "Paulo: Apóstolo de Cristo" chega ao fim, com o que o espectador se depara? Com várias telas de texto, oferecendo nos últimos minutos as tão necessárias explicações sobre quem teria sido este homem, o que fez antes de chegar ao ponto em que o filme o encontra e como a repercussão das suas ações até hoje, de uma forma ou de outra, seguiriam ecoando. 

Tudo que deveria ter sido explorado em imagens, mas encontra espaço apenas em uma série de justificativas burocráticas e pouco inspiradas. E entre aceitar-se como peça catequizadora — como muitas das produções similares recentes — ou almejar ambições mais cinematográficas, o resultado resigna-se em ser apenas inócuo, reforçando velhos conceitos aos iniciados e nada fazendo nem mesmo no sentido de oferecer uma boa história.

É importante fazer um adendo em relação ao momento histórico no qual o filme se passa. Na Roma governada por Nero, os cristãos viviam às margens da sociedade, sob perseguição, isolados — e escondidos — em comunidades. O risco corrido por Lucas ao ir ao encontro de Paulo era enorme. Entretanto, a ênfase do filme está na transformação que a fé e o amor podem fazer na vida daqueles que se deixam tocar pelos dois sentimentos.

Paulo de Tarso é um daqueles raros seres humanos que teve uma encarnação que podemos classificar como especial. Ele conseguiu evoluir, em uma única existência, tudo aquilo que, muitas vezes, levamos muitas encarnações até conseguir. 

Para quem não conhece a história dele, o filme oferece alguns relances do que Paulo vivenciou. Primeiro, antes de se tornar apóstolo, quando era conhecido como Saulo, ele se dedicou à perseguição dos discípulos de Jesus. Foi ao vivenciar uma viagem entre Jerusalém e Damasco que Paulo passou pela grande experiência transformadora de sua vida —  teve uma visão de Jesus, ficou cego, foi curado e passou a ser um dos maiores pregadores do Cristianismo daquela época.

Uma cena em que o tema da Escritura como diálogo realmente funciona é no final. Ouvimos as palavras de Paulo a Timóteo (a voz de Faulkner combina muito bem com a figura de Paulo) em voz alta enquanto ele anda mancando em direção ao lugar de sua execução: 
"Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Que o Senhor seja o seu espírito" (2 Timóteo 4:7).
Serenamente ele reclina a cabeça e, antes de a espada pender, a câmera se move para o céu. 
"A graça seja com todos vocês".

Conclusão


O exemplo de Paulo – e da sua conversão — é de muita resiliência, força e de alguém que dedicou sua vida a obras missionárias e a difundir o amor de Jesus. 

Ele foi um líder, um influenciador e seu legado foi visto por meio das inúmeras comunidades cristãs que ele ajudou a fundar. 

Paulo, Apóstolo de Cristo é um filme que faz um tributo interessante a esta figura, ao emanar justamente tudo aquilo que ele mais propagou: o amor e o ato de oferecer sempre a outra face diante da injustiça. 

Num mundo que nos pede sempre para reagir e que prega, cada vez mais, a intolerância e o desrespeito entre os semelhantes, um exemplo como esse deve e merece ser visto. Quem sabe, ele não nos ensina algo sobre a nossa própria forma de humanidade? Ainda há tempo para nos transformarmos e evoluirmos.

Como alguém que trabalha estudando e ensinando a Bíblia, nunca sei o que esperar de filmes bíblicos. Alguns são fiéis, mas feitos de modo terrível. Outros são menos fiéis, mas artisticamente efetivos.

Os cineastas que adaptam material bíblico devem ter clareza sobre qual é o seu propósito e sobre como transmitir a sua mensagem. Eles não podem abranger tudo, nem podem simplesmente lançar palavras das Escrituras na tela e esperar que isso alcance o objetivo. 

Os cineastas devem cortar, reorganizar, adaptar para atingirem o seu propósito. Certamente esse é um empreendimento arriscado, mas que pode colher recompensas se fizer com que o público descubra ou redescubra a Bíblia.

Em um filme falho, esse clímax captura as suas forças em torno dos temas do sofrimento e da esperança. A morte de Paulo é uma imitação do sacrifício de Cristo, cuja glória não vem por desviar-se do sofrimento e da morte, mas por suportá-los.

Os filmes sobre Paulo não precisariam que Paulo citasse as Escrituras e que Lucas dissesse o que escreveria. Eles não precisam destacar a mesma questão por várias vezes. Eles precisam desenvolver as suas personagens e não forçar para que ajam em excesso.

Filmes como Paulo, o Apóstolo, poderiam ser mais sutis e ainda assim comunicar a beleza da fé (mais poderosamente, eu penso) por meio do silêncio, expressões faciais e até mesmo apenas através dos olhos.

Em última análise, devemos manter os criadores de filmes bíblicos nos mesmos padrões que temos para outros filmes. Devemos perguntar: Os cineastas criaram um filme efetivo para o seu propósito específico, ou não?

Ficha Técnica



  • "Paulo, Apóstolo de Cristo" (Paul, Apostle of Christ, 2018)
  • Direção: Andrew Hyatt
  • Roteiro: Terence Berden e Andrew Hyatt
  • Elenco: Jim Caviezel, James Faulkner, Olivier Martinez, Joanne Whalley, John Lynch, Yorgos Karamihos
[Fonte: Em Pauta, por Graça Vignolo de Siqueira; Papo de Cinema, por Robledo Milani; Cinéfila por Natureza]
 
Mas, com ressalvas.
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
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