Dou início aqui a mais uma das minhas séries especiais de artigos. Na série temática Teologando, farei estudos bíblicos, todos com base teológica, acerca dos mais diversos assuntos especificamente das Escrituras Sagradas. Neste primeiro capítulo, te convido a aprender comigo sobre esse importante dom espiritual e chamado ministerial.
Escolhi a imagem clássica do vaso nas mãos do oleiro, para ilustrar este artigo, por dois motivos: primeiro porque acredito ser essa a posição que todo legítimo servo de Deus deve sempre estar e segundo porque muito me impressiona o ministério profético de Jeremias.
Jeremias é um profeta atípico. É certamente um profeta que desafia o senso comum sobre o agir de Deus. Sem dúvida alguma, o tratar de Deus em sua vida em muito se assemelha ao da vida de Jó.
Jeremias, o profeta rejeitado
Jeremias é um profeta atípico. É certamente um profeta que desafia o senso comum sobre o agir de Deus. Sem dúvida alguma, o tratar de Deus em sua vida em muito se assemelha ao da vida de Jó.
Repare que sua vida é muito pouco citada em pregações, ao contrário de suas mensagens sobre o coração humano (17:9) ou Vaso de barro e o Oleiro (Capítulo 18) e tantos outros textos maravilhosos sobre o amor de Deus. Aliás, muito pouco e quase nada se ministra sobre um outro livro, cuja autoria também é atribuída a Jeremias, o de Lamentações.
Em especial, respeitadas as devidas proporções, contextos e especificidades, tenho uma identificação quase literal com o ministério profético de Jeremias. Embora realmente ouvisse o decreto de Deus e o transmitisse fielmente, Jeremias talvez tenha sido o profeta mais incompreendido e rejeitado de toda a Bíblia e rejeição é algo que conheço por experiência própria.
As pessoas diziam que queriam ouvir o tratar de Deus dito por sua boca, mas assim que ele terminava de dizer, diziam
"que não aceitavam aquilo e que ele falava somente para desanimar os soldados para a batalha",
por exemplo, e que aquilo que ele dizia em nome do Senhor, não vinha de Deus (38:1-4)
Jeremias amava o povo e queria o seu bem, mas diziam o seguinte dele:
"Este homem não busca a paz para este povo, mas o seu mal" (38:4b).
Foi certamente o mais rejeitado de todos os profetas do antigo testamento e seu ministério foi o mais contestado de todos os ministérios proféticos da bíblia.
Jeremias sofreu um grau tão alto de rejeição por parte de todos que não consigo imaginar um ser humano de nossa época que conseguisse servir a Deus desse modo, já que muitos acreditam que o fato de uma multidão de crentes concordar com seu pensar seja o sinal da aprovação de Deus e realmente não é. Ao estudar o livro de Jeremias aprendemos isto, o que é confirmado com a própria rejeição com que sofreu o Senhor Jesus Cristo.
Dito isto, aprendamos um pouco mais sobre as
Características do genuíno ministério profético
Naturalmente, aquilo que sabemos sobre profetas nas Escrituras é que eles exerciam uma função ou faculdade especial entre o povo do Senhor, mas também devemos lembrar de que eles freqüentemente combinavam suas funções proféticas com outras funções.
Samuel era um profeta, mas também era juiz, e sacerdote. Moisés era um profeta, mas era outras coisas, além disso. Creio que Paulo era um profeta; ele era profeta, evangelista; ele era tudo, parece-me!
Assim, meu propósito não é o de falar de profetas, como pessoas distintas, mas de um ministério profético. É no ministério que estamos interessados, e iremos chegar ao instrumento reconhecendo o ministério desempenhado; compreenderemos melhor o vaso e veremos o que ele é se enxergarmos a finalidade para a qual ele foi constituído.
Portanto, deixe-me dizer que é a função, e não as pessoas, que temos em vista quando falamos de profetas ou ministério profético.
Estou bem certo de que aqueles que têm algum conhecimento, qualquer que seja, dos tempos, espiritualmente falando, irão concordar comigo quando digo que a necessidade premente do nosso tempo é a de um ministério profético.
