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sábado, 30 de abril de 2022

ESPECIAL — POR FAVOR, ENTENDAM: PASTORES TAMBÉM SOFREM! — PARTE 1

"...para que façam isto com alegria e não gemendo" (Hebreus 13:17).
Pastores sempre foram vistos como exemplos de fé e de conduta cristã. No púlpito, eles comandam reuniões, dirigem a congregação e traçam os rumos da comunidade. Submetidos a pressões cada vez maiores e ao estresse constante, líderes evangélicos são vítimas potenciais de problemas psicológicos.

São a eles que as ovelhas recorrem na hora dos problemas — os ministros do Evangelho precisam estar sempre prontos para um aconselhamento, uma visita, uma cerimônia fúnebre. Para muitos deles, as responsabilidades não se limitam à esfera puramente espiritual. 

É preciso administrar o templo, acompanhar o serviço de funcionários e auxiliares e manter a agenda sempre em dia. Por isso mesmo, pastores são objetos de contínua exposição. Espera-se deles que não falhem, mantenham o bom testemunho de vida e ainda por cima tenham sempre uma palavra abençoada.

Contudo, sem ter com quem compartilhar seus próprios problemas — ansiedade, solidão, medos, angústias, decepções, frustrações, tentações, expectativas e tristezas —, pastores e dirigentes evangélicos constantemente sucumbem à pressão. 

A consequência dessa vida solitária é o aparecimento, cada vez mais frequente, de doenças emocionais e psicológicas que, muitas vezes, afetam diretamente a vida e a saúde dos ministérios onde atuam. Há, inclusive, os tristes casos de muitos líderes evangélicos que não conseguiram suportar essa situação e chegam ao extremo de cometer suicídio.

  • Devido à complexidade e extensão desse tema e para facilitar a leitura, vou fragmentar esse artigo em 5 capítulos.

A realidade do ministério pastoral que não está nos púlpitos


O ministério pastoral conta com inúmeros desafios, dificuldades e lutas. Nos últimos anos, porém, mais uma calamidade passou a ser comum à cultura pastoral: o burnout. Em estudos sobre o assunto, estudiosos do assunto concluiram que os ministros religiosos e outros profissionais de ajuda enfrentam um risco mais elevado de experimentar essa síndrome devido à natureza do seu trabalho (1).

Ou como testifica Christopher Ash, alguém profundamente marcado pela vivência de esgotamento em determinado momento de seu ministério, 
"burnout é um preço terrível a ser pago pelo zelo cristão. Algumas vezes ele não pode ser evitado. Para alguns, significa que não há outra maneira de viver sacrificialmente para Jesus" (2)
Semelhantemente, o pastor Ray Ortlund comentou:
"o que chamamos de burnout é a experiência de profunda exaustão na qual nossas capacidades usuais de resiliência, de recuperação, de permanecer firmes, confiantes e perseverantes não são mais suficientes. Burnout significa que algo bem profundo em nós entrou em colapso e não conseguimos mais continuar. Nós pastores entendemos o burnout, e não apenas na vida dos outros, mas em nós mesmos" (3).
A todos os agravantes relacionados a essa condição, se acrescenta o fato de que
"muitas congregações estão totalmente inconscientes desse problema ou não compreendem o que significa para o pastor e sua família serem confrontados com o burnout" (4).
Dessa forma, este artigo visa a contribuir com a discussão sobre esse assunto, trazendo esclarecimentos e apontando sugestões de tratamento aos pastores que lutam contra essa síndrome. 

Isso será feito por meio da revisão de alguns estudos que conectam o burnout ao ministério pastoral, bem como a indicação de algumas causas comuns e prescrições terapêuticas à cultura pastoral. 

Devido à natureza introdutória e descritiva deste artigo, vários tópicos aqui abordados poderão ser, certamente, ampliados e estudados em maior profundidade.

1. Pastores e a Síndrome de Burnout


A síndrome de Burnout tem sido conceituada como um distúrbio psicótico de caráter depressivo, resultante do esgotamento mental e físico, intimamente conectado à atividade profissional de alguém (5)

O Dr. Steve Midgley corretamente lembra que 
"burnout não é um diagnóstico com precisão médica e nem deve ser confundido com o colapso mental, mas trata-se de um recurso cultural para explicar o que ocorre com aqueles que estão 'vivendo no limite'" (6).
Em geral, essas pessoas são caracterizadas pela impossibilidade de operar corretamente por causa da exaustão de energia.

Quando surgiu 


O conceito da síndrome do burnout surgiu em meados dos anos 1970, nos Estados Unidos, como explicação para o processo de esgotamento de trabalhadores que culminava no desempenho paupérrimo ou completo desinteresse na atividade profissional. 

Com o passar do tempo, a síndrome passou a ser identificada como uma resposta ao estresse laboral crônico integrado por diferentes atitudes e sentimentos negativos (7)

No Brasil, o diagnóstico é regulamentado pelo Decreto 3.048 (de 1999), no anexo II do Regulamento da Previdência Social, que trata dos Agentes Patogênicos causadores de doenças profissionais, e está incorporado na CID 10 (Classificação Internacional das Doenças) como a "sensação de estar acabado", Síndrome do Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional (8)

Segundo Pêgo e Pêgo, 
"o burnout acomete profissionais que mantêm uma relação direta e constante com outras pessoas, como professores, médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, policiais, bombeiros etc." (9)
O fato de essas pessoas se dedicarem ao cuidado com o próximo, conviverem com situações tensas, lidarem com o sofrimento do outro e assim por diante faz com que, muitas vezes, se tornem vítimas do desgaste. Nesse sentido, o ministério pastoral parece oferecer várias condições para que o burnout seja um perigo contínuo e imediato também para os pastores.

