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Dou início aqui, a mais uma série especial de artigos. Nesta série, irei trazer assuntos gerais em exposição sob o viés especificamente psicanalítico.
No primeiro capítulo, trago uma exposição sobre o fenômeno em relação aos tais bebês reborn, que, mesmo não sendo uma novidade, tomou mais visibilidade por causa — e não podia ser diferente — de influenciadores digitais.
A vida em sua maior plenitude sempre fez o maior sentido para todo mundo. Mesmo com desilusões e problemas à parte, viver é a melhor coisa do mundo, pois participamos das transformações diárias do planeta e da própria história da humanidade.
Claro, uma grande parte da população mundial sobrevive ou vive como verdadeiros zumbis, seja pelo excesso de trabalho que não lhe dá tempo para ver ao seu redor, nem que sejam as coisas mais simples do mundo, como uma flor que desabrocha ou um pássaro que passa a sua frente, ou pela constante alienação submetida pelas diversas telas que estão à nossa disposição desde as primeiras horas da manhã até as altas horas da madrugada.
Sem falarmos da miséria absoluta, da fome, na invisibilidade ou de outros fatores que chocam a sociedade nos dias de hoje ao redor do planeta.
Mas nesta mesma sociedade desenfreada em que vivemos com mudanças diárias de tecnologias, pensamentos, política, economia, redes sociais, costumes, manias, neuroses, loucuras e tantos outros que vão surgindo, vale a pena pensar um pouco sobre o que acontece ao nosso redor, nas telas da televisão, ou na insegurança psicológica que a sociedade moderna vive.
Nos últimos anos, os chamados bebês reborn — bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos em mínimos detalhes — se tornaram objeto de fascínio, colecionismo e também de controvérsia.
Embora para muitos sejam apenas obras de arte ou itens colecionáveis, para outras pessoas, esses bonecos assumem um papel afetivo profundo, muitas vezes preenchendo vazios emocionais.
Isto porque, além de apenas "colecionar" esses brinquedos, muitas pessoas Brasil afora têm demonstrado um hábito peculiar: cuidam dessas bonecas como se fossem filhos reais.
As situações são as mais variadas: pessoas trocando fraldas, levando os bebês para passear, educando-os e até fazendo "partos reborn".
Tem ainda quem chegue ao extremo de levar esses brinquedos ao pediatra. Houve um caso em São Paulo, que uma mulher deu o maior piti em um posto de saúde, porque o médico se recusou a atender o boneco dela.
O que são bebês reborn?
Os bebês reborn são bonecos confeccionados artesanalmente com materiais como vinil ou silicone, cuidadosamente pintados, com cabelos implantados fio a fio e detalhes que simulam veias, manchas e expressões reais de um bebê.
O realismo é tal que, à distância, muitos são indistinguíveis de uma criança de verdade.
Além de artistas e colecionadores, há um público crescente que os utiliza como forma de afeto, companhia ou até como substitutos simbólicos de filhos perdidos.
Redes sociais, de novo elas
Nas últimas semanas, as redes sociais têm sido tomadas por um único assunto: os bebês reborn, bonecas hiper-realistas, com corpos articulados e feições quase humanas.
O que há por trás dessa febre?
Bebê reborn não é novidade no mercado. Eles se popularizaram mundialmente nos anos 1990, a partir de sua criação nos Estados Unidos.
Desde então, eles são comercializados no mundo todo e muitos colecionadores começaram a se mostrar nas redes sociais, principalmente na época da pandemia de Covid-19.
Com o mercado aquecido pela febre e pela polêmica que gira em torno dela, é grande a oferta de bonecos e de serviços que envolvem o mundo reborn.
Mas foi, recentemente, no Brasil que eles ganharam muito destaque nas redes sociais e na mídia em geral, com influenciadoras postando suas rotinas de cuidados com o boneco, como trocar fraldas e colocar para dormir.
A partir daí, apareceram colecionadoras reivindicando atendimento médico para seus "bebês", pediatras comunicando que não atendem bebê reborn e uma série de outras situações que gerou polêmica e debates.
No Rio de Janeiro, a Câmara Municipal aprovou, em 8 de maio, o projeto de lei que institui o "Dia da Cegonha Reborn". O PL foi vetado pelo prefeito Eduardo Paes (PSD).
Diante dessa crescente popularidade — potencializada por influencers e subcelebridades midiáticas, em suas famigeradas redes sociais, insanas caçadoras de curtidas, likes e visualições —, muitos acabam se perguntando até que ponto isso deixa de ser um hobby exótico e passa a se tornar algum fenômeno psíquico.
Esse fenômeno tem despertado debates importantes sobre saúde mental, vínculos emocionais e estratégias de enfrentamento do sofrimento psíquico.
A relação com um bebê reborn é, muitas vezes, uma forma simbólica de cuidar de si mesma — de partes frágeis, feridas ou não elaboradas da própria história emocional.
Freud explica?
Sob a ótica da psicanálise, o uso dessas bonecas pode ativar mecanismos como projeção, identificação e tentativas inconscientes de reparar experiências de perda ou abandono.
O que um bebê reborn nos mostra é que o desejo de amar e de ser amado encontra caminhos complexos e, por vezes, silenciosos.
Cabe a nós reconhecer que, mesmo nos vínculos com o inanimado, há algo pulsando: um pedido de acolhimento.
Não fosse o bastante, os brinquedos podem acabar se tornando um "espelho" dos próprios desejos, medos ou traumas não simbolizados.
O problema aparece quando o vínculo com o bebê reborn passa a substituir as relações humanas.
Quando há um apego excessivo, pode ser sinal de sofrimento psíquico, isolamento afetivo e dificuldade de lidar com a realidade emocional.
O lado emocional
- Companhia e luto
Algumas pessoas criam vínculos profundos com os bebês reborn, atribuindo a eles nomes, roupinhas, rotinas e cuidados diários.
Em certos casos, esse vínculo tem um papel terapêutico: mulheres que passaram por perdas gestacionais, mães enlutadas ou pessoas com quadros depressivos relatam encontrar conforto emocional no cuidado com o boneco.
O reborn, nesses contextos, funciona como uma figura transicional, semelhante ao que acontece com objetos afetivos na infância, como os paninhos ou bichos de pelúcia.
No entanto, o uso dos bebês reborn como substituto simbólico pode, em algumas situações, apontar para questões não elaboradas emocionalmente.
Em vez de processar o luto, a perda ou o vazio, a pessoa pode buscar no boneco uma fuga da dor real.
Embora essa função simbólica possa ser momentaneamente útil, psicólogos e psiquiatras alertam para o risco de perpetuar um estado de negação ou de impedir o avanço de processos saudáveis de elaboração emocional.
A controvérsia
- Filas, consultas médicas e o uso de serviços destinados a bebês reais
Um dos pontos mais polêmicos envolvendo os bebês reborn é a atitude de algumas pessoas que os levam a consultas pediátricas fictícias ou os utilizam para obter prioridade em filas destinadas a mães com crianças de colo.
Essas ações geram forte reação pública, levantando debates éticos e legais. Muitos consideram um abuso da boa-fé e um uso indevido de direitos garantidos por lei a mães e bebês reais.
Já outras pessoas alegam que o boneco representa um vínculo afetivo legítimo e que o cuidado simbólico com ele também merece respeito.
Contudo, quando o uso dos reborns ultrapassa o âmbito privado e passa a interferir em serviços públicos ou em políticas de atendimento prioritário, surgem questionamentos importantes.
Há o risco de banalização de direitos e de prejudicar quem realmente necessita de prioridade — como mães em situação de vulnerabilidade ou bebês com necessidades médicas reais.
O desafio, nesse caso, é reconhecer o valor simbólico desses objetos para quem os utiliza, sem que isso comprometa o bom funcionamento de espaços coletivos e direitos sociais fundamentais.
Esse debate reforça a necessidade de mais diálogo entre o campo da saúde mental e as esferas sociais e jurídicas, para que se compreenda a complexidade do fenômeno sem recorrer a julgamentos simplistas ou estigmatizantes.
A polêmica
- Saúde mental e patologização
A linha entre uma prática afetiva inofensiva e um indicativo de sofrimento psíquico é tênue.
Nem todo vínculo com bebês reborn indica um transtorno; no entanto, quando o boneco passa a ocupar o lugar de um relacionamento humano real ou impede a pessoa de enfrentar questões emocionais importantes, o uso pode ser um sinal de alerta.
O debate se intensifica nas redes sociais, onde vídeos de pessoas tratando os bebês reborn como filhos reais — dando mamadeira, passeando com carrinho ou levando ao pediatra fictício — geram tanto empatia quanto julgamentos.
Enquanto algumas pessoas enxergam essa prática como uma forma legítima de lidar com a dor, outras a consideram um sinal de desequilíbrio emocional.
A patologização desses vínculos, no entanto, exige cuidado: o que pode parecer estranho aos olhos de muitos pode ser, para o sujeito, uma estratégia de enfrentamento que precisa ser compreendida e respeitada.
Estabelecer limites e considerar riscos
Em entrevista ao Portal iG, a psicóloga Angelita Traldi, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, afirma que a rotina com os bebês reborn pode ser uma brincadeira saudável para algumas pessoas, especialmente aquelas que o fazem como uma forma de expressão criativa ou terapêutica.
"Mas, como qualquer atividade, é importante estabelecer limites e considerar os possíveis riscos.
A brincadeira pode passar do aceitável quando interfere com as relações reais.
Se a pessoa começa a priorizar o relacionamento com o boneco sobre as relações com pessoas reais, pode ser um sinal de que a brincadeira está passando do aceitável".
Angelita Traldi aponta como ponto problemático da brincadeira com o bebê reborn quando ela afeta a saúde mental e social.
"Se a pessoa começa a experimentar sintomas de ansiedade, depressão ou outros problemas de saúde mental relacionados à brincadeira, é importante buscar ajuda".
Ainda segundo a psicóloga, outro sinal de alerta que denota a necessidade de a pessoa receber ajuda de um especialista é quando há perda de contato com a realidade.
"A pessoa começa a acreditar que o boneco é real ou a tratá-lo como se fosse uma pessoa real de forma excessiva.
E também se a pessoa começa a priorizar o relacionamento com o boneco sobre as relações com pessoas reais, isso pode ser um sinal de que a brincadeira está passando do aceitável".
Uso terapêutico
Para muitos colecionadores, essas bonecas são itens de valor emocional, representando uma conexão especial com a infância ou com a ideia de maternidade.
Mas algumas pessoas utilizam as bonecas reborn como parte de terapias para lidar com a perda ou a solidão.
A psicóloga Angelita Traldi destaca o uso positivo do bebê reborn como ferramenta terapêutica.
"A terapia com bebês reborn pode ser aplicada em vários contextos, como, por exemplo, a terapia para lidar com o luto.
Nesse caso, ele pode ajudar as mães que perderam um filho a lidar com o luto e a processar suas emoções".
Um trabalho apresentado no 10º Congresso Internacional de Envelhecimento Humano, em 2023, mostrou que a terapia com bonecos hiper-realistas pode auxiliar idosos com Alzheimer.
A pesquisa comprovou a contribuição desta terapia para a recuperação da capacidade emocional dos idosos submetidos à intervenção e manuseio das bonecas. Há desenvolvimento de afeição, socialização e sentimento de utilidade que resgatam a memória afetiva dos pacientes.
"Nesse caso, a terapia com o boneco reborn pode ser usada para estimular a memória e a emoção em pessoas com Alzheimer".
Para além da utilização terapêutica, os especialistas concordam que a linha entre o significado lúdico e o transtorno psicológico é tênue e requer atenção.
Conclusão
Reflexões finais
Apesar de, em alguns casos, parecer algo comum, os cuidados excessivos com os bebês reborns podem se tornar um motivo de alerta.
A febre dos bebês reborns é um fenômeno complexo, que envolve arte, memória, afeto, perda e saúde mental.
Mais do que julgar, é necessário compreender os significados subjetivos que esses bonecos assumem para cada indivíduo.
Em alguns casos, o acompanhamento psicológico pode ajudar a esclarecer se esse vínculo está promovendo alívio emocional ou mascarando dores profundas.
O mais importante é garantir que cada pessoa tenha espaço para expressar suas emoções de maneira saudável e, quando necessário, buscar apoio profissional para isso.
Em resumo, a psicanálise considera a febre dos bebês reborn como uma manifestação de diversos fatores, que podem variar de pessoa para pessoa, e ressalta a importância de compreender a motivação por trás desse comportamento para evitar riscos à saúde mental e social.
[Fonte: NeuroConhecimento, original por Alex Ribeiro — Com formação em Psicologia pela Faculdade Ciências da Vida e Especialização em Neuropsicologia pela PUC Minas, possui uma sólida experiência abrangendo diversas áreas, como Neuropsicologia, Psicologia Clínica, Psicologia em Saúde, Psicologia Social e Saúde Mental. Portal 6, original por Thiago Alonso; Jornal Bom Dia, original por Carlos da Silveira, Jornalista e Historiador. Portal Ig]
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.

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