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sábado, 30 de abril de 2022

ESPECIAL — POR FAVOR, ENTENDAM: PASTORES TAMBÉM SOFREM! — PARTE 3

As causas

Uma vez esclarecidos os sintomas, o normal é que se caminhe para a análise das causas. Como o objetivo deste artigo é considerar o burnout entre pastores, serão ponderadas aqui duas causas pessoais, duas relacionais e uma ministerial. A seleção desses fatores atende à frequência com a qual eles aparecem nos estudos sobre esse assunto (21).

Muitas vezes a causa do burnout no ministério não possui relação direta com as atividades desempenhadas pelo pastor, mas com sua própria condição física. Embora pregadores geralmente ensinem que o ser humano é uma unidade espiritual e física, na prática eles geralmente negligenciam o bem-estar desse último elemento.

É comum encontrar, na cultura pastoral, ministros que dormem muito pouco, se alimentam descuidadamente e vivem vida sedentária. Alguns, em tom de brincadeira, se esquecem da recomendação de Paulo sobre os proveitos da prática da piedade e se lembram apenas da parte do versículo que diz:
"o exercício físico para pouco é proveitoso" (1 Timóteo 4:8).
Todavia, se o problema fosse causado apenas pela ausência de atividades físicas, talvez a situação não fosse tão grave como se apresenta. Há inúmeros pastores obesos, alguns que se alimentam mal e outros que parecem não se importar com as condições de hipertensão, problemas cardíacos ou alguma outra disfunção da saúde física.

O que pode ser tardiamente percebido é que a realidade psicossomática do ser humano faz com que a qualidade do corpo acabe afetando o ânimo e o bem-estar da alma. Dessa maneira, uma das causas do burnout entre pastores pode estar conectada com a maneira como o ministro cuida do seu corpo.

Logo, os check-ups médicos regulares podem ser uma excelente maneira de avaliar a atenção que esses obreiros têm dado ao templo do Espírito Santo, do qual eles são mordomos.

Se, por um lado, a condição do corpo pode afetar a alma, por outro lado, as enfermidades da alma acabam resultando em consequências danosas para o organismo físico.

Por essa razão, outra causa pessoal do burnout entre os pastores pode estar conectada à situação espiritual dos mesmos. Quando um obreiro do evangelho cultiva algum "pecado secreto", isso produz tamanha aridez que o fardo pode ser insuportável e atinge diretamente o bem-estar físico do mesmo.

Por essa razão, na investigação das causas do burnout ninguém pode ignorar os efeitos resultantes de algum pecado pessoal não confessado, especialmente no pastor. O sábio de Provérbios afirma que
"tortuoso é o caminho do homem carregado de culpa" (Provérbios 21:8).
Um exemplo desse "caminho tortuoso" é apresentado por Davi no Salmo 32, quando ele diz:

"Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia" (v. 3).
Em outra ocasião, o mesmo Davi confessa:
"Não há parte sã na minha carne por causa da tua indignação; não há saúde nos meus ossos por causa do meu pecado" (Sl 38:3).
Novamente aqui, a condição psicossomática do ser humano precisa ser considerada, pois assim como o estado físico afeta a alma, a condição da alma também tem efeitos sobre o corpo.

Além do mais, em um interessante estudo com 270 ministros sobre esse assunto, foi encontrado que a aridez espiritual é o indicador primário de exaustão emocional, estresse e burnout entre pastores (22).

Por isso, é importante que, em uma anamnese séria, não se ignore o fator espiritual da pessoa, ou seja, a possibilidade de pecado e culpa encobertos. E como acontece em relação a outros assuntos, os pastores também não se encontram isentos nessa questão.

Há pastores que se encontram desprovidos de alegria no ministério porque a "alma está cansada"! Muitos fazem o trabalho do Senhor gemendo porque cultivam amarguras que nunca foram tratadas, impurezas que não foram confessadas e abandonadas. Assim, o cansaço profissional começa com a fadiga espiritual!

Contudo, não são apenas elementos intra corpus que afetam a saúde do pastor, mas o relacionamento interpessoal dos mesmos. Desse modo, a família e a igreja local devem ser cuidadosamente apreciadas.

Em seu livro "Quem cuida de quem cuida?", Wadislau Gomes aborda a importância dos relacionamentos eclesiásticos para o ministro da Palavra. Naquela obra, Gomes afirma que
"a comunhão com o próximo é reflexo da glória da comunhão com Deus" (23).
Relacionamentos domésticos podem ser uma fonte de alegria e júbilo para os pastores, mas também uma causa de estresse e intenso sofrimento. Certamente quando o que nos entristece está tão próximo do nosso coração como acontece com o relacionamento conjugal ou a relação com os filhos, a dor pode se tornar, em determinados momentos, quase insuportável! (24)

Mas como vivemos em um mundo caído, onde os relacionamentos são quebrados, o ministério pastoral não neutraliza as crises e angústias no círculo doméstico do obreiro. Há pastores cujo casamento parece estar sempre por um fio e nenhum dos cônjuges se interessa em buscar solução para o crescente conflito.

