- *O título desse artigo foi inspirado em artigo originalmente escrito por Charles Haddon Spurgeon".
"No início, a igreja era um grupo de homens centrados no Cristo vivo. Então, a igreja chegou à Grécia e tornou-se numa filosofia. Depois, chegou a Roma e tornou-se uma instituição. Em seguida, à Europa e tornou-se uma cultura. E, finalmente, chegou à América e tornou-se um negócio" (Richard Halverson).
"Alguns, efetivamente, proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade; estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho; aqueles, contudo, pregam a Cristo, por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias.
Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei" (Apóstolo Paulo, Epístola aos Filipenses 1:15-18, grifo propositalmente acrescentado).
A interpretação popular desta passagem, especialmente desta frase de Paulo, que grifei no verso 18, é que para o apóstolo o importante era que o Evangelho fosse pregado, não importando o motivo e nem o método. A conclusão, portanto, é que podemos e devemos usar de todos os recursos, métodos, meios, estratégias, pessoas – não importando a motivação delas – para pregarmos a Jesus Cristo. E que, em decorrência, não podemos criticar, condenar ou julgar ninguém que esteja falando de Cristo e muito menos suas intenções e metodologia. Vale tudo. Será?
Só que não, meu caro. Vou intercalar a interpretação correta desse texto isolado em análise com todo todo o seu contexto enquanto discorro o texto desse artigo.
A pirotecnia gospel ou a sã doutrina do evangelho, eis a questão
No dia 15 de setembro de 2009 foi publicada uma celebrada matéria do "The New York Times" - o jornal de maior credibilidade da imprensa mundial - referindo-se ao avanço numérico da igreja evangélica no Brasil. O título da matéria era "Noites de luta e reggae enchem igrejas evangélicas no Brasil". Gostaria de ter ficado surpreso com esse tipo de notícia, entretanto, ela serviu para confirmar aquilo que venho falando sobre a decadência da igreja e seu processo pragmático de crescimento. Num dos trechos da matéria, o ambiente "evangélico" da tal igreja é descrito da seguinte forma:
"Na noite do Extreme Fight, dezenas de jovens pairavam em volta da igreja. Na sala da frente, barracas vendiam cachorro-quente e pizza e jovens se alinhavam em um canto para fazer tatuagens com temas religiosos, como 'Eu pertenço a Jesus'. Na sala principal, havia videogames, um DJ tocando uma mistura de hip-hop e funk, e uma tela de projeção mostrando um DVD do Harlem Globetrotters".
Vamos ao escrito de Paulo.
"Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei".
Então, tá. Mas, peraí… em que circunstâncias Paulo disse estas palavras? Se não me engano, Paulo estava preso em Roma quando escreveu esta carta aos filipenses. Ele estava sendo acusado pelos judeus de ser um rebelde, um pervertedor da ordem pública, que proclamava outro imperador além de César.
Continuando o meu comentário sobre a matéria do TNT
Certamente muitos pastores leram essa matéria e concordaram com ela, argumentando que se tratava de "uma grande ferramenta para expandir o reino de Deus" ou que "Deus usa diversas formas para uma pessoa se converter". Agora, que me perdoem esses colegas ou qualquer outro irmão que pense assim, mas causa-me tristeza pensar que a igreja tem usado de meios reprováveis para atingir um fim tão nobre como a proclamação do evangelho.
Precisamos ressaltar alguns pontos no que diz respeito a essa atitude. O primeiro deles é que a igreja brasileira tem tentado se mostrar uma "igreja legal e divertida". Parece que um dos grandes propósitos da igreja é provar as pessoas que somos felizes e, para isso, é necessário que se façam muitos shows, eventos, lutas, pirotecnias, "loucuras"etc. Então, transformar o ambiente de culto em cenário de baladas "não tem nada a ver", né?
