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domingo, 11 de maio de 2025

FREUD E OS SUPER-HERÓIS — 7) SUPERMAN

O saudoso ator Christopher Reeve (☆1952/✞2004) como o primeiro Superman do cinema, entre 1978 e 1987.
Superman, o último filho de Krypton, é muitas vezes visto como o arquétipo do herói virtuoso, repleto de integridade e compaixão.

Ele é o epítome do altruísmo, sempre colocando as necessidades dos outros à frente das suas próprias, quase como se fosse motivado por um senso de dever que vai além da compreensão humana.

No entanto, essa faceta imaculada também traz um peso emocional: a solidão de ser o último de sua espécie e o dilema moral constante sobre como usar seu imenso poder.

No sétimo capítulo da minha série especial Freud e Os Super-Heróis, traçarei o perfil psicológico desse que é um dos mais cultuados heróis da DC Comics.

O Dilema da Dualidade


David Corenswet, como 16° Superman do cinema
Ele é o estrangeiro eterno, sempre dividido entre sua herança kryptoniana e sua adoção terrestre. 

Esse complexo cruzamento de identidades torna Superman uma rica tapeçaria psicológica, onde conceitos como dever, solidão e moralidade estão intrinsecamente entrelaçados.

Na psicanálise, o Superman pode ser analisado sob diferentes perspectivas, incluindo a de complexo de Superman, a dualidade de Clark Kent e Superman, e a influência do supereu. 

Complexo de Superman

Henry Cavill interpretou o krytoniano
em 2013, 2016, 2017 e 2021

O complexo de Superman, ou Síndrome de Super-Herói, reflete uma necessidade compulsiva de salvar os outros, assumindo riscos excessivos. 

A dualidade entre Clark Kent e Superman pode ser interpretada como uma busca por identidade e autenticidade, enquanto o Superman, com seus poderes e moralidade, pode ser visto como uma expressão do supereu.

Síndrome de Super-Herói


Esta síndrome, também conhecida como Complexo de Super-Herói, descreve uma necessidade compulsiva de ajudar os outros, mesmo que isso signifique assumir riscos e responsabilidades excessivas. 

O indivíduo com este complexo pode acreditar que os outros não são capazes de realizar tarefas ou que precisam ser protegidos, o que o leva a agir de forma excessivamente protetora e a negligenciar suas próprias necessidades.

Supereu e a Moralidade do Superman


O Superman, com sua forte moralidade e senso de justiça, pode ser analisado sob a ótica do supereu freudiano. 

O supereu, como instância moral, internaliza as normas e valores sociais, representando a voz da consciência e impulsionando o indivíduo a seguir regras e princípios éticos. 

O Superman, com sua determinação em proteger o inocente e combater o mal, pode ser visto como uma personificação do supereu, buscando a perfeição moral e a realização do ideal.

O supereu no conceito de Freud

Tyler Hoechlin foi outro ator que
viveu Superman nas telonas

Freud formula a ideia de supereu no texto de 1923, "O ego e o id", como uma instância de dupla origem, concepção da qual não abre mão em toda a sua obra. 

Para Freud, o supereu é representante do isso, seu lado pulsional, mas também herdeiro do complexo de Édipo, sua vertente que está entrelaçada ao ideal do eu.

Na concepção freudiana, o supereu, por assumir a função dos pais de vigiar, julgar e punir, é considerado herdeiro do complexo de Édipo. 

Trata-se de uma instância moral e, por vezes, hipermoral, devido à intransigência e à crueldade de suas exigências. 

Freud deu um lado ao supereu que se articula ao ideal do eu pela moralidade, mas também não deixou de destacar a outra faceta dessa instância — ser representante do isso —, o que justifica a severidade dos imperativos superegoicos, à medida que são fomentados pela própria pulsão de morte.

O supereu no conceito de Lacan


Tom Welling, como o jovem Superman, na
 icônica série"Smallville, as Aventuras do Superboy"
No ensino lacaniano, no entanto, o supereu jamais será considerado herdeiro do complexo de Édipo, como lembra Miller (1997a).

Essa instância em Lacan é concebida de forma a não deixar dúvidas sobre seu funcionamento, ao ter sua função definida com uma única palavra: Goze!