Isso se torna evidente pela observação empírica do número de divórcios na cultura pastoral. Também os problemas com filhos são estressantes para qualquer pai, mas especialmente para o pastor.

Nessa lógica, as expectativas da igreja, a pressão de ter que ensinar os princípios bíblicos sobre criação de filhos e a sensação de ter falhado como pai podem ser excruciantes!

De fato, o peso esmagador dos problemas domésticos pode minar o ânimo do ministro e esgotar sua alegria a ponto de ele se sentir sempre cansado e desqualificado para o ministério da Palavra. Quando não encontra solução para essas dificuldades, o pastor pode sucumbir à fadiga excessiva. Daí a síndrome do burnout!

Outra área relacional que pode gerar estresse e desfalecimento ao obreiro diz respeito à igreja local, especialmente sua liderança. É verdade que estudos estatísticos apontam para uma melhora nesse aspecto em algumas regiões mais desenvolvidas. Nos últimos 20 anos, por exemplo, algumas congregações parecem estar cuidando melhor de seus pastores (25).

Todavia, algumas expectativas irreais do rebanho continuam sendo fonte de desgaste de alguns ministros. Geralmente a igreja não respeita feriados ou dias de descanso dos pastores.

Afinal, essas datas parecem ser ocasiões oportunas para se realizar atividades comunitárias e momentos propícios para as ovelhas ligarem e discutirem assuntos importantes com os seus pastores. No entanto, isso acaba revelando a expectativa de que o ministro deva estar o tempo todo à disposição da igreja.

Além do mais, os conflitos entre pastores e outros membros da liderança local já se revelaram tão comuns e traumáticos que se tornaram objeto de estudos acadêmicos de muitos interessados (26).

O pior é que devido à natureza carnal de alguns desses embates, não há solução humana que seja fácil para os mesmos! Em suma, aquele que deveria ser visto como um irmão colaborador é tratado como "empregado" pela liderança local e sente seu trabalho cruelmente desvalorizado.

Ainda no que diz respeito ao relacionamento entre pastores e membros de congregações locais está a maneira como os obreiros são maltratados financeiramente.

A esse respeito, algumas instituições parecem acreditar terem recebido o "chamado divino" para manter seus pastores em uma condição de pobreza e miséria econômica! Com isso, além de explorarem profissionalmente, ainda se recusam a compensar devidamente.

Se o pastor reclama, pode ser tachado de agir como "gentio e publicano", que se preocupa com o dia de amanhã! Nessa relação, ele se mantém refém de uma condição que parece não ter saída. Com o passar do tempo, o cansaço toma conta!

Por último, outro fator causador da síndrome do burnout entre ministros é o fato de que muitos no ministério perderam o foco do que, de fato, constitui o chamado pastoral. Há pastores realizando atividades que não deveriam estar na "descrição do cargo".

Por exemplo, há ministros que se orgulham de ser excelentes "construtores de templos" ao longo de sua história ministerial. Mas construção é algo que qualquer mestre-de-obras pode supervisionar e uma boa Junta Diaconal ou Comissão de Construção pode executar.

Outros ainda se esmeram no trabalho organizacional da documentação da igreja, da atualização das atas e do cumprimento das decisões tomadas pelo Conselho local. Mas não deveriam essas coisas ser tarefas do secretário do Conselho?

Também há pastores que consomem o tempo em atividades políticas da denominação, realizando planos, contatos, conchavos, previsões, estatísticas e inúmeras outras atividades que não estão diretamente ligadas ao ministério da Palavra. Para esses o poder da influência política parece ser a única coisa que ainda faz o coração pulsar de entusiasmo com algo relacionado ao seu desempenho na denominação.

Todavia, quando se analisa o exemplo dos apóstolos de Cristo em Atos, percebe-se que eles não acharam razoável abandonar o ministério da Palavra de Deus para executar qualquer outra coisa, ainda que fosse o cuidado das mesas para alimentar as viúvas (cf. Atos 6:2).

Paulo, por sua vez, quando comparou a excelência da pregação, considerou até a ministração do sacramento do batismo como secundária, pois ele disse:
"Não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho".
Tudo isso deixa claro que existem atividades primárias e essenciais no ministério que, quando abandonadas em prol de tarefas secundárias, roubam o foco do ministro e resultam em frustração, abatimento e desencorajamento. Paulo ainda lembra que
"o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel" (1 Coríntios 4:2),
e isso certamente diz respeito à vocação para a qual eles foram chamados.

Concluindo, as causas da síndrome do burnout entre pastores são multiformes, pois possuem variadas fontes. Conquanto uma dessas possa ter influência maior em determinados casos, o conjunto precisa, de fato, ser considerado ao se analisar os fatores que podem resultar no desfalecimento do ministro do evangelho.
A Deus toda glória.
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