As três tramas da tele-dramaturgia exibidas pelas Rede Globo "Tempo de Amar" (18h:00), "Deus, Salve o Rei" (19h:00) e "O Outro Lado do Paraíso" (21:00h), trazem como principal mote o tema vingança. Principalmente a trama do horário nobre.
"O Outro Lado do Paraíso"
Todo o enredo da novela de autoria de Walcyr Carrasco gira em torno do plano de vingança da personagem Clara, interpretada pela atriz Bianca Bin, contra seus algozes: o psiquiatra Samuel (Eriberto Leão), o delegado Vinícius (Flávio Bertolazi), o juiz Gustavo (Luís Melo), que foram liderados pela pérfida Sofia de Montserrat (Marieta Severo), em uma jogada para roubar as minas de esmeraldas da mocinha vingadora.
Grande parte dos lares brasileiros (e aqui incluo os de muitos cristãos) tem estado diariamente diante das telas de seus televisores vibrando com essa verdadeira doutrinação sobre vingança. Mas será que alguém se interessa em saber os ensinamentos da Bíblia sobre isso?
O único lado da Bíblia
O Salmo 23 é um dos textos mais lidos de toda a Bíblia (em conjunto com o 91, claro). Há irmãos que nunca leram um único livro completo, mas já leram o Salmo 23 inúmeras vezes. Muitos, inclusive, já o sabem de cor. Há outros que sequer abriram a Bíblia noutra página, pois ela permanece na estante, aberta no Salmo 23 (e/ou no 91, claro).
A doutrina da vingança X o amor de Deus
É muito fácil explicar a razão por este salmo ser tão lido e querido: Ele nos coloca pra cima, nos dá garantia de conforto em Deus, fala de socorro e prosperidade. Há também algo bem interessante expresso nesse salmo, algo que inspira canções e influencia boa parte da atual geração de crentes. Ele diz assim:
"Preparas um banquete para mim à vista dos meus inimigos. Tu me honras, ungindo a minha cabeça com óleo e fazendo transbordar o meu cálice" (5 – NVI).
Obviamente a Bíblia não se contradiz e esse texto está perfeitamente em sintonia com seu contexto. Em tempos da Lei, como bem sabemos, imperava a justiça, pois a Lei é justa.
Dessa forma, ao ser ferido, era justo que meu agressor sofresse o mesmo dano. Ele que se exilasse caso desejasse livrar-se da minha justa vingança. Olho por olho, dente por dente.
Além disso, os inimigos de Israel, à medida que esta nação permanecia fiel, eram derrotados pelas mãos de Deus, humilhados e despojados. Nisso tudo a Soberania de Deus era revelada, e era justo (Levíticos 21).
É disso que fala o salmista. Seus inimigos seriam ridicularizados enquanto ele seria abençoado com um banquete e prosperidade. Nesse contexto, seus inimigos estavam em estado de afronta contra Deus, por se levantarem contra seu povo, e por isso recebiam a justa punição.
Esta questão de "amigos" e "inimigos" de Deus, no Antigo Testamento, é mais complexa que isso, mas tento aqui apenas tornar mais claro o que começo a dizer a partir de agora.
Sob o contexto da graça de Deus
Enfim, com Cristo algo acontece. A misericórdia de Deus que sempre foi perfeita, se apresenta encarnada em Cristo. O justo morrendo pelo pecador. Deus perdoando aqueles que não mereciam perdão, pela sua Graça, de graça, por amor incondicional.
Diz a Bíblia que:
"Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida juntamente com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos" (Efésios 2:4-5 – NVI, grifo meu).
Entenda bem o que isso significa: Nós, que éramos inimigos de Deus, rebeldes, impuros, amantes de tudo que era contrário a Deus, fomos por Ele perdoados sem que déssemos a mínima para isso! Ele não poupou seu Único Filho para que nós, sendo ainda pecadores, pudéssemos ser perdoados e salvos!
