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sexta-feira, 17 de novembro de 2017

LIVROS QUE EU LI - ESPECIAL: "AS TRÊS MARIAS", RACHEL DE QUEIROZ


Neste capítulo da série de artigos Livros Que Eu Li, trago um texto especial em comemoração ao centésimo sétimo aniversário da brilhante escritora Rachel de Queiroz (✩1910-✞2003).


Sobre a autora


A romancista Rachel de Queiroz estreou na literatura brasileira com a publicação do livro "O Quinze", seu primeiro romance, em 1930.

Foi a primeira mulher a fazer parte da Academia Brasileira de Letras. A obra, pouco tempo depois de ser publicada, foi alvo de críticas dos intelectuais e autoridades da época, visto que abordava a grande seca que ocorreu no nordeste brasileiro no ano de 1915.

Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, Ceará, a 17 de novembro de 1910. Em 1917, deixa o Ceará, quando sua família migra para o Rio de Janeiro, procurando esquecer os horrores da seca de 1915. Em 1919 voltou a Fortaleza, matriculando-se em 1921, no colégio da Imaculada Conceição, onde fez o curso normal e diplomou-se aos 15 anos de idade.

Em fins de 1930, estréia com o romance "O Quinze" – o seu maior sucesso literário, que ainda hoje é sempre usado como tema em vestibulares, concursos e dissertações acadêmicas –, onde este ganhou imensa repercussão ao abordar a luta de um povo contra a miséria e a seca.

Autora de outros romances como "João Miguel" – 1932, "Caminho de Pedras" – 1937, "As três Marias" – 1935 e vários outros, deixou o seu nome imortalizado na literatura brasileira e, sobretudo na memória dos leitores. É sobre "As três Marias", um delicioso e delicado romance, cujo tema o torna imortal, que irei escrever.

As três Marias 

Maria Augusta 


Perde a mãe muito cedo. O pai casa novamente e a madrasta, apesar de tratá-la decentemente, decide mandá-la para um internato, um colégio de freiras no Ceará... É aqui que a história começa... Como toda novata em um ambiente desconhecido, Guta sofre os olhares curiosos e comentários das veteranas.

Tímida, envergonhada e pouco comunicativa, Maria Augusta sente-se sozinha, abandonada pelo mundo e a família, sem amigos, sem lar, sem o amor que tanto necessita. É no internato que ela passará grande parte da história - seu fim de infância e começo da adolescência - onde o mundo lá fora parece um sonho irreal, um planeta distante que só se ouve falar, mas nunca se consegue realmente ver.

"Na cama - tudo calado - (...) minha tristeza afinal explodiu, e chorei, chorei até esgotar todos os soluços, todas as lágrimas, chorei até dormir, exausta, desarvorada, rolando a cabeça dolorida, sem repouso, no travesseiro quente e duro" (pág. 17).

Maria da Glória e Maria José


Complementam o trio que dá nome à história - e sugerido pela Irmã Germana, alusão à constelação das Três Marias (Orion) - em pouco tempo as três viram uma. Amigas confidentes, apesar de tão diferentes - personalidade, história de vida, vontades e desejos - e o leitor acompanha o desenvolvimento dessas três meninas, suas fantasias sobre o mundo lá fora, as dores, as decepções de vidas inexperientes, privadas de conhecimento exterior... 

Acreditavam no amor dos livros, dos romances franceses que entravam às escondidas no colégio e passavam de mão em mão, tantos e tantos deles. Compartilhavam não apenas o tempo e as idéias, mas também amores... 

  • Maria da Glória

Que aprendera a tocar violino com o falecido pai, tem a oportunidade de tocar com a orquestra do Teatro local. É lá que conhece e se apaixona pelo moço estrangeiro, seu primeiro amor, dividido e experienciado com a mesma intensidade pelas outras duas.
"Ele começou a namorar com Glória, logo que entendeu os olhos com que o olhava, e foi como se nos namorasse a todas, porque todas as três começamos a amá-lo, embora Maria José e eu nunca o tivéssemos visto" (pág. 58).

Mas o tempo passa, elas crescem, e a vida fora do convento não é tão surreal quanto parece. O peso de ser gente grande é duro de carregar. O destino as levam para direções diferentes mas a amizade permanece e através das três percebe-se o tema que marca várias obras de Rachel de Queiroz - a representação da mulher na sociedade, seu papel. 

Glória casa bem, e logo é mãe. Maria José casa com sua religião enquanto leciona para crianças. Guta recusa-se a virar empregada da própria família, muda para a capital e vira datilógrafa, tem sede de aventuras, quer experimentar, quer deixar o cais.

Os personagens secundários tem suas histórias começadas e terminadas praticamente no mesmo capítulo e esse foi um detalhe que eu gostei na obra de Rachel, não tem enrolação... não é preciso esperar ansioso por capítulos e capítulos para saber no que acaba aquele fato. 

O cenário nordestino como pano de fundo me fez viajar ao Ceará, ora sentado confortavelmente no sofá da minha sala, ora deitado tão confortavelmente quanto na minha cama, ao mesmo tempo tão longe e tão perto da aridez e do calor escaldante do nordeste... o sertão de Juazeiro, as viagens de ônibus por aquelas estradas de terras áridas, cactosas. 

Conclusão


A escrita é simples, narrado em primeira pessoa por Maria Augusta, o que permite que o leitor compartilhe seus sentimentos profundos, suas dores, suas curiosidades, fatos não compartilhados com Glória e Maria José. É um livro delicioso de ler, leitura rápida mas agradável, Guta demonstra força e iniciativa em muitos momentos decisivos em sua vida, mas acredito que a passividade em outros tantos momentos, alguns podem dizer inexperiência, evita que ela quebre o ciclo, tome o próximo passo. É como se ela não acreditasse nela mesma e deixasse as coisas correrem... a vida levar. E no final me peguei novamente querendo colocá-la no colo e abraçá-la apertado... 

É um livro que desperta uma análise interior, a respeito de nossas escolhas e nosso aprendizado de vida. O que mais me impressionou foi a simplicidade e a clareza da escrita de Rachel. A história é envolvente e flui de maneira suave, envolvendo o leitor com as descobertas e frustrações da infância/adolescência e vida adulta. As personagens femininas são marcantes e reais, possibilitando ao leitor uma identificação muito grande. É um livro muito especial, impossível passar em branco na vida de qualquer leitor. Vale muito a pena conhecer essa graça de obra! Delicadeza pura!


Ficha Técnica



  • Título: "As Três Marias" 
  • Autora: Rachel de Queiroz
  • Gênero: Literatura Brasileira/Romance
  • Ano: 1939
  • Páginas: 166 
  • Editora: José Olympio

A obra recebeu uma adaptação para a TV no formato de telenovela, com a autoria de Whálter Negrão e Wilson Rocha, direção de
Da direita para a esquerda, Glória Pires, Maitê Proença
e Nadia Lippi, protagonistas da novela "As três Marias"
Herval Rossano, exibida entre novembro de 1980 e maio de 1981 (156 capítulos). A trama trouxe Glória Pires (Maria José), Nadia Lippi (Maria Augusta) e Maitê Proença (Maria da Glória), nos papéis principais e foi um dos grandes sucessos do horário das seis na Rede Globo.

A Deus toda glória. 

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