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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O "SIM" E O "NÃO" DOS VOTOS A DEUS

Fazer voto a Deus é uma prática comum no segmento cristão. A Igreja Católica o chama de "promessa". Os dicionaristas definem o voto como: s. m. Promessa solene com que nos obrigamos diante da divindade; promessa solene; juramento; oferenda em cumprimento de promessa; súplica à divindade; desejo íntimo, ardente. Vejamos ainda: vo.to 1) sm (lat votu) - 1) relativo a promessa livre e deliberada feita a Deus de alguma coisa que lhe é agradável, à qual nos obrigamos por religião. 2) Desejo sincero. 3) Oferenda feita em cumprimento de promessa anterior ou em memória e por gratidão de graça recebida. 4) Obrigação contraída em razão de promessa ou juramento. 5) Súplica ou rogativa a Deus.

No contexto cristão, segundo definição da Bíblia de Estudos Genebra [Poucas pessoas já ouviram falar da Bíblia de Genebra. No entanto, essa tradução notável foi um best-seller em seus dias (ano de 1560 do século XVI). Sua renomada exatidão textual e as inovações na apresentação e no leiaute, fizeram dela a favorita do público. Os dramaturgos ingleses Shakespeare e Marlowe a usaram como fonte de suas citações bíblicas.], o voto é um acordo que você faz com Deus. Se for abençoado, com aquilo que deseja, retribuirá ao Senhor. “Os acordos eram feitos com Deus sob a forma de votos para assegurar sua presença, proteção, provisão, etc. As promessas feitas sob essas circunstâncias eram sempre condicionais. Pessoas em situação difícil poderiam fazer votos prometendo algo a Deus caso ele atendesse às suas orações. Normalmente, esses votos eram acompanhados por uma oferta pacífica no momento de serem feitos e, depois, novamente, ao serem atendidos (p. 136)." “Votos a Deus são o equivalente devocional dos juramentos e devem ser tratados com seriedade (p. 556)." Encontramos também na Bíblia votos que não são condicionais, ou seja, pessoas que fizeram voto ao Senhor sem esperar alguma coisa da parte dele, mas como gratidão pelas inúmeras bênçãos dele recebidas. 

Nos dias atuais, há uma vertente do cristianismo que ainda considera espiritualmente válida a prática de se fazer votos a Deus e, no outro extremo, há os que condenam a prática por considerarem que ela "anula" o sacrifício de Jesus Cristo na cruz do calvário. Não entrarei nos meandros dessa pendenga de cunho doutrinário mas vou fazer uma análise sobre os prós e contras na prática dos votos. 

O "sim" 


Muitos de nós sabemos de cor todas as promessas bíblicas: "em Cristo somos mais que vencedor", "nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda" e inúmeros outros. Mas, neste aspecto, a minha palavra não é sobre as promessas de Deus, que também conheço e também me edifico nelas. Todos nós na hora do aperto, oramos mais, nos consagramos mais, jejuamos mais, e intensificamos nosso relacionamento com Deus. Até aí tudo bem, ótimo que recorramos a Deus. Mas ao orar, principalmente nos apertos, falamos com Deus e nos dispomos a ser "fiéis". "Senhor, ouve minha necessidade, preciso de Ti...", "Pai, usa-me segundo a tua vontade." 

Em relação ao voto, não o confundamos com meras práticas religiosas de negociações de "bençãos". O que quero aqui é alertar que somos primeiramente devedores a Deus, ao seu amor incondicional. Assim sendo, acredito que tudo o que fizermos para Deus ainda é pouco. Até (e por que não?) os votos feitos conscientemente e de livre e espontânea vontade. Ninguém, nem mesmo nosso grandioso Deus, obriga ninguém a nada, mas se algo colocamos no coração como propósito a ser feito para Ele, este propósito deve ser cumprido. 

É comum encontrarmos pessoas se comprometendo há algo com Deus, e no meio do caminho mudando de ideia, pois "sentiu no coração, que não era para fazer mais". Tal atitude vai contra tudo o que nos ensina as Escrituras Sagrada a respeito do relacionamento com Deus. Portanto é de suma importância estarmos atentos a nosso comportamento, a nosso relacionamento com Deus. Ele não precisa de nós, porém, Ele nos ama, ou seja, tudo o que colocarmos no coração para o Senhor, deverá primeiramente ter nossa ardente vontade de executar. Seja o que for, uma vez a vontade gerada, o próprio Deus nos capacitará para execução. Resumindo, se sua intenção é simplesmente agradar a Deus faça-o, esforça-te e tem bom ânimo. Deus não lhe pede nada que você não possa dar. E o que Ele não pediu, mas se você se propôs a oferecê-lO, faça-o. Nesse contexto não há nada de errado em se fazer votos a Deus. Reflita nos versículos: 
"Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. (...) Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o." - Eclesiastes 5:1, 4 

O "não" 


Nos tempos do Antigo Testamento as pessoas faziam diversos tipos de votos com Deus. Um exemplo disso encontramos em Gênesis 28:20-22, onde Jacó promete dizimar se contasse com a presença de Deus em sua jornada: 
“Fez também Jacó um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me der pão para comer e roupa que me vista, de maneira que eu volte em paz para a casa de meu pai, então, o SENHOR será o meu Deus; e a pedra, que erigi por coluna, será a Casa de Deus; e, de tudo quanto me concederes, certamente eu te darei o dízimo.” 
Veja que o voto não era impossível de ser cumprido por Jacó e foi feito diretamente com Deus. Os votos eram feitos com frequência nesse período e, por essa razão, encontramos no capítulo 30 de Números várias orientações escritas por Moisés com respeito ao cumprimento de votos feitos a Deus. A pessoa deveria pensar bem antes de fazer um voto, analisando se conseguiria ou não cumpri-lo. Um voto feito a Deus não deveria ser considerado levianamente e, portanto, não deveria ser feito precipitadamente: 
“Quando fizeres algum voto ao Senhor, teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o SENHOR, teu Deus, certamente, o requererá de ti, e em ti haverá pecado. Porém, abstendo-te de fazer o voto, não haverá pecado em ti.” - Deuteronômio 23:21, 22. 
“Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras.” - Eclesiastes 5: 4, 5. 
Além de Jacó, Jefté e Ana também realizaram votos a Deus. 

Quem não se lembra de Jefté, leia Juízes 11. Era um juiz que conduziu os israelitas na vitória sobre os inimigos (filhos de Amom). Porém, a questão é que ele havia feito um voto de oferecer em holocausto a Deus o que surgisse primeiro diante dele quando regressasse da batalha. O problema é que quem regressou foi sua filha e ele cumpriu o voto (não farei aqui uma discussão se ele sacrificou a vida dela ou se apenas a separou para servir a Deus, como algumas pessoas sugerem). O que vem ao caso neste momento é que ele fez um voto (que é chamado "voto de tolo"). 

Já no caso de Ana (1 Samuel 1) é um exemplo semelhante. Por não poder ter filhos, fez um voto a Deus: caso ela tivesse um filho, ele seria dedicado ao Senhor e seus cabelos e barba não seriam cortados. Há inúmeros outros exemplos menos específicos (como nos livro dos Salmos) em que a realização de votos é citada, afinal, fazia parte da tradição religiosa judaica. Mas o que podemos dizer desses casos? 

Em primeiro lugar, foram manifestações individuais e exclusivamente humanas. Deus não instruiu nenhum deles a votar, nem condicionou suas conquistas a esses votos que fizeram. Eles decidiram por si mesmos e conseguiram o que almejaram, assim como muitos outros conquistaram sem nunca terem feito votos. No caso de Jacó, leia Gênesis 28 todo e verá que Deus já havia prometido a ele que sua descendência teria a terra em que estava, que esses descendentes seriam muito numerosos e que se expandiriam pela Terra. Além disso, Jacó recebera a promessa de que seria guardado por onde passasse, de que seria conduzido por Deus de volta àquela terra e de que não seria deixado enquanto todas as promessas não fossem cumpridas na vida dele. Ou seja, o voto de Jacó, não importa o que fosse, não teria poder algum para mudar o que Deus já havia prometido.

No Novo Testamento, Jesus ensinou que o ideal é não fazermos juramentos ou promessas: 
“Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos. Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus; nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto.” - Mateus 5:33-36. 
E orienta que a nossa palavra seja sim, sim; não, não (verso 37). 

Hoje em dia, algumas (muitas delas, convenhamos) pessoas tentam usar votos e promessas para barganhar com Deus, esquecendo-se do sentido original do voto: a consagração e gratidão a Deus. Neste contexto, a prática dos votos não é nada louvável.

Caso você faça um acordo com Deus, não o faça com a intenção de "forçá-lo" a abençoar mais você. Lembre-se de que as bênçãos de Deus, inclusive a salvação, vêm pela graça e não por nossos méritos próprios: 
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” - Efésios 2:8-9. 
Tudo o que fazemos em nossa vida cristã, deve ser em ação de graças pela salvação recebida. 

Com base no que foi exposto, podemos seguir as seguintes orientações: 

1) O ideal, de acordo com Mateus 5:33-36, é não fazermos juramentos, promessas ou votos (principalmente os impossíveis de serem cumpridos); 

2) Nossa palavra deve ser sim, sim; não, não. Devemos ser honestos em nossa vida e não necessitarmos de juramentos (Mateus 5:37); 

3) Se você fez algum voto a Deus possível de ser cumprido, cumpra-o sem demora (Eclesiastes 5:4-5). 

Conclusão 


Analise, pois, cada um a si mesmo, avalie suas atitudes, busque equilíbrio na Palavra de Deus e procedam de acordo com sua consciência. Entretanto, é importante ressaltar que voto, promessa ou acordo algum significa absolutamente nada diante do sacrifício de Jesus Cristo na cruz do calvário. Sua obra foi completa. "Está consumado!", disse Ele antes de morrer. Não há mais sacrifícios possíveis ou preços a serem pagos, pois o sacrifício permanente (Cristo) já foi oferecido por toda a humanidade. E é por esse sacrifício que recebemos tudo o que Deus, por graça, decide nos conceder.

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