E o que Jesus fala a respeito de nossos inimigos? Ele por acaso ensina que reivindiquemos vingança? Ou que oremos a Deus pedindo juízo? Quem sabe uma súplica para que Deus os ridicularize em nossa presença, como vemos ensinado em algumas canções? Bem, para tirar a dúvida, Cristo está com a palavra:
"Vocês ouviram o que foi dito: 'Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo'. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso! E se vocês saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês" (Mateus 5:43-48 – NVI, grifo meu).
"Mas eu digo a vocês que estão me ouvindo: 'Amem os seus inimigos, façam o bem aos que os odeiam, abençoem os que os amaldiçoam, orem por aqueles que os maltratam.' Se alguém lhe bater numa face, ofereça-lhe também a outra. Se alguém lhe tirar a capa, não o impeça de tirar-lhe a túnica" (Lucas 6:27-29 – NVI, grifo meu).
Paulo acrescenta:
"Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou" (Colossenses 3:13 – NVI, grifo meu).
E como foi que o Senhor nos perdoou? Sem merecimento. Nós não merecíamos o perdão de Deus!
Como pode então agora, em plena Graça, tendo recebido tão grande amor, misericórdia e perdão, nós venhamos desejar a ruína de nossos inimigos? Como podemos agora pedir a Deus que faça vingança, que os ridicularize ou que traga juízo sobre suas cabeças?
Não! Esse não é o espírito do verdadeiro cristão! O cristão perdoa! O cristão suplica a Deus que tenha misericórdia de quem o ofende!
Que parada é essa de eu estar no palco sendo aplaudido pelos meus inimigos? Que história é essa de Deus preparando uma mesa para mim perante meus inimigos? Estamos loucos? Esquecemos como fomos perdoados (Leia o artigo sobre a música "Sabor de Mel".)?
O mínimo que se espera de qualquer cristão é que ele também perdoe seus ofensores. Foi esta a oração que Jesus nos ensinou, que Deus nos perdoe "assim como perdoamos nossos inimigos".
Já imaginou se Deus resolvesse nos perdoar conforme nós perdoamos as outras pessoas? Seriamos fulminados! Irmão, fuja dessa sede de vingança, isso não condiz com o espírito cristão, pois no final de tudo, considerando todas as coisas, o que nos fará sermos reconhecidos como discípulos de Cristo é o amor que temos pelas outras pessoas (João 13:35).
Lembre sempre que nossos inimigos não são as pessoas e peça misericórdia (Ef 6:12), não juízo, e deseje o bem, não o mal, e busque comunhão, não a afronta.
Conclusão
"Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: 'A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor'" (Romanos 12:19).
Através do texto de referência desse artigo, podemos ver que Deus não é a favor dos que "fazem justiça com as próprias mãos", é uma exortação para que o cristão espere com paciência, pois dEle é a vingança e Ele sabe agir no momento certo, pois é o único que tem como atributos a onipotência, onisciência e onipresença. E, se engana muito quem pense que a vingança de Deus significa a destruição, a aniquilação de alguém. Tudo em Deus está permeado pelo amor.
"Justiça e juízo são a base do teu trono; misericórdia e verdade irão adiante do teu rosto" (Salmos 89:14, grifo meu).
A recomendação que temos é:
"Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Gálatas 5:14).
Esse é um mandamento que replica qualquer indagação, pois amar quem me ama é fácil, o desafio é amar a todos, mesmo sabendo que porventura alguém queira o meu mal.
A raiz da vingança é o próprio pecado, quando o cristão dá vazão a esse sentimento, é porque o 'velho homem' não morreu completamente, ou seja, ainda continua praticando os mesmos atos que outrora fazia antes de confiar a vida em Deus.
No livro de Provérbio, capítulo 20 e versículo 22, consta:
"Não digas: 'vingar-me-ei do mal', espera pelo Senhor e ele te livrará."
Mais uma vez Deus pede para que o indivíduo não se vingue e nem retribua o mal com o mal, mas pelo contrário, pede para que apenas descanse e aguarde a recompensa do ímpio.
Portanto de nada adiantará o homem querer fazer justiça com as próprias mãos, pois como foi mencionado nas referências que aqui foram citadas, a vingança pertence somente a Deus, Ele será íntegro na hora de julgar as causas cometidas por cada um.
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
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