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sábado, 24 de setembro de 2016

DISCOS QUE EU OUVI - 21: "NIRVANA - NEVERMIND"


Dentre as "muitas coisas" que eu fui em minha juventude, uma delas foi um grunge. O que? Você não sabe o que foi um grunge?

Ser grunge foi...


O movimento grunge surgiu no início dos anos 90, quando uma infinidade de bandas situadas no Estado de Washington, com foco em cidades como Seattle, Olympia e pequenas urbes do entorno, começaram a tocar um tipo de música com influências do punk rock, heavy metal, hardcore e rock psicodélico. 

Por mais que os críticos tentem encontrar uma unidade para os grupos surgidos nessa época, não existem características musicais, nem mesmo visuais, que coloquem estas bandas em um mesmo rótulo. Digamos que todas usassem camisas de flanela, o que não é uma inverdade. Mas, em suas cidades, não somente os músicos vestiam-se assim, mas toda a população, visto que as flanelas eram o "uniforme" dos lenhadores que trabalhavam nas madeireiras e movimentavam a economia local. Outro equívoco é dizer que o som das bandas era parecido, pois alguns conjuntos flertavam mais com o heavy metal e outros mais com o punk.

O som do grunge


Na safra de bandas do movimento (ou seria estilo?) grunge, temos Alice In Chains, Pearl Jam, Stones Temple Pilots, Soundgarden, Mudhoney e Nirvana. 

"Kit-grunge"


Nas lojas de departamento (tipo C & A e Riachuelo), era possível comprar um "kit-grunge", que continha flanela, calça jeans rasgada, camiseta de banda e tênis All Star cano alto. Isto era ser um grunge e eu era um grunge!

Agora sim, podemo falar dele,

"Nevermind", o disco!



O Nirvana transformou-se em um fenômeno nos anos 1990 graças ao lançamento de "Nevermind" e do single explosivo 'Smells Like Teen Spirit', que apareceu quando a MTV americana estava em sua segunda geração de espectadores – a primeira acostumada com a emissora desde a infância. 

"Nevermind", foi lançado em 24 de setembro de 1991 - ou seja há exatos 25 anos - e, puxado pelo sucesso do single 'Smells Like Teen Spirit', acabou sendo um estouro. A gravadora esperava vender algumas dezenas de cópias, mas venderam 250 mil cópias por semana, atingindo o pico de 300 mil na primeira semana de janeiro de 1992. E cada vez mais a popularidade do Nirvana aumentava. 

A crítica, em princípio ignorou o disco, mas o estouro foi tão grande, que era impossível não falar dele. Então, quase todas as publicações deram resenhas positivas, e isso puxou ainda mais a popularidade do álbum, e da banda, ainda mais para cima.

Esse acabou sendo um marco, um ícone da juventude dos anos 1990, talvez a última do gênero no mundo. O Nirvana conseguiu unir as tribos com sua música feroz, os gritos de Kurt, o baixo pesado de Novoselic e a bateria forte de [Dave] Grohl [que também foi do Queens Of The Stone Age, do Them Crooked Vultures e é vocal-leader fundador do Foo Fighters]. O mundo não seria mais o mesmo depois disso. 

A capa


Spencer Elder, o mascote do Nirvana em foto recente (à esquerda)
Um dos motivos do sucesso do álbum é a icônica capa, famosa por ter a montagem de um menino olhando um dólar em um anzol. Como os valores cobrados nas primeiras tentativas chegaram a US$ 7.500, o fotógrafo conseguiu o filho de um amigo - Spencer Elder - para posar. E a ideia de montagem de Kurt funcionou. 

Como o pênis do menino aparecia, a gravadora negociou com o Nirvana para que um adesivo fosse colocado para não ofender as pessoas. O cantor só aceitou se o adesivo contasse com os dizeres "se você se ofende com isso, então você é quase um pedófilo". Resultado: o pinto do bebê ficou!

Faixa a Faixa


Melhor canção dos anos 1990, (01) 'Smells Like Teen Spirit' começa com a bateria marcante de Dave Grohl logo de saída. A canção, de acordo com Cobain, foi uma tentativa de emular o som do Pixies, banda que ele era fã incondicional. Acabou sendo um dos maiores sucessos de todos tempos por conseguir dialogar com uma juventude que não tinha mais a quem se espelhar como seus pais tiveram.

Primeira faixa a ser gravada pelo Nirvana para o novo trabalho, (02) 'In Bloom' ganhou muito por ter a bateriaesada do início ao fim, e Dave Grohl, recém-empregado como baterista, deu tudo de si na canção a pedido do produtor e com os incentivos do vocalista.

(03) 'Come as You Are', com ajuda de um pedal especial, tem a guitarra como um dos pontos altos de uma das muitas letras em que Cobain colocou para fora todo seu sentimento sobre alguma coisa ou alguém. É uma canção muito pesada do ponto de vista emocional e acaba sendo bem triste. Foi hit radiofônico e o vídeo clipe também não saia das telas da MTV.

(04) 'Breed' é um grito, com solo e tudo mais, sobre as regras que a sociedade te impõe para ficar bem com ela mesma – como casar, ter filhos e ter bom emprego. É esse tipo de letra que fez a cabeça de uma geração de pessoas que estavam entre seus 15 e 25 anos (uns e outros com um pouco mais, vá lá que seja...) e se sentiam pressionadas a fazer o que os outros queriam. É um desses gritos de libertação que Kurt proporcionou aos fãs. 

Na sequência, (05) 'Lithium' é sobre um cara religioso que passa por problemas e pensa em se matar. A história por trás dessa canção, que é tranquila e praticamente dominada por um baixo melancólico, é que foi na primeira gravação que Chad Channing, então baterista, não estava agradando.

(Lado B do vinil e do K7)


A acústica (07/01) 'Polly' foi escrita para entrar no primeiro disco do Nirvana, mas Cobain não achou uma boa ideia uma banda punk colocar uma faixa desse estilo no trabalho – ela nasceu como a continuação de 'About a Girl' (do primeiro disco). Segundo Novoselic, a inspiração veio de uma nota de jornal sobre o caso Gerald Arthur Friend, que estuprou e torturou uma garota de 14 anos (essa história foi mostrada recentemente no programa Domingo Espetacular, da Record). É uma das mais reconhecíveis músicas da banda.

A excelente (08/02) 'Territorial Pissings' reflete muito o espírito do Nirvana: rapidez, força nos instrumentos e o vocal melancólico-gritado. É incrivelmente boa. Mantendo o peso, (09/03) 'Drain You' é a que mais ganhou overdubs e a que mais é aberta para um momento de improviso, basicamente no minuto e meio final é feito de um clímax até que ela explode com o retorno do vocal. O peso do Nirvana, musicalmente falando, está na letra. Kurt não poupa esforços para esconder seus sentimentos, assim como seus companheiros não tiram o pé ao tocar cada vez mais alto. Isso resume (10/04) 'Lounge Act' e (11/05) 'Stay Away'.

Em mais uma  com cara de confessional, (12/06) On a Plain' tem o verso?
"It is now time to make it unclear/ To write off lines that don't make sense/ I love myself better than you/ I know it's wrong, so what should I do?/ One more special message to go/ And then I'm done then I can go home/ I Love myself better than you/ I know it's wrong, so what should I do?"
Tradução: "Agora é o momento para torná-lo claro / Para amortizar as linhas que não fazem sentido / Eu me amo melhor do que você / Eu sei que é errado, então o que devo fazer? / Mais uma mensagem especial para ir / E então eu m feito, então eu posso ir para casa / Eu me amo melhor do que você / Eu sei que é errado, então o que devo fazer?"
Olhando agora, já dava pra ver que Cobain tinha tendência a colocar coisas na cabeça e ficar remoendo isso por dias, anos. 

Escrita durante o tempo que Kurt saiu de casa, a sinistra e triste (13/07) 'Something in the Way', pela dificuldade da melodia, acabou sendo gravada primeiro só com vocal e violão. Depois as outras partes foram acrescentadas, como bateria, baixo e violoncelo. E assim o disco termina.

Na versão em CD ainda vem a faixa bônus (muito comum nesse formato): 'Endless, Nameless' é um punk absurdo, com distorção e com uma letra assustadora. Agora, sim, acabou.

Conclusão


A decadência do grunge começou com a mesma banda que o levou ao auge. Com o suicídio do líder do Nirvana, Kurt Cobain, em 05 de abril de 1994, o movimento perdeu sua força. Alguns grupos ainda continuaram lançando discos, como Soundgarden e Pearl Jam (este, aliás, segue firme e forte)  mas o insucesso comercial colocava as bandas cada vez mais longe do estrelato. 

Nesta época, bandas de punk rock californianas como Green Day e Offspring estouraram, ao mesmo tempo do sucesso do britpop inglês que tinha Oasis e Blur como ícones. Com isso, o velho som de Seattle foi sendo substituído por estas novidades. Foi-se o grunge, foi-se o Nirvana, mas esse disco certamente ficará na história.

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