Além de lembrar um período interessante do dance music, que agitou a maioria das baladas de parte do Brasil entre as décadas de 80/90 - aqui, faço menção saudosa e especial das grandes noitadas de sábado na quadra do Centro Esportivo Chiodi, localizado na Vila São Paulo, divisa entre os municípios de Belo Horizonte e Contagem, bons tempos aqueles... -, este disco também pode deixar muitos internautas e colecionadores surpresos pelo redescobrimento.
Sim, caro leitor! Para muitas pessoas este disco é visto como "novidade" em meio ao abandono, muito em prol da desmemoriação crônica de muitos entre nós e do desdenho por aqueles que não querem ou não conseguem ouvir nada mais que seu gosto musical particular. Só que, meus caros, esse disco foi um estupendo sucesso e era presença obrigatória nas mais badaladas pistas de dança nas boates mais descoladas e em qualquer festinha que se prezasse nesse biênio tão quente e diverso. Mas antes de falar do disco, farei um breve resumo do que foi a
House Music.
Muita gente acha que House Music foi coisa de playboy. Ledo engano. A verdade é que a origem da House Music é underground, negra e gay! A House Music é o som do amor, som que democratizou a pista de dança e redefiniu a noção sobre música.
O movimento House Music nasceu em clubes underground em Chicago e suas raízes estão fincadíssimas na cultura LGBTQ afro-americana! Os clubes como o Warehouse, The Power Plant e Paradise Garage eram lugares onde grupos marginalizados pela sociedade podiam se encontrar, se divertir e se sentir bem, e a música era paixão compartilhada por todos!
O House Music teve a habilidade de juntar pessoas de culturas diferentes, foi um dos ritmos que ajudou a democratizar a pista de dança, um gênero importantíssimo que representa e marca um momento da historia dos EUA... A Cultura evoluiu da Disco Music, que teve seu apogeu na década de 1970, e haviam muitos DJs na época procurando impulsionar as melodias funk com mais energia e até mais peso, um som mais pra frente sabe? Com essa influência foi se revelando uma batida de 4/4 que se tornaria o ritmo básico do gênero, a base (leia-se "beise").
Nos anos 70, muitos latinos negros e africanos imigrantes estavam em NY e a cultura negra estava tendo uma ascensão no mainstream, mas esses grupos ainda eram muito marginalizados e super pobres... nos anos 70 o jornal New York Times reportou que 311,864 pessoas negras viviam em áreas de pobreza, número que depois avançaria pra 452,030 mil. A comunidade gay estava lutando por liberação, e a desigualdade social gritava muito mais do que agora! E foram justamente esses grupos rejeitados pela sociedade que deram inicio a cena underground incluindo o House Music, que só seria reconhecida pelo mundo mais tarde.
The Warehouse
Warehouse foi uma casa noturna de Illinois/Chicago que deu origem ao termo "House". Em Chicago surgiu o The Warehouse, club que tinha como residente Frankie Knuckles (☆1955/✞2014). De maneira espetacular, no comando de suas pick ups ele conseguiu desenvolver suas habilidades e o estilo, que caminhava do Disco, Indie, Synth Disco europeu e muitas outras raridades que levaram a etiquetar o estilo como House Music.
Knuckles é hoje considerado um dos pais do House e era tão popular que o Warehouse, inicialmente um club exclusivo para homossexuais negros, começou a atrair multidões mais heterossexuais e brancas, levando seu dono, Robert Williams, a abrir o club ao público em geral. Era o único lugar da cidade em que se poderia ouvir esse estilo de música.
Em 86 o House já tava bombando em Londres e Ibiza, alias, os artistas de House ficaram chocados quando descobriram o tanto que as pessoas gostavam de House nesses lugares. A música deles estava a milhão nas paradas de sucesso do Reino Unido, e o House e todas as suas vertentes eram adoradas nesses lugares!
"House Remix - Vol. 1 - Internacional"
O disco
Lançado em 1990 pela gravadora WEA e distribuído pela BMG Ariola, o disco apresenta remixes de canções de artistas como Kon Kan, Depeche Mode, Erasure e Noel Pagan.
"House Remix", apesar do título explicar o conteúdo, esse álbum fez bastante barulho na época de seu lançamento já no finzinho dos anos 80 e merece entrar para a galeria "Coletâneas". Basta lembrar que a vida de DJ não era nada fácil: sem internet, MP3, plataforma de streamings e todas as facilidades de divulgação que temos hoje, apenas quem pilotava pick ups em casas noturnas muito badaladas tinha acesso às versões 12" - as cultuadas "extendend versions" - dos hits do momento.
A outra alternativa, um pouco mais dolorosa, era ir até lojas de importados nas galerias de São Paulo e comprar a peso de ouro cada novo single. Se você que não era DJ, então o jeito era mesmo se contentar com uma gravação da rádio, tipo Jovem Pan FM, que na época era uma das que mais executavam em sua programação esse estilo de música.
