Total de visualizações de página

quinta-feira, 3 de junho de 2021

ESCRITO NAS ESTRELAS — CLODOVIL HERNANDES

Ele foi sem dúvida alguma uma das personalidades mais marcantes nas últimas décadas. Às vezes fico imaginando ele hoje em dia, nesses tempos chatos do famigerado politicamente correto evocado pelo tribunal das redes sociais, onde todos querem se dar ao luxo de dizer o que pensam, desde que não sejam confrontados, questionados e, muito menos ainda, contraditados. Hasteiam o estandarte da tão aclamada liberdade de pensamento e expressão — uma das premissas de nossa constituição:
Art. V, inc. IX  — Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e ideais de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.

— desde que tais pensamentos e expressões não sejam contrários às ideologias impostas. Pois é, num cenário desses, ele iria causar uma verdadeira hecatombe de críticas e, certamente, já teria sido vítima do tal cancelamento. 

Controverso e um criador de polêmicas como poucos, me refiro a Clodovil Hernandes (☆1937/✟2009). Artista que marcou a alta costura e a televisão com sua personalidade forte e opiniões contundentes.

Mais que um nome, uma personalidade

Infância


Clodovil com Elke Maravilha (☆1945/2016 no programa da Hebe Camargo (☆1920/2012
Fonte: Facebook Instituto Clodovil Hernandes.

Clodovil Hernades, como seu nome ficou registrado na certidão de nascimento por um equívoco do cartório, nasceu em Elisiário, interior de São Paulo, no dia 17 de junho de 1937. 

Ainda muito pequeno, ele foi adotado por Domingos Hernández e Isabel Sánchez Hernández, um casal de imigrantes espanhóis. Desde então, ele não teve nenhuma relação com os seus pais biológicos.

Segundo Clodovil, a mãe a princípio o rejeitou, tendo apenas com o tempo crescido por ele um amor genuíno e forte. Com o pai, a relação era mais complicada. 

Afinal, tendo dele recebido duras críticas sobre o seu hábito de desenhar e o seu "jeito fresco", o estilista disse ter vivido o trauma de quando pequeno haver visto o seu pai adotivo na cama com outro homem [Revista Manchete, 14 de julho de 1979, nº. 1421].

Juventude


Ainda muito jovem, a família se mudou algumas vezes. Eles venderam a parte que lhes cabia de uma fazenda e, desde então, foram primeiro para Catanduva e depois Floreal, onde Domingo Hernández abriu uma loja de tecidos.

Foi nesse estabelecimento, e por meio dos trabalhos de sua mãe Isabel, que então costurava e vendia vestidos de noivas, que Clodovil teve os primeiros contatos com a moda.
"Sem qualquer informação sobre o que seria moda, criava-as, eu mesmo, em cartolinas compradas no bazar local. Jamais sofri qualquer influência. E, apesar disso, meus desenhos eram bons" [Clodovil Hernandes em entrevista a Ronaldo Bôscoli (☆1928/✟1994), Revista Manchete, 14 de julho de 1979, no. 1421].
Todavia, mesmo que com limitações financeiras, Clodovil Hernandes pôde ser educado em um colégio interno católico. Foi então nesse colégio que ele veio a dar os primeiros passos da sua carreira como estilista, logo aos 16 anos.

Clodovil ainda confessou que havia sido abusado por um dos padres do colégio, mas o feito não rompeu o bom sentimento que tinha em relação a ele e à religião. Além disso, teria sido também no internato que Clodovil foi chamado por outro padre de "Jacques Fath" (☆1912/✟1954), um famoso estilista francês daquela época.

Primeiros Passos


Ensaio de Clodovil para a peça "Eu & Ela", escrita e encenada por ele em 2006. 
Fonte: Facebook Instituto Clodovil Hernandes.

Nesse meio tempo, ele então participou de um pequeno concurso de desenhos da Revista Radiolância. Assim, depois de ganhá-lo, o jovem começou a sonhar cada vez mais alto, vindo a se tornar um dos maiores nomes da alto costura não só no Brasil, como também no exterior.

Acima de tudo, o seu maior desejo passou a ser ir viver na capital paulista. Antes de nada mais, ele tinha um interesse especial pelo teatro, o cinema e a televisão. Assim, Clodovil Hernandes também trabalhou como figurinista em diversas produções e filmes brasileiros, como:
  • No filme "O Corpo Ardente" (1966), um romance e drama estrelando a atriz francesa Barbara Laage.
  • Posteriormente, na telenovela "Beto Rockfeller" (1970), da Rede Tupi.
  • Em seguida, na comédia romântica "Lua de Mel e Amendoim" (1971), na qual, além de contribuir com figurinos, ele também participou como ator, ao interpretar um costureiro.
  • Pouco depois, na comédia erótica "A Infidelidade ao Alcance de Todos" (1972).
  • No drama policial chamado "A Paranói"a (1976).
  • Além disso, criou figurinos para um conhecido espetáculo do Ballet Stagium, chamado "Kuarup", ou a "Questão do Índio" (1977).
  • Também colaborou no espetáculo teatral "Seda pura e alfinetadas" (1981).
  • Na peça "Sabe quem dançou?" (1987).
  • Por fim, fez croquis e projetos de figurinos para a peça "Eu & Ela", escrita e encenada por ele (2006).