Pragmatismo x Cristianismo
Os evangélicos pragmáticos têm se esforçado para comunicar que, se você "tomar uma decisão", não precisará mudar muita coisa em sua vida. Antes, o incrédulo frequentava a balada, agora ele vai a igreja dançar na "cristoteca". O barzinho é trocado pela "lanchonete gospel", onde você pode continuar fazendo suas piadinhas e buscando alguém para ficar. Isso e muito mais é feito, pois os líderes dessas igrejas precisam provar aos incrédulos que a igreja é um lugar "gostoso".
Voltando à análise da epístola paulina aos filipenses...
Quando os judeus que acusavam Paulo eram convocados diante das autoridades romanas para explicar estas acusações que traziam contra ele, eles diziam alguma coisa parecida com isto:
"Senhor juiz, este homem Paulo vem espalhando por todo lugar que este Jesus de Nazaré é o Filho de Deus, que nasceu de uma virgem, que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou ao terceiro dia, e que está assentado a direita de Deus, tendo se tornado Senhor de tudo e de todos. Diz também que este Senhor perdoa e salva todos aqueles que creem nEle, sem as obras da lei. Senhor juiz, isto é um ataque direto ao imperador, pois somente César é Senhor. Este homem [Paulo] é digno de morte!"
Ao fazer estas acusações, os judeus, nas próprias palavras de Paulo, "proclamavam a Cristo por inveja e porfia… por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias" (verso 17).
Ou seja, Paulo está se regozijando porque os seus acusadores, ao final, no propósito de matá-lo, terminavam anunciando o Evangelho de Cristo aos magistrados e autoridades romanos.
Voltemos então à matéria do TNT
Outro ponto que deve ser frisado é que essas igrejas, como a citada na matéria, precisam colher resultados rápidos e, para isso, cometem todos os tipos de abominações. Os líderes dessas igrejas acreditam que um bando de "brutamontes" entortando barras de ferro ou um grupo de skatistas fazendo manobras radicais "alcançarão os jovens para Cristo". Colocar um cara vestido de luzes e cuspindo fogo no palco também tá valendo. Afinal, é "tudo pelo evangelho"!
Isso porque no final das suas performances, eles dão um testemunho de como era suas vidas e como se encontram agora. Eventualmente citam um versículo bíblico (isolado, obviamente), sendo motivo de grande crédito por parte das igrejas, visto que parece ser relevante à igreja fazer esse tipo de programa, que, verdade seja dita, atraí multidões.
Isso porque no final das suas performances, eles dão um testemunho de como era suas vidas e como se encontram agora. Eventualmente citam um versículo bíblico (isolado, obviamente), sendo motivo de grande crédito por parte das igrejas, visto que parece ser relevante à igreja fazer esse tipo de programa, que, verdade seja dita, atraí multidões.
Os fins justificam os meios?
John MacArthur cita um pequeno trecho de certo artigo publicado na "Los Angeles Times Magazine" retratando uma grande igreja dos Estados Unidos no domingo pela manhã:
"Os membros ouvem os sermões cujos temas incluem 'A Pick-up Ford do Pastor e Sexo Cristão' (classificado com R que significa 'relevância, respeito e relacionamento', disse o pastor, 'e mais engraçado do que parece'). Após o culto, os membros dançam com músicas de uma banda chamada 'Os Anjos do Cabaré' (e o que mais poderia ser?). A frequência à igreja está aumentando rapidamente..."
Essas situações ilustram muito bem o ditado antibíblico que
"os fins justificam os meios".
Para essas igrejas, o resultado é o que mais importa. Portanto, se fazer Vale Tudo na igreja ou torná-la uma pista de dança atrai um grande número de pessoas, é isso que será feito. Minha pergunta é: até onde podemos chegar com uma filosofia tão mundana e irreverente? Parecia difícil prever o que aconteceria nos próximos anos, visto que muitas dessas práticas eram inimagináveis a algumas décadas e, com essa filosofia de "vale tudo pelo evangelho", temo que presenciaremos situações ainda mais tenebrosas.
A igreja foi edificada por Cristo e seu papel não é buscar popularidade, mas pregar a Palavra de Deus. A igreja do Senhor não é um barzinho adaptado ou um clube que está fazendo campanha para conquistar novos sócios. O povo de Deus pertence a
"igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade" (1 Timóteo 3:15).