Nunca houve um tempo quando existisse tão extensivamente a necessidade de uma voz de interpretação, quando as condições necessitassem mais do ministério de interpretação.
Ninguém quer fazer declarações extravagantes ou ser extremo em seus próprios discursos, mas eu acho que não seria nem extravagante nem extremo dizer que o mundo hoje está bastante carente de um verdadeiro ministério profético no seguinte sentido — uma voz que interprete a mente de Deus para as pessoas.
Este ministério pode existir em algum pequeno grau aqui e ali, mas de modo algum está ele sendo cumprido de forma plena. Constantemente nossos corações gemem e clamam, oh, que o propósito de Deus a respeito da presente situação possa ser recuperado, primeiramente para o reconhecimento de Seu povo, e, então, através de Seu povo para as pessoas mais distantes! Há uma grande e terrível.
Os profetas
Os profetas são descritos como aqueles que por meio dos quais Deus fala (Êxodo 7:1; Deuteronômio 18:15; Jr 1:9; 7:1). O profeta não criava nem adaptava a mensagem; e ele competia transmiti-la como a havia recebido (Êx 4:30; Dt 4:2,5). O que se exige do profeta é fidelidade.
"Na realidade, o profeta não tem por missão pregar uma ideologia nova, qualquer que seja ela.
Ele coloca novamente os seus contemporâneos diante da pessoa de Deus, ele situa Israel diante de alguém e não diante de um ensinamento ou um ideal, ele deixa Javé e o seu povo face a face".
Os profetas tinham consciência de que foram chamados por Deus (1 Samuel 3; Isaías 6; Jr 1; Ezequiel 1, 2, 3) e de que receberam a mensagem da parte de Deus (Números 23:5; Deuteronômio 18:18; Jr 1:9; 5:14), que era distinta dos seus próprios pensamentos (Nm 16:28; 24:13; 1 Rs 12:33; Neemias 6:8). Os falsos profetas eram acusados justamente de proferirem as suas próprias palavras e não as de Deus (Jr 14:14; 23:16; 29:9; Ez 13:2,3,6).
Quando os profetas se dirigiam ao povo, diziam:
"Assim diz o Senhor…", "Ouvi a Palavra do Senhor…", "Veio a Palavra do Senhor..." (cf. Ez 31:1; Jr 27:1; 30:1,4; Oséias 1:1; Joel 1:1; Amós 1:3; 2:1; Obadias 1:1; Miquéias 1:1, etc.);
frases essas muito importantes no contexto profético-espiritual, que são de enorme responsabilidade, mas que infelizmente foram hereticamente vulgarizadas pelo famigerado evangeliquês.isso indicava a certeza que tinham de que Deus lhes dera a mensagem e os enviara (cf. Jr 20:7-9; Ez 3:4ss; 17:22; 37:1; Am 3:8; Jonas 1:2).
Um fato importante a favor da sinceridade dos profetas de Deus é que nem sempre eles entendiam a mensagem transmitida (cf. Daniel 12:8,9; Zacarias 1:9; 4:4,5; 1 Pe 1:10,11).
Semelhanças entre o apostolado e o ministério profético
Podemos dizer que os apóstolos foram os profetas do Novo Testamento. Os escritores do Novo Testamento reconheciam ser o Antigo Testamento a Palavra de Deus (Hebreus 1:1; 3,7), sendo a “Escritura” um registro fiel da História e da vontade de Deus (Romanos 4:3; 9:17; Gálatas 3:8; 4:30).
Os apóstolos falavam com a convicção de que estavam pregando e ensinando a Palavra inspirada de Deus, dirigidos pelo Espírito Santo (ver 1 Coríntios 2:1-13; 7:10; 14:37; 2 Co 13:2,3; Gl 1:6-9; Cl 4:16; 1 Ts 2:13; 2 Ts 3:14).
Paulo e Pedro colocavam os escritos do Novo Testamento no mesmo nível do Antigo Testamento (cf. 1 Tm 5:18; Dt 25:4; Lc 10:7; 2 Pe 3:16). Paulo reconheceu os apóstolos e os profetas, no mesmo nível, como os fundamentos da Igreja, edificados sobre Jesus Cristo, a pedra angular (Efésios 2:20).
O papel dos escritores sagrados nos seus respectivos registros
Eles foram inteiramente passivos no sentido de que não interferiram na ação de Deus em se revelar e, também, no fato de que não expressaram a sua natureza pecaminosa. Os escritores foram apenas instrumentos humanos por meio dos quais Deus decretou registra sua mensagem (2 Pe 1:21; 2 Tm 3:16).
Eles falaram, todavia, somente à medida que foram conduzidos pelo Espírito Santo. A Escritura não é maniqueísta: tendo de um lado a Palavra de Deus e, de outro, a palavra dos homens; mas foi “exalada por Deus” em toda a sua extensão.
Conforme já afirmamos, Deus não anulou a personalidade dos escritores; caso contrário, na Bíblia haveria apenas um único e inconfundível estilo, o estilo do Espírito Santo.
No entanto, quer pelos originais, quer pelas traduções, é facilmente percebida a diferença entre os escritos de Moisés, Isaías, Amós, etc. Da mesma maneira, são perceptíveis as características próprias dos escritos de Paulo e de João, bem como as de Mateus, Marcos e Lucas. Portanto, podemos afirmar que, de certo modo, cada livro da Bíblia é fruto do estilo literário do seu autor humano (autor secundário).
Por isso, dentro da inspiração, há um lugar para assuntos pessoais, como por exemplo, a Epístola de Paulo a Filemon; e também há espaço para recomendações e preocupações específicas (cf. 1 Tm 5:23; 2 Tm 4:13).
O teólogo e escritor calvinista, Edwin Palmer (✰1922/✞1980), comentando esse assunto, escreve:
“Deus permitiu que o amor de Davi pela natureza brilhasse com seus Salmos, que o conhecimento que Paulo tinha de literatura pagã se manifestasse em suas cartas, que os conhecimentos médicos de Lucas caracterizassem seus escritos, que a brusquidão de Marcos aparecesse em seu livro. Tanto é que Paulo escreveu em uma forma lógica, João o fez numa forma mais mística”.
Essa compreensão se harmoniza perfeitamente com a soberania de Deus. Deus decretou e controlou os eventos, proporcionando as condições para que os seus servos se tornassem “naturalmente” aptos para a tarefa que ele mesmo lhe confiaria.
Na doutrina da inspiração vemos de maneira nítida a providência de Deus, que revela o seu governo sobre todas as coisas.
Os escritores sagrados não foram obrigados a escrever algo que fosse contrário à sua vontade; nem Deus fez com que quem só soubesse o hebraico tivesse de escrever em grego.
Deus usou as suas aptidões “naturais” de maneira misteriosa, de modo que o produto final fosse o registro inerrante da Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, houvesse a expressão da individualidade de cada escritor.
Jesus Cristo.
Jesus apelava para o Antigo Testamento, considerando-o como a expressão fiel do Conselho de Deus, sendo a verdade final e decisória. Deus é o Autor das Escrituras! (Mateus 4:4,7,10; 11:10; 15:4; 19:4; 21:16,42; 22:29; Marcos 10:5-9; 12:10,24; Lc 19:46; 24:25-27,44-47; João 10:34).
Conclusão
Acho que isto é suficiente para mostrar o que dissemos no início, que, se enxergarmos a natureza do ministério, imediatamente enxergamos o que o vaso é.
O vaso pode ser indivíduos cumprindo tal ministério, ou pode ser um coletivo. Mais adiante poderemos falar algo mais sobre o vaso, mas vamos agora pensar tecnicamente, em termos de apóstolos, profetas e outros, como ofícios.
Vamos pensar sobre eles como funções vitais. Deus quer que o homem e a função sejam idênticos, não o homem e um profissional, ou uma posição profissional, seja que título for.
O vaso deve ser a função, e a função deve justificar o vaso. Nós não vamos andar por aí nos promovendo como profetas; mas Deus conceda que possa ser levantado um ministério profético para um tempo como este, quando o Seu pleno propósito concernente a Seu Filho seja trazido de volta à vista entre o Seu povo. Esta é a necessidade das pessoas, e também dEle.
[Fonte: Efatá; Austin-Sparks.net; Explicando a Bíblia; Estilo Adoração]
Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
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