De todo o Decálogo (os Dez Mandamentos), o quarto mandamento talvez seja o mais controverso. Faça o teste. Cristãos de diferentes denominações concordam que é errado cultuar ídolos, prostituir, blasfemar, desrespeitar os pais ou cometer assassinato. Quando o assunto é a guarda do Dia do Senhor, o entendimento comum desaparece e aí começam as confusões, os quiproquós. E isso, desde a época de Jesus!
Devem os cristãos guardar o sábado? É o sábado ou o domingo o dia do Senhor? Certamente essas são perguntas que já fizeram a você (e que você não soube responder ou respondeu hipoteticamente), que você já viu e/ou mesmo já fez em suas buscas na internet e, talvez, essa dúvida ainda é algo que insiste em te incomodar no seu interior, mas você nunca teve a coragem de perguntar.
Respostas também são muitas (principalmente nas buscas da internet). Para que tenhamos uma ideia, fiz o teste. No site de busca Google, coloquei a pergunta "o cristão deve guardar o sábado?" e consegui um total de aproximadamente 287.000 resultados. Já para a pergunta "qual é o dia do Senhor?", o resultado conseguido foi de aproximadamente 83.900.000 resultados. Oh, céus! O que fazer? Há um ditado que diz que
"quando se tem muitos caminhos a seguir, há uma maior dificuldade em se encontrar o caminho certo a seguir".
Isso prova o quanto esse assunto é extenso, complexo e requer algo mais do que uma leitura rasa da Bíblia, ou o ajuste de um e outro versículo isolado. O tema sobre as questões referentes à guarda (ou não) do sábado é um dos muitos imbróglios teológicos e pauta premissa na doutrina de vertentes cristãs e também, como não podia deixar de ser, de seitas, estas, aliás, deitam e rolam na criação de heresias, aproveitando-se justamente do fato de que há um sem número de pessoas com dúvidas quanto ao que fazer ou deixar de fazer com ou no sábado. É mais uma das inúmeras inversões de valores da religião, onde o sábado se torna mais importante do que o Senhor do sábado (Mateus 12:1-8).
Quem são os que defendem a guarda do sábado
O legalismo é a noção equivocada de que obtemos a aprovação de Deus por meio da prática de boas obras. O legalista entende que ganha o favor divino obedecendo à lei ou regras da religião. Quanto mais "bonzinhos" ou "encaixados" às exigências religiosas (ou rituais), mais dignos nós somos das bênçãos do Senhor.
Por outro lado, qualquer imperfeição de nossa parte nos coloca sob castigo do alto. A relação com Deus deixa de basear-se na graça divina e se torna troca (Romanos 4:4,5). Ao invés de libertar e trazer descanso, o legalismo aprisiona a consciência a preceitos humanos (Colossenses 2:20-22).
A consciência do cristão não pode estar amarrada a doutrinas legalistas. Por isso é rejeitado, por exemplo, o Adventismo do Sétimo Dia. Essa não é uma religião protestante nem evangélica, mas uma seita que anuncia a necessidade de guardar o sábado para salvação (dentre outras heresias). Por isso eles são denominados sabatistas.
O Dia do Senhor
Alguns defendem que é necessário guardar, literalmente, o sétimo dia. Outros afirmam que, devido à nova aliança e uma vez que todos os dias são santos, o crente não deve se preocupar com guardar qualquer dia em particular.
E mesmo entre os que creem que o Dia do Senhor, após a ressurreição, é o domingo, nem todos assumem este dia como um "santo repouso". De fato, é cada vez mais comum crentes desfrutarem do domingo de modo muito semelhante aos não convertidos.
E mesmo entre os que creem que o Dia do Senhor, após a ressurreição, é o domingo, nem todos assumem este dia como um "santo repouso". De fato, é cada vez mais comum crentes desfrutarem do domingo de modo muito semelhante aos não convertidos.
Além disso, aqueles que destacam a necessidade de guarda desse dia são facilmente considerados ultraconservadores. Mas, aí nos deparamos com outra questão: como você pode exigir que um irmão ou uma irmã atuante na área da saúde, na área da segurança pública ou patrimonial, na área do transporte público, na área das farmácias, drogarias e suprimentos, todas essas, consideradas essenciais, possam tirar o sábado ou o domingo que seja, para repouso? Há como colocar nesses profissionais essa canga religiosa?
Por fim, há os que não conseguem enxergar utilidade no preceito e o consideram absolutamente irrelevante. O fato é que, em entendimento da letra fria da lei, o modo de praticar o mandamento se encontra em Êxodo 20:9,10. Interromper o trabalho. Simples assim.
Entendendo o contexto
A Lei, ou seja, o Velho Testamento, foi feita exclusivamente para ser cumprida pelos Judeus, pelo povo que Deus havia escolhido para ser seu. A Lei, alem de fazer com que o povo conhecesse a si próprio (Deuteronômio 8), tinha a função de conduzir o povo de Deus para algo muito maior que iria acontecer, isto é, a vinda de Cristo, apesar de o povo de Deus ter rejeitado e matado o Messias.
Em Gálatas 3:23 a 25, diz que:
"Mas, antes que viesse a fé, estávamos guardados debaixo da Lei, encerrados para aquela fé que se havia de revelar. De modo que a Lei se tornou nosso aio, para nos conduzir a Cristo, a fim de que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio" (grifo acrescentado).
Portanto, o Apóstolo Paulo deixa claro, nessa passagem, que a Lei tinha uma razão de ser, mas nós cristãos (discípulos de Cristo), não devemos obediência a Lei, pois aquilo que haveria de vir, já veio, ou seja, o cumprimento da Lei foi Cristo. Aliás, em Mateus, capítulo 5, versículo 7, Jesus disse:
"Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas; não vim revogar, mas cumprir".Assim, nós que seguimos Jesus de Nazaré não devemos obediência nenhuma à Lei, pois Jesus cumpriu a Lei por mim e por você. Com a vida, morte e ressurreição de Jesus, toda a justiça de Deus foi feita, ou seja, Jesus pagou na cruz todas as nossas dívidas ("Tetelestai!" — João 19:30). Logo, nenhuma condenação há para aquele que está em Cristo, pois nova criatura é (2 Coríntios 2:17). Portanto, a ressurreição de Cristo marca o início de uma nova criação. A partir daí, não somos mais submissos a Lei, pois vivemos pela (ou seja, debaixo da) Graça.
O sabbath
A guarda do sábado tinha uma razão de ser. A palavra sábado, ou sabbath, em hebraico, quer dizer: descanso. O sábado foi instituído por Deus como um presente para o homem. Deus queria que seu povo tivesse um intervalo para descanso, sem precisar trabalhar de sol a sol.
Todavia, esse descanso servia como uma profecia, um sinal, para que aquilo que estava reservado para nós, isto é, a vida eterna. O descanso do sábado era uma sombra para o descanso em Cristo. Tanto é assim, que o escritor de Hebreus fez, justamente essa comparação, vejamos:
"Portanto, tendo-nos sido deixada a promessa de entrarmos no seu descanso, temamos não haja algum de vós que pareça ter falhado. Porque também a nós foram pregadas as boas novas, assim como a eles; mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não chegou a ser unida com a fé, naqueles que a ouviram.
Porque nós, os que temos crido, é que entramos no descanso, tal como disse: Assim jurei na minha ira: 'Não entrarão no meu descanso'; embora as suas obras estivessem acabadas desde a fundação do mundo; pois em certo lugar disse ele assim do sétimo dia: 'E descansou Deus, no sétimo dia, de todas as suas obras'; e outra vez, neste lugar: 'Não entrarão no meu descanso'. (...)
Portanto resta ainda um repouso sabático para o povo de Deus. Pois aquele que entrou no descanso de Deus, esse também descansou de suas obras, assim como Deus das suas. 11 Ora, à vista disso, procuremos diligentemente entrar naquele descanso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência" (Hb 4:1-5;9-11).
Agora, fica clara a relação que há entre o descanso sabático e o descanso eterno. Após a morte e ressurreição de Jesus, nós não vivemos sob o aio da Lei, mas sob a Graça de Jesus. Querer viver na Lei, é o mesmo que negar tudo aquilo que Jesus fez por mim e por você na cruz do Calvário.
É querer anular o sacrifício vivo de Cristo. Viver na Graça é muito maior que viver na Lei, pois na Graça, não existe dia determinado para guardar, pois devemos nos santificar todos os dias (Rm 6:22).
O próprio Jesus curava e comia no sábado, e quando questionado pelos fariseus, sua resposta foi:
"O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado" (Marcos 2:27).
Com isso, Jesus quis dizer que o sábado foi um presente de Deus para o homem, não devendo o homem ficar escravo dele.
Ademais, no Novo Testamento, de Romanos a Apocalipse, não vamos encontrar uma passagem sequer nos mandando guardar o sábado. Pelo contrário, a única passagem que fala sobre o sábado, ela diz que o sábado servia de sombra para aquilo que viria, pois o que havia de vim era muito maior do que esse descanso temporário e limitado, pois o descanso vindouro seria eterno. Vejamos novamente a passagem Bíblia que se encontra em Colossenses 2:16,17:
"Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados, que são sombras das coisas vindouras; mas o corpo é de Cristo".
Portanto meus irmão em Cristo, guardar o sábado como sendo uma obrigação cristã, é ir de encontro (ou seja, contra) ao Novo Testamento. É abandonar a Graça e voltar à Lei. É anular todo o sacrifício de Cristo, sua morte e ressurreição. Digo mais, querer acrescentar qualquer elemento como sendo necessário para nossa salvação, é não crer no poder que há no sangue do cordeiro de Deus (Hb 10).
Doutrina apostólica
Por fim, analisando o contexto Bíblico histórico, vemos que as igrejas cristãs primitivas e os Apóstolo costumavam se reunir aos domingos e não aos sábados. Portanto, se tem algum dia que devemos ter como especial para comemorarmos e confraternizarmos juntos, esse dia é o domingo, pois foi no domingo, ou seja, no primeiro dia da semana, que Jesus ressuscitou, vencendo de uma vez por todas a morte.
É a partir desse dia que se inicia uma nova criação, pois o segundo Adão, Jesus, resgatou-nos dos grilhões da morte eterna. Está escrito em João, capítulo 20 que: No primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro de Jesus e chegando lá, viu a pedra removido, e correu para avisar aos Apóstolos que estavam reunidos em uma casa. A Bíblia diz que Jesus apareceu para eles naquele lugar, todavia, Tomé não se encontrava, e, por causa da incredulidade de Tomé, Jesus voltou ao mesmo local oito dias depois, ou seja, novamente no domingo, e os discípulos estavam reunidos.
A igreja primitiva também tinha o costume de se reunir aos domingos, conforme relata o Doutor Lucas, o "médico amado", em Atos dos Apóstolos 20:7, que diz:
"No primeiro dia da semana, tendo-nos reunido a fim de partir o pão, Paulo, que havia de sair no dia seguinte, falava com eles, e prolongou o seu discurso até a meia-noite".
Duas coisas são ainda dignas de nota. Primeiro, o convite de Jesus ao desfrute do verdadeiro descanso — um repouso disponível, não em um dia específico, mas na comunhão com Ele mesmo (Mt 11:28-30). Em segundo lugar, percebemos a menção da "consumação" do trabalho de Jesus em uma sexta-feira, o descanso de seu corpo na sepultura no sábado e sua ressurreição no domingo (Jo 19:30,31,38-42; 20:1,19). Esses dados bíblicos preparam o terreno para a mudança completada no restante do NT.
Conclusão
As ordenanças do AT são "sombra" do que haveria em Cristo (Cl 2:17). Uma vez que os cristãos desfrutam diretamente de Cristo, eles não podem mais ser julgados
"por causa de comida ou bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados" (2:16).
A entrada no descanso da Terra Prometida, na época do Êxodo, exigiu fé (Hb 3:1-19). Do mesmo modo, necessitamos confiar em Deus hoje, para entrarmos em seu descanso (4:1-13). Isso é possível somente por causa de Jesus Cristo, "o Filho de Deus" que nos ajuda como "sumo sacerdote [da ordem de Melquisedeque (7)] que penetrou os céus" (4:14-16).
O NT define Jesus como a Pessoa e o significado apontados pelo sábado. Nesses termos, o sábado na Criação sinalizava o descanso disponível em Cristo, Senhor da nova criação. Esse descanso é anunciado no evangelho, assegurado na morte do Redentor na cruz, antecipado em sua ressurreição, no primeiro dia da semana, e aguardado como realização plena na glorificação dos crentes e na consumação (Ap 14:13; 21:1-4; 22:1-5).
A solução para o problema é o entendimento da Igreja como comunidade pactual. Os que se dizem crentes em Cristo, conforme as Sagradas Escrituras, assumem um compromisso com o cumprimento dos mandatos criacionais (espiritual, social e cultural). O quarto mandamento passa a ser considerado à luz da redenção, não meramente um dia na semana, mas sim os discípulos de Cristo desfrutando dEle caminhando com prudência e administrando seu tempo segundo a vontade de Deus (Efésios 5:15-17).
Assim, nessa breve reflexão, espero que os irmãos tenham compreendido que para nós cristãos não existe o dever de guardar o sábado, pois o descanso sabático representava um sinal profético para o nosso descanso eterno em Cristo Jesus. Que o Espírito Santo do Senhor nos conduza sempre a verdade da palavra de Deus. Amém! Até o próximo.
- Observação: Faço menção honrosa ao pastor Luis Carlos Math, que através do Discipulado Apostólico Ha-Tsur, muito nos tem ajudado a crescer no conhecimento e na graça do Senhor.
A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.
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