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segunda-feira, 4 de maio de 2020

CANÇÕES ETERNAS CANÇÕES: "PINTURA ÍNTIMA", KID ABELHA


Eu já disse aqui em artigos anteriores, mas nunca é demais repetir: os anos 80, embora sejam considerados perdidos sobre a ótica econômica, foi uma das mais produtivas no cenário musical brasileiro. Nunca antes e ainda depois o Brasil foi capaz de emplacar uma década tão além do emblemático.

Tá, tudo bem. Você pode ter se lembrando da bossa nova (anos 50), da jovem guarda (anos 60) e da tropicália (anos 70). Eu concordo que todos esses movimentos musicais e culturais foram marcantes, não só no Brasil, como também no exterior, mas, pessoalmente, penso que eles não sobrepujam os limites do emblemático e foram todos bem segmentados. 

Já os anos 80, com sua surpreendente safra de cantores, cantoras, grupos e bandas do pop e do rock genuinamente nacional, foi uma década ímpar, incomparável e ainda hoje, muitos nomes que surgiram nessa época, alguns até sem muita pretensão e mais por diversão, ainda hoje estão atuantes, caso dos Titãs, dos Paralamas do Sucesso, do Capital Inicial, do Biquini Cavadão, do Nenhum de Nós, do Ultraje a Rigor (que faz parte do elenco fixo do talk show "The Noite", apresentado por Danilo Gentilli e apresentado diariamente pelo SBT)... 

Isso sem contar os que seguiram em carreira solo, como o Lobão, o Frejat (ex-Barão Vermelho), o Humberto Genssinger (ex-Engenheiros do Hawaii) e a cada vez mais bela (sou apaixonado por ela) Paulinha Toller (ex-Kid Abelha), dentre outros. 

E a música sobre a qual irei falar aqui em mais um capítulo da série especial de artigos Canções Eternas Canções, foi um dos maiores hits na carreira justamente do grupo Kid Abelha. A música tornou-se a assinatura do grupo e até hoje ainda é lembrada, tendo sido, inclusive, recentemente, nas últimas eleições presidenciais, alvo de uma polêmica política. A canção de letra e arranjos simples, é sempre pedida pelo público de Paula Toller, que, após o fim oficial do grupo em 2013, segue firme e forte em sua carreira solo. 

A história da banda 

Um singelo resumo de uma brilhante carreira 


O fim do Kid Abelha | Ambrosia
George Israel (sax), Paula Toller (voz) e Bruno Fortunato (baixo)

O Kid Abelha (que entre 1982 e 1988 tinha no nome o complemento de & Os Abóboras Selvagens) faz parte de uma geração que emergiu no início dos anos oitenta voltada para o rock inglês e que consolidou o rock brasileiro (ou BRock, como preferem alguns), com o apoio decisivo do Circo Voador — espaço montado no verão de 82 na praia do Arpoador —, da Rádio Fluminense FM e da gravadora WEA, os três funcionando como plataforma de lançamento de uma legião de roqueiros em busca da fama. 

Não mais como produto controvertido, com facções pró e contra, mas como manifestação de classe média, sem traços visíveis de música negra, o rock brasileiro acabou se fixando como um segmento da música popular direcionado aos adolescentes. 

Os grupos a caminho da profissionalização vinham com execuções montadas sobre repertório próprio, inédito, o que barateava consideravelmente os lançamentos. Ao mesmo tempo, este repertório caiu como uma dádiva dos céus para as rádios FM, que nele encontraram enfim o caminho para se firmar no mercado. 

Foram as gravações desses roqueiros, lançadas em compactos e eventualmente precedidas de elepês em vinil (os clássicos e ainda atuais "bolachões") em que eram testadas suas pretensões ao sucesso, que se identificaram rapidamente com a juventude da época. 

A primeira formação do Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens, que foi formado no ano de 1981, era um sexteto com Beni, Beto, Richard, Paula, Leoni e George, dos quais os três últimos mantiveram-se juntos, acrescidos da companhia de Bruno Fortunato. Depois de ter duas músicas no "pau-de-sebo" (antologia de inéditos) Rock Voador, o grupo estourou com a música que seria a que iria apresentar o Kid para o sucesso: "Pintura Íntima" logo em seu primeiro compacto. 

Rock In Rio 



Em 1985, a banda se apresentou para 160 mil pessoas em duas tardes na primeira edição do Festival Rock in Rio, experiência que os próprios integrantes definem como seu "vestibular para o show-business". 

De lá, para cá, veio uma enxurrada de sucessos, que garantiram ao agora trio carioca uma sólida carreira de turnês nacionais e participações em festivais de grande porte. Em 1997, o grupo chegou à marca de um milhão de cópias vendidas e fez oito apresentações lotadas no Metropolitan, na época a maior casa de espetáculos do Brasil. 

Em 2007, o grupo decidiu começar um "período sabático". Em 2010 a banda voltou à ativa. Paula, George e Bruno então comemoram os 30 anos de parceria em 2012, com um mega show que foi transmitido pela Mutishow e virou um DVD: mais sucesso. 

Paula, Israel e Fortunato, na prática, não tocavam juntos desde 2012. O último show foi no Rio, no dia 15 de dezembro daquele ano, quando encerraram a turnê que comemorava os 30 anos do grupo. Era o fim do Kid Abelha.

Sobre a música 


Lançada em 1983 como o lado A de um compacto simples (vinil promocional com duas faixas, uma de cada lado) — no lado B da "bolachinha" vinha outro hit do Kid, o do ano seguinte, 'Porque Não Eu?'. 

Com um arranjo funcional, a canção tinha uma letra de um romantismo juvenil, para ser cantada por homem, mas que foi gravada com a vocalista Paula Toller: 
🎶🎷"Vem amor que a hora é essa  
Vê se entende a minha pressa 
Não me diz que eu tô errado 
Eu tô seco, eu tô molhado..." 🎶🎷
Assim mesmo, no masculino. Foi assim que Paulinha não só cantou como encantou ao interpretar a música que foi composta por ela e pelo então namorado, que logo depois viria a ser seu marido e que também foi integrante na primeira formação do Kid, o guitarrista Leoni. 

Analisando a letra

🎶🎷“Vem amor que a hora é essa / Vê se entende a minha pressa...”🎶🎷
A canção já abre com essa declaração do personagem sobre seu desejo em estar com sua amada. Para ele é algo que não tem mais como esperar. Revela o sentimento de dependência que é muito comum entre apaixonados, ainda que, dadas as devidas circunstâncias, um tanto quanto controverso, pois, essa dependência pode ser usada como uma oportunidade para que o outro assuma uma postura de dominação, de manipulação. 
🎶🎷Não me diz que eu tô errado / Eu tô seco, eu tô molhado...”🎶🎷
Nessa estrofe o personagem já parte para a defensiva, na tentativa de justificar à amada o seu desejo urgente em estar com ela. Ele está dizendo que sua paixão é incontrolável e esta sobre a razão. Algo mais adolescente impossível, né? 

Ah, e não tem como não entender a conotação sexual na frase "...eu tô seco, eu tô molhado...", sugerindo uma alusão à excitação do personagem.
🎶🎷“...Deixe as contas que no fim das contas / O que interessa pra nós é / Fazer amor de madrugada / Amor com jeito de virada...”🎶🎷
Nessa estrofe, novamente volta a se enfatizado os arroubos dos amores juvenis e suas inconsequências. Quando diz "...Deixe as contas que no fim das contas...", o personagem revela que sabe bem das possíveis consequências que virão dessa explosão do seu desejo, mas e daí? O que importa a eles é apenas curtir o momento e com muita intensidade, que iria virar a madrugada.
🎶🎷"...Larga logo desse espelho / Não reparou que eu tô até vermelho..."🎶🎷
Olha aí mais um traço da paixão juvenil. Ao se concretizar o encontro, ao invés de "ir logo ao que interessava", a mocinha foi pra onde? Pra frente do espelho, preocupada com o visual e deixando o rapazinho lá, se queimando até ficar vermelho. 

Revela o quanto para as garotas o fator estético é importante no relacionamento, o quanto que para elas, o estar bem esteticamente na hora do sexo é importante, ao mesmo tempo que, de acordo com a ótica do personagem, sugere que isso não tem muita relevância, que o que vale mesmo é o sentimento, é os dois estarem juntos. 
🎶🎷"...Tá ficando tarde no meu edredom / Logo o sono parte..."🎶🎷
Aqui o personagem enfatiza a sua ansiedade em estar com a amada. O tempo estava passando e nada da garota sair de frente do espelho. Ele, então, apela para uma chantagem emocional, dizendo que estava ficando tarde e que o sono já estava chegando, para ver se assim, convencia a menina a vir logo para debaixo do seu edredom e os dois, enfim, pudessem "fazer amor de madrugada, amor com jeito de virada". 

Rumo ao sucesso 


Gravação do último show do grupo, gravado em 2012, em comemoração aos 30 anos, aqui, a música conta com a participação de Ivo Meirelles e a Bateria da Mangueira: sensacional!

Pois é, essa canção com uma letra tão simples, tão açucarada, algo que aliás ia frontalmente na contramão da temática filosófica das letras da Legião Urbana, dos protestos sociais e políticos dos Paralamas, dos Titãs, do Ultraje, do Ira!, da Plebe Rude, dentre outros, foi o pontapé inicial para o sucesso do Kid Abelha, que não temeu o diferencial e foi com tudo pra galera.

Agora, já conhecido do grande público, em seu segundo compacto, no ano seguinte, o Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens emplacou um novo sucesso, a balada 'Como Eu Quero', também de Paula e Leoni, que juntamente com 'Pintura Íntima' entraria no elepê de estreia do grupo, "Seu Espião", 
Seu Espião – Wikipédia, a enciclopédia livreCarátula Trasera de Kid Abelha E Os Aboboras Selvagens - Seu ...
lançado em seguida. Agora o Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens já era mais um dos grandes nomes do pop nacional nos áureos e inesquecíveis anos 80, graças, sem dúvida alguma, ao estrondoso sucesso de 'Pintura Íntima'. 

Polêmica 


Paula Toller, que hoje, radiante, no apogeu dos seus 57 anos (Isso mesmo, você não leu errado. Essa 
Máxima · Dica das boas! Paula Toller revela segredo da aparência ...
lindeza acima é uma senhora de quase 60 anos de idade e já mãe de um filho de mais de 30!), venceu uma ação na Justiça contra o ex-namorado e um dos fundadores da banda Kid Abelha, Leoni, o PT e o ex-candidato à presidência da República do partido, Fernando Haddad. 

Segundo informações da imprensa, a 1ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro condenou o trio por uso indevido de imagem da famosa e dos direitos autorais da música 'Pintura Íntima', feita entre Paula e Leoni, durante a campanha de Haddad em 2018. 

Na condenação, PT e o ex-prefeito de São Paulo tiveram de pagar uma indenização, cada um, de R$ 100 mil. Leoni teve que desembolsar R$ 50 mil. 

Em 2018, a ação encabeçada pela vocalista da banda pediu para que a música fosse retirada da campanha. Na época, vídeos com o verso "...amor com jeito de virada..." ganharam as redes sociais. 

Os vídeos foram postados no Twitter, no Instagram e no Facebook por eleitores de Fernando Haddad, onde mostraram um trecho da gravação do DVD Acústico MTV, gravado no ano de 2002, em que a loira cantava a canção. 

Conclusão 


Se a década de 1980 foi uma das mais férteis no que diz respeito à produção musical no Brasil, com bandas que ajudaram a popularizar o rock no país e fizeram com que o público cantasse temas importantes e atuais, foi o Kid Abelha quem melhor sintetizou em terras tupiniquins o pop feito no mundo à época. 

O grupo vendeu mais de 9 milhões de discos em mais de 30 anos de carreira – sucesso que teve seu boom nos anos 1980 e deu fôlego para outras duas décadas de shows lotados, coletâneas de sucesso e álbuns ao vivo, tendo em 'Pintura Íntima', sem dúvida o seu maior sucesso o que tornou uma canção eterna canção. E, se você esteve por aqui nas últimas quatro décadas, com certeza, você já ouviu e/ou já se viu cantando o marcante e inesquecível refrão:  
Versão remix da música
🎶🎷"...Fazer amor de madrugada 
Amor com jeito de virada..."🎶🎷
A Deus toda glória. 
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