A igreja que Cristo "amou" e “comprou com o Seu próprio sangue" (Efésios 5:25; Atos 20:28), está no mundo como um povo diferente daquele que "jaz no maligno" (1 João 5:19). Como disse Charles Spurgeon:
"prover entretenimento está em direto antagonismo ao ensino e à vida de Cristo e de seus apóstolos. Qual era a atitude da igreja em relação ao mundo? Vós sois o sal, não o docinho, algo que o mundo desprezará" (grifo meu).
O Senhor Jesus alertou Seus discípulos afirmando que não veio "trazer paz, mas espada", trazendo divisões dentro do próprio lar. Cristo ainda afirma que o amor a Ele deve estar acima de todas as coisas, incluindo, pai mãe e filhos. Amar outras coisas ou pessoas mais do que a Cristo mostra que a pessoa não está disposta a servir ao Senhor (Mateus 10:32-38).
O evangelho pragmático passa longe desse padrão, pois é fato que a estratégia do pragmatismo é fazer tudo que as pessoas gostem, evitando confrontá-la para não deixá-la desconfortável. Os convertidos ao evangelho pragmático dificilmente confrontarão seus familiares com o evangelho. Isso porque eles farão um convite amigável para ir a igreja assistir algum show circense ou ouvir uma celebridade do mundo da música.
O evangelho pragmático se rebela contra o Evangelho de Cristo, pois o Senhor afirmou que o mundo sentiria de ódio por aqueles que pregam a Palavra de Deus. Em João 15:18-19 Jesus afirma:
"Se o mundo vos odeia, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia" (grifo meu).
Tentar ser simpático ao mundo com estratégias humanistas vai contra o que o Senhor Jesus declarou e, portanto, justificar essas práticas baseando-se nos resultados é omitir o caráter confrontador e divisor do evangelho.
Os "equívocos" da igreja pragmática
O pragmatismo é uma filosofia que toma "por critério da verdade o valor prático e se opõe ao intelectualismo", é baseado na capacidade humana, visto que sua expansão está baseada em técnicas de abordagem, bem como estudo do perfil dos moradores da região para descobrir sua escolaridade, situação financeira, preferências musicais, etc. Isso tem tudo a ver com a teologia arminiana praticada por essas igrejas, pois esta teologia prega que o fator decisivo para a salvação é a vontade humana e não o Deus Soberano.
Essas igrejas negligenciam o que Paulo falou a igreja de Corinto, que convivia em uma sociedade de cultura grega, arrogante em sua sabedoria filosófica. A palavra "filosofia" significa "amor à sabedoria" e era exatamente assim que os Coríntios agiam. A sabedoria era cultuada, inclusive por alguns crentes da igreja, sendo necessário o apóstolo Paulo escrever uma repreensão aos irmãos. Paulo afirma a sabedoria humana está fadada à destruição (1 Coríntios 1:19), é
Além disso, quando o apóstolo Paulo expõe a maneira como ele anunciava a Palavra de Deus, a sabedoria humana não estava na sua "lista". Pelo contrário, ele se despojou de toda sabedoria humana para anunciar a Palavra de Deus (2:1). Seu intuito era pregar o Cristo crucificado, aquele que por Sua morte trouxe vida ao Seu povo (2:2).
Paulo se despojou de sua sabedoria para pregar aos Coríntios "em fraqueza, temor e grande tremor" (2:3). Ele não estava buscando convencê-los com argumentos humanos, mas estava dependente da atuação poderosa do Espírito Santo de Deus (2:4). Seu intuito era que a fé dos coríntios não fosse baseada em argumentos falaciosos da sabedoria humana, mas "no poder de Deus" (2:5).
Paulo se despojou de sua sabedoria para pregar aos Coríntios "em fraqueza, temor e grande tremor" (2:3). Ele não estava buscando convencê-los com argumentos humanos, mas estava dependente da atuação poderosa do Espírito Santo de Deus (2:4). Seu intuito era que a fé dos coríntios não fosse baseada em argumentos falaciosos da sabedoria humana, mas "no poder de Deus" (2:5).
