Viver é um grande desafio. As experiências de cada indivíduo são peculiares, mas existe uma certeza: todos, em alguma etapa da vida, passam por episódios que contrariam suas expectativas. Por exemplo: o filho que espera o apoio do pai e não o recebe, a mulher que se envolve em um relacionamento e não é correspondida, a amiga que confia na outra e é apunhalada pelas costas e tantas outras situações que abalam nossos sentimentos e abrem caminho para a mágoa.
Como identificar o aprisionamento pela mágoa?
Na prática, esse sentimento é decorrente de um ato de indelicadeza, de algo que nos decepcionou ou de uma ofensa por parte de terceiros. O grande problema é que a mágoa tende a se instalar em nosso coração, criar raízes profundas e bagunçar tudo, tanto interna quanto externamente. A maioria das pessoas que tem mágoa no coração não sabe que a tem.
A mágoa é uma doença silenciosa que muitas vezes toma outras formas, como indiferença, desprezo, desejo de vingança ou até de felicidade pela infelicidade da pessoa que lhe causou algum dano.
A mágoa é um sentimento ruim que uma pessoa guarda contra alguém. É normal ter mais alinhamento com uma pessoa do que com outra e não é pecado não ter afinidade com determinada pessoa. Entretanto, a mágoa é um nível acima disso. É quando a pessoa tem sentimentos ruins ao pensar em alguém e o coração sente raiva, vingança, ódio ou o desejo de maldade. Por isso, é algo negativo.
As marcas da prisão
Como a mágoa costuma ser justificada que ocorreu uma situação de injustiça, quem a sofreu se vê no direito de guardá-la dentro de si, mas não percebe que o único a colher as consequências negativas dela é ele mesmo. A Palavra de Deus alerta para os riscos de se apegar ao que lhe fizeram:
"o ressentimento mata o insensato, e a inveja destrói o tolo" (Jó 5:2, NVI).
Ou seja, é possível entender que guardar esse sentimento impacta o nosso presente e o nosso futuro.
Quem guarda mágoa tende a desenvolver outros problemas internos, como nervosismo, estresse, ansiedade e depressão, que afetam a mente e também o corpo, como, por exemplo, com o surgimento de diversas doenças, inclusive as cardiovasculares, o que é comprovado pelas pesquisas.
Pelo fato de carregarem um verdadeiro barril de pólvora pronto para explodir dentro de si, é comum que as pessoas magoadas tenham dificuldade de cultivar bons relacionamentos e fiquem com a vida pessoal e a profissional estagnadas, assim como a espiritual.
Existem pessoas que frequentam a igreja e até estão envolvidas nos trabalhos evangelísticos, mas, quando observam suas vidas, percebem inúmeros problemas e até uma estagnação total. Por mais que se esforcem, elas não avançam e a vida delas parece travada. Elas não compreendem a razão de colher os frutos atuais, que são os problemas em diversas áreas da vida (conjugal, financeira, familiar, na saúde, etc.).
Muitas delas, se analisarem seu caso e forem humildes para reconhecer, notarão que a raiz de todos os males são as mágoas que insistem em carregar. É a falta de perdão que compromete a vida delas. Muitas pessoas fazem questão de recordar os fatos ruins que sofreram para "renovar" os sentimentos de rancor contra quem um dia lhes fez mal ou causou algum tipo de aborrecimento. Algumas vivem arrastando essa condição por anos, inclusive, há quem alimente mágoas até de quem já faleceu.
O pior resultado com tudo isso é que o seu relacionamento com Deus fica bloqueado. E você também fica mal pessoalmente e pode até mesmo acabar descontando em outras pessoas que não têm nada a ver com aquela pessoa que te machucou. Quem alimenta tais sentimentos pensa que está fazendo mal aos seus desafetos quando, na verdade, só está prejudicando a si próprio ao se tornar prisioneiro de sentimentos malignos.
A cura pela Palavra de Deus
Quando o Senhor Jesus ensinou os discípulos a orar, no "Pai Nosso" (Mateus 6:9-13), Ele disse:
"...Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores..." (v.12).
Ou seja, para orar o "Pai Nosso", eu tenho que estar na presença de Deus com esse histórico de poder dizer:
"Senhor, perdoa-me, porque eu tenho perdoado também aqueles que têm me ofendido, magoado...".
Se você não pode falar isso, você não pode orar o "Pai Nosso" sob o risco de estar mentindo para Deus.
Para quem gosta tanto da ciência, ei-lá
A Ciência já comprovou que a falta de perdão prejudica a saúde e que permanecer com rancor pode provocar consequências fisiológicas, como danos cardiovasculares e doenças autoimunes.
Estudos da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) mostraram a relação entre a dificuldade de perdoar e a ocorrência de infarto agudo do miocárdio. Além disso, guardar mágoa e rancor, assim como manter ódio e pensamentos negativos, inibe a produção de ocitocina, hormônio ligado à felicidade.
Em contrapartida, alguns estudos sugerem que perdoar diminui as chances de depressão e do uso de remédios, além de aumentar a satisfação com a vida. Fazer o bem, ser generoso e honesto sem esperar nada em troca produzem a ocitocina e outros hormônios do bem-estar, um dos motivos pelos quais o perdão faz tão bem.
Mas, para que traga esses benefícios, o perdão deve ser genuíno, do tipo que não espera algo em troca, como que o outro também peça perdão, que se arrependa pelo que fez ou que reconheça sua atitude. Perdoar é uma decisão pessoal que não leva em consideração a reação da pessoa perdoada.
É só depois de liberar o perdão que a vida da pessoa pode avançar, uma vez que a mágoa tira a concentração, a paz e até as forças do magoado. Como alguém conseguiria, por exemplo, se dedicar à sua rotina normalmente guardando rancor de uma pessoa que lhe fez mal ou como pode viver de forma saudável em família se nutre ressentimento por um membro dela? Manter a cabeça ocupada com esses sentimentos é o mesmo que escolher ficar cativo de uma situação desagradável e, preso a ela, é impossível viver o presente e construir o futuro.
Ainda que não pareça, todas as áreas da vida estão relacionadas e a falta de perdão é capaz de prejudicar cada uma e todas elas. Por isso, não adianta fazer o bem ao próximo, ser religioso ou se dedicar o quanto for se você mantiver a mágoa: sempre lhe faltará a paz e a força.
Conclusão
A cura pelo perdão
Perdoar é um ato que se opõe à vontade humana, mas que deve ser considerado de forma racional. É preciso lembrar que liberar o perdão é uma necessidade humana para que a pessoa possa colocar um ponto final no passado de uma vez por todas, olhar para o futuro e seguir em frente.
Trata-se de uma decisão individual que provoca uma mudança interior e permite que a pessoa passe a enxergar as situações não mais com o olhar de vítima, mas com o olhar da fé.
O perdão é um exercício que vai na contramão do coração (alma), que é onde são alimentados os ressentimentos. O coração quer guardar rancor, então como obrigá-lo a perdoar? Por meio da razão, da inteligência. Primeiro, decida perdoar, mentalize-se perdoando, apresente em oração o nome da pessoa e peça para que Deus a abençoe.
Você pode questionar como pode perdoar quem lhe fez tão mal. Mas saiba que, por mais difícil que pareça, Jesus jamais pediria algo impossível, pois Ele é Justo e soube o que é ser maltratado. Mesmo na cruz, Ele rogou ao Pai por seus malfeitores dizendo:
"Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23:34).
Se o cristão é o imitador de Cristo, torna-se fundamental que peça ao Pai por quem lhe fez ou mesmo desejou mal. Cristo é o maior exemplo de perdão que a Humanidade já teve.
É claro que essa mudança não é fácil e você pode não obter imediatamente uma resposta positiva daqueles a quem você perdoou. Mas a verdade é que, ao liberar o perdão, sua consciência fica limpa diante de Deus, assim como o seu interior, e isso é o que realmente importa. Afinal, como foi observado aqui anteriormente, apenas os que perdoam podem ser perdoados pelo Criador.
Não será fácil nem prazeroso no início, mas o Espírito Santo recompensará seu esforço de Fé e logo os sentimentos negativos não habitarão mais seu interior. Você então sentirá sua alma leve, em paz com Deus e com os homens e sua vida deixará de ser estagnada. Os benefícios do perdão ocorrem nos campos espiritual, pois seu relacionamento com Deus será muito melhor e nada o impedirá de receber O Espírito Santo; mental, ao evitar o sofrimento com a depressão ou infarto; e físico: já que a paz gera saúde, vigor e bom ânimo. Então, você vai seguir guardando mágoa ou se livrará desse peso prejudicial? A escolha é sua.
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.
[Fonte: Adaptação de artigos extraídos da Folha Universal, da autoria do Bispo Renato Cardoso]
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