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segunda-feira, 2 de novembro de 2020

OSTENTA, CRENTE!

"Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade. Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?" (Eclesiastes 1:2,3).
Vaidade, no contexto bíblico, significa algo "fútil", "inútil", "vazio" ou "ilusório". O significado de vaidade na Bíblia geralmente transmite exatamente a ideia de inutilidade e tolice. Há várias referências bíblicas acerca da vaidade. Inclusive, o conceito de vaidade permeia o tema principal do livro de Eclesiastes.

Muita gente pensa que vaidade significa, simplesmente, uma preocupação estética ou visual. Para muitos, vaidade é um corte de cabelo, uma roupa nova etc. Antigamente era comum, dentro de certos círculos evangélicos, algumas pessoas se privarem de cuidados pessoais básicos por medo de incorrer no pecado da vaidade.

Mas a palavra vaidade na Bíblia traduz diferentes termos originais, o que torna sua aplicação bastante ampla. No entanto, ao analisar as passagens bíblicas que falam da vaidade, é fácil perceber que seu significado é muito mais profundo do que uma simples preocupação com a aparência externa. De forma geral, a vaidade na Bíblia denota o comportamento tolo do homem em tentar encontrar satisfação à parte de Deus. Por isso seu significado frequentemente aparece relacionado a comportamentos pecaminosos como a soberba, o orgulho e a idolatria.

A palavra vaidade, propriamente dita, não é muito comum no Novo Testamento. Mas geralmente quando aplicada, ela indica a realidade de algo fútil, sem propósito e pecaminoso. No livro de Atos dos Apóstolos, por exemplo, Paulo e Barnabé chamam os ídolos cultuados pelos habitantes de Listra de "vaidade" ou "coisas vãs" (Atos 14:15).

Antes de eu entrar no tema específico desse artigo, era fundamental que entendêssemos o que a Bíblia diz sobre a vaidade. Ou seja, como bem entendemos, não é absolutamente nada do que ensinam os legalistas em seus RIs (Regimentos Internos) doutrinários. Agora sim, vamos especificamente ao tema propriamente dito.

As armadilhas do consumismo alimentado futilidades


Um dos principais malefícios que uma sociedade de consumo igual a nossa pode trazer é o desejo incontrolável e insaciável de ostentar. A ostentação nada mais é do que o ato de expor o máximo possível uma situação ou alguma coisa adquirida, o que, dentro da lógica consumista, fútil e alienada da sociedade contemporânea, é visto como natural.

Infelizmente, nos últimos 40 anos, por influência da teologia da prosperidade, a ostentação tem sido cada vez mais apregoada e valorizada no contexto evangélico brasileiro. Talvez uma das frases de efeito que mais sintetizem isso é: 
"Somos filhos do Rei e por isso merecemos ter uma vida de reis".
O argumento da teologia da prosperidade é tão fraco que, para ser derrubado, basta questionarmos quem é esse Rei. Biblicamente o nosso Rei é Jesus e, se olharmos, até mesmo com certa superficialidade, para Sua vida relatada nos evangelhos, perceberemos com muita facilidade que Ele não era um rei que seguia os parâmetros humanos.

Jesus não acumulou riquezas, não construiu um templo para Si, não buscou reconhecimento político ou social, não fez alianças com pessoas influentes, não fazia questão nenhuma de ser valorizado por Sua posição social e, principalmente, nunca ostentou nada – nem mesmo o fato de ser o Filho de Deus (Filipenses 2).

Portanto, crente que ostenta posição, bens ou qualquer outro atributo está indo  diretamente contra aquilo que o Mestre ensinou. Jesus não fez deliberadamente um voto de pobreza nem orientou Seus discípulos a fazer algo semelhante, mas Sua vida e pregação sinalizavam a todos que quem desejasse segui-lO deveria almejar mais a Deus do que a qualquer outra coisa. 

Podemos sim, por meio do trabalho honesto e digno, ter uma vida confortável, prazerosa e farta, mas isso não significa que somos mais protegidos por Deus e muito menos que devemos expor, ostentar nossa vida ou estilo de vida para dizer que somos de Deus ou abençoados por Ele.

O Evangelho de Cristo X a "Teoria da Prosperidade"


Muitas igrejas pregam a "teoria da prosperidade", onde Deus se alegra com a ostentação, com demonstrações extremas de posses e "disputa" entre quem é o cristão mais poderoso (que chamam de "abençoado"). Mas, Jesus Cristo não pregou a humildade? Ele mesmo não era exemplo disso, sem posses, sempre junto dos mais humildes? Na verdade, a Bíblia é sempre usada em partes. Somente as partes que interessam os gananciosos, os preconceituosos e os oportunistas é que são utilizadas... descontextualizadas e distorcidas.

Quando se pensa na desigualdade de nosso país, muitas pessoas logo apontam os culpados: empresários, pelo seu espírito capitalista; políticos, pela recorrente corrupção; e assim por diante. Porém, muitas vezes esquecemos que, infelizmente, toda nossa sociedade está contaminada por algo muito mais profundo, que é justamente a origem dos problemas normalmente indicados: o egoísmo.

