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sábado, 28 de dezembro de 2019

FILMES QUE EU VI - 54: "UM DIA DE FÚRIA"

Nos tempos atuais, uma das coisas que mais tem sido usada como lobby pessoal de muitas pessoas é o conceito do "politicamente correto" – principalmente no famigerado tribunal das redes sociais e seu sempre impoluto corpo de magistrado especialista em absolutamente tudo. Mas, quem de nós se enquadra nesse tão alardeado e venerado perfil "politicamente correto"? Como ilustração, vou citar um fato trágico acontecido recentemente em São Paulo e que chocou o Brasil.
 

O caso Rayane

 
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Rayane Paulino Alves, de 16 anos, desapareceu na madrugada de um domingo, no dia 21 de outubro de 2018, após sair de uma festa tipo have em um sítio, no limite entre Guararema e Mogi das Cruzes, na grande São Paulo. A estudante saiu do sítio e começou a andar no sentido Guararema. 

No caminho, um motorista de transporte por aplicativo orienta a jovem que ela caminha no sentido contrário, já que ela queria ir para a casa, em Mogi das Cruzes. O homem oferece carona até a rodoviária de Guararema, onde ela, então, poderia pegar um ônibus. 

Quando Rayane chegou ao local, conversou com o segurança Michel Flor da Silva – então um indivíduo acima de qualquer suspeita, casado, pai de família, trabalhador e sem nenhuma passagem pela polícia – que, "cheio de boas intensões", ofereceu água e blusa à garota que se encontrava alcoolizada, mas ela não aceitou. Depois, ele ofereceu uma carona e os dois saíram de carro. 

Rayane ficou desaparecida por oito dias sendo seu aparelho celular encontrado na estrada que levava ao município de Jacareí. O corpo foi encontrado uma semana depois, em uma área de mata, na Avenida Francisca Lerário, em Guararema. 

De acordo com as investigações, Michel estava trabalhando na rodoviária como segurança e disse à polícia que, ao ver Rayane sozinha, se ofereceu para levá-la até a casa dela. Para a polícia, ele já tinha a intenção de estuprar a jovem e, depois do crime sexual, matou Rayane asfixiada. 

Na versão de Michel – que inclusive foi sustentada pela defesa no dia do julgamento –, Rayane disse que queria "curtir" e os dois decidiram ir para uma festa em Jacareí. No caminho, tiveram uma relação sexual consensual e, depois, a jovem disse que ele havia abusado dela e iria chamar o pai, que era policial. 

Ainda segundo o acusado, a vítima começou a bater nele, e ele deu um golpe mata-leão. Depois percebeu que ela ainda estava viva, arrancou o cadarço da bota que ela usava e a asfixiou. Michel Flor da Silva foi a júri popular no dia 30 de agosto de 2019, quando recebeu a condenação de 45 anos de prisão em regime fechado. 

A questão é: o assassino Michel, conforme eu disse, era o que poderíamos chamar de – e/ou classificar como – "um cidadão do bem", mas que se revelou um estuprador e assassino frio. 

O roteiro deste filme que eu trago em mais um capítulo da série especial Filmes Que Eu Vi, dada as devidas proporções, nos leva justamente a essa reflexão: quem de nós pode ser verdadeiramente considerado "do bem" e "acima de qualquer suspeita"? 

"Um dia de Fúria"

 
Quem nunca teve vontade de exigir um preço justo em um supermercado? Ou, cobrar que o lanche servido em uma lanchonete fosse grande e apetitoso como no anúncio? A rotina nos grandes centros urbanos parece moldada para enlouquecer o trabalhador, com o trânsito, barulho, serviços ruins e trabalhos estressantes. 

Portanto, no longa "Um Dia de Fúria", é satisfatório ver o protagonista largando o carro a caminho do serviço e decidindo "eu vou para casa". Quem nunca sonhou com isso? Ou seja, é fácil se identificar com a jornada de William Foster (Michael Douglas). 
"Um Dia de Fúria", de 1993, sob a direção de Joel Schumacher, tendo a brilhante performance de Michael Douglas, pode não ter sido à sua época considerado um aviso no que se transformaria a marcha do progresso e das relações humanas, porém, sem sombra de dúvidas, é o real e intensificado relato das vidas que se perdem em prol dos dinâmicos afazeres de nossa existência em sociedade. 

Mais que uma sinopse, uma "profecia psicológica" 


O personagem principal não é o que se pode chamar de alienado ou alucinado. É um homem comum, em mais um dia comum, de sua vida comum. É mais uma síntese dos sentimentos que todos temos uma hora ou outra, mas não nos consideramos insanos. A paranoia urbana vive dentro da sociedade que traz em seu cerne o medo do hoje e o receio do futuro. 

A explosão de Foster não se dá contra o caótico trânsito, pela perda de seu emprego ou até mesmo por seus problemas familiares e particulares. Ela ocorre e é inflamada pela vida: o cotidiano presente e a prisão que enjaula o ser humano em uma mesma vala de sentimentos e inquietações, o mesmo despertar do desprazer num domingo à noite quando aproxima-se o início da semana seguinte; a mesma dúvida da aceitação e o sentimento de pertencimento que precisa ser preenchido todos os dias, a velocidade de tudo o que rodeia a pessoa: a caminhada de um mundo que não dá um tempo. 

