Eu devo confessar que, inicialmente, quando eu soube desse filme, não dei muita atenção. E já te digo porque:
eu fico com os dois pés atrás quando a crentaiada começa a elogiar demais um filme! Pronto, falei!
Os que já tinham assistindo à produção de baixíssimo orçamento começaram a elogiar os aspectos teológicos do filme, que está a anos luz de ser considerado algo grande.
Aliás, no que tange às questões técnicas, eu diria que "Nefarious" pode ser classificado com folga na categoria E. Bom, o fato é que "Nefarious", ausente de todos os grandes serviços de streaming e dos cinemas, está circulando loucamente, principalmente — como não poderia deixar de ser — nos círculos cristãos. Inclusive, a Univer Vídeo, plataforma de streaming, pertencente à Igreja Universal do Reino de Deus, está distribuindo o longa aqui no Brasil.
No cenário do cinema, a mistura entre os gêneros cristão e de thriller psicológico sombrio é incomum, mas "Nefarious" consegue surpreender nesse aspecto. A repercussão em torno de "Nefarious", lançado em abril do ano passado (2023), foi notável, levando-me a ir conferir o que estava causando tanto burburinho. Por isso ele está aqui, em mais um capítulo da minha série especial de artigos "Contém Spoilers".
Eu fui assistir porque?
Bom, mas você que leu essa minha ácida introdução, deve estar se pergundo:
Uai, sr. Leonardo, se você não deu tanta bola assim para o tal filme, então porque foi assisti-lo?
Já respondo. Eu fui assistir ao filme, atendendo à solicitação de um grande amigo, o pastor Alexandre, lider da Rede de Adolescentes da Igreja Batista da Lagoinha, no bairro Estoril, região oeste aqui de Belo Horizonte.
Meu amigo de longa data e caminhada — antes e depois de Cristo —, o Alexandre não só me pediu para assistir ao filme como me incumbiu da responsabilidade em escrever esse artigo sobre ele.
Aí sim, fui ver, pois, uma indicação, uma recomendação do meu amigo Alexandre é algo de total relevância, uma vez que, além de nossa sintonia e conexão espiritual, ele é alguém de um senso crítico elevadíssimo.
Me empolguei aqui e nem expliquei que "Nefarious" é um filme supostamente de terror — se contudo ainda se insistir comigo em que se trata de filme de terror, concederei: o terror do demônio e do pecado — e que conta a história de um assassino em série condenado à morte em seu último dia de vida.
Um psiquiatra é chamado para atestar a sanidade do infeliz e descobre que ele está (surpresa!) possuído pelo cramulhão. O resto é história e, provavelmente, uns spoilers que não será possível eu evitar.
Porque você deve assistir?
Assim como o famigerado "Barbie" — dadas as devidas distinções, especificidades e contextos —, "Nefarious" é um fenômeno cultural. Diferentemente do pavoroso "Barbie", "Nefarious" é uma produção tão simples que, como eu já disse, chega a ser precária.
É basicamente uma peça de teatro, um diálogo entre o demônio que se apossou do assassino e o psiquiatra sem noção. A única cena de terror do filme é quando uma lâmpada explode para o diabo mostrar seu poder. E no final, quando o coisa-ruim volta a se apresentar ao psiquiatra. Nessa hora, confesso, até rolou um medinho. De leve.
Além da verdade, o que mais me chamou a atenção no filme
— que tive que assistir no mínimo três vezes —,
foram suas implicações psicanalíticas. É que eu como, pós-graduando em Psicanálise Contemporânea, por força do hábito, não consigo mais ver, ouvir ou ler nada sem passar pelo crivo psicanalítico. Ossos do ofício!
"Nefarious" no [meu] divã
Como dito acima, acredito que, além do aspecto da possessão e de toda a discussão entre Nefarious e o Dr. James (detalharei alguns pontos importantes ainda), temos o aspecto político a ser apontado.
Ora, é comum que muitos que hoje se interessam por política, passaram por alguns níveis analíticos até compreender a verdadeira batalha. Isto é, a verdadeira inspiração para que o jogo político moderno seja tal como ele é em profundidade.
Diferentemente de alguns anos atrás, muitos hoje possuem a consciência de que estamos tratando com o puro reino preternatural, com influências ocultistas e esotéricas em demasia na política:
sem muitos detalhes, o filme desvela explicitamente toda a pervecidade da ideologia esquerda em todo o seu escopo marxista!
Sobrou até para a Igreja!
Creio que outro "chacoalhão" que o filme nos dá é em relação aos sacerdotes mornos e traidores de sua própria vocação. No decorrer do diálogo, o personagem
Dr. James (Jordan Belfi) diz a Nefarious que é incapaz de debater teologia com ele, pois não é a sua área específica.