As igrejas pragmáticas estão convencidas que as estratégias humanas são suficientes para proporcionar crescimento a igreja. A pressão por crescimento tem se tornado tão forte que muitas igrejas antes defensoras da suficiência das Escrituras hoje sucumbem a proposta de crescimento rápido por meio da "mundanização" da igreja. Para crescer vale tudo, até deixar de pregar a Palavra de Deus para investir em entretenimento e conforto.
A igreja do Senhor Jesus está sedenta pelo evangelho e não por uma filosofia mundana que a faz relembrar àquela época de miséria e desgraça em que os eleitos já viveram (Efésios 2:1-3). A filosofia pragmática é interessante apenas a pessoas mundanas que são religiosas mas irreverentes para com o Criador.
A igreja não precisa divertir bodes ou encher de joio os seus celeiros, visto que naturalmente eles já se infiltrarão (Mt 7:21-23; 2 Co 11:26; Gálatas 2:4). A igreja necessita de temor ao Senhor, reverência e obediências aos Seus preceitos e a confiança de que o Deus Soberano, e somente Ele é quem pode proporcionar o verdadeiro crescimento à Sua igreja (At 2:47; 1 Co 3:6).
A igreja não precisa divertir bodes ou encher de joio os seus celeiros, visto que naturalmente eles já se infiltrarão (Mt 7:21-23; 2 Co 11:26; Gálatas 2:4). A igreja necessita de temor ao Senhor, reverência e obediências aos Seus preceitos e a confiança de que o Deus Soberano, e somente Ele é quem pode proporcionar o verdadeiro crescimento à Sua igreja (At 2:47; 1 Co 3:6).
Conclusão
Vale tudo pelo evangelho? Sendo bem direto, não! Devemos pregar o evangelho
"...quer seja oportuno, quer não..." (2 Timóteo 4:2),bem como nos despojar da sabedoria humana e depender do poder de Deus que atua na vida dos que foram chamados (1 Co 1:24). Os verdadeiros crentes ao invés de buscarem estratégias humanas de crescimento devem batalhar
"diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (Judas 3).
Assim, concluímos que, disto aqui vai uma looooonga distância em tentar usar a passagem isolada de Filipenses 1:18 para justificar que cristãos, num país onde são livres para pregar, usem de meios mundanos, escusos, de alianças com ímpios e de estratégias no mínimo polêmicas para anunciar a Cristo.
Tenho certeza que Paulo jamais se regozijaria com "cristãos" anunciando o Evangelho por motivos escusos, em busca de poder, popularidade e dinheiro, pois ele mesmo disse:
Tenho certeza que Paulo jamais se regozijaria com "cristãos" anunciando o Evangelho por motivos escusos, em busca de poder, popularidade e dinheiro, pois ele mesmo disse:
"Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus"
"Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos; pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade".
"Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus"
"Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia. Desviando-se algumas pessoas destas coisas, perderam-se em loquacidade frívola, pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações"
"Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro" (1 Co 2:1-5; 2 Co 2:17; 4:1,2; 1 Tm 1:5-7; 6:3-5).).
Portanto, usar Filipenses 1:18 para justificar esta banalização pública do Evangelho é usar texto fora do contexto como pretexto.
[Fonte: Artigo - "Noites de luta e reggae enchem igrejas evangélicas no Brasil", por Alexei Barrionuevo: The New York Times. Tradução: Marcelle Ribeiro. Acessado em www.uol.com.br em 17/06/2018. Artigo "Como Devemos Cultuar a Deus?" de John MacArthur. Artigo: "Alimentando as Ovelhas ou Divertindo os Bodes" de Charles Haddon Spurgeon.]
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
Meu presado e amado irmão,estamos vendo isso acontecer e não podemos fazer muita coisa, o que podemos fazer é alertar e ensinar os que estão no nosso comando, mesmo assim muitos dos nossos entram por esse caminho maligno. Só Jesus.
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