  • Entendendo o gozo, no conceito da Psicanálise 
Na psicanálise, "gozo" (do francês jouissance) não é sinônimo de prazer, mas sim um conceito que se refere a uma experiência que transcende o prazer, muitas vezes relacionada ao sofrimento, à dor e ao corpo.

Enquanto o prazer busca a satisfação e o equilíbrio, o gozo é uma experiência de excesso, transgressão e, por vezes, de dor, que pode ser encontrada em situações aparentemente desfavoráveis.

O gozo é caracterizado por um excesso, um "mais" que vai além do desejado, causando um desequilíbrio e desestabilização.

Em resumo, o gozo na psicanálise é uma experiência que transcende o prazer, envolvendo o corpo, a transgressão de limites e, por vezes, o sofrimento, sendo uma forma de satisfação que se encontra para além do princípio do prazer.
Ou seja, não tem nada a ver com satisfação sexual e sim como como algo que está para além do princípio do prazer, indo além da satisfação e do bem-estar. 

Nesse entendimento, o gozo pode envolver a transgressão de limites e barreiras, e até mesmo uma busca por destruição. 

O gozo está intimamente ligado ao corpo, a pulsões e a satisfações que podem ser encontradas em experiências que, à primeira vista, parecem dolorosas ou negativas. 

No ensino lacaniano, o supereu tem como função e é o único responsável por ordenar o gozo ao sujeito. 

Enquanto em Freud, por seu turno, também se pode afirmar que, mesmo que ele conceda ao supereu um lado herdeiro do complexo de Édipo — ao assumir a autoridade paterna de vigiar, julgar e punir —, como o supereu também é representante do isso, seus imperativos contra o sujeito são insaciáveis e inevitavelmente acabam caindo no excesso pulsional. 

Nas formulações de Freud, em nenhum momento o supereu é considerado benevolente, nem mesmo razoável, em suas exigências pulsionais. 

Pode-se afirmar que, guardadas as diferenças de formulação conceitual, tanto para Freud quanto para Lacan, o supereu se caracteriza por sua gula de gozo, feroz e estrutural.

A principal diferença entre os dois autores - parece plausível pensá-la a partir dos desdobramentos históricos internos à formulação teórica de cada um — não se encontra em um supereu que proíbe o gozo e um que o incita, mas na nítida diferenciação entre ideal do eu e supereu proposta por Lacan.

Isso criou condições para se pensar o supereu primitivo plenamente constituído e em funcionamento desde o início da vida do ser humano e em qualquer estrutura. 

Além disso, trouxe a possibilidade de concebê-lo, enquanto objeto a, imperativo de puro gozo, que pode ou não se utilizar do ideal do eu de cada sujeito como uma ferramenta a mais para atormentá-lo.

Compreendendo a complexidade da psiquê do Superman


A partir da realização do percurso histórico do conceito nas duas obras, podemos dizer que o supereu se refere, portanto, a uma instância que se mostra fundamental para entender um modo de funcionamento destrutivo que habita todo ser falante e se revela de forma silenciosa, mas impiedosa, ao exigir o gozo a qualquer custo. 

O supereu obriga todos os sujeitos a gozar. Sua gula de gozo inesgotável e impiedosa é estrutural, na medida em que faz parte da constituição do próprio ser humano. 

É intransigente, querendo apenas gozar, não importando como, não escolhendo quando. Não traz, ainda, nenhuma preocupação verdadeira com o porquê de se gozar. 

Para alimentar sua gula insaciável, então, o supereu engendra truques que se impõem, de maneira singular, mas sempre com um único e mesmo objetivo: GOZE!

Conclusão


O Homem de Aço em um traje diferente do habitual
Além dessas perspectivas, o Superman pode ser analisado sob a ótica da Gestalt-terapia, que busca a integração das diferentes partes do indivíduo, incluindo o lado mais humano e o lado heroico. 

A Gestalt-terapia pode ajudar o Superman a encontrar um equilíbrio entre suas diferentes identidades e a viver de forma mais autêntica.
  • Até o próximo capítulo.

Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.
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E nem 1% religioso.

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