Dr. James (Jordan Belfi) diz a Nefarious que é incapaz de debater teologia com ele, pois não é a sua área específica.
Seguindo disto, o psiquiatra requisita a presença do Pe. Lou, que adentra à cena para dialogar com o demônio. É simplesmente impressionante o medo que Nefarious sente ao ver o sacerdote indo ao seu encontro, mesmo com aquela estola simbolicamente "LGBT..." que o tal do Pe. Lou deve ter achado num encontro de DCE acadêmico-lacrador.
Contudo, temos um momento revelador! Ao aproximar-se e iniciar o diálogo, o Pe. Lou, observando que o demônio estava com medo de um possível exorcismo, diz a Nefarious:
"...não, nós evoluímos nesta questão..." (sic).
A partir deste momento, Nefarious, percebendo a falsa mansidão e fraqueza do sacerdote, tenta-o a ser mais um membro da Legião e que atue ao seu lado.
Apesar de ser um anjo caído, Nefarious não deixa de ser um anjo. A sua percepção, sendo direta e intuitiva, é superior à percepção humana, que depende dos sentidos e da abstração racional para conhecer. Logo, é capaz de analisar tudo o que acontece de uma maneira mais completa e imediata do que nós.
Portanto, o Pe. Lou foi analisado por Nefarious como um sacerdote liberal — quer seja ele católico ou protestante —, modernista, fraco e indiferente ao verdadeiro combate, sendo mais uma presa fácil para os seus objetivos.
Trazendo à nossa realidade, quantos e quantos sacerdotes não são representações claras do Pe. Lou? Sacerdotes que se deixaram levar pelo canto da sereia da revolução, reduzindo o chamado ministerial a um mero servilismo baixo e demoníaco aos objetivos do paganismo e do relativismo.
Temos sacerdortes que trabalham de bom grado aos demônios através de sua traição à vocação, dos abusos religiosos, da negação aos princípios e convicções que são balizadores da genuína fé cristão, ignorando completamente a doutrina apostólica, distorcendo ao bel prazer as verdades inegociáveis do evangelho de Cristo, e, consequente, enganando aos fiéis.
Nefarious deixa bem claro para quem esses traidores da Igreja estão trabalhando, mesmo que inconscientemente… Não à toa, caro leitor, a infiltração de revolucionários nos Seminários Teológicos, desde o último século, foi avassaladora! E o filme nos mostra os porquês…
Por fim, Edward Wayne, o Nefarious (Sean Patrick Flanery),
mas não menos importante, outra cena reveladora foi o diálogo do Dr. James com Nefarious em relação à existência objetiva do bem e do mal.
Nesse momento — confesso — que até eu mesmo caí em boas gargalhadas ao analisar a pífia argumentação do psiquiatra ateu e toda reação debochada do demônio ao ouvi-lo falar.
Diz o Dr. James que o bem e o mal são "construções sociais", "sensações subjetivas" (sic). Ora, ora… Toda a soberba e arrogância do Dr. James fizeram com que Nefarious entendesse que ali ele não tinha um poderoso aliado, mas um joguete perfeito para ser utilizado e descartado posteriormente.
Ao discutirem sobre o bem e o mal, o livre-arbítrio, o aborto, etc., Nefarious afirma que tudo isto tem clara influência demoníaca, mas que, a respeito do discurso de ódio, o demônio debocha e diz:
"Não, James, isto é criação de vocês. Nós não precisamos fazer nada" (sic).
Impressionante…
Nefarious diz a Dr. James que sua argumentação é absurda, afinal, o nível educacional foi rebaixado a níveis assustadoramente destrutivos. Não há nenhuma igualdade, afinal, o combate ao racismo se dá por
"jogadores de basquete milionários que utilizam objetos feitos por mão-de-obra escrava", etc.
Vejam a ironia: o joguete descartável de Nefarious não consegue ter abrangência do mal que defende. É preciso que um demônio tire um sarro de sua cara para mostrar a infantilidade de seu pensamento.
Além disso, não podemos aqui nos vangloriar de termos consciência do besteirol do Dr. James, afinal, a maior mensagem de Nefarious é destinada a nós, que defendemos o Cristianismo, mas por vezes somos negligentes com toda a verdade que afirmamos aos quatro cantos!
Sim, tem relevância teológica
O filme tem sido recomendado por vários pastores e padres exorcistas. Nesse ponto, por certo este é um dos melhores filmes já produzidos em termos de retratar a possessão demoníaca.
