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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

ACONTECIMENTOS — OS 60 ANOS DA TRAGÉDIA NO GRAN CIRCUS: 503 MORTOS!

Toda cidade tem muitas histórias. Nem sempre a historiografia sobre as cidades reconhece essa multiplicidade e procura submeter a compreensão da história urbana a variáveis gerais e constantes que costuram a cidade e a representam como unidade de elementos complementares, num tempo linear. 

Nessa abordagem os acontecimentos da vida urbana não têm lugar e são transferidos para o plano da crônica da cidade. A historiografia sobre a cidade acompanha assim uma tendência geral da historiografia do século XX, especialmente a que se consagrou em plano internacional a partir da década de 1950 ao afirmar uma abordagem que valoriza acima de tudo uma interpretação estrutural e de caráter abrangente da história, em contraposição a uma historiografia cronológica de base factual. Instalou-se, portanto, um contexto historiográfico de negação do acontecimento.

Há exatamente 60 anos, o Brasil registrou o incêndio com maior número de vítimas da história do País. A tragédia no Gran Circus Norte-Americano provocou a morte de mais de 500 pessoas, a maioria criança, durante uma tarde quente em Niterói, Rio de Janeiro, no dia 17 de dezembro de 1961. É sobre este triste capítulo da historiografia dessa cidade do estado fluminense que iremos relembrar no texto de mais um artigo da série especial Acontecimentos.

A chegada do Gran Circus Norte-Americano no Rio de Janeiro


A equipe do Gran Circus chegou no Rio de Janeiro em 1961 uma semana antes da data prevista para sua estreia, e se instalou na Praça Expedicionário, na cidade de Niterói. 

O circo possuía cerca de 60 artistas — como palhaços, equilibristas e mágicos — 150 animais (quase todos mortos no incêndio) e 20 empregados para tomar conta de tudo.

Ao contrário do que o nome sugere, o circo não era americano e sim brasileiro. Seu proprietário era Danilo Stevanovich, era um Gaúcho natural da cidade de Cacequi, e membro de uma família com 7 irmãos.

A estreia do espetáculo do Gran Circus Norte Americano aconteceu no dia 15 de dezembro de 1961, uma sexta-feira. Neste dia o circo ultrapassou o limite de espectadores e Stevanovich teve que suspender a venda de ingressos.

O que causou o incêndio do Gran Circus em Niterói?


Por ter poucos funcionários para a montagem do circo, que demorava muito e exigia muita mão de obra, Danilo Stevanovich teve que contratar por volta de 50 funcionários temporários. 

Um dos contratados apresentava problemas mentais e já tinha passagem na polícia por furtos, seu nome era Adílson Marcelino Alves, mais conhecido como "Dequinha".

Por conta de seu comportamento, acabou sendo demitido. Dequinha ficou inconformado com sua dispensa e passou a rodear as imediações do circo nos dias seguintes. No dia da estreia Dequinha tentou entrar escondido no circo, mas foi impedido por Edimílson Juvêncio, o treinador de elefantes.

No dia seguinte a estreia, 16 de dezembro, houve uma discussão entre Dequinha e o arrumador Maciel Felizardo nas imediações do Gran Circus Norte-Americano. Isso por que Dequinha acreditava que Maciel era o grande culpado por sua demissão. Dequinha foi agredido, reagiu e jurou vingança.

O plano de Dequinha para atear fogo no Gran Circus Norte-Americano


Com a intenção de implementar sua vingança, no dia 17 de dezembro de 1961 Dequinha se reuniu com dois comparsas, a fim de atear fogo no circo. 

José dos Santos, o "Pardal" que cumpria 10 anos de prisão por furto, mas havia obtido uma licença do diretor do presídio e Walter Rosa dos Santos, o "Bigode", um morador de rua e alcoólatra.

Os 3 juntamente as companheiras de Pardal e Bigode, Dirce Siqueira de Assis e Regina Maria da Conceição respectivamente, se encontraram no Ponto de Cem Réis na região central da cidade.

A caminho do circo Bigode comprou de um posto de combustível, 1 litro de gasolina por 20 cruzeiros. Enquanto Dequinha e Bigode entram sem pagar, Pardal e as mulheres ficaram bebendo do lado de fora. Quase no final do espetáculo Dequinha teria percebido que Maciel Felizardo o havia notado. Teria dito então a Bigode, que estava na hora.

Mesmo sendo advertido por Bigode da grande lotação, Dequinha estava decidido a seguir com sua vingança. Os dois saíram do circo e chamaram Pardal e as mulheres. Bigode jogou a gasolina e Dequinha ateou fogo.

Um crime sórdido


O governador do Rio de Janeiro na época, Celso Peçanha, protagonizou um interrogatório dos suspeitos durante a apresentação deles à imprensa. 

Na ocasião, assim como já o efetuara na delegacia, Dequinha confessou o crime, ao contrário de Bigode, que em um primeiro momento se declarou inocente. 

Somente após um depoimento realizado na Delegacia de Ordem Política e Social (Dops), órgão notório por suas torturas, se declarou culpado.