Se, por um lado, a avareza, ou seja, o "amor pelo dinheiro", é "a raiz de toda espécie de males" (1 Timóteo 6:10), quanto mais o egoísmo, que é sua origem. Não é à toa que, para além da questão financeira, vemos o egoísmo afetando, em nossa sociedade, as várias relações humanas: destrói amizades, famílias e até mesmo igrejas. Porém, como podemos vencer o egoísmo? Sendo o egoísmo uma das "obras da carne" (Gálatas 5:19-21), devemos combate-lo com um dos elementos do "fruto do espírito" (5:22-23): o amor!

Esquecemos muitas vezes de ver ao próximo pelos olhos do amor de Deus, amando ao próximo, de fato, como a nós mesmos. Afinal, quando vemos o outro como nós, em mesmo valor, reconheceremos que suprir a necessidade do outro vale mais que a nossa ostentação. Esquecemos que muitos deixam de ter pão para poucos poderem beber vinho – muitos vivem na miséria para que alguns desfrutem de uma vida de luxo.

Também, vendo ao próximo pelos olhos do amor, reconheceremos que a luta contra a desigualdade social, antes de ser tarefa do Estado, é tarefa da Igreja. Esquecemos a proclamação de João Batista, de que quem tem duas capas deve dar uma a quem não tem. Esquecemos que antes de ser tarefa do Estado, foi tarefa da Igreja cuidar dos órfãos, das viúvas, e até mesmo dos doentes, quando estes eram rejeitados por todos. Este cuidado é, inclusive, segundo Tiago (1:27), a “verdadeira religião”.

Esquecemos, como disse Basílio de Cesaréia, que 
"o pão que guardas é pão do faminto, a túnica que conservas é de quem está nu, o dinheiro que possuis é do indigente. E assim, tudo o que poderias ostentar são outras tantas injúrias feitas a outros"
Nossos luxos e ostentações, portanto, devem ser vistas da forma correta: não são somente caprichos, mas são ofensas àqueles que não tem.

Afinal, se o egoísmo nasce de um medo de não termos aquilo que precisamos, ele se desenvolve e se torna na avareza, ostentação e inveja, que são o amor àquilo que não precisamos e o desejo de tudo aquilo que ainda não temos.

PASTOR OSTENTAÇÃO, A BÍBLIA É A SOLUÇÃO


O ensino dos pregadores da teologia da prosperidade é anti-bíblico, pois afirma que o proposito de Deus é enriquecer pela fé (e mediante o depósito das "sementes") a todos os seus filhos. É claro que não é pecado ser rico, porém os ricos deste mundo devem ser exortados a não colocar sua esperança na vaidade das riquezas, mas em Deus (1 Tm 6:17). 

As riquezas também podem e devem ser usadas para suprir as necessidades dos nossos irmãos carentes (1 João 3:17), bem como daqueles – em todo o mundo – que são afligidos pela escassez, pois é quando doamos ao próximo afligido (e não quando depositamos as sementes no ministério dos televanvangelistas) que nós realmente ofertamos a Deus (Mateus 25:35-40).

É claro que a igreja cristã tem necessidades que devem ser supridas pelo corpo. A família pastoral precisa ser cuidada com dignidade, tendo suficiente para sua provisão, cuidados médicos, vestidos, etc. Cuidar dos nossos pastores é bíblico (1 Tm 5:17,18), e é lícito ofertar para esta causa (1 Co 9:11). No entanto, a provisão digna e necessária de um obreiro cristão nada tem a ver com o estilo nababesco de vida dos "pastores ostentação". 

À luz do ensino bíblico sobre as riquezas, soa-me no mínimo discrepante a ideia de que um ministro do evangelho viva uma vida de ostentação enquanto muitos em sua comunidade e ao redor do mundo não possuem sequer um pão para comer. Muito pior, porém, é aquele que vivendo opulentamente às expensas da fé alheia, ensina a grei que o propósito da cruz foi enriquecer os crentes, instigando neles o materialismo com a promessa espúria de que se pode usar a religião para ficar rico, promessa essa que apesar de estar "se cumprindo" na vida dos grandes líderes eclesiásticos, está muito distante da vida dos fieis que frequentam seus templos e lhes sustentam os luxos.

Conclusão


Se hoje em dia, se ostentam coisas por vaidade e sem preocupação para com o próximo, aliás, muitas vezes como meio para dizer "eu tenho e sou melhor do que quem não tem" (ou, como dizem. "tenho mais fé" e "sou mais abençoado"), a maneira como o cristão mostra o que tem de melhor é à maneira de Jesus, que sendo Deus, nasce em uma manjedoura, num estábulo que vai até os pecadores e humilhados, que se aproxima daqueles que "nada tem" para mostrar-lhes sua dignidade infinita.

Se podemos chamar assim, a ostentação do cristão é viver uma autêntica vida cristã, transmitindo essa experiência pessoal com Deus aos demais sem medo de ser rejeitado e com a reverência necessária para fazer-se próximo daqueles que precisam, sem se achar melhor do que ninguém, mas sem negar ser possuidor de um tesouro infinito que foi depositado nesses vasos de barro que somos cada um de nós.
  • Escrevi mais sobre este tema ➫ aqui.
A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso. 
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.

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