Inúmeras críticas podem ser vistas no filme, enquanto expectadores de uma presença maciça da violência e do medo aguardam estes que podem ser o carro chefe da vilania do personagem, nota-se que as pequenas coisas e situações da usual rotina, como a compra de um hambúrguer "enganoso" (acontece todos os dias nas famosas franquias de fast-food espalhadas nas grandes metrópoles mundo afora!) ou o caos do trânsito (todos os dias, idem!) são o estopim para inflamar a pólvora e consolidar o pulsar de uma demência que se engendra pelos pequenos atos que consideramos com resiliência. 

Assim, a expectativa do filme se resume numa frase: o dia comum das pessoas. Entretanto, vivemos uma época difícil. 

O estopim está aceso

 
Desemprego, dúvidas, terrorismo, a artificialidade dos laços humanos potencializada cada vez mais pela frieza das redes sociais, a liquidez das relações, o descaso pelo coletivo e a falta de propensão pela política em seus aspectos mais estruturais, faz das pessoas meras espectadoras de uma vida que pulsa em busca da felicidade que não brota mais na fluidez da vida social, mas sim, na individualidade e na sensação de que custe o que custar, estamos sozinhos nesse vasto mundo de consumismo e prazeres instantâneos, e somente o indivíduo por si próprio, pode se satisfazer, exclusivamente. 

A perda dessa pulsão ou do prazer (ou falta de possibilidades) pelas buscas que a atualidade nos traz pode ser o início de um dia de fúria, em uma capacidade de buscar um outro caminho para tal felicidade. 

Todavia, não seria a fúria de William Foster o despertar do bom senso e discernimento diante a uma sociabilidade mecanizada ao extremo e da artificialidade das relações com as causas e motivos que regem a vida? 

Não o transformaria sua ira num homem comum em busca dos propósitos essenciais para a boa vivencia como a verdade, alegria e a liberdade de ir e vir a qualquer lugar que sua iniciativa operar? 

Para Foster, chega de resiliência, não mais empatia ou caridade. Sua vida o transformara para aquele momento onde qualquer ato seu seria extremo, em busca de sua verdadeira identidade; nem que para isso seja necessário optar pela violência paranoica que se estabeleceu em seu viver, naquele momento. 

As inúmeras brigas de trânsito por motivos fúteis e banais, os casos que assistimos todas as semanas nos tribunais do júri espalhados Brasil afora, mostra o quanto se vive épocas de inexoráveis sentidos de ira, vingança e intolerância. 

A capacidade de transportar opiniões de ódio e divulgar o medo ou o receio, muitas vezes fundada em uma crença particular ou de um grupo extremista ficou facilitada com a internet e suas redes de comunicação. 

O inimigo agora não é mais apenas o estrangeiro terrorista, ele está entre nós divulgando a intolerância e a hostilidade, que um dia explodirá nas mentes menos argutas contra qualquer reprovação que ocorra, num dia de fúria. 

As redes sociais transportam inúmeros julgamentos individuais e variadas maneiras de enxergar situações que poderiam ser convalescidas por via da empatia ou da parcimônia. 

Mas ela consegue transformar opiniões em máquinas de julgar e transformam o leigo em especialista e o incauto em ator de atos criminosos que muitas vezes exerce o seu dia de fúria contra atitudes que julga não considerar correta, pois é a pauta da vez em suas redes de amizades virtuais. 

A falta de responsabilidade na divulgação das opiniões de ódio, racismo, homofobia, xenofobia, mixofobia são o pavio que resta ser aceso em um dia de fúria. 

A falta de laços humanos mais consistentes e de uma harmonia social, causada por um individualismo crescente e na busca pela supérflua máquina consumerista, em prol da deglutição do prazer próprio, faz com que a fúria recaia aos grupos tidos como marginais ou estigmatizados, quando estes são alvos do julgo dos "intelectuais virtuais". 

Quando não há a possibilidade financeira dessa busca hedonística mistificada pelo consumismo frenético, a fúria impetuosa recai sobre os ódios impostos na vida de muitos extremistas que muitas vezes nem sabem que o são. 

Intolerância, falta de bom senso, respeito e razão são os sentidos que governam o mundo hoje em dia e que move o direito penal por meio de seus processos cabulosos e artificiosos. 

Conclusão 

Tudo está interligado a "Um dia de Fúria" 


Mesmo que os tempos tenham mudado (1993 a 2019, quase 2020) o discurso é o mesmo e aquele aviso lançado por Shumacher nos parece agora tão nítido como a propaganda de um sanduíche de alguma rede de fast-food qualquer. 

Mesmo com falhas, tudo o que "Um Dia de Fúria" se propõe a debater sobre a sociedade funciona. Valendo-se de uma ambientação excelente e um roteiro extremamente provocativo, Schumacher reflete sobre os supostos "cidadãos de bem", pessoas tão perdidas dentro de suas próprias ilusões que ainda não perceberam que são os vilões da história. 
  • "Um Dia de Fúria (Falling Down)" – EUA, França e Reino Unido, 1993;
  • Direção: Joel Schumacher;
  • Roteiro: Ebbe Roe Smith;
  • Elenco: Michael Douglas, Robert Duvall, Barbara Hershey, Tuesday Weld, Rachel Ticotin, Frederic Forrest, Lois Smith, Joey Hope Singer, Raymond J Barry, D. W. Moffet, Steve Park, Kimberly Scott, James Keane;
  • Duração: 113 min
A Deus, toda glória. 
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