Dequinha foi condenado a 16 anos de prisão e mais 6 anos em um manicômio judiciário. Pardal recebeu 14 anos de prisão e mais 2 em uma colônia agrícola. A condenação de Bigode foi de 16 anos de prisão e mais 1 em colônia agrícola.

Dirce Siqueira de Assis e Regina Maria da Conceição chegaram a serem detidas mas foram absolvidas.

O incêndio no Gran Circus Norte Americano


Não se sabe ao certo em que horas os 2 atearam fogo na lona do circo, mas a 20 minutos de acabar o espetáculo, às 15h45 o fogo foi notado. 

A primeira pessoa a notá-lo foi a trapezista Antonietta Stevanovich, que era irmã de Danilo, dono do circo e apresentava a atração final ao lado de Vicente Sanches e Santiago Grotto.

O desespero se instalou, muitas pessoas morreram pisoteadas na tentativa desesperada de sair daquele inferno. Os corpos empilhados impediam a passagem de outros enquanto o derretimento da lona parafinada, segundo testemunhas, fazia chover labaredas entre as pessoas.

Em poucos minutos o Gran Circus Norte-Americano, com pouco mais de 3.000 mil espectadores foi completamente tomado pelas chamas. Morreram de imediato, 372 pessoas, número que foi crescendo até chegar a 503 nos dias seguintes. Foram mais de 800 pessoas feridas. 70% dos mortos foram de crianças, fato que causou revolta e muita tristeza em toda a população.

A tragédia poderia ter sido ainda pior no número de mortos se não fosse pelo elefante fêmea chamada Sema. No meio do pânico ela escapou de sua jaula e arrebentou a lona do circo, abrindo caminho para que muitos pudessem se salvar.

O material de que era feita a lona do Gran Circus, foi um dos fatores agravantes no incêndio. Feita de algodão e revestida de parafina era altamente inflamável e com certeza ajudou o fogo a se propagar de forma muito mais rápida.

Atendimento às vítimas do Gran Circus


Como se o incêndio já não fosse tragédia suficiente, naquele dia 17, a população teve que arrombar a porta do Hospital Antônio Pedro, o maior de Niterói na época. 

O Hospital estava inativo havia 20 dias, devido a uma greve de acadêmicos que defendiam melhores condições de atendimento aos pacientes.

O exército convocou os médicos grevistas através do rádio, teatros e cinemas de Niterói e cidades vizinhas interromperem seus espetáculos a fim de descobrir se havia médicos na plateia.

A dimensão da catástrofe foi tão grande que padres tiveram que ser chamados às pressas, para dar a extrema-unção às vítimas sem esperança. Marcou também, a chegada ao local do então Presidente da República, João Goulart, que foi dar apoio as vítimas e acompanhar o desenrolar da tragédia.

A presença do Presidente mostra como foi uma catástrofe sem precedentes, que chocou o Brasil e o mundo. Até hoje, 60 anos depois, este ainda é o incêndio com maior número de mortos da história do Brasil e é considerada a maior tragédia na história circense.

Com cerca de 60 artistas, 20 empregados e 150 animais, o circo chegou à cidade de Niterói uma semana antes da estreia e escolheu a praça Expedicionário, na avenida Feliciano Sodré, no Centro, para se instalar.

A montagem da estrutura demandava tempo e mão-de-obra. Cerca de 50 trabalhadores avulsos foram contratados para colocar o Norte-Americano de pé. Entre os temporários estava Adílson Marcelino Alves, conhecido por Dequinha, que possuía passagem por furto e supostamente tinha algum transtorno mental.

Após tomar os depoimentos de funcionários do Gran Circus Norte Americano, a polícia ficou sabendo das ameaças de Dequinha e acabou capturando-o cinco dias após o ato criminoso, no morro Boa Vista. Pardal e Bigode, os cúmplices também foram detidos pelo polícia.

Comoção Nacional e Mundial com a tragédia do Gran Circus Norte Americano


Não fosse o trabalho e a doação de sangue e materiais de voluntários, o número de mortos poderia ter sido ainda maior do que foi. 

Doações chegaram de vários lugares do Brasil e do exterior. A Argentina contribuiu com medicamentos e uma equipe composta por cirurgiões e enfermeiras para trabalhar no Instituto Nacional de Queimados. 

Os Estados Unidos enviaram uma série de materiais médicos e medicamentos. Chile, Uruguai e outros países também fizeram doações e manifestações de pêsames e apoio as vítimas.

Celso Peçanha, que na época era Governador do Estado do Rio de Janeiro, utilizou presos considerados de bom comportamento, na abertura de sepulturas no cemitério de Maruí. Além disso, convocou todos os marceneiros e carpinteiros da cidade para construir caixões.

O Papa João XXIII mandou rezar uma missa em homenagem aos mortos e ainda doou boa quantia de dinheiro para auxiliar no tratamento das vítimas que haviam sobrevivido. 

Após visitar o hospital e ver os queimados o Presidente Jango, acompanhado de seu primeiro ministro Tancredo Neves, disse ter visto "o espetáculo mais triste" de sua vida e isolado em um canto, chorou.