A outra alternativa, um pouco mais dolorosa, era ir até lojas de importados nas galerias de São Paulo e comprar a peso de ouro cada novo single. Se você que não era DJ, então o jeito era mesmo se contentar com uma gravação da rádio, tipo Jovem Pan FM, que na época era uma das que mais executavam em sua programação esse estilo de música.
Aliás, nessa época as rádios estavam quase à beira de um ataque de nervos, tamanha a ansiedade sobre qual seria a nova "onda" e por pouco o Brasil não embarcou na Newbeat que para variar já chegava atrasada. Eis que atropelando tudo e com uma estrutura pra lá de sedimentada no exterior, chega por terras Brasilis, quebrando tudo, a House Music. Esse álbum foi mais do que tocado, e podemos dizer que uma boa parte de qualquer festa sempre estava a salvo se o DJ tivesse esse disco na ponta da agulha. Vamos às pérolas:
Faixa a Faixa
1/A) "I Beg Your Pardon" - Kon Kan
O nome dessa banda é bem curioso, vem de Can Con (Canadian Content) uma lei que obriga às rádios canadenses a tocarem no mínimo 30% de música nacional. O duo Barry Harris e Kevin Wynne não durou muito, no começo dos anos 90 eles tomaram rumos diferentes e o único que continuou a dar seus pulinhos musicais foi Harris que chegou a gravar até um álbum solo. Hit de pista até hoje, é mais uma naquele esquema: não há quem não tenha dançado, cantado ou no mínimo escutado. Eu fiz tudo isso!
2/A) "Like A Child" - Noel
Hit dos hits da "era House". Mais tarde inserido num movimento chamado "freestyle", Noel era obrigatório em qualquer festa house, e era bem comum ouvir ao menos 3 hits dele na mesma noite. Apesar de "Silent Morning" ter feito sucesso primeiro, "Like A Child" aproveitou o vácuo do sucesso anterior e não deixou a bola quicar no chão, manteve Noel nas programações das rádios por um looooongo tempo.
3/A) "Yo No Se" - Pajama Party
Com um nome sugestivo destes era de se esperar que as 3 meninas do Pajama Party fossem fazer um bom sucesso por aqui. House Music de primeira com batida perfeita para fazer qualquer mixagem. Vale cada minuto dessa versão 12".
1/B) "A Little Respect" - Erasure
Para os desavisados, a dupla Vince Clark e Andy Bell já estavam no seu terceiro álbum quando esta música estourou nas rádios. Com um pouquinho a mais de história, vale lembrar que Vince Clark foi fundador do Depeche Mode (também presente na coletânea) e fazia par com Alison Moyet no Yazoo. "A Little Respect" ficou semanas no top das rádios e quem tinha essa versão 12" literalmente fazia a festa.
2/B) "Strange Love" - Depeche Mode
Single arrasador, em um remix pra lá de dançante. Escancarou de vez as portas para o Depeche no Brasil que já possuía uma considerável legião de fãs. Apesar do Depeche não ser uma banda de House no sentido mais "Warehouse" da palavra, essa música estourou no momento certo e quem ouvia nas rádios não fazia muita questão de diferenciar estilos.
3/B) "That's The Way Love Is" - Ten City
A menos conhecida da coletânea, mas no fiel estilo House Music, não deixa nada a deseja: ouça e experimente no mínimo não se pegar balançando o pé.
Conclusão
Depois desse álbum, que trazia na sua capa o alegre símbolo que ficou conhecido como smyle e se tornou a marca registrada do movimento House, uma centena de outros vieram - inclusive, um volume 2, tão bom quanto o primeiro (eu tive os dois em minha coleção de vinis) -, mas no estilo 12" vale lembrar que esse foi pioneiro por reunir de uma só vez os melhores hits das pistas nessas versões exclusivas, e o melhor de tudo, acessível aos mortais em qualquer loja de discos. Quem ainda tem o seu exemplar, pode guardar com carinho que este disco fez história.
O House gerou diversos subgêneros desde o seu surgimento, fez a música eletrônica aparecer para o mundo inteiro nas suas mais diversas variações e fez a cultura clubber chegar a um patamar nunca antes visto. O House enfrentou diversos obstáculos ideológicos na sua trajetória, preconceitos por ser tocado em locais frequentados em sua maioria por negros e homossexuais, com protestos, proibições, mas no underground nunca deixou de se acreditar na sua continuidade e evolução.
Transformou-se num movimento mainstream e fez com que todos se unissem para fazerem parte de algo que estava dominando as pistas do mundo inteiro, independente se eram negros ou brancos, heterossexuais ou homossexuais. Vários clubs, gravadoras e DJs que surgiram naquela época ainda continuam em pleno funcionamento hoje em dia e carregam consigo as histórias marcantes daquela época.
[Fonte: Projeto Autobahn - A Balada dos Anos 80, por Gabriel Front; Expensive $hit]
A Deus, toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário