"Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus" (Salmo 51:17).
Hoje é um dia apropriado para o cristão refletir sobre pecado e arrependimento; para responder para si mesmo o quanto ele detesta o mal e deseja apegar-se ao bem (Romanos 12:9).
É muito comum nos últimos anos vermos líderes religiosos usarem utensílios judaicos em cultos evangélicos ou "cristãos". Argumenta-se que é tudo simbólico e que não usam como os judeus usavam. Então tá, né?
Contudo, os filhos de Deus na nova aliança podem viver a realidade sem simbologias. As simbologias estão mais para o sincretismo religioso do que para uma genuína expressão de fé.
O sincretismo religioso é um processo cultural que envolve a fusão de diferentes tradições, crenças e práticas para a formação de uma nova doutrina religiosa e/ou expressões de cunho cultural e filosófico.
Um desses "utensílios" ou costumes, que tem se propagado no meio cristão, é de usar pano de saco. São roupas hoje feitas (bem feitas, por sinal) de pano de saco para simbolizar: arrependimento, tristeza e demonstrar humilhação.
Mas, enfim, há legitimidade bíblica para essa prática na atualidade? É o que veremos neste capítulo da minha série especial de artigos Bíblia Aberta. Abra sua Bíblia e confira.
Qual significado e o contexto bíblico para o uso de pano de saco?
O pano de saco e as cinzas eram usados nos tempos do Antigo Testamento como um símbolo de degradação, luto e/ou arrependimento. Alguém que quisesse mostrar seu coração arrependido frequentemente usava pano de saco, sentava-se em cinzas e colocava cinzas em cima de sua cabeça.
O pano de saco era um material grosso geralmente feito do pelo preto da cabra, o que o tornava bastante desconfortável de usar. As cinzas significavam desolação e ruína.
Quando alguém morria, o ato de colocar um pano de saco mostrava tristeza sincera pela perda daquela pessoa. Vemos um exemplo disso quando Davi lamentou a morte de Abner, o comandante do exército de Saul (2 Samuel 3:31).
Jacó também demonstrou sua dor ao usar pano de saco quando pensou que seu filho, José, havia sido morto (Gênesis 37:34). Esses exemplos de luto pelos mortos mencionam o pano de saco, mas não cinzas.
Cinzas acompanhavam o pano de saco em tempos de desastre nacional ou arrependimento do pecado. Ester 4:1-3, por exemplo, descreve Mordecai rasgando suas roupas, colocando pano de saco e cinzas, e, saindo pela cidade,
"clamou com grande e amargo clamor".
Essa foi a reação de Mordecai à declaração do rei Xerxes que dava ao perverso Hamã autoridade para destruir os judeus (ver o capítulo 3). Mordecai não foi o único que sofreu.
"Em todas as províncias aonde chegava a palavra do rei e a sua lei, havia entre os judeus grande luto, com jejum, e choro, e lamentação; e muitos se deitavam em pano de saco e em cinza" (Ester 4:3, grifos meus).
Os judeus responderam às notícias devastadoras sobre sua raça com pano de saco e cinzas, mostrando sua intensa dor e angústia.
O pano de saco e cinzas também foram usados como um sinal público de arrependimento e humildade diante de Deus.
Quando Jonas declarou ao povo de Nínive que Deus iria destruí-los por sua iniquidade, todos, do rei ao mais humilde dos cidadãos, responderam com arrependimento, jejum e pano de saco e cinza (3:5-7).
Eles até colocaram pano de saco em seus animais (versículo 8). Seu raciocínio foi:
"Quem sabe se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos?" (versículo 9).
Isso é interessante porque a Bíblia nunca diz que a mensagem de Jonas incluiu qualquer menção à misericórdia de Deus; mas misericórdia é o que receberam.
É claro que os ninivitas vestindo roupas de saco e cinzas não eram um espetáculo sem sentido. Deus viu uma mudança genuína — uma humilde mudança de coração representada pelo pano de saco e cinzas — o que fez com que ele "cedesse" e não realizasse seu plano de destruí-los (versículo 10).
Outras pessoas que a Bíblia menciona usando um pano de saco incluem o rei Ezequias (Isaías 37:1), Eliaquim (2 Reis 19:2), o rei Acabe (1 Reis 21:27), os anciãos de Jerusalém (Lamentações 2:10), Daniel (9:3) e as duas testemunhas em Apocalipse 11:3.
Resumindo, o pano de saco e cinzas eram usados como um sinal externo da condição interna de quem os usava. Tal símbolo tornava visível a mudança de coração e demonstrava a sinceridade do sofrimento e/ou do arrependimento.
Não foi o ato em si de colocar pano de saco e cinzas que movia Deus a intervir, mas a humildade que tal ação demonstrava (ver 1 Samuel 16:7). O perdão de Deus em resposta ao genuíno arrependimento é celebrado pelas palavras de Davi:
"Converteste o meu pranto em folguedos; tiraste o meu pano de saco e me cingiste de alegria" (Salmo 30:11).
Pano de saco hoje?
Muitos cristãos, hoje, observam o rito religioso do pano de saco (assim como os católicos observam o uso das cinzas, após o carnaval e início da quaresma) como sendo sinal de arrependimento e conversão. A frase por eles ouvida será do próprio Jesus:
"Arrependei-vos e crede no evangelho" (Marcos 1:15).
Para muitos, trata-se de uma forma simbólica para expressar o arrependimento, como garantia de "conta zerada", para poder ficar sem dívidas espirituais.
O mistério está exatamente no que nos é pedido: que nos arrependamos e creiamos.
Ora, como poderemos atender a essa conclamação? Como iremos buscar, lá dentro de nós mesmos, a transformação da mente (metanóia), a mudança emocional (contrição), pela qual passamos a nos entristecer com nosso pecado, e chegar àquele arrependimento ativo, que nos leve a uma quebra de rumos e caminhos (conversão)? Não se parece com a situação em que alguém nos diz: "acalme-se"? Oras, se estou nervoso ou perturbado, como me acalmar?
Entretanto, o chamado ao arrependimento e à fé é integrante da tradição judaica e também cristã. E as palavras sobre a ilegetimidade contextual do uso de paso, hoje, vêm do próprio Jesus:
"arrependei-vos!".
Muitas tentativas de desvendamento deste mistério já encheram páginas e mais páginas de livros. Não vou ousar.
Prefiro encaminhar esta conversa para o lado pastoral: arrependamo-nos e creiamos; seja lá o que tenhamos feito em desacordo com a vontade de Deus, arrependamo-nos e creiamos no evangelho.
Mesmo que não estejamos vivendo um tempo de deserto; mesmo que não creiamos que está próximo o nosso encontro definitivo com nosso Mestre, arrependamo-nos já. E creiamos no evangelho.
Esse chamado não se destina a um outro, apenas, mas a TODOS! Destina-se àqueles que tiverem ouvidos para ouvir. E que o Espírito de Deus nos ajude naquilo que nos é impossível, naquilo que nos é velado do nosso próprio coração.
Conclusão
No NT, nas cartas de Paulo não temos qualquer orientação para gentios usarem roupas de pano de saco, e a nenhum filho de Deus.
O que temos é:
"Ai de ti, Corazim, ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se fizessem as maravilhas que em vós foram feitas, já há muito, assentadas em saco e cinza, se teriam arrependido" (Lucas 10:13).
Perceba que não é uma ordem, e ainda é antes da cruz, não temos qualquer incentivo do evangelho a usarmos roupas de pano de saco,
(Falo apenas do pano de saco, porque as cinzas até agora não vi alguém querer usar, será porque?).
É preciso que os filhos de Deus saibam a diferença entre antes e depois da cruz, Antiga e Nova Aliança, Lei e Graça.
Sendo que não há qualquer ensinamento bíblico no contexto na nova aliança esta prática, concluímos que usar caracteriza uma heresia, ou, no mínimo, mais uma imbecilidade religiosa.
[Fonte: Ultimato, original por Rubem Amorese é presbítero emérito na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília. Foi professor na Faculdade Teológica Batista por vinte anos; Nova Aliança da Graça; Got Questions]
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.

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E nem 1% religioso.

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