Em vez de ficar imerso, como qualquer outro filme, em fenômenos e poderes diabólicos (levitação, força extraordinária e outros sinais que são "mais do mesmo"), este filme traz o espectador para dentro da mente demoníaca.
Nesse aspecto, o filme é limpo e não de "terror", uma vez que não tem blasfêmias, cenas de sexo e nem mesmo palavrões, clichês comuns no gênero thriller — e, mesmo sem esses elementos supostamente "apreciados" pelo público aos olhos do mundo, o filme é tudo menos chato. Imperdível para quem deseja entender o inimigo. Achei envolvente.
"Nefarious": o diabo "à esquerda"
Mas não foram os aspectos teológicos que transformaram "Nefarious" no assunto mais discutido nos círculos cristãos. Foram os aspectos políticos. Porque, em seu proselitismo escancarado, o filme defende a tese de que a aderência ideológica à esquerda é fruto de uma possessão demoníaca em massa. Uma coisa assim escancaradamente dostoievskiana, me ocorre agora.
Outra coisa a se notar no filme é que, ao tornar o esquerdismo diabólico e impassível de redenção, "Nefarious" exclui a possibilidade de que haja misericórdia.
Logo, o roteiro legitima um conflito mundano e passageiro, transformando-o em algo eterno e irreconciliável. O que, convenhamos, é o contrário do que nos ensina Jesus Cristo: ame e ore por seus inimigos, mesmo que você ache que ele está possuído pelo arrenegado. E talvez esteja mesmo.
O clímax, o ponto de ouro dá-se com a cena da morte do condenado em cadeira elétrica. Segue-se a ela um como anticlímax em que o psiquiatra explica, numa entrevista televisiva a
Glenn Beck (direitista dado a teorias da conspiração, o qual no filme interpreta a si mesmo e não convence como ator), as mudanças que sofreu após o ocorrido no referido clímax.
Era pois de esperar que o filme não tivesse sustentado seu rito neste como anticlímax; mas tal espera não se confirma.
Ao contrário, a última cena é impactante, o que explica o anticlímax: ela é mais impactante ainda porque se segue à mornidão deste.
Conclusão
Mas, como já disse o filme virou o mais novo fenômeno cultural cristão. E o mérito disso é dos roteiristas que, de acordo com críticas de teólogos bem mais importantes e inteligentes do que eu, escreveram o filme mais teologicamente correto de 2023. Ou da história do cinema, se você for exagerado também.
As respostas para as angústias atuais estão no filme: apesar de todas as tentações diárias (e elas aumentam na medida em que nos aproximamos de Deus), uma vida de sacramentos e virtudes afastam os demônios; os "nãos" que dizemos aos demônios e os "sims' que dizemos a Deus todos os dias afastam os demônios; a abertura da nossa alma ao que ela de fato é, imortal e imaterial, eleva a nossa consciência para o mundo sobrenatural, pois não somos meros compostos bioquímicos-fisiológicos como o cientificismo quer afirmar religiosamente.
E, é claro, uma vida voltada à CRUZ, essa sim é uma vida que nos garantirá a vitória. Nefarious aponta ao Dr. James que o maior erro dos demônios foi o sacrifício da Cruz por Nosso Senhor Jesus Cristo (o carpinteiro), algo que eles por um tempo, tanto festejaram (sem, contudo, saberem que, na verdade, tudo fazia parte era do infalível plano redentor de Deus, para Sua humanidade).
Uma vida voltada à cruz de Cristo é a aceitação dócil ao sofrimento e ao sacrifício, por amor a Nosso Senhor e à Sua Vontade. Ao contrário disso, levando uma vida dessensibilizada, viciada e próxima aos demônios, teremos um e/ou o Nefarious proferindo o que disse ao Dr. James após todas as suas afirmações relativistas:
"I love you, James!"
Ficha Técnica
- Data de lançamento: 4 de abril de 2023 (mundial)
- Diretores: Cary Solomon, Chuck Konzelman
- Baseado em: "A Nefarious Plot", de Steve Deace
- Direção: Chuck Konzelman Cary Solomon
- Distribuição: Soli Deo Gloria Releasing
- Lançamento: 14 de abril de 2023
[Fonte: PHVOX, original por Daniel Ferraz; Gazeta do Povo, original por Paulo Polzonoff Jr]
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E nem 1% religioso.
Ao ver o filme, na hora, você me veio a mente... Motivos? Meu amigo, sabia que faria uma crítica coerente e "pé no chão". Gostei demais e fico feliz de ver o filme com uma crítica tão bem frita. Tens aqui um amigo e um admirador.
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