Os da minha geração, 50+, por certo se lembram de um divertido desenho animado, O Coiote e o Papa-Léguas (na versão original, "Wile E. Coyote and the Road Runner").Esta clássica animação da Warner Bros. mostra um coiote faminto tentando capturar um veloz papa-léguas, com espetacular rapidez, o uso de armadilhas e engenhosos planos que sempre falham, geralmente com consequências desastrosas para o próprio coiote.Leia este texto até o final e verá o porquê do título deste artigo, mais um capítulo da minha série especial "Papo de Psicanalista".
Quando tudo é urgente, negligenciamos o que é importante, inclusive, a saúde mental.
O hábito de acelerar a velocidade de áudios e vídeos pode causar efeitos negativos na saúde.
Psicólogos e pesquisadores afirmam que pessoas expostas frequentemente a estímulos frenéticos podem desenvolver dificuldade em reter informações.
"É como se você desenvolvesse, com a passagem do tempo, uma incapacidade de se aprofundar nos temas. Não é necessariamente que você fica ansioso, mas você não sabe mais o que fazer com uma informação que demora um pouco. Tem que associar, mas você perdeu a habilidade de associar",
explicou o psicólogo Cristiano Nabuco em recente entrevista à TV Brasil.
Uma pesquisa do Conselho Nacional de Secretários de Saúde aponta que 31,6% dos jovens, entre 18 e 24 anos, já receberam diagnóstico de ansiedade.
Os desconhecidos e/ou ignorados males no comum hábito de aceleração das mensagens de áudio
Entre eles o uso de aplicativos e redes sociais por muito tempo, sensação de angústia ao identificar que a bateria do celular está acabando ou sem acesso à internet e retomada do bem-estar somente quando está conectado.
A aceleração de tudo virou tendência. A vida se tornou urgente. Tudo é para ontem e vivemos na angústia de que "o agora" não faz sentido.
O olhar está sempre voltado para o futuro ou para o que ainda vai acontecer ou pode acontecer.
Um exemplo disso é a prática de acelerar os áudios no WhatsApp. Você sabe o que isso pode indicar em relação à saúde mental dos indivíduos?
E quais os impactos dessa simples ação na resposta comportamental e psíquica do ser humano?
Excesso de ansiedade
Em primeiro lugar, podemos citar o excesso de ansiedade como um dos maiores indicativos provocadores desta prática.
Isso se deve muito em função de que, nos últimos dois anos, o número de pessoas acometidas por sintomas e sensações desagradáveis relacionadas à ansiedade e ao estresse agudo aumentou consideravelmente.
Acelerar os áudios no WhatsApp apenas evidenciou que os transtornos ansiosos têm sido apontados como um dos desequilíbrios mentais mais comuns entre as pessoas.
Além disso, não é de hoje que o aplicativo do WhatsApp tem sido usado de forma quase onipresente.
Bate-papo entre amigos, grupo da família, de trabalho, compras e vendas, reunião, negócios, troca de conhecimentos, tudo parece passar por ali.
E, já algum tempo, uma atualização na plataforma permitiu acelerar os áudios recebidos.
Por que é tão prejudicial acelerar os áudios no WhatsApp?
À primeira vista, parece ser uma solução para os longos registros enviados pelos interlocutores mais prolixos.
No entanto, é preciso fazer a pergunta: por que aceleramos os áudios, os vídeos... e a vida?
Acelerar áudios de WhatsApp é apenas mais um sintoma da ansiedade com a qual estamos lidando na vida e principalmente, no trabalho.
Ouvir um áudio acelerado é um estímulo externo que avisa o sistema para ficar em alerta.
Então, inconscientemente, você avisa ao sistema nervoso para permanecer acelerado, o que é extremamente prejudicial, pois você vai ativar um aceleramento no seu organismo. Mas nós não temos o botão de desligar.
Depois de ouvir um áudio assim, a tendência é que o indivíduo continue acelerado, mesmo sem perceber.
Tal comportamento acarreta mais um componente de sobrecarga mental, sendo que, ao final do dia, pode supervalorizar a sensação de frustração por não ter dado conta de tudo.
Sequelas
Sem que você se dê conta, passa a ter pensamentos de que não fez o suficiente, de que poderia produzir mais, alimentando o sentimento de que estamos sempre devendo, sendo que o dia continua tendo 24 horas.
Ou seja, é possível afirmar que acelerar áudios e vídeos acabam por deixar as pessoas em um estado de hipervigilância, gerando gatilhos que desembocam em uma possível crise de ansiedade.
Portanto, são pequenas ações que consideramos inofensivas, mas que enviam mensagens subliminares ao nosso cérebro, alterando o comportamento e modificando sentimentos e emoções.
O que fazer?
O segredo é ter cuidado com o outro para não acelerar e provocar ansiedade através dos áudios que envia.
Mande áudios de até 1 minuto apenas. Se o assunto for extenso, quebre em vários áudios de 1 minuto para não se transformar em um podcast.
E, ao ouvir áudios, nunca os acelere. Entenda o quanto esse ato simples pode impactar em sua saúde mental e no ritmo do seu dia.
A aceleração de tudo promove a sociedade do cansaço, doente psicologicamente.
Indo mais fundo
Como um profissional na área de saúde mental, falanco com conhecimento de causa e não por hipótese, considero um completo absurdo cognitivo.
É como forçar qualquer estrutura do corpo a dar muito mais do que ela foi projetada para suportar. Vemos isso acontecendo nas academias mundo afora. Até quando um corpo aguenta tanto crossfit?
Vamos pensar que, assim como um bíceps, nosso cérebro seja "um músculo" que exige respeito e não aceita desaforo.
A natureza é sábia e nosso cérebro é até bondoso conosco. Vai aguentando todas as novidades que trazemos a ele, até que a dor seja insuportável.
Aí vem depressão, ansiedade, pânico e todos os gatilhos os quais convivemos. Depois, parar religar os fios, dá um trabalhão danado, isso quando ainda é possível religar alguns.
Tudo bem, eu também não suporto aqueles áudios gigantes, tipo podcasts que me mandam.
O poder de síntese nem sempre é fácil. Se numa conversa face to face já é um desafio, imagina quando a pessoa prolixa tem a chance de gravar sem ser interrompida.
Aos prolixos, meu maior respeito até mesmo porque, eu sou um, mas também minha maior resiliência.
Aos prolixos, meu maior respeito até mesmo porque, eu sou um, mas também minha maior resiliência.
Sinceramente, e daí? Quem já não teve que suportar longos discursos de um chefe ou colega chatos em uma interminável reunião presencial? E o que dizer das palestras em ambientes acadêmicos?
Aí entra o exercício da escuta ativa, do respirar fundo e da paciência. Nós queremos que nos ouçam, que nos compreendam.
Aí entra o exercício da escuta ativa, do respirar fundo e da paciência. Nós queremos que nos ouçam, que nos compreendam.
Os outros, também. Mas tem muito mais. Para não ficar só no terreno das opiniões, nessa aberração de acelerar áudios, especialistas parecem concordar.
Transtornos de ansiedade
- Ansiedade, confusão mental, sentido de improdutividade
"Acelerar áudios de WhatsApp é apenas mais um sintoma da ansiedade com a qual estamos lidando com a vida, principalmente, com o trabalho" (Psicólogo Kleber Marinho — Jornal Metrópole, por Mariana Vieira | 20/06/2021).
Como já dito, mais é válido salientar, segundo este especialista, o cérebro assimila este estímulo com a necessidade de fazer mais, pois terminamos o dia com a sensação de que ficamos devendo.
Esta sobrecarga mental induz a estados de hipervigiância, disparando crises de ansiedade.
Não é á toa que, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o Brasil é o primeiro país no mundo em transtornos de ansiedade (e olha que tem muita gente em guerra pelo mundo). 9,3% da população tem algum transtorno de ansiedade.
- Falta de Empatia
Acelerar o áudio leva á falta de empatia. Um dos nossos gatilhos naturais de empatia é assimilar a voz alheia, suas expressões, a entonação.
Isso se perde quando distorcemos digitalmente a voz de quem está do outro lado. Não dá para saber se o outro está feliz, angustiado, triste.
E isso altera completamente o propósito das relações, desumanizando o contato. Triste, não?
- Prejuízo à da saúde mental
"O recurso acaba integrando o movimento de aceleração que tanto nos prejudica. Afinal, todos nós conhecemos alguém que está correndo contra o tempo.
São padrões de estar sempre à frente, sempre correndo e nunca no presente" (Psicóloga Fabiane de Faria, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental — Revista Vogue, editorial | 25/06/2021).
Para esta especialista, os principais sintomas desse "apressar o tempo" são a ansiedade (de novo, ela) e a falta de foco.
Ser multitarefa pode parecer produtivo e descolado, até a página dois. É preciso parar, elaborar cada coisa, resolver uma demanda por vez. Isto contribui para cultivar hábitos que preservam a saúde mental.
- Prejuízo às relações interpessoais
"A gente acelera tudo, em vários contextos: vídeos, áudios…Daqui a pouco, quando a pessoa estiver na sua frente, não saberá lidar com quem fala um pouco mais devagar.
É um problema sério, pois nem sempre o outro consegue ser rápido e objetivo" (Psiquiatra Regiane Kunz Em entrevista concedida ao programa Marco Zero, Rádio Clube FM | 20/04/2022).
Ao mecanizarmos demais a interação com o outro, ao invés de nos aproximarmos, nos afastamos das pessoas.
Geramos imediatismos que não existem e colocamos no colo do interlocutor as nossas próprias ansiedades.
Sem falar que deixamos de apreciar coisas simples do dia a dia, como ver o outro dar uma boa gargalhada, um jantar em família, uma boa conversa sobre temas interessantes e a nossa capacidade de ouvir e fazer reflexões.
Isso porque, no ato de acelerar a interação, tudo o que não for dentro daquele ambiente artificial, passa a ser secundário, perda de tempo.
Sem falar que deixamos de apreciar coisas simples do dia a dia, como ver o outro dar uma boa gargalhada, um jantar em família, uma boa conversa sobre temas interessantes e a nossa capacidade de ouvir e fazer reflexões.
Isso porque, no ato de acelerar a interação, tudo o que não for dentro daquele ambiente artificial, passa a ser secundário, perda de tempo.
E tempo, talvez seja o atributo mais caro de nossas vidas.
Conclusão
Matéria exibida no telejornal Repórter Brasil, 07 de setembro de 2023
Conseguimos banalizar a urgência de tal forma que, quando dizemos que algo é realmente urgente, ninguém mais acredita.
Quando percebermos o quanto o acelerar áudios de Whatsapp nos fez perder em qualidade de vida e saúde mental, pode ser tarde demais.
É viver o presente, preservando momentos que não voltam
Por fim
Me nego a acelerar o áudio do Zap, mesmo que seja longo. Quero garantir o respeito que tenho pela voz de quem estiver do outro lado.
Como comunicador, tenho como disciplina, trabalhar a síntese nas minhas mensagens, para facilitar a compreensão de quem está do outro lado (aliás, minha preferência é a comunica por textos e, assim, enfrento ainda, o problema com os que não gostam de ler 🤦🏿♂️ 🤷🏿♂️).
Gravo para o outro e não para mim mesmo. Gravo 10 vezes se precisar, para, em poucos segundos, conseguir me expressar.
Se o tema é muito complexo, me permito o máximo absurdo de um minuto e meio.
Senão, ligo para a pessoa. É a forma que tenho de preservar as boas interações e exercitar a empatia.
Gravo para o outro e não para mim mesmo. Gravo 10 vezes se precisar, para, em poucos segundos, conseguir me expressar.
Se o tema é muito complexo, me permito o máximo absurdo de um minuto e meio.
Senão, ligo para a pessoa. É a forma que tenho de preservar as boas interações e exercitar a empatia.
"Mas e, se apesar de tudo isso, a pessoa do outro lado acelera a sua gravação?"Sinto muito por ela, pois a vida já é difícil demais para que nós mesmos adoeçamos por conta própria. Ajo sobre aquilo que posso.
Quero conversar muito, me expressar, exercitar meu poder de síntese, mas sobretudo, apreciar o que o outro tem a me dizer, sem intermediários nem truques ou fugas digitais.
[Fonte: LinkedIn - original, por Daniel Souza]



Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.

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