Ato de vingança ou relapso do proprietário do Gran Circus


Apesar da história atribuir a tragédia a um ato criminoso, existem pessoas que creem em outra tese, a de falta de segurança contra incêndio adequada nas instalações do circo. 

Segundo declarações de Stevanovich, "só mesmo um crime" poderia justificar a tragédia que aconteceu ali. Lógico que essa era a melhor saída para ele, caso contrário, seria responsabilizado.

Vale ressaltar que dois circos de propriedade de Danilo, Búfalo-Bill e o Shangri-lá, também pegaram fogo em 1951 e 1952. Ele continuou na atividade até sua morte em 2001.

Um dos artistas do circo, o palhaço Doracy Campos, conhecido como Treme-Treme passou anos declarando que as instalações elétricas eram inadequadas.

Na época a imprensa noticiou problemas que havia no circo, como:
  • Instalações Elétricas precárias;
  • Falta de extintores;
  • Falta de saída de emergência.
Opositores do Governador Celso Peçanha o acusavam de encobrir os verdadeiros fatos para não ser responsabilizado. Pois o circo tinha sido autorizado a funcionar, mesmo que não apresentasse as condições necessárias.

A atuação do renomado Médico Cirurgião Ivo Pitanguy


Na época o jovem Pitanguy ainda não tinha a fama que tem hoje, e era professor na PUC-RJ. Naquele dia estava a caminho do trabalho quando escutou as notícias no rádio. Prontamente dirigiu-se até o Iate Clube do Rio, onde ficava sua lancha particular. 

De lá atravessou a Baía de Guanabara para chegar até Niterói e auxiliar as vítimas. Durante muito tempo Pitanguy continuou a tratar as vítimas da tragédia do Gran Circus Norte-Americano na Santa Casa, em São Paulo.

Este episódio exigiu dos médicos criatividade e busca de novas técnicas no tratamento. Isso colocou o Brasil na liderança da cirurgia plástica no mundo e propiciou um dos casos pioneiros de uso de pele liofilizada.

Avanço da medicina


Além dos mortos, muitas vítimas tiveram partes dos corpos queimadas e precisaram de atendimento médico. Devido ao elevado número de pacientes, voluntários e médicos de todo o País e do mundo se dirigiram ao Rio de Janeiro para auxiliar nos tratamentos.

Argentina e Estados Unidos foram algumas das nações que enviaram suprimentos médicos e alguns cirurgiões para ajudar no socorro às vítimas.

Homenagem do palhaço Carequinha as vítimas do Gran Circus Norte-Americano


O cemitério de Maruí, em Niterói, por seu tamanho, não tinha como comportar os mais de 500 mortos. Foi então que George Savalla Gomes, mais conhecido como palhaço Carequinha, ajudou a financiar do próprio bolso a construção de um cemitério na cidade de São Gonçalo, vizinha de Niterói. 
Após sua morte em abril de 2006, carequinha foi enterrado neste mesmo cemitério.

Conclusão


Oficialmente, 503 indivíduos faleceram devido ao incêndio. No entanto, o número é contestado: alguns acreditam que a quantidade de vítima pode ser, pelo menos, o dobro do informado pelas autoridades da época.

A hipótese de acidente foi levantada por peritos, que declaram à imprensa que 
"o circo não tinha condições de funcionar"
devido às irregulares presentes no local. No entanto, tanto o Corpo de Bombeiros quanto o diretor do Serviço de Censura do Estado do Rio sustentaram que o estabelecimento estava em boas condições.

A Polícia optou por sustentar a tese de incêndio criminoso e evitou atribuir alguma culpa ao dono do local, que afirmava que "só mesmo um crime” poderia justificar a tragédia.

Em outubro de 1962, Dequinha foi condenado a 16 anos de prisão, além de seis anos de internação em um manicômio judiciário. Bigode também foi sentenciado a 16 anos, mas com um ano em colônia agrícola. Já Pardal recebeu a pena de 14 anos de prisão, sendo dois anos em colônia agrícola.

Após mais de uma década encarcerado, Dequinha fugiu, mas foi assassinado menos de um mês depois. Ele foi encontrado com 13 tiros no alto do morro Boa Vista, em Niterói, próximo a torres de transmissão. 

A Polícia não conseguiu achar o autor do homicídio. Após cumprirem pena e serem soltos, Bigode e Pardal desapareceram, segundo o jornalista Mauro Ventura, autor do livro "O Espetáculo Mais Triste da Terra — O incêndio do Gran Circo Norte-Americano" (Companhia das Letras, 352 páginas, 2011).

[Fonte: Diário do Nordeste;  Ofos, por Vítor Fernandes — Diretor na OFOS com mais de 10 anos de experiência no mercado de prevenção e combate a incêndios; Jornais Folha de São Paulo (acervo digital), O Estado de São Paulo (acervo digital), O Globo (acervo digital); Portais Terra, Aventuras na História, globo.com, A Tribuna RJ; Revista Super Interessante; Programa de TV Linha Direta da Globo]

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