Há quinze anos atrás a música brasileira ficava mais pobre, perdia Cássia Eller. Eu não acompanhei a trajetória dela, nunca sequer ouvi um disco, mas sei que Cássia foi sem dúvidas uma das maiores intérpretes brasileiras de sua época.
Nascida Cássia Rejane Eller, em 10 de dezembro de 1962, no Rio de Janeiro, a cantora e compositora morreu aos 39 anos de idade, vítima de um infarto do miocárdio, no Rio de Janeiro (à época, especulava-se que teria sido resultado de uma overdose de cocaína).
Talentosa e irreverente, Cássia eternizou inúmeras canções com sua voz rouca, presença marcante e logo tornou "suas" canções como 'Malandragem', de Cazuza (✰1958/✞︎1990), e 'O Segundo Sol', de Nando Reis. Aliás, a cantora e compositora eternizou composições do ex-Titã Nando Reis, de quem era amiga pessoal.
Breve história
A carreira interrompida bruscamente começara com acordes do Beatles, quando a tímida garota de 14 anos ganhou um violão. Mas foi em Brasília, aos 18 anos, que Cássia Eller começou a fazer testes para musicais. Ela cantou em corais e foi corista em duas óperas, com uma participação em um show de Oswaldo Montenegro.
Aos 19 anos, Cássia foi para Belo Horizonte em busca de emprego. Aqui trabalhou como servente e pedreiro e alugou um quartinho para morar. Começou a fazer shows em diversos turnos e não conseguiu concluir o ensino médio. Mas foi em meados de 1989 que Cássia despontou com a gravação da música 'Por Enquanto', de Renato Russo (✰1960/✞︎1996), o que rendeu sua primeira participação em 1990, no LP de Wagner Tiso, intitulado "Baobab".
O seu timbre grave acompanhado da forte presença de palco fez com que ela se tornasse uma figura constante em participações especiais e interpretações singulares. Cássia compôs apenas três canções: 'Lullaby' (parceria com Márcio Faraco) em seu primeiro disco, Cássia Eller, de 1990 (LP com 60.000 cópias vendidas); 'Eles' (dela com Luiz Pinheiro e Tavinho Fialho [(✰1960/✞︎1993) que foi o pai do seu único filho, o Chicão]); e 'O Marginal' (dela com Hermelino Neder, Luiz Pinheiro e Zé Marcos), no segundo disco, também intitulado "O Marginal" (1992).
Versatilidade e talento
Cássia Eller interpretou músicas de Chico Buarque, Cazuza, Renato Russo e tantos outros ícones da música brasileira. O ano de 2001 foi um dos mais intensos na carreira da artista. Em janeiro ela se apresentou no Rock in Rio III para 190 mil pessoas. Fez 95 shows de maio a dezembro e gravou o DVD "Acústico MTV". Sempre com a parceira que integra sua biografia: Nando Reis. Há exatos 15 anos o Brasil perdia uma das vozes mais fortes de sua história musical.
Apesar de ter morrido como um dos maiores nomes da música no Brasil, Cássia não teve início de carreira fácil — as gravadoras não sabiam exatamente como vendê-la, uma roqueira perdida num mar de MPB.
O autointitulado disco de estreia veio apenas em 1990 — ao todo, foram cinco álbuns de estúdio. Junta-se a eles alguns registros ao vivo e o "Acústico MTV" (2001), que a colocou definitivamente como uma das maiores intérpretes da música brasileira — ela registrou apenas três canções de sua autoria.
"Acústico MTV", o disco
Dirigido por Nando Reis e Luiz Brasil, o registro foi feito durante dois shows nos dias 7 e 8 de março de 2001 e lançado nesse mesmo ano, trazendo um grupo de instrumentistas muito forte e ainda participações especiais de Nação Zumbi, do rapper Xis e do próprio Nando.
No repertório músicas como 'Malandragem', composição de Cazuza e Frejat, '1º de Julho', de Renato Russo, 'Relicário' (com a participação especial do amigo Nando Reis), entre outras, além de um cover de 'Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band', dos Beatles.
O lançamento desse trabalho elevou a carreira da cantora, aumentando consideravelmente seu número de shows e se tornando o melhor momento de sua trajetória musical.
No mesmo ano de 2001, ela se apresentaria no Video Music Brasil, da MTV, ao lado de Rita Lee, Roberto de Carvalho e Nando Reis com 'Top Top' d'Os Mutantes, presente no seu "Acústico MTV".
Eterna "garotinha"
Homossexual assumida, a mesma autenticidade que imprimia às canções que interpretava, Cássia levava para a conturbada vida pessoal e para os palcos. Na intimidade, a eterna parceira Maria Eugênia e o filho Chicão lidavam com os excessos e excentricidades artísticas da roqueira mais MPB que já existiu.
Provocadora e polêmica, nos palcos, levou para o Rock In Rio III (2001) uma apresentação antológica em que mostrou os seios ao som de 'Come Together', dos Beatles (em dueto com a banda Nação Zumbi), e arrancou elogios de Dave Grohl (ex-baterista do Nirvana, Queens of the Stone Age, Them Crooked Vultures, líder, vocalista, guitarrista e fundador do fenômeno Foo Fighters) ao interpretar uma versão do clássico 'Smells Like Teen Spirit', do Nirvana – o ex-baterista da banda liderada por Kurt Cobain (✰1967/✞︎1994) se apresentou na mesma noite com o Foo Fighters e ficou boquiaberto com a interpretação de Cássia.
A morte
O ano de 2001, o mesmo que começou com o showzaço no Rock in Rio, terminou triste, com a morte de Cássia no auge da carreira. Os excessos logo foram considerados os culpados, mas os laudos médicos descartaram uma overdose – o que não foi muito veiculado pela mídia na ocasião.
Foi justamente por esse tratamento midiático que Eugênia, a companheira e Chicão, o filho sempre tiveram receio de liberar filmes ou documentários sobre Cássia. Isso só mudou quando o jovem assistiu a "Loki", em que Paulo Henrique Fontenelle documenta a vida do Mutante Arnaldo Batista, e liberou que o diretor realizasse "Cássia", belíssimo documentário lançado no ano passado (de onde, aliás, retirei as informações contidas no texto deste artigo).
Como o lugar de Cássia sempre foi os palcos, o espetáculo "Cássia Eller – O Musical" a levou de volta para eles. A montagem protagonizada pela atriz e cantora Tacy de Campos — que divide com a cantora a timidez e o vozeirão — rodou o Brasil e fez lembrar o legado da maior roqueira do Brasil.
Parceiro fiel
No último domingo (25), no programa "Fantástico" (Rede Globo), Nando Reis, autor de alguns dos maiores sucessos de Cássia e seu amigo íntimo, contou como era a relação entre os dois.
"A única música que fiz de fato pra ela foi 'Com Você Meu Mundo Ficaria Completo (Com Você)'. 'All-Star' era sobre a nossa amizade",
lembrou.
"Eu tinha um caderninho com todas as músicas novas e ela ficava folheando",
disse o ruivo ex-Titã.
"Foi nesse caderninho que Cássia descobriu 'O Segundo Sol'. Ela falou 'vou gravar essa música'. Falei 'não, por favor, preciso dessa música para o meu segundo disco solo'. Ela falou: 'vou roubar de você'. E roubou! Foi o melhor assalto que eu já sofri",
lembrou Nando. A música de fato é linda e a interpretação de Cássia, incomparável.
A morte prematura levou Cássia a um lugar especial de músicos brasileiros que dialogaram com toda uma geração. Estavam lá Elis (Regina), Renato (Russo), Cazuza... e até mesmo o Chorão que chegou depois.
"Uma amiga que não conheci... Que não vi, mas que me acompanha na vida. Rainha soberana do termo 'cantar bem'",
escreveu a cantora Maria Gadú na data de aniversário de Cássia.
Ao fim de tudo, foi Maria Eugênia, lógico, quem melhor resumiu a falta que Cássia faz na música.
"Onde está a pegada? A atitude? Os peitos de fora?! O mundo ficou mais careta depois que Cássia morreu".
Conclusão
Cássia Rejane Eller percorreu pela música brasileira deixando nas entranhas sua voz rouca na história. Há 15 anos, o País perdia a irreverência da carioca. Um infarto do miocárdio cessou a vida de Cássia aos 39 anos, em 29 de dezembro de 2001.
Nunca fui fã dela, mas em tempos onde a música brasileira anda tão descartável, com criaturas como Anitta sendo consideradas cantoras, ganhando prêmios e sendo chamadas de famosas, fazer menção honrosa à memória de uma cantora do quilate de Cássia Eller e todo o seu legado para a MPB é uma questão de justiça.
Discografia:
Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
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E nem 1% religioso.
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