Alguns estudiosos descrevem o burnout como um fenômeno de natureza tridimensional caracterizado por sentimentos de exaustão emocional, desapego do trabalho e insatisfação pessoal (10)

Deve se observar ainda que esses fatores são favorecidos por profissões que alimentam a despersonalização do trabalhador, a necessidade de contínuas adaptações ao trabalho e a intensa carga emocional exigida pelo mesmo (11)

O burnout comumente atinge os profissionais voltados para as atividades de cuidado de outros, especialmente quando esse cuidado implica na oferta de ajuda para casos que envolvem intensas pressões e alterações emocionais (12)

Nesse sentido, o pastor que no mesmo dia celebra o nascimento de uma criança e parte para a realização do culto fúnebre de um ente querido da comunidade acaba sofrendo um desgaste incomum a outros profissionais. 

Também, outros profissionais dificilmente carregam a pressão extra de terem a família "na vitrine", diante dos olhos da congregação, sendo julgada e continuamente avaliada, como ocorre com o ministro do evangelho.

Em sua dissertação de mestrado, a pesquisadora Roseli Margareta K. de Oliveira constata que 
"no meio pastoral, ou religioso, em geral, há muito desgaste, devido às demandas constantes pessoais e familiares relacionadas à congregação que pastores lideram, havendo uma relação entre exaustão emocional, física e espiritual" (13)
Nesse sentido, Alistair Begg lembra ser comum no pastorado o ministro retornar de eventos nos quais ele é usado para ajudar outros, mas não encontrar nenhum recurso para sustentar a si mesmo (14)

Outros elementos que agravam essa condição incluem o fato de o pastor conviver com a solidão ministerial, bem como as exigências de que ele possua mente culta, coração inocente, capacidade de receber e absorver críticas e as pressões comuns à posição de liderança. 

Enfim, todo esse conjunto faz com que o pastor seja um dos candidatos ideais para o estresse, a fadiga e o burnout. Por exemplo, alguém já considerou que em uma programação social da igreja, enquanto todos se divertem e descansam, o pastor está atento a algum membro solitário ou aconselhando quem precisa de ajuda? Todos se divertem; o pastor trabalha!

O que tem feito as igrejas para cuidar da saúde física, mental e esperitual de seus pastores?


Conquanto algumas estatísticas apontem para o surgimento de um esforço tímido de algumas igrejas no sentido de cuidarem melhor dos seus pastores, ainda permanecem a sobrecarga, o estresse, as dificuldades financeiras e as pressões causadas pelas expectativas exageradas dos membros da congregação em relação ao pastor e sua família (15)

Um exemplo a esse respeito pode ser visto no trabalho dos pesquisadores do Francis Schaeffer Institute of Church Leadership Development, o qual revela sinais alarmantes com respeito à saúde dos ministros de denominações evangélicas nos Estados Unidos. Dentre os pastores entrevistados:
  • 75% relataram estar “extremamente estressados”;
  • 90% trabalham entre 55 e 75 horas por semana;
  • 90% se sentem fatigados e exaustos ao final de cada semana;
  • 70% afirmam não serem suficientemente pagos para realizar seu trabalho;
  • 40% relataram sérios conflitos e tensões com algum membro da congregação ao menos uma vez por mês (16).
Nesse sentido, ainda que esclarecedoras, o leitor deve considerar que as estatísticas, em geral, revelam apenas uma ponta do iceberg. A verdadeira situação da classe pastoral pode ser bem pior do que esses dados indicam.

Em sua pesquisa sobre o tema, a Dra. Crystal M. Burnette conclui que, 
"com base na literatura empírica, publicações populares e testemunhos pessoais, o burnout é uma realidade para muitos pastores" (17)
Essa afirmação pode ser constatada observando-se o conjunto de títulos recentemente publicados sobre esse assunto (18)

O que essa literatura nem sempre aborda são os impactos do burnout pastoral sobre a família e a vitalidade da congregação. A ênfase dessas obras, em geral, diz respeito ao bem-estar do indivíduo e às recomendações pessoais para prever os sintomas de burnout

São necessários estudos mais específicos sobre causas e prevenções comunitárias no sentido de ajudar os ministros do evangelho a continuarem espiritual, emocional e fisicamente saudáveis no desempenho de seu trabalho.

Também, ainda que importantes, informações estatísticas sobre a condição emocional da cultura pastoral, sem o devido processamento, servirão apenas para despertar a atenção da igreja em relação a um perigo iminente. 

Se não forem analisados corretamente, dados e números não explicarão por si mesmos as causas prováveis e nem estabelecerão as precauções básicas na luta contra o quadro de burnout entre pastores. Por isso, a próxima parte deste artigo se dedica a listar alguns fatores que, se não tratados, acabam culminando na síndrome de burnout no ministério pastoral. 

Após isso, será apresentada uma lista de sugestões de medidas a serem tomadas para se evitar ou lutar contra esse fenômeno. Como um ensaio sempre intenta uma abordagem representativa, mas limitada, os tópicos relacionados neste artigo podem ser ampliados em estudos posteriores.
A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
Apesar da flexibilização no uso da máscara, onde o uso do acessório já não é mais obrigatório nos ambientes abertos em muitas regiões da Federação, o bom senso e a concientização individual, ainda é uma premissa para a segurança e a proteção coletiva.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. Não confuda avanço na vacinação e flexibilização com o fim da pandemia.

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