Televisão


Clodovil na TV Mulher. Crédito: J. Ferreira da Silva. Fonte: Veja SP.

Entre os inúmeros programas de televisão dos quais participou, seja como entrevistado, como jurado ou posteriormente apresentador, Clodovil definiu que o gosto estético não dependia apenas da condição financeira da pessoa.

Afinal, para o artista, não lhe interessava ir à televisão para falar de peças que as ouvintes não poderiam consumir.

Clodovil Hernandes já se havia destacado nessa mídia em 1976, quando ganhou o maior prêmio no programa de perguntas "8 ou 800?", da Rede Globo. Ele parece ter tomado gosto pelos palcos. Assim, alguns anos depois, em 1979, ele também participou da novela "Marron-Glacé", da mesma emissora.

Contudo, foi em 1980 que, para além do seu trabalho com a moda, ele deu os primeiros passos da sua carreira como apresentador de televisão.

Nesse ano, ele estreou um quadro no icônico programa "TV Mulher", um dos pioneiros no formato revista eletrônica voltado ao público feminino, com exibição diária no período da manhã, também da Rede Globo. Nele, Clodovil Hernandes desenhava modelos exclusivos que se adaptam aos pedidos das telespectadoras.

Sendo liderado por Marília Gabriela, o programa também contava com outros participantes, como a então sexóloga Marta Suplicy. Considerando a sua projeção e o atrito que tinha com Marília Gabriela, ele em 1983 lançou o seu próprio programa, o "Programa Clodovil", na TV Bandeirantes.

Diferentes Programas


Clodovil Hernandes passou por diferentes emissoras ao longo dos anos, tendo em todas elas alimentado a fama de polêmico, de alguém que não tinha filtros no falar. 

Como resultado de muitos comentários tidos como impróprios e descabidos, ele acabou por ser em distintas ocasiões afastado, demitido, e indiciado em processos judiciais por difamação e injúria.

O seu caráter provocador e atitudes polêmicas a princípio não foram um total impedimento, antes o contrário. Tanto é que no início da década de 1990 Clodovil passou a trabalhar primordialmente com a televisão, deixando a sua carreira como estilista mais de lado.

Em 1992, na Rede Manchete, passou a apresentar o programa "Clodovil Abre o Jogo". Na TV Bandeirantes, em 1998, lançou o "Clodovil Soft".

Já nos últimos anos de vida, em 2001, ele passou a integrar a equipe do programa "Mulheres", na TV Gazeta. Por fim, em 2003, ficou até 2005 à frente do programa "A Casa é Sua", da Rede TV.

Polêmicas de Clodovil


Clodovil Hernandes. Crédito: Agência Brasil / José Cruz ABr. Fonte: Wikimedia commons.

Clodovil Hernandes, que era abertamente homossexual, teve uma educação cristã e conservadora que transpareceu no seu percurso. Nesse sentido, muitas das críticas a ele direcionadas foram remetidas por militantes dos movimentos da causa LGBT (hoje, LGBTQIA+, amanhã, sabe-se lá qual será a sigla).

Afinal, parecia contraditório, mas, por exemplo, Clodovil se posicionou contrário ao casamento gay, embora fosse a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo. 

Da mesma forma, se opôs à Parada Gay, por associá-la com a prostituição e o uso de drogas. Por mais controverso que possa parecer, se vivo fosse, certamente Clodovil receberia o rótulo de homofóbico!
"Essa Parada Gay, por exemplo, eu nunca iria realmente, e as pessoas pensam que eu sou contra. Eu não tenho orgulho nenhum de ser gay" [Clodovil Hernandes].
Além disso, ele não causou apenas polêmica no que diz respeito aos homossexuais, tendo também sido mais de uma vez acusado de tecer comentários racistas e antissemitas.

Processos contra Clodovil Hernandes


Em 20 de março de 2009, Clodovil foi o entrevistado do talk show "Provocações", apresentado por 
Antônio Abujamra (1932/2015)

Assim, em 2004, Clodovil Hernandes foi condenado por danos morais por haver chamado a vereadora Claudete Alves da Silva Souza (PT) de "macaca de tailleur metida a besta".

Esse comentário, claramente racista, foi feito após a vereadora ter entrado com uma representação contra o apresentador junto ao Ministério Público justamente por racismo.

No dia 17 de março de 2004, no programa "A Casa é Sua", da RedeTV, o então apresentador comentou após o cantor Agnaldo Timóteo (☆1936/✟2021) se queixar da ação dos fiscais municipais de São Paulo que dificultavam a venda dos seus CDs: 
"Tem que vender disco na rua (…) Ele vai fazer o quê? Ele vai fazer o que todo crioulo faz no Brasil? Vai virar ladrão, bandido ou o quê?".
No ano seguinte, em 2005, foi demitido da Rede TV. A decisão veio após um conflito direto com os humoristas do programa Pânico na TV, no conhecido episódio do quadro Sandálias da Humildade.

Pouco depois, já com quase 70 anos, Clodovil teve que fazer uma cirurgia para a retirada de um tumor na próstata.

Clodovil Hernandes na Política


Prestes a completar 70 anos, Clodovil se elegeu deputado federal por São Paulo pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC). Foi então o terceiro deputado mais votado no estado, atingindo um total de quase 494 mil votos.

Apesar de ter recebido grande apoio de homossexuais (à sua posse, em fevereiro de 2007, foi uma caravana de 50 ônibus com representantes do movimento gay), o recém-eleito deputado não quis atender aos apelos do grupo.
Clodovil Hernandes. Crédito: Agência Brasil / 
Fabio Pozzebom/ABr. Fonte: Wikimedia commons.

Afinal, Clodovil sempre se mostrou resistente e crítico ao movimento gay no geral, tendo inclusive feito em diversas ocasiões comentários ríspidos e preconceituosos.

Nesse sentido, ao longo do seu mandato, Clodovil Hernandes continuou a ser protagonista de diversas polêmicas. Pelo seu posicionamento, o apoio que recebia era maior entre os grupos conservadores de direita, que de fato exploravam a imagem de um homossexual que se colocava como conservador.

Além disso, uma das primeiras e maiores polêmicas como deputado foi a reforma do seu gabinete. Nada discreto e de um gosto considerado duvidoso, o espaço passou a contar com um sofá branco bordado com o brasão da República e a pintura de um retrato seu com os seus cachorros.

Nesse meio tempo, durante a sua atividade na Câmara dos Deputados, participou das comissões dos Direitos Humanos e Minorias; da Educação e Cultura; das Relações Exteriores e Defesa Nacional.

Morte



Clodovil Hernandes em seu gabinete. Crédito: Dida Sampaio/AE/VEJA. Fonte: Veja SP.

Tendo sofrido ao longo dos anos com outras doenças, Clodovil Hernandes faleceu no dia 17 de março de 2009, aos 71 anos, em Brasília. A causa da morte foi um acidente vascular cerebral (AVC), seguido de parada cardíaca. O velório aconteceu no Salão Nobre da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Não tendo herdeiros, Clodovil deixou registrado em seu testamento que queria doar o seu patrimônio para a criação de uma fundação beneficente. Acima de tudo, o seu interesse era que essa instituição servisse para ajudar meninas carentes e em situação de abandono.

Apesar disso, devido a disputas e conflitos, os seus bens —  como uma belíssima mansão em Ubatuba, o seu reduto preferido — , além de uma soma milionária, permaneciam bloqueados pela Justiça ainda dez anos após a sua morte.

Posteriormente, o Instituto Clodovil Hernandes foi criado em 2011. Antes de mais nada, a sua finalidade é preservar e divulgar a memória do artista.

Por último, em 2019, a Ancine expediu uma autorizou para a captação de recursos para o filme "Clodovil", baseado na biografia "Tons de Clô", do jornalista Carlos Minuano (2017).

Conclusão


Clodovil Hernandes com certeza foi uma das personalidades mais marcantes de todos os tempos. Sua vida sempre foi um livro aberto e o político e apresentador nunca teve medo de revelar seus segredos. Porém, mesmo falando tantas verdades, parece que Clodovil acabou deixando algumas coisas escondidas, como sua preferência por sexo pago (ele pagava garotos de programas para serviços sexuais) e a prática do voyerismo (ele gostava de filmar suas relações sexuais).

Talvez isso explique por que Clodovil Hernandes gostava tanto de criticar algumas personalidades famosas dizendo certas ‘verdades’ nunca antes ditas por ninguém. Infelizmente ele morreu e deixou muitos fãs órfãos de suas opiniões sinceras e conselhos sobre a vida. Independente de qualquer coisa, o nome de Clodovil está sim, escrito nas estrelas.

[Fonte: Fashion Bubbles, por Mariana Boscariol]

A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário