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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

CANÇÕES ETERNAS CANÇÕES — "VENCENDO VEM JESUS (GLÓRIA, GLÓRIA, ALELUIA!)"

Não é nenhuma novidade que muitas vezes — me arrisco em afirmar que na maioria delas — temos o hábito de ouvir e/ou cantar uma determinada canção sem saber o seu real significado e a história existente por trás de sua composição. Quando se trata de canções internacionais então, aí que essa afirmação é mais ainda certa. 

No caso específico de muitos canções que já fazem parte do nosso clássico hinário sacro, aí que tal detalhe em muito se potencializa. Por exemplo, alguns hinos tradicionais da Harpa Cristã (hinário oficial das Assembleias de Deus) e do Cantor Cristão (hinário oficial da Igreja Batista), são músicas que fazem parte do folclore norte americano, tendo sido versionados por seus respectivos autores, que fazem mudanças pontuais em suas letras originais, tornando-os, assim, em músicas sacras. 

O caso desse tradicional e clássico hino, já há tempos entoados em muitos círculos cristãos, é um desses exemplos, como veremos neste capítulo da série especial de artigos Canções Eternas Canções.

A História por trás da canção


Foi no outono de 1861 que a escritora Julia Wad Howe (☆1819/✞1910) e seu marido, médicos a serviço do governo dos Estados Unidos, mudaram-se para Washington D.C., capital. Julia, abolicionista, mas pacifista, angustiou-se ao ver a atmosfera de ódio e as preparações frenéticas para uma guerra entre os Estados. 


Dia após dia as tropas passaram por sua porta, cantando "John Brown's Body (O Corpo de John Brown)", canção de melodia contagiante que contava a história da morte do abolicionista norte-americano John Brown (☆1800/✞1859), com alguns dos seus filhos, num violento esforço individual para acabar com a escravidão. 

Uma música feita em homenagem a um morto? Como assim?


Um dia, enquanto ouviam as tropas cantando, um visitante do casal, o pastor da sua igreja anterior, conhecendo a sua habilidade de poetisa, virou-se para Julia e a desafiou: 
"Porque a senhora não escreve palavras decentes para aquela melodia?" 

Ao que prontamente respondeu Júlia: 

"Farei isto!"
As palavras vieram a ela antes do novo amanhecer. A senhora Howe relata:
"Acordei na penumbra da madrugada, e enquanto esperava a aurora, as linhas do poema começaram a se entrelaçar na minha mente. Disse a mim mesma, ‘Preciso me levantar e escrever estes versos, para não tornar a dormir e perde-los!’ 
Então me levantei e no escuro achei uma pena desgastada, que me lembrei de ter usado o dia anterior. Rabisquei os versos quase sem olhar o papel."
Assim nasceram palavras decentes e empolgantes para aquela melodia muito conhecida, que surgira nos Camp Meetings do Sul anos antes da guerra civil. 

Um hino cristão ou político


Em pouco tempo, todo o Norte estava cantando a letra de Julia Ward Howe. O hino foi publicado no periódico mensal Atlantic Monthly (Revista Mensal Atlântico) em Boston, Estado de Massachusetts, em fevereiro de 1862. 

Conta-se que a primeira vez que o célebre Abrahan Lincoln (☆1809/✞1865, 16º presidente dos EUA, no período de 04 de março de 1861 até seu assassinato em 15 de abril de 1865) ouviu o hino, chorou e pediu: 
"Cante-o mais uma vez."
Ao longo dos anos, o hino perdeu qualquer resquício de partidarismo e tornou-se um dos hinos mais amados dos Estados Unidos. Arranjos maravilhosos deste hino foram feitos por compositores de renome e cantados nos momentos mais solenes do país. 

Foi cantado na posse do Presidente Lyndon Johnson (☆1908/✞1973, 36º presidente dos EUA, no período de 22 de novembro de 1963 a 20 de janeiro de 1969), e, tornando-se internacional, no culto funerário de Winston Churchill (☆1874/✞1965, primeiro ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial), como planejado por ele mesmo.

Mais detalhes e curiosidades sobre a composição


O nome desta melodia americana, "Battle Hymn (Hino da Batalha)", vem das primeiras palavras do título do hino no original.

A música é atribuída tradicionalmente a William Steffe (☆1830/✞1890), nascido na Carolina do Sul e criado na Filadélfia, no século 19. Pesquisadores, no entanto, acreditam que Steffe teve uma participação superficial e que a melodia era uma dessas atribuídas a vários compositores. 

Charles Claghorn (☆1911/✞1940), eminente hinólogo e autor de uma extensa pesquisa desse hino, diz que a melodia poderia ter tido sua origem como um Negro Spiritual. Acredita-se que deva ter sido uma canção de trabalho das grandes fazendas do sul, no tempo da escravidão e, pelo seu padrão literário, métrica e ritmo, útil para ser cantada durante a colheita de algodão.

A letra é do Cantor Cristão, adaptada da original "Os meus olhos viram o esplendor da vinda do Senhor" (letra original abaixo na postagem) de Julia Ward Howe, pelo Pastor Ricardo Pitrowsky (☆1891/✞1965), chamado de "O gigante dos pampas".

Conforme já dito acima, durante a Guerra Civil americana, a letra "John Brown's Body" foi muito cantada. John Brown foi um homem famoso pelos seus esforços para libertar os escravos, tendo sido enforcado em 1859. Várias outras letras surgiram, pois a melodia era contagiante.

A letra

"Já refulge a glória eterna
De Jesus, o Rei dos reis
Breve os reinos deste mundo
Seguirão as suas leis
Os sinais da sua vinda
Mais se mostram cada vez
Vencendo vem Jesus

Glória, glória, aleluia
Glória, glória, aleluia
Glória, glória, aleluia
Vencendo vem Jesus

O clarim que chama os crentes
A batalha já soou
Cristo, à frente do seu povo
Multidões já conquistou
O inimigo, em retirada
Seu furor já demonstrou
Vencendo vem Jesus

Glória, glória, aleluia
Glória, glória, aleluia
Glória, glória, aleluia
Vencendo vem Jesus

Eis que em glória refulgente
Sobre as nuvens, descerá
E as nações e os reis da Terra
Com poder governará
Se em paz e santidade
Toda a Terra regerá
Vencendo vem Jesus

Glória, glória, aleluia
Glória, glória, aleluia
Glória, glória, aleluia
Vencendo vem Jesus

E por fim entronizado
As nações há de julgar
Todos, grandes e pequenos
O juiz hão de encarar
E os remidos triunfantes
Lá no céu irão cantar
Vencendo vem Jesus

Glória, glória, aleluia
Glória, glória, aleluia
Glória, glória, aleluia
Vencendo vem Jesus
Vencendo vem Jesus
Vencendo vem Jesus"

Quem foi Julia Ward Home


Julia Ward Howe  nasceu em Nova York. Desde cedo mostrou muito talento poético. Casada com o redator de um jornal de Boston, Dr. Samuel G. Howe (1801/✞1876) — muito devotado às causas humanitárias e forte defensor da libertação dos escravos — viajou em sua companhia pelos Estados Unidos e Europa. 

Eram muito amigos de políticos e literatos. Foi uma mulher muito ativa no seu tempo, destacando-se em fluente oratória. Pregou muitas vezes na sua Igreja Unitariana.

Em 1861, na Virgínia, assistiu a um grande desfile militar presidido pelo Presidente Abraão Lincoln. Na volta para Washington, ouviu soldados cantando a música conhecida como "O Corpo de John Brown" . Impressionada, Julia escreveu uma letra para a melodia, a conselho de um pastor amigo. 

Na mesma noite, em seu quarto de hotel, escreveu as demais estrofes, publicadas em 1862 com o título de "O Hino de Batalha da República". O hino teve pouca aceitação, até que um capelão metodista, Charles McCabe (☆1836/✞1906), começou a cantá-la para o seu regimento. Preso pelos soldados do sul, após ser libertado cantou o hino a pedido do Presidente Lincoln.

A partir daí, o hino teve muita aceitação e tem sido apreciado por grandes líderes. Foi o hino predileto de Lincoln. Foi entoado na cerimônia de posse do Presidente Lyndon Johnson. Da mesma forma, foi entoado no culto fúnebre de Winston Churchill e no ofício em memória do Senador Robert Kennedy (☆1925/✞1968).

A letra original "Mine eyes have seen the glory", transcrita do hinário "Seja Louvado" e traduzida por J.Costa, é a seguinte:

Os meus olhos viram o esplendor da vinda do Senhor / Que extermina da vindima suas uvas de rancor; / Como um raio é sua espada, flamejante o seu fulgor, / Vencendo vem Jesus!

Glória, glória, aleluia! (3x) Vencendo vem Jesus!

Em centenas de arraiais, qual sentinela o pude ver, / Construíram-lhe um altar no orvalho frio do entardecer; / Seu juízo, em luz mui fosca e tremulante o posso ler: / 'Seu dia em breve vem.'

Tenho lido no Evangelho, que imutável ficará, / Que na luta contra os ímpios, ele a graça nos dará; / Ele, o herói, nascido de homem, que a serpente esmagará: / Triunfa o nosso Deus!

A trombeta que jamais a retirada irá tocar / Ecoou solenemente - os homens todos vai julgar; / Vem minha alma, jubilosa, prontamente te entregar: / Vencendo vem Jesus!

Entre os lírios tão formosos, Cristo humilde quis nascer / Com a glória no seu seio, que transforma e dá poder; / Fez-nos santos pela morte, vamos nós também morrer / E os homens libertar!

Conclusão


Assim, ao longo dos anos, o hino tornou-se um dos hinos mais amado não só dos Estados Unidos como mundialmente. Arranjos maravilhosos desse hino foram feitos por compositores de renome e cantados nos momentos mais solenes do país, assim como nas reuniões de cultos das mais variadas vertentes cristãs mundo afora.

Aqui no Brasil, o hino já ganhou versões nas vozes de vários cantores como Fernandinho, Kleber Lucas, Thalles Roberto, André Valadão, Grupo Voz da Verdade, Lauriette, Ministério Renascer Praise, Paulo César Baruk, dentre outros. 

Uma das versões mais que mais gosto desse hino, foi a feita em ritmo de rock, pela banda Oficina G3, ainda em sua primeira formação e que fez parte do segundo álbum da banda, "Indiferença", de 1996, considerado como um dos melhores em sua discografia (já escrevi artigo especial sobre este disco ➫ aqui). A banda deu ao hino o título de "Glória". Nessa versão do Oficina, inclusive, o sensacional solo de guitarra do Juninho Afram, de tirar o fôlego, é considerado um dos melhores da música nacional.
  • Além dos hinários oficiais das Assembleia de Deus (Hino 525 da Harpa Cristã) e da Igreja Batista (Hino 112 do Cantor Cristão), "Vencendo Vem Jesus (Glória, Glória, Aleluia)", também consta no hinário oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Hino 152).
[Fonte: http://www.musicaeadoracao.com.br/hinos/historias_hinos/ha_152.htm, que cita Pitrwsky, Ricardo. In: Paula, Isidoro Lessa de, Early Hymnody in Brazilian Baptist Churchs, Fort Word, School of Church Music, Southwestern, via Fé Bíblica; Paulo Franke - História dos Hinos, extraído de "Se os hinos falassem", volume IV, de Bill H